PRIMAVERA, O DESPERTAR DAS ALERGIAS

PRIMAVERA, O DESPERTAR DAS ALERGIAS

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Primavera é sinónimo de regeneração da natureza. Terminaram os dias cinzentos e o frio. Para alguns, no entanto, esta estação representa o início de um calvário devido a uma série de sintomas que se repetem ano após ano com as chamadas doenças da época. Atingem cada vez mais pessoas de todas as idades podendo mesmo tornar-se um problema de saúde grave. Talvez seja por isso que todos as conhecemos e que conviver com elas acabe por se tornar quase um hábito.

Muitas vezes subvalorizada pelos próprios doentes, a doença alérgica evolui de forma insidiosa até que a intensidade e persistência dos sintomas interferiram na qualidade de vida e quebra de produtividade escolar ou laboral.

As alergias são respostas inadequadas e exageradas do mecanismo de defesa do nosso organismo, o sistema imunológico, a substâncias normalmente inofensivas. Estas substâncias, que podem desencadear respostas alérgicas em pessoas mais susceptíveis, são chamadas alérgenos, também conhecidas por alergénios.

Quando um alérgeno entra em contacto com o organismo de uma pessoa predisposta a alergias, ocorre uma série de reacções, de que resulta a produção de anticorpos específicos para esse alérgeno – as imunoglobulinas E (IgE). Estes anticorpos "colam-se" a células designadas por mastócitos, que se encontram em grande quantidade no nariz, olhos, pele, pulmões e intestino.

No próximo contacto que a pessoa tiver com essa substância, o alérgeno é reconhecido e "capturado" pela IgE, originando a libertação súbita da histamina e outros mediadores, a partir dos mastócitos. São estes mediadores os responsáveis pelos sintomas da reacção alérgica.

São vários os tipos de alérgenos que provocam esta hipersensibilidade. Eles podem atingir o nosso estado de equilíbrio biológico por quatro vias importantes: respiração (boca e nariz), conjuntivas, aparelho gastrintestinal e através da pele.

Os mais frequentes, susceptíveis de ser inalados, são os pólenes libertados das ávores ou gramíneas, ácaros do pó, pêlo e dejectos dos animais domésticos, esporos ou bolores; os que podem ser ingeridos através dos alimentos – leite de vaca, ovo, peixe, marisco, morangos, nozes, amendoins – ou em certos medicamentos (antibióticos, como por exemplo a penicilina).

O veneno libertado pela picada de insectos como a abelha, a vespa ou o mosquito também pode provocar reacções alérgicas.

A alergia pode manifestar-se em qualquer parte do corpo, sendo por isso uma doença sistémica e não uma doença de órgão. O paciente poderá sofrer de rinite alérgica ou asma, se for afectado o aparelho respiratório; se afectar os olhos, o paciente sofrerá de conjuntivite alérgica; na pele, manifestar-se-ão eczemas e dermatites atópicas; se afectar o aparelho gastrintestinal, o doente sofrerá de alergias alimentares.

A sintomatologia das várias alergias difere. Na rinite alérgica, os doentes queixam-se de espirros, olhos vermelhos, nariz obstruído e a pingar; na urticária, as queixas são as manchas e a comichão; na alergia alimentar, os sintomas são náuseas, vómitos, diarreia e falta de ar; a alergias aos medicamentos expressa-se através de inchaço, náuseas e diarreias.

No angioedema, os sinais são inchaço súbito de uma parte do corpo (principalmente lábios, boca ou garganta), erupção cutânea e dificuldade em respirar, falar ou engolir. O choque anafiláctico que pode advir manifesta-se através de ansiedade extrema, inchaço, tonturas, dificuldades em respirar e erupção cutânea.

Existem alguns factores facilitadores das manifestações alérgicas. O primeiro é a herança genética, ou seja, a propensão para o desenvolvimento de determinado tipo de alergias, transmitida através da linha familiar.

Outro factor importante é o ambiental – a casa e todos os ambientes (exterior e interior); por último, o estilo de vida praticado pelo indivíduo ou pela população no seu todo.

As pessoas que sofrem de alergia devem perceber que têm uma doença crónica que pode durar anos ou até a vida inteira. A gestão da doença deve consistir em evitar o alérgeno, tratar-se com os fármacos adequados e proceder a imunoterapia.

Diagnóstico e tratamento

O tratamento da doença deve ser iniciado o mais cedo possível, começando muitas vezes pela identificação do alérgeno que originou o problema.

