RESPIRAÇÃO, ALERTA AMARELO!
DOENÇAS E TRATAMENTOS
Tupam Editores
Uma pessoa normal respira cerca de 17 vezes por minuto, inspirando meio litro de ar, em respiração normal. Porém, há pessoas para quem respirar se torna uma tarefa cada vez mais difícil. Para muitas outras, realizar qualquer tipo de actividade é uma missão quase impossível.
Em resultado do envelhecimento populacional, da poluição ambiental e do aumento do consumo de tabaco, tem-se assistido nas últimas décadas a uma incidência maior das doenças respiratórias, incluindo as obstrutivas crónicas como a asma, bronquite e apneia, ou ainda as associadas a insuficiência respiratória crónica ou cancro pulmonar. Em Portugal matam mais que a SIDA ou os acidentes rodoviários. A nível mundial, ocupam o terceiro lugar nas doenças fatais, depois das cardiovasculares e dos tumores malignos.
Dado que o aparelho respiratório, em conjunto com o digestivo, é o mais exposto ao exterior, torna-se mais vulnerável à entrada de micróbios que contribuem para o aparecimento das conhecidas infecções respiratórias, para além de estar sujeito às influências das oscilações ambientais e de temperatura.
É um dos órgãos mais importantes do corpo humano, por ser responsável por um processo vital: a respiração! É ela que permite, através dos mecanismos de inspiração e expiração, tanto a admissão de novo ar, como a expulsão do dióxido de carbono produzido internamente e que, caso não fosse eliminado, provocaria a intoxicação e morte do organismo.
Por outro lado, as trocas gasosas com o meio ambiente possibilitam ao organismo suprir as suas necessidades de oxigénio no sangue, condição indispensável para que ocorra a respiração celular e simultaneamente a produção de energia, tão importante para o desempenho das suas funções metabólicas.
Daí o aparelho respiratório ser constituído por um conjunto de órgãos que permitem a entrada, filtração, aquecimento, humidificação e saída do ar.
Para além dos pulmões, o órgão de maior dimensão, fazem também parte do aparelho respiratório a boca, fossas nasais, laringe, faringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares, estes três últimos localizados nos pulmões. É a nível dos pulmões que é realizada a troca de gases, situação só tornada possível com a entrada e passagem do ar pelas chamadas vias aéreas.
Apesar de sua função delicada, vital para a sobrevivência do ser humano, o sistema respiratório é capaz de enfrentar com sucesso as diversas e permanentes agressões a que está exposto no meio ambiente, em particular aos milhões de microrganismos em suspensão no ar que, com o tamanho adequado, podem penetrar nas vias aéreas. Para se proteger, o aparelho respiratório possui uma série de mecanismos de defesa muito efectivos, como sejam a pilosidade da fossa nasal que impede a entrada de partículas, assim como a mucosa nasal que detém as bactérias e as expulsa através do estômago ou enviando-as para o exterior sempre que se espirra. Ainda que os intrusos consigam ultrapassar todos os obstáculos anteriores, ao atingirem os troncos bronquiais, deparam-se com um revestimento mucociliar ao qual aderem. Através da expectoração, os milhões de cílios existentes naquela zona procedem, posteriormente, à sua expulsão.
Embora não existam agentes de destruição capazes de atingir a estrutura sensível do pulmão ou dos brônquios, há condições específicas propiciadas pelo ambiente, como ocorre com as bactérias que provocam a pneumonia ou a tuberculose, ou pré-disposição individual, como é o caso da asma ou embolia pulmonar, que podem contribuir para a deterioração de algumas áreas do aparelho respiratório. Contudo, o agente mais mortal é o fumo do tabaco. A sua composição química produz lesões progressivamente mais vastas, destruindo, numa primeira fase, as defesas do órgão e, após a eliminação dos cílios bronquiais, atacando as estruturas principais até originar insuficiência respiratória severa, provocando a morte do organismo.
Para além do tabagismo, há ainda outros factores de risco que afectam o tracto e os órgãos do sistema respiratório, como a poluição, a exposição profissional a substâncias tóxicas, as condições alérgicas e as doenças do sistema imunitário.
As doenças respiratórias são uma das principais causas das consultas e hospitalizações, sendo significativo o número de casos mortais, sobretudo entre a população mais idosa.
