CAFÉ

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DIETA E NUTRIÇÃO

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O café, infusão feita com grãos de café torrado moídos, é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo e muito apreciada, não só pelo seu aroma apelativo aos sentidos e sabor caraterístico, como também pelos seus conhecidos efeitos estimulantes. Com sabor intenso e aroma forte, estima-se que mais de metade da população mundial inclua nas suas rotinas da manhã a ingestão de café, simples ou adicionado a outras bebidas, como forma de estimular a atenção, a concentração e a memória e reduzir a sensação de fadiga e sonolência.

O grão de café utilizado para fazer a bebida é colhido de uma planta, o cafeeiro, um arbusto da família das rubiáceas que pode atingir até 10 metros de altura em estado natural, mas quando cultivadas são periodicamente podadas a fim de facilitar a colheita. A planta tem longas folhas de forma oval, sendo caraterizada pelo facto de possuir no mesmo ramo, o fruto e os cachos de flores brancas e perfumadas. O passeio por uma plantação de cafeeiros em florescência é uma experiência sensorial inesquecível.

Apesar de crescer por todo o mundo, o cafeeiro apresenta um melhor desenvolvimento em locais frios e húmidos, situados em altitudes mais elevadas dos trópicos e subtrópicos, em particular distribuídos pela chamado "cinturão do grão", uma faixa à volta da Terra situada entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio.

O pé de café prefere solos ricos e temperaturas amenas, com bastante humidade e protegido do sol, fatores que influenciam decisivamente caraterísticas como o sabor e aroma dos grãos. O clima, a terra, a altitude e a vegetação circunvizinha são alguns dos fatores que afetam o sabor dos grãos, motivo porque sentimos a diferença quando experienciamos o café proveniente de diferentes zonas.

Depois de plantado, o cafeeiro começa a dar frutos após 3 a 4 anos de crescimento, atinge o seu melhor nível de produção entre o quinto e o décimo ano, continuando a germinar os seus frutos durante cerca de 30 anos.

Enquanto jovem, o fruto apresenta cor verde, passando posteriormente a amarela e finalmente a vermelha brilhante, o que indica estar pronto para ser colhido.

Nesta fase, a pele do fruto fica muito grossa para proteger as sementes que dão origem ao café grão e que após passagem por vários processos, desde a colheita, secagem, torrefação moagem e mistura irá dar origem ao tão apreciado café bebida.

Todos estes processos são determinantes para a obtenção de um café de qualidade, mas a mistura é a parte mais importante da produção já que tem de garantir o conjunto harmonioso do corpo, de aroma e sabor do café, conferindo-lhe caraterísticas singulares. Para se obter um equilíbrio perfeito, a mistura tem que conter cafés mais "doces" e outros mais fortes, com aromas a chocolate e frutados, ou mais ácidos, considerando que uma destas caraterísticas deve prevalecer em vantagem, por forma a dar "personalidade" própria à mistura.

Origem e evolução

Quando nos interrogamos sobre a origem deste tão apreciado fruto, deparamo-nos com um sem número de mitos e lendas, uma boa parte sem ligação à realidade. Proveniente do árabe qahwah (vinho da arábia), e frequentemente associado a Kaffa (local de origem da planta), os etimologistas acreditam que o café é nativo das terras altas da Etiópia, tendo-se difundido para o mundo através do Egipto e da Europa.

O mito mundialmente mais difundido remonta a 600 a.C e conta a história do pastor Kaldi que enquanto apascentava o seu rebanho de cabras nos campos de um mosteiro, começou a estranhar a agitação anormal dos animais ao ingerirem umas cerejas vermelhas de um arbusto silvestre. Curioso, o pastor decidiu provar o fruto desconhecido, que logo passou a ser o mais desejado pelos monges e que após esse evento, o viram eufórico a dançar juntamente com as suas cabras. A partir daí, a "mistura de cerejas" passou a ser fervida e o seu líquido usado como elemento que permitia aos monges mantê-los despertos por longos períodos de tempo, durante as orações.