Há vários métodos de diagnóstico à disposição do clínico, mas o mais simples, sensível, específico e rápido é o teste cutâneo que pode ser de dois tipos: por picada ou prick e intradérmico. O mais comum é o teste por picada, que consiste na aplicação de uma pequena gota de extractos alergénicos na pele, em zonas previamente "marcadas". Se após cerca de 15-20 minutos se desenvolver, no local da picada, uma pápula que alastra gradualmente até aproximadamente 3 cm, o diagnóstico é considerado positivo; os testes intradérmicos são utilizados somente para algumas situações especiais como reacções a medicamentos ou picadas de vespas e abelhas.

Diagnosticada a alergia inicia-se o tratamento, que vai depender do tipo de patologia que cada doente manifeste. A primeira e mais urgente medida de tratamento é evitar o contacto com a substância à qual se é sensível – medidas de evicção.

Entre os tipos de medicamentos mais usados no tratamento das alergias incluem-se os anti-histamínicos, descongestionantes, sprays nasais, corticosteróides, medicamentos tópicos, imunoterapia e, em alguns casos, a adrenalina.

Para as alergias de origem respiratória os anti-histamínicos são os medicamentos de eleição. Esta classe de fármacos bloqueia a acção das substâncias químicas denominadas histaminas, produzidas pelo organismo em resposta à presença de um alérgeno.

As histaminas provocam inchaço, congestão das vias nasais e incrementam a produção de muco. Através do bloqueio da sua acção os anti-histamínicos diminuem os sintomas alérgicos. Entre os mais comuns, vendidos sem receita médica, indicados para as infecções respiratórias, incluem-se a bromofeniramina, a difenidramina e a clorfeniramina.

Relativamente aos anti-histamínicos que requerem receita médica, estão disponíveis no mercado português a azatadina, clemastina, astemizol, prometazina e a terfenadina. A terfenadina e o astemizol são substâncias relativamente novas, com a particularidade de não provocar sonolência, efeito comum nos restantes medicamentos da mesma classe.

O cromoglicato dissódico é outro medicamento sujeito a receita médica obrigatória. Pode ser usado como spray nasal para prevenir os sintomas das alergias respiratórias. Reveste as membranas do nariz com a substância e estabiliza os glóbulos brancos para impedir que reajam a substâncias estranhas.

Os descongestionantes diminuem a congestão nasal e o inchaço ao comprimir os vasos sanguíneos nas membranas nasais, permitindo que o muco seja expelido mais eficazmente. Existem sob a forma de comprimidos, gotas nasais e spray nasal. Nesta classe incluem-se as substâncias, oximetazolina, fenilefrina, fenilpropanolamina e a pseudoefedrina.

Existe actualmente uma crescente tendência para a utilização de sprays inalantes contendo esteróides, como a beclometasona. São anti-inflamatórios poderosos que diminuem o inchaço e a produção de muco com a mesma eficácia dos anti-histamínicos, sem causar a sedação.

Algumas manifestações alérgicas devem ser tratadas com medicação tópica da pele, como os cremes ou pomadas de corticosteróides. Este tipo de medicação permite o alívio de sintomas nas dermatites por contacto ou dermatite atópica. Os corticosteróides reduzem o edema, a vermelhidão e o prurido, característicos das reacções alérgicas cutâneas.

Outra forma de tratamento adoptada é a imunoterapia específica, também chamada vacinação alérgica, terapia da desensibilização e terapia da hiposensibilização. É o único tratamento adoptado para a alergia, que pode reduzir, a longo prazo, a sensibilização aos alérgenos. Deve ser feito ao longo de vários meses usando doses crescentes do alérgeno ao qual o indivíduo demonstrou sensibilidade, sendo injectadas na região subcutânea do braço a intervalos regulares, semanais, quinzenais e, depois, mensais.

O objectivo do tratamento é induzir o organismo à tolerância ao alérgeno, o que pode determinar a diminuição ou mesmo a erradicação dos sintomas.

Mais recentemente tornou-se possível a administração da solução contendo o alérgeno por via sublingual. Esta é uma forma de administração mais fácil, uma vez que pode ser feita pelos pacientes em casa, sem necessitar de supervisão médica, evitando assim as visitas de rotina e o desconforto das injecções. Tal como na via injectável, a administração sublingual da solução deve ser continuada durante três a cinco anos, para se tornar eficaz.

A imunoterapia é geralmente indicada quando outras alternativas de tratamento não resultam para controlar a patologia ou, ainda, quando os sintomas são moderados ou muito intensos, duram vários meses, ou provocados por alérgenos difíceis de evitar, como os pólenes e os ácaros domésticos.