Os transtornos respiratórios podem ser divididos em infecções causadas por vírus, como a gripe ou constipações; infecções respiratórias originadas por bactérias que levam ao aparecimento de bronquites e bronquiolites, sinusites, pneumonias, meningites, febre reumática, escarlatina, amigdalite, faringite e tuberculose. Há ainda as doenças respiratórias não provocadas por qualquer tipo de microrganismo, que se enquadram no foro alérgico, como a rinite alérgica e a asma.
As infecções respiratórias podem ainda manifestar-se de forma aguda ou crónica. As primeiras ocorrem subitamente e podem prolongar-se até sete dias, como a otite, constipação ou pneumonia. As crónicas, pelo contrário, são de longa duração e os sinais podem, por vezes, passar despercebidos ou ser minimizados, como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Esta última é uma doença pulmonar progressiva caracterizada por sintomas respiratórios crónicos, como tosse, catarro e falta de ar. Surge habitualmente a partir dos 40 anos e com maior incidência nos fumadores, apesar de também possuir uma componente genética importante. À medida que a doença progride, ocorrem as chamadas exacerbações ou agudização dos sintomas, que podem incapacitar o doente para a realização das suas actividades de rotina diárias.
Também considerada doença crónica pulmonar é a asma, cujos sintomas são muito semelhantes aos da DPOC. Ambas são caracterizadas por uma inflamação a nível dos brônquios. A asma, no entanto, surge geralmente na infância, As suas alterações inflamatórias podem ser reversíveis desde que se mantenha o tratamento adequado.
Há ainda doenças respiratórias que podem tornar-se crónicas. É o caso da sinusite, uma inflamação das mucosas dos seios paranasais, que se manifesta através de uma dor persistente na zona afectada. Apesar de através de antibióticos se conseguir eliminar boa parte dos microrganismos responsáveis pela infecção, em alguns casos a doença pode instalar-se permanentemente, sendo necessária intervenção cirúrgica para drenagem e limpeza da área mais obstruída.
A rinite alérgica também é uma doença inflamatória crónica da mucosa nasal, embora tenha origem numa reacção imunológica do organismo a determinados factores alérgenos presentes no ambiente. Se bem que também exista uma forte predisposição genética para a rinite são, sobretudo, os ácaros do pó, fungos, pólenes, insectos e animais de companhia os principais agentes que provocam as reacções alérgicas. Outros agentes podem também funcionar como irritantes e agir como desencadeadores da doença: viroses, cheiros intensos, humidade e mudanças climáticas, fumo do tabaco e outros poluentes. O aumento da contaminação atmosférica e do tabagismo, associados a um estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo, aumentaram nas últimas décadas a incidência de rinite e de doenças alérgicas.
À semelhança de outras doenças alérgicas, é frequente a rinite ser mal diagnosticada, negligenciado-se o correcto tratamento. Porém, os sintomas - que podem ir desde manifestações de crises de espirros, prurido ou comichão nasal, até perturbações do sono, olfacto e paladar -, interferem no desempenho profissional e escolar, diminuindo a qualidade de vida dos afectados. Daí ser importante um correcto diagnóstico desta doença, de forma a evitar que evolua, por exemplo, para situações de asma ou que tenha outras complicações infecciosas como a sinusite ou a otite. Em situações particulares, recomenda-se a utilização de vacinas antialérgicas, com as quais se pode alterar a evolução da doença e prevenir os seus sintomas.
Nas infecções respiratórias agudas (IRA’s) os sintomas mais comuns são a dificuldade em respirar, o catarro, dor de garganta ou de ouvido, para além do aumento da temperatura associado a um mal-estar geral. A via de entrada dos micróbios que provocam a maioria destas doenças são a boca e o nariz, o que explica que as primeiras manifestações sejam a tosse e os espirros, típicas reacções de defesa do organismo.
São doenças mais frequentes durante a época de frio, pois a pilosidade do nariz, responsável por deter os micróbios, fica paralisada, facilitando a entrada de qualquer tipo de substância. Por outro lado, o frio compromete a capacidade da mucosa nasal para aquecer o ar que entra nos pulmões, o que vai permitir a passagem de micróbios até à traqueia e região pulmonar, ocasionando, por vezes, infecções muito severas. As mais frequentes são as chamadas bronquites ou bronquiolites, estas últimas atingindo, sobretudo, crianças até aos três anos. Ocorrem após uma constipação ou gripe. O seu principal sintoma é a tosse, seca ou catarral, provocada por inflamação nos brônquios.