O cultivo comercial do café foi iniciado cedo, mas somente a partir do século XV começaram a surgir os primeiros relatos referentes ao evento, ao mesmo tempo que as primeiras casas de café abriam as portas em Meca, tendo-se popularizado por toda a população árabe a ingestão desta revitalizante bebida. Acredita-se que este movimento massivo de ficou a dever ao facto dos muçulmanos não poderem ingerir álcool, tendo encontrado no café, um substituto revigorante adequado.

Considerada mercadoria muito valiosa, o segredo do café era no início religiosamente ocultado pelos árabes impedindo visitas às plantações e a cedência de grãos férteis para fora do país. No entanto, acabou por chegar à Europa através de Veneza e pelos comerciantes da Rota das Especiarias, local onde foi aberto o primeiro estabelecimento com café. Apesar de alguns opositores o apelidarem de "invenção amarga de Satanás", a polémica obrigou à intervenção do Papa que, após provar a bebida, anunciou a sua aprovação, ato que se tornou o "motor" para o crescimento das casas populares onde o café se viria a tornar em bebida social.

De consumo caseiro ou social, ninguém fica indiferente à fragrância do café, constituindo hoje um hábito adquirido e disseminado pelo planeta, com elevada relevância na economia internacional sendo um dos principais produtos de exportação de mais de quarenta países. Somente superada pela água, o café é atualmente a segunda bebida mais consumida no mundo global e a segundo produto mais comercializado, superado apenas pelo petróleo!

São conhecidas atualmente cerca de 25 variedades de café, algumas com caraterísticas específicas muito apreciadas, como por exemplo o café de Timor, mas somente duas, o Arábica (coffea arábica) e o Robusta (coffea canephora), têm importância no cômputo do comércio global. A espécie arábica distingue-se por ser mais ácida, menos amarga e por conter um menor teor de cafeína e polifenois comparativamente com a espécie Robusta.

O arábica, com o seu sabor suave e aromático, descendente dos pés de café originais da Etiópia, é considerado o rei dos cafés, respondendo por cerca de 70 por cento da produção mundial. Os restantes 30 por cento cabem ao Robusta, um café de sabor amargo com cerca de 50 por cento mais cafeína do que o arábica e com plantações espalhadas pelo sudeste asiático e Brasil.

Como em outros produtos de origem vegetal, a constituição química e consequentemente a composição nutricional do café variam de acordo com a espécie, local de cultivo, métodos de colheita, o processo de transformação, o grau de torrefação, e moagem, o método de preparação, tipo de água utilizada e volume da preparação, fatores têm forte impacto na sua composição e qualidade.

Prós e contras do café

Não obstante os resultados de estudos levados a cabo ao longo de décadas, comprovarem que esta bebida pode trazer imensos benefícios para a saúde, nem sempre a sua reputação é a melhor. O café é reconhecidamente uma bebida estimulante que pode auxiliar os mais jovens no estudo e os adultos no trabalho, quando ingerido em quantidades adequadas. Pode ser uma ótima fonte de estímulo para os jovens que apresentam sonolência e consequente falta de concentração, principalmente para os que estudam no período da manhã.

Como antidepressivo, ajuda a controlar situações de demência e a conservar a memória e o bem-estar das pessoas com idades mais avançadas, pois influencia o estado de humor, ajudando a manter uma atitude mais proativa com os seus semelhantes e pode produzir uma sensação de entusiasmo e alguma euforia.

A ação antioxidante do café atua como estimulante, aumentando o metabolismo e favorecendo a queima de calorias, para além de potencializar a performance durante a atividade física, atuando como estimulante do sistema nervoso, aumentando a tensão dos músculos e auxiliando na mobilização de substratos de energia para o desenvolvimento do trabalho muscular.

Especialistas de Harvard concluíram que a toma de seis cafés por dia podem reduzir o risco da diabetes tipo II em cerca de 28 por cento, devido à presença de antioxidantes constituintes do café, que contribuem para o controlar as células responsáveis pela patologia.

