DERMATITES

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DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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A história da Dermatologia moderna começa na Europa, entre o século XV e XVI, época em que os clínicos começam a demonstrar um maior interesse pelos problemas cutâneos, dando início ao estudo das afeções relacionadas com a pele, direta ou indiretamente, e aos possíveis tratamentos.

A mais antiga obra literária sobre Dermatologia, que se saiba, é um livro-texto escrito pelo Dr. Robert William, em 1797.

De facto, com o passar do tempo, a Medicina deixou, progressivamente, de considerar a pele apenas como um invólucro do corpo, passando a considerá-la como o que realmente é: o maior e um dos mais importantes órgãos do nosso corpo, que precisa constantemente de cuidados e que pode, em muitos casos, necessitar de tratamentos específicos.

Para além de ser o maior órgão do ser humano é graças à pele que nos relacionamos com o meio ambiente, desempenhando esta um papel de vital importância, por ser uma barreira contra infeções e outros agentes agressores externos.

A noção de que a pele "reage" a estímulos variados, endógenos e exógenos, constitui um dos fenómenos mais marcantes em Dermatologia.

A pele "reage" com vasodilatação perante uma situação emocional – é o fenómeno de "corar", tão característico na face; "reage" durante a puberdade, por estimulação hormonal, com uma erupção característica e bem conhecida – a acne juvenil; reage com aumento da transpiração cutânea – na fronte e lábios, perante um estímulo gustativo enérgico; nas palmas das mãos, perante um estímulo emocional; e nas axilas, perante um estímulo térmico.

Reage com formação de pápulas eritematosas fugazes, pruriginosas, se estiver em contacto com urtigas – daí a expressão reacional denominada urticária.

São inúmeras as afeções dermatológicas frequentes e importantes, caracterizadas por se exprimirem clinicamente por "padrões de reação" distintivos.

O eczema, também designado dermite ou dermatite, constitui o tipo mais comum de inflamação da pele e um dos seus "padrões de reação" mais característicos. O termo, que deriva do grego ekzein (ek = fora; zein = ferver), pode ser entendido como "estado de ebulição" da pele.

É amplamente empregado na prática clínica dermatológica para definir o estado patológico da pele em que predominam condições inflamatórias caracterizadas por sinais vários como eritema, edema, vesiculação, secreção, papulovesiculação, infiltração, crostas, escamas e liquenificação, associados sempre ao sintoma prurido, em intensidades variáveis.

De evolução aguda, subaguda ou crónica, o eczema resulta da atuação de fatores de natureza endógena ou exógena, atuando isoladamente ou de forma combinada. As lesões são em geral muito pruriginosas e o processo inflamatório assume intensidade maior ou menor em conformidade com a agressividade do agente causal e a suscetibilidade individual.

Com frequência os termos "eczema" e "dermatite" são usados como sinónimos, sendo o termo dermatite capaz de incluir todos os tipos de inflamação cutânea. Assim, todos os eczemas são dermatites, mas nem toda a dermatite é eczema.

A classificação das formas clínicas de eczema é difícil porque, além da nomenclatura ser controversa, em muitos casos estão implicadas múltiplas causas e/ou duas ou mais formas podem estar presentes, simultânea ou sequencialmente.

Principais tipos de dermatite: prevalência, manifestação clínica e diagnóstico

Existem diversos tipos de eczema, com características muito distintas, relativamente à sua forma de apresentação, distribuição e tendência evolutiva, cujas designações foram consagradas pelo uso, pelo que, ora são chamadas de dermatite, ora são rotuladas de eczema.

Os principais tipos de dermatite são identificados de acordo com os seus sintomas ou causa, podendo ser divididos em: dermatite ou eczema atópico, dermatite ou eczema de contacto, dermatite seborreica, eczema ou dermatite numular, dermatite da fralda, dermatite esfoliativa, dermatite perioral, dermatite herpetiforme.

A sua ocorrência é comum na infância e durante a adolescência, sendo que entre 11 a 15 por cento dos jovens costumam ser afetados. No entanto, muitos desses casos não chegam sequer a ser diagnosticados por não serem graves. No que respeita aos adultos, o número de afetados situa-se entre 5 a 10 por cento, sendo os mais atingidos os profissionais de saúde, as lactantes e as pessoas que trabalham na área das limpezas.