Na sua maioria as IRA’s são doenças controláveis, desde que atendidas oportunamente. Para isso é necessário evitar a exposição a mudanças bruscas de temperatura ou ao frio; repouso; alimentação adequada, da qual faça parte a fruta e os vegetais; manter o organismo hidratado com abundância de líquidos; seguir com rigor o tratamento indicado até o fim, de forma a evitar a reincidência da doença, altura em que os micróbios se reproduzem de novo aproveitando-se da debilidade do sistema imunitário, agravando ainda mais a doença.
Para a maioria das doenças ou infecções respiratórias a terapêutica farmacológica passa pela administração de analgésicos, antitússicos, antibióticos, broncodilatadores, diuréticos (caso se desconfie de insuficiência cardíaca) ou corticóides e anti-histamínicos para as manifestações alérgicas. A administração de vacina para prevenir situações de gripe e complicações associadas, em particular nos grupos de risco como crianças, pessoas idosas ou com doenças crónicas e debilitantes (diabetes ou hipertensão), deverá ser equacionada.
Deve ter-se cuidado no sentido de não se tomarem antibióticos desnecessariamente, pois algumas inflamações da garganta, por exemplo, são consequência directa de um simples resfriado ou gripe, ao invés das infecções, como faringites ou amigdalites, causadas por bactérias. Os antibióticos só devem ser prescritos caso ocorram complicações bacterianas, sendo das mais graves a pneumonia, principal causa de morte durante as epidemias e pandemias de gripe em todo o mundo. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam, inclusive, que aquela doença é a infecção que mais crianças mata em países subdesenvolvidos. A desnutrição, a ausência de cuidados materno-infantis e de higiene são os maiores responsáveis.
Neste grupo não se pode deixar de mencionar a tuberculose, já que é a doença infecciosa que mais doentes e mortes causa no planeta. Mesmo quando parecia eminente a sua erradicação nos países industrializados, emergiu novamente e com maior intensidade, devido ao aparecimento de estirpes multirresistentes aos medicamentos. É uma doença transmitida por via aérea e por objectos contaminados. Atinge sobretudo os pulmões. O ser humano é o reservatório quase exclusivo da bactéria micobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch, responsável pela tuberculose. A emergência do Vírus da Imunodeficiência Adquirida (VIH), nos anos 80, mudou a epidemiologia da tuberculose nas últimas décadas, sendo hoje considerada o factor mais importante para o desenvolvimento de uma patologia pandémica a nível mundial.
Por último, de referir ainda dois transtornos com grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, que reduzem significativamente as suas expectativas de sobrevivência: a fibrose quística e as neoplasias, ou tumores, que tanto podem atingir as vias aéreas superiores como os pulmões.
No primeiro caso trata-se de uma doença de origem genética que se caracteriza por secreções anormais de algumas glândulas, de que resultam alterações no tubo digestivo e nos pulmões. Apenas 35 por cento dos doentes com fibrose quística atingem a idade adulta, embora com muitas sequelas, como a diabetes, atraso de crescimento, infertilidade, para além de bronquites ou pneumonias recorrentes que deterioram progressivamente os pulmões. A morte resulta da combinação de insuficiência respiratória e cardíaca, causadas pela doença pulmonar.
Na segunda situação, embora com desfecho semelhante, as causas são diversas. É o fumo do tabaco que está na origem de 90 por cento dos cancros do pulmão, tendo também influência nos tumores que surgem na boca, laringe e na zona da faringe. Também muitas bronquites crónicas e enfisemas pulmonares estão associados a fumadores. Se a pessoa trabalha em ambientes com elevados índices de amianto, radiação, crómio, gás mostarda ou emissões de coque, o risco de sofrer doenças do aparelho respiratório aumenta.
Cada doença do foro respiratório está associada a um determinado conjunto de sintomas específicos que apenas o médico pode avaliar. Contudo, é importante estar atento aos primeiros sintomas e à sua duração. Os primeiros sinais de alerta são a tosse, rouquidão, dispneia, dores de garganta e no peito, nariz entupido, cansaço e dificuldade em respirar na ausência de esforço físico. Perante estes sintomas, o doente deve contrariar a evolução da doença através de tratamento adequado. Embora muitas situações possam ser resolvidas em ambulatório, outras, pela sua gravidade, requerem internamento hospitalar e terapêutica contínua.
Através da observação clínica, com recurso a técnicas e meios complementares de diagnóstico, como testes da função respiratória, broncografia, broncoscopia, laringoscopia, radiografia pulmonar ou rinomanometria, podem hoje despistar-se suspeitas de muitas doenças respiratórias e validar outras, por forma a encontrar e seguir o tratamento mais adequado.