Estudos realizados em França indicam que cerca de quatro cafés por dia poderiam reduzir o risco de desenvolvimento da doença de Parkinson, muito embora estes se tenham baseado apenas na observação. Porém, um outro estudo levado a cabo nos Estados Unidos, que comparou os hábitos de 200 pacientes com Parkinson, levou os investigadores a verificar um atraso no aparecimento dos sintomas da doença entre as pessoas que consumiam mais de três cafés por dia. Um terceiro estudo que teve lugar na Universidade de Vanderbilt provou que os homens que bebem café regularmente previnem cerca de 80 por cento, o desenvolvimento de Parkinson.

No combate ao cancro, o café pode auxiliar na prevenção de alguns tipos, como do cólon, pulmão, da mama, da próstata e da pele, do útero e do fígado, ajudando também na prevenção de cirrose. Realizado pelo Ministério da Saúde do Japão um estudo revelou que um grupo de mulheres que tomava mais de três cafés por dia, tinha menos probabilidade de desenvolver cancro no colo do útero (60 por cento) e cancro da mama (50 por cento) do que um outro grupo que bebia café menos de duas vezes por semana. Já nos homens, o consumo de três cafés por dia reduz em 9 por cento o risco de desenvolver cancro da pele.

Uma pesquisa da Universidade de Dusseldorf, na Alemanha, em que foram avaliados os efeitos do consumo de quatro cafés por dia no primeiro mês e depois oito cafés (cada um com 150 ml), no segundo mês, revelou que os pacientes avaliados apresentaram uma redução do colesterol total, aumento do HDL (bom colesterol) e também da adiponectina, um elemento anti-inflamatório produzido pelo organismo.

Outros estudos divulgados pela revista norte americana Neurology, indicam que algumas substâncias presentes no café podem ajudar pessoas que sofrem de Alzheimer, ao retardarem a deterioração mental, particularmente em mulheres idosas, referindo que a ingestão de 3 a 4 chávenas de café por dia reduzem em 65 por cento as possibilidade de desenvolver a doença.

Ao estimular a secreção ácida do estômago, o café torna-se um bom auxiliar da digestão e, por outro lado, ao produzir contrações peristálticas ao longo do esófago, estômago e intestino funciona também como laxante natural.

Com as crescentes preocupações de controle da celulite e excessos de peso, em particular no género feminino, o café começou a ser procurado como produto de beleza a partir da altura em que se descobriu que a cafeína estimula a circulação e liberta a retenção de água armazenada, passando por isso a ser integrada em muitos cremes dérmicos. No entanto, segundo numerosos estudos que têm vindo a ser divulgados pelo The American Journal of Clinical Nutrition, sobre os efeitos do café neste tipo de problema, a sua eficácia a longo prazo ainda está por determinar.

Riscos

Embora o café seja considerado um estimulante, bebido com moderação, não parece prejudicar o organismo. Porém, em algumas condições físicas e de saúde poderá ser contraindicada a sua ingestão por poder gerar interações com outras substâncias ou potenciar estados de ansiedade ou alterações de estado.

Na gravidez, o café deve ser bebido moderadamente. Quantidades elevadas podem agravar certos problemas digestivos, intestinais, provocar úlceras e síndrome de fadiga crónica. Vários estudos, dados a público pelo American Journal of Obstetrics and Gynecology, ligam o aborto espontâneo ao consumo de café, tendo-se constatado que as mulheres grávidas que consomem mais de 200 miligramas de café por dia, (o equivalente a pouco mais que uma xícara), têm o dobro de risco de abortar quando comparadas com as que tomam quantidades menores.

Estudos apresentados pela Sociedade Europeia de Cardiologia indicam que o consumo excessivo de café sem uma equilibrada e saudável alimentação, incrementa o risco de arritmias cardíacas, uma das formas mais comuns de distúrbio cardíaco, que aumenta o risco de derrames e diversos outros problemas cardiovasculares.

Segundo estudos realizados, podem observar-se interações medicamentosas mais ou menos graves em pessoas que tomam determinados fármacos, seja bloqueando os seus efeitos ou afetando a absorção de cafeína. Descobriu-se por exemplo que nas pessoas que bebiam café antes ou depois de tomar levotiroxina, um medicamento comum para a tiroide, observou-se uma redução de 55 por cento na absorção do fármaco.