Existem, inclusive, alguns países onde a incidência da doença é maior. Por exemplo, em Inglaterra, o número de casos em adultos está dentro da média dos outros países, mas uma em cada cinco a seis crianças já foram diagnosticadas em algum momento com dermatite.

Cerca de 85 por cento dos enfermeiros já desenvolveram eczemas pelo menos uma vez na vida. Isso ocorre principalmente com os que lavam as mãos frequentemente com sabão bactericida ou com álcool em gel, pois estes desinfetantes danificam a pele. Nos restantes profissionais de saúde, a base de incidência varia entre os 10 a 45 por cento.

A dermatite ou eczema de contacto caracteriza-se por lesões em forma de borbulhas e bolhas, resultantes do contacto com uma substância externa, para a qual existia uma sensibilização prévia (plantas, níquel, plástico, detergentes, cosméticos, latex).

Inicialmente as lesões limitam-se à área de contacto, mas posteriormente podem espalhar-se. A zona afetada pode ser muito reduzida (por exemplo, os lóbulos das orelhas) ou então pode abranger uma grande superfície do corpo (por exemplo, se a dermatite for provocada por uma loção corporal).

Já a dermatite ou eczema atópico é um problema crónico, que normalmente se manifesta durante a infância, desaparecendo espontaneamente ao fim de alguns anos, e que é caracterizado pelo aparecimento de zonas inflamadas, com vários tipos de lesões, intenso prurido e, por vezes, descamação, principalmente nas dobras da pele.

Embora já tenham sido identificados vários fatores que contribuem significativamente para o seu aparecimento e evolução (existe uma certa predisposição genética, hereditariamente transmissível), a causa do problema ainda não é conhecida.

De destacar ainda que entre 60 a 80 por cento das pessoas com dermatite atópica são igualmente afetadas por outros problemas alérgicos, nomeadamente rinite alérgica, ou febre dos fenos, e asma brônquica.

Uma oleosidade excessiva e um fungo (Pityrosporum ovale) presente na pele afetada, estão envolvidos no processo que leva à dermatite seborreica, cujo sintoma mais conhecido é a caspa. Trata-se de uma alteração do couro cabeludo que provoca descamação e lesões avermelhadas na pele, que podem surgir nas primeiras semanas de vida ou apenas na idade adulta.

A dermatite seborreica também pode surgir no rosto, especialmente em locais mais gordurosos como a testa, nariz, cantos da boca ou sobrancelhas, por exemplo. De caráter crónico, a doença tem tendência a períodos de melhoria e agravamento, mas costuma ser mais grave no inverno e em situações de fadiga ou stress emocional.

De causa desconhecida, a dermatite ou eczema numular atinge principalmente adultos e idosos – nas pernas, antebraços, dorso das mãos e dos pés –, e está associada ao ressecamento excessivo da pele, atopia (asma, rinite, eczema atópico…) e infeções bacterianas.

As características típicas são a formação de lesões arredondadas (em forma de moeda), avermelhadas, com vesículas (pequenas bolhas) e posterior formação de crostas, acompanhadas de comichão. A doença tende a tornar-se crónica e a surgir em surtos, podendo formar novas lesões ou reativar outras que já haviam regredido, principalmente se o tratamento for interrompido prematuramente.

Também conhecida por assadura, a dermatide das fraldas caracteriza-se pela inflamação da pele da zona coberta pela fralda, estimando-se que atinja entre 25 a 65 por cento das crianças, sendo mais comum entre os 6 e os 12 meses de idade. O contacto prolongado com as substâncias corrosivas presentes nas fezes e, sobretudo na urina, como o amoníaco, pode irritar a delicada pele do bebé, que fica avermelhada na zona das nádegas e nas pregas da zona, e favorece o desenvolvimento, nos bebés mais sensíveis e nos casos mais graves, de uma dermatite que se manifesta através de ardor e do aparecimento de pequenas vesículas que, por vezes, podem formar pus.

A dermatite esfoliativa é uma inflamação grave da pele que provoca o surgimento de vermelhidão e irritação em grandes áreas do corpo, como peito, braços, pés ou pernas, descamação e comichão. Outros sintomas comuns deste tipo de dermatite incluem a formação de crostas na pele, a perda de pelos nos locais atingidos, inchaço dos gânglios linfáticos, febre e sensação de frio devido à perda de calor nessas zonas.