A prevenção primária, na medida em que reduz o nível de exposição aos factores de risco, deve ser uma prioridade. Contudo não se deve negligenciar a prevenção secundária e terciária, reforçando os cuidados de saúde a todas as pessoas com doenças respiratórias, em particular as crónicas, para impedir o seu agravamento e as consequências em termos de custos económicos e sociais, além de mortes prematuras.
Nos primórdios do século XXI, o cenário das doenças do aparelho respiratório mantém-se preocupante. A atenção concentra-se nas que emergiram recentemente, como a tuberculose, e no peso social e económico das patologias crónicas do foro respiratório.
Segundo a OMS, morrem em todo o mundo cerca de quatro milhões de pessoas por ano devido a doenças respiratórias crónicas, como asma, transtornos alérgicos, doenças profissionais, apneia do sono, hipertensão pulmonar e DPOC. Relativamente a esta última, os dados são alarmantes. Eles apontam para 210 milhões de portadores de DPOC, dos quais morrem anualmente cerca de três milhões. Trata-se de um problema de saúde pública grave. É uma das causas que contribui para aumentar a mortalidade em indivíduos com mais de 40 anos, prevendo-se que seja uma das doenças que mais óbitos provoque dentro de duas décadas.
As perspectivas são ainda menos animadoras nos países africanos e asiáticos, devido ao progressivo aumento do consumo de tabaco. Em contrapartida, prevê-se que a aplicação de legislação restritiva ao hábito de fumar, sobretudo em países mais desenvolvidos, possa ter algum impacto, embora ainda seja prematuro avaliar os seus resultados.
Outros factores ambientais podem contribuir para o incremento das doenças respiratórias, sobretudo no local de trabalho. Há ainda muito a fazer a este nível. A asma associada à actividade laboral, assim como a DPOC, o cancro pulmonar e a fibrose, continua a ser um problema de saúde pública, com graves implicações económicas, sobretudo nos países de baixos rendimentos. Nesses, as tecnologias, consideradas obsoletas ou proibidas nos mais industrializados, ainda são amplamente utilizadas. Para tornar a situação mais dramática, os trabalhadores não têm acesso aos meios de protecção adequados para se resguardarem dos poluentes tóxicos, mantendo-se em actividade, devido a fragilidade económica, até que a doença os incapacite.
No sentido de contrariar o panorama negativo das doenças respiratórias crónicas, a OMS lançou em 2006 um programa que pretende apoiar os Estados membros no seus esforços para reduzir a taxa de incapacidade e mortalidade prematura provocada por aquele tipo de afecções.
Sob o lema "um mundo onde todos respiram melhor", a Aliança Global contra as Doenças Respiratórias Crónicas (GARD) propõe um conjunto de medidas para melhorar a qualidade de vida dos milhões de doentes afectados. Através de uma abordagem integradora, alerta para os factores de risco e indica formas de prevenção. A correcta identificação e diagnóstico da doença respiratória, sobretudo a de origem laboral, é também um dos objectivos da GARD.
Por outro lado, o acesso a fármacos e equipamentos deve estar disponível aos doentes, incentivando mesmo o recurso a medicinas alternativas em países onde os tratamentos são insuficientes e limitados. A formação de profissionais especializados é também uma prioridade, em particular nos países menos desenvolvidos.
O aparecimento de novas afecções respiratórias como a Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS), o incremento de outras doenças que debilitam o sistema imunitário como a SIDA, para além das alterações climáticas que levaram o foco deste tipo de doença a regiões onde antes não existia, são uma série de novos dados que obrigam a medidas de coordenação conjunta propiciadas, actualmente, pela GARD.
Até ao momento, as doenças crónicas têm sido negligenciadas pelas de políticas de saúde e desenvolvimento. Contudo, caso as metas da GARD se concretizem, este será o primeiro passo para inverter um problema de saúde pública que ameaça alastrar às futuras gerações.
Neste Inverno em particular, em pleno Alerta Amarelo provocado pela primeira pandemia global do século – a gripe A [H1N1] – é indispensável que todos os cidadãos, classe médica e paramédica bem como os governantes, assumam uma atitude responsável e tomem medidas que permitam travar o avanço das epidemias respiratórias que, segundo o último relatório do Centro Europeu para o Controlo de Doenças, continuam a alastrar pelo continente. Dos pacientes identificados com SARS em seis países europeus, 76 por cento precisaram de suporte de ventilação respiratória.
Ver mais:ASMA
ASMA - NECESSIDADES NÃO SATISFEITAS NO TRATAMENTO
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