Provou-se igualmente que o café pode reduzir a absorção do alendronato sódico, um medicamento para a osteoporose, até 60 por cento, e reduzir os níveis circulantes de estrogénio. Por outro lado, alguns medicamentos podem aumentar os efeitos do café e em resultado disso, a cafeína pode perdurar no organismo durante várias horas, como no caso das mulheres que tomam anticoncecionais, em que a cafeína se pode manter no seu organismo durante mais quatro horas do que as que não usam qualquer medicação.

O café pode também causar consideráveis oscilações nos níveis de glicose no sangue, causando hipoglicemia, cujos sintomas incluem nervosismo, tremores, fraqueza e palpitações cardíacas. Pode ainda prejudicar a qualidade do sono, agravar os sintomas de insónia, pânico e ansiedade e, as pessoas que tomam regularmente mais de uma chávena por dia, podem sofrer alguns sintomas de irritabilidade, fadiga, rigidez muscular e dificuldade de concentração.

O café não é uma bebida viciante, quando consumido moderadamente. Contudo, quanto mais se consome mais sentimos a necessidade de obter o efeito energético que se espera da cafeína, em particular a partir de uma chávena por dia. Não obstante não existir uma relação direta entre o consumo de café e algumas doenças esporadicamente mencionadas como estando a ele ligadas, como úlceras e osteoporose, o consumo em doses superiores a 500 mg por dia, deve ser evitado por pessoas idosas e mulheres na menopausa, pois além de poder contribuir para a ocorrência de osteoporose pode danificar a região gastrointestinal e produzir úlceras ou outros tipos de irritação no estômago e intestino.

No caso de overdose, o café pode provocar sintomas muito desagradáveis, sendo apontados pelos profissionais da saúde, insónia, dores de estômago, agitação, irritabilidade e hipertensão, para além de poder contribuir para a absorção de cálcio pelo organismo humano, causando desde enjoos a arritmias cardíacas, segundo alguns pediatras.

Comercialização

Os estabelecimentos comerciais na Europa consolidaram o uso do café bebida e diversas casas de café ficaram mundialmente conhecidas, como o Café Nicola em Lisboa, local de reunião de políticos e escritores, com destaque para Bocage, o Virgínia Coffee House, em Londres e o Café de La Régence em Paris, onde se reuniam nomes famosos como Rousseau, Voltaire, Richelieu e Diderot.

Com a invenção da cafeteira de Rumfort em finais do século XVIII, deu-se um grande impulso à proliferação da bebida, que voltou a acelerar em 1802 com a invenção, por Descroisilles, de uma outra cafeteira de dois corpos separados por um filtro.

Atualmente, tendo por alvo um consumidor final com elevado nível de sofisticação e exigência, o café é comercializado sob múltiplas formas, tipos, sabores, aromas e marcas, em grão torrado para moer, em pó para uso em máquinas de pressão ou de filtro, em cápsulas para uso doméstico e outras formas.

Em linha com a crescente sofisticação dos mercados e tendo em conta a necessidade de acautelar o registo de produtos inovadores a nível global, a Associação Industrial e Comercial do Café, lançou há cerca de um ano (Fevereiro de 2016) a marca institucional "Portuguese Coffee – a blend of stories", o primeiro selo do género lançado em Portugal. A ideia surgiu da aliança entre diversos torrefatores portugueses associados, que sentiram a necessidade de criar um elemento visual que "permitisse facilmente identificar este produto e as suas caraterísticas únicas" face a bebidas expresso oriundas de outras geografias.

O selo de denominação da marca "Portuguese Coffee – a blend of stories" representa várias histórias das diversas marcas à volta do café português, mas também, "a associação entre a História de Portugal e a História do Café no mundo", referem os responsáveis da AICC. Isto, porque "Portugal teve um papel preponderante na disseminação desta que é a segunda ‘commodity’ mais transacionada no planeta.

Qualquer amante de um bom café que viaje por Portugal, sabe que melhor que o pastel de nata, só mesmo uma boa xícara de Café, uma Bica ou um Cimbalino.

Vai um cafezinho?

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
17 de Novembro de 2023

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