O corpo fica vulnerável a infeções, pois a pele encontra-se comprometida, não cumprindo a sua função. Assim, os microrganismos podem facilmente atravessá-la e atingir os tecidos internos do corpo, gerando infeções oportunistas.

Mais comum em mulheres na faixa dos 20 a 45 anos de idade, a dermatite perioral é um transtorno cutâneo caracterizado pelo aparecimento de manchas irregulares rosadas ou avermelhadas que surgem circunvizinhas à boca, queixo e narinas. As manifestações clínicas incluem prurido moderado; ardor; vermelhidão da pele; erupções que muitas vezes são irregulares, causando dor; pele ressecada; sensação de tensão na área afetada e descamação cutânea.

Também chamada de Doença de Duhring-Brocq, a dermatite herpetiforme (DH) é uma doença rara de caráter crónico, associada à Enteropatia Sensível ao Glúten.

Embora ocorra geralmente entre os 20 a 55 anos, pode manifestar-se em qualquer idade, mais no sexo masculino que no feminino. Caracteriza-se por lesões pruriginosas papulovesiculosas (lesões avermelhadas, com algum relevo, com formação de pequenas bolhas) – com tendência a agrupar-se, tomando o aspeto herpetiforme.

Tem predileção por áreas extensas do antebraço, joelhos, cotovelos, couro cabeludo, nuca, nádegas, região interescapular e sacra, caracteristicamente com apresentação simétrica. Em geral o início é insidioso e pode traduzir-se por prurido e sensação de ardor e "ferroadas". É raro as lesões serem totalmente assintomáticas.

Em qualquer dos casos mencionados, como em todos os outros, o diagnóstico deve ser sempre feito por médico dermatologista. A localização das lesões é muitas vezes sugestiva do tipo de inflamação em causa, mas nalguns casos é manifestamente insuficiente para a sua caracterização, pelo que é necessário correlacionar os elementos da história clínica e da observação, com antecedentes patológicos pessoais e familiares, a idade do doente, e o caráter crónico ou agudo da doença, além de exames complementares de diagnóstico. No diagnóstico diferencial pode ser necessário realizar-se uma biopsia cutânea, apesar de raramente ser necessário realizar este exame.

No que respeita aos testes de alergia cutânea, são vários os que podem ser realizados (testes prick, scratch e patch). Os testes epicutâneos (patch test) são os mais utilizados no estudo de alergias de pele, estando particularmente indicados no estudo de eczemas – sobretudo de contacto, mas também desidrótico e, por vezes, no atópico.

Um diagnóstico correto e o tratamento adequado é o caminho para a cura, a atenuação da doença e para evitar futuras recaídas.

Tratamento, Prognóstico e estratégias de prevenção

Em geral, o tratamento deverá ser sempre definido pelo médico dermatologista, e evitar-se a automedicação. Investigar a causa é essencial no tratamento de eczemas ou dermatites, a fim de as eliminar. No entanto, se estas não puderem ser eliminadas ou os sintomas forem muito incómodos, é possível o recurso a medicamentos específicos.

Mas, além do tratamento médico, outros fatores são muito importantes como os cuidados diários e a paciência do doente para evitar coçar a pele, prevenindo o agravamento da infeção.

No caso de infeções bacterianas (Staphylococcus aureus, por ex.) o tratamento deve ser feito com antibioterapia sistémica, como cefalosporinas de primeira geração ou penicilinas, sendo necessária também uma limpeza constante das feridas. Em caso de infeções causadas por fungos, o tratamento pode ser feito através de medicamentos antifúngicos tópicos ou orais.

A hidratação da pele com pomadas, soluções oleosas para o banho, que deve ser rápido e morno, ou loções à base de ureia que têm um efeito regulador e desinfetante sobre a camada lipofílica da pele, são recomendadas para o tratamento de episódios agudos mas não são adequados para episódios crónicos devido ao risco de repercussões graves, quando o tratamento é interrompido subitamente.