Eficaz para alguns casos, a imunoterapia não pode ser prescrita a todas as pessoas devido a possíveis efeitos secundários resultantes. O risco mais grave é o desenvolvimento de uma reacção alérgica generalizada - anafilaxia - , que pode colocar em risco a vida do doente.

A adrenalina, ou epinefrina, é uma hormona vital no tratamento de emergência, em caso de anafilaxia. As causas mais comuns para este tipo de alergia são os alimentos, veneno de insectos, látex e alguns medicamentos. Em caso de reacção anafiláctica é necessário a aplicação imediata de uma injecção de adrenalina para prevenir a queda da pressão arterial ou a obstrução respiratória, que podem tornar-se fatais.

Este ano de 2010, a Primavera vai ser difícil para quem sofre de alergias. A precipitação registada no Inverno é a principal razão para um agravamento do período de polinização. A ida ao especialista e a prevenção são as melhores formas de minimizar os efeitos das alergias.

Prevenir é controlar

A instituição de medidas preventivas é o único meio disponível para inverter a tendência de aumento das doenças alérgicas.

Em Portugal, as queixas mais frequentes dos pacientes que sofrem de alergias são provocadas por ácaros e pólenes. Nos pólenes, as gramíneas, a parietária e a oliveira são as mais comuns.

No quadro das doenças alérgicas, 25 por cento da população sofrem de rinite alérgica e cerca de metade é sensível aos pólenes. A rinite, quando conjugada com conjuntivite alérgica, afecta dez por cento das crianças e mais de 15 por cento dos adultos. Muito frequentemente, também os pólenes são referenciados como causadores do problema. Por sua vez, a asma afecta 15 por cento das crianças e dez por cento dos adultos.

A prevalência destas patologias no nosso país tem vindo a aumentar. Os factores que justificam este crescimento estão relacionados com aspectos genéticos, factores ambientais e mudanças do estilo de vida.

Com o objectivo de sensibilizar e ajudar a população em geral e os doentes em particular para esta realidade, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) dispõe de um serviço público inovador, o Boletim Polínico.

Este boletim, on line, divulga semanalmente os níveis de pólenes existentes no ar atmosférico, obtidos a partir da leitura efectuada nos vários postos que procedem à sua recolha contínua em várias zonas do país.

É uma ferramenta fundamental para o doente alérgico. Dispondo de informação actualizada das concentrações polínicas previstas, pode actuar preventivamente por via terapêutica ou instituindo medidas para diminuir a sua exposição aos pólenes.

Esta informação, actualizada semanalmente, está disponível em www.spaic.pt, seguindo o link "Rede Portuguesa de Aerobiologia".

Prevenir a alergia é um processo que começa em casa. Numa situação de alergia a elementos ambientais não alimentares, o paciente deve ter alguns cuidados especiais de modo a evitar a exposição ao alérgeno.

O quarto deve ser fácil de lavar, bem aspirado, com ambiente arejado e não acumular pó. Por outro lado, deve optar-se por cobertores sintéticos, por acumularem menos pó, com exposição regular ao sol. Neste contexto é importante aspirar regularmente o colchão e evitar almofadas e edredões de penas. As restantes divisões da casa devem igualmente ser aspiradas com frequência e o doente deve evitar os animais de companhia.

Se a origem da alergia for os pólenes, as janelas devem ser mantidas fechadas na época da polinização.

Outra forma importante de prevenção passa pelo reforço do sistema imunitário. Além de uma alimentação equilibrada e variada, o doente alérgico deve procurar ingerir regularmente, cereais integrais, leguminosas e frutos secos, fontes de vitamina B.

A ingestão de alimentos ricos em vitamina C, como frutas e legumes frescos, bem como a ingestão de citrinos, uvas e groselhas pretas, ricos em bioflavonóides, são particularmente importantes quando combinados.

A vitamina E reforça o sistema imunitário e pode ser obtida através da ingestão de frutos secos, óleo de sementes, girassol e abacate. Outro mineral importante é o zinco, presente na carne de vaca magra, nas sementes de abóbora e nas ostras.

O exercício físico estimula o sistema imunitáro; por isso deve ser praticado regularmente. A manutenção de uma boa condição física é fundamental para prevenir e ultrapassar as doenças alérgicas e outras.

Não se deixe abater pela alergia. Mantenha-a controlada, informe-se e actue para que, das várias estações da vida, sinta apenas os efeitos positivos, desfrutando a alegria da regeneração.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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