O uso de cremes com corticoides tópicos (como a hidrocortisona), por via externa, podem ser utilizados, principalmente em caso de surtos e durante um curto período, tendo cuidado com o risco de atrofia da pele, pois o uso prolongado pode fragilizá-la. Nos casos mais graves pode ainda recorrer-se a corticoides orais ou injetáveis.

Outra opção de tratamento são os imunomoduladores tópicos, uma nova classe de medicamentos que atuam no controle da resposta inflamatória cutânea. O principal grupo são os inibidores da calcineurina e os principais compostos, o pimecrolímus e o tacrolímus.

Com uma ação anti-inflamatória local eficaz, estes medicamentos surgiram como alternativa à utilização dos corticosteroides tópicos nas doenças alérgicas e inflamatórias da pele. Além disso, é possível a realização de tratamentos mais prolongados com menor risco de efeitos colaterais.

Os anti-histamínicos sedativos (difenidramina e hidroxizina, por ex.) podem ser usados para controlar o prurido e a comichão, permitindo um sono mais revigorante ao paciente. Quando as causas envolvem fatores psicológicos como ansiedade, compulsões, transtornos de humor ou traumas psicológicos, torna-se necessário um acompanhamento psicológico de longo prazo.

A fototerapia (terapia com luz ultravioleta) também pode ser eficaz no controle da dermatite, só sendo no entanto recomendada em casos severos pois, para além de ser um tratamento dispendioso, pode aumentar o risco de cancro de pele.

Além destas opções de tratamento certas mudanças do estilo de vida também podem ajudar a tratar a dermatite, reduzindo a ocorrência de surtos. No banho usar água morna, e não quente, de forma a evitar ressecar a pele; dar preferência a roupas de algodão com uma textura suave de forma a permitir que a pele respire, evitando materiais como a fibra sintética.

Na alimentação, uma vez que a dermatite é uma inflamação crónica da pele, consumir alimentos com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes pode ser uma excelente estratégia para ajudar no tratamento.

Assim, aconselha-se aumentar a ingestão de alimentos anti-inflamatórios (as sementes de chia, por exemplo, podem ajudar a desinflamar a pele), e de alimentos antioxidantes (as bagas goji ajudam a diminuir a fragilidade da pele e fortalecer o sistema imunitário).

Outra forma natural de tratar a dermatite é tomar, sob recomendação médica, suplementos de ómega-3, zinco, flavonoides como a quercetina, óleo de borragem ou probióticos, tal como os presentes no iogurte.

No que respeita ao prognóstico das dermatites, este varia de pessoa para pessoa, depende do tipo de inflamação e da resposta de cada paciente ao tratamento. Por exemplo, a maioria das dermatites de contacto curam-se no prazo de duas a três semanas, enquanto a maioria das dermatites de estase permanecem durante anos e, se a dermatite das fraldas se resolve ao fim de 2 a 3 dias, sem complicações, entre crianças afetadas pela dermatite atópica, cerca de metade terá o problema em adulto.

Quanto à prevenção, torna-se difícil enumerar cuidados a ter para prevenir eczemas ou dermatites devido à sua grande variedade, sendo que algumas estão ligados a alergias, ou outros fatores difíceis de controlar.

Pode no entanto ser útil manter os seguintes cuidados: tomar apenas um banho diário, com água morna, e usar posteriormente hidratantes para recuperar a pele; os profissionais de saúde devem usar luvas e fazer uso moderado do álcool em gel e sabonete bactericida, pois danificam a pele, dando preferência a sabonetes neutros; fazer uma alimentação saudável e equilibrada, rica em vitaminas, e manter-se alerta em relação a alergias alimentares; no caso dos bebés, alimentá-los com leite materno durante o maior período de tempo possível; beber a quantidade diária aconselhável de água (entre um litro e meio a dois litros); evitar praias e cursos de água com qualidade reduzida; expor-se demasiado ao sol, principalmente durante as horas de maior incidência solar; evitar alterações bruscas de temperatura, e fazer exercício físico com frequência.

É verdade que muitos tipos de dermatite não têm cura, mas o seguimento destas simples medidas de prevenção ajudá-lo-ão a controlar a doença, e ensiná-lo-ão a conviver com ela. E fique descansado, a dermatite não é nenhum "bicho de sete cabeças"!

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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