LUTA CONTRA O CANCRO DA MAMA

LUTA CONTRA O CANCRO DA MAMA

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

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A 4 de Fevereiro assinala-se o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, data estabelecida em 2000 na Carta de Paris pela União Internacional Contra o Cancro, e a 15 de Fevereiro assinala-se o Dia Internacional da Criança com Cancro.

Este ano, a União Internacional Contra o Cancro escolheu como tema do dia mundial Eu amo a minha infância, no seguimento da campanha de prevenção iniciada o ano passado As crianças de hoje, o Mundo de amanhã (ver MNews 169, pps.1-4). Também neste âmbito, o Movimento Vencer e Viver, associado à Liga Portuguesa Contra o Cancro, lançou uma campanha de sensibilização, cujo lema é Jovens com Cancro da Mama, e tem como objectivo "sensibilizar, informar, apoiar e esclarecer as dúvidas de mulheres jovens que se encontram doentes com cancro da mama e que enfrentam problemas na sua vida quotidiana, específicos da sua idade".

O cancro da mama afecta, em todo o mundo, cerca de 150 mil mulheres por ano. Destas, 44 mil acabam por sucumbir à doença. Em Portugal, cerca de 400 mulheres são atingidas por esta doença.

Os tumores podem atingir um ou os dois seios. Cerca de 90 por cento dos nódulos formam-se nos canais do leite e os restantes 10 por cento atingem os lóbulos da mama. Se não for tratado atempadamente, o cancro começa por alastrar aos gânglios linfáticos da axila e, mais tarde, dissemina-se por todo o corpo.

Existem vários factores de risco. A incidência desta patologia aumenta com a duração do período fértil e com os antecedentes familiares. As mulheres que tiveram uma menstruação precoce e uma menopausa tardia correm esse risco. Uma mulher que nunca foi mãe ou que tenha tido o seu primeiro filho depois dos 30 anos corre igualmente esse risco.

Apesar de estarem a aumentar os casos de mulheres jovens com cancro da mama, a idade é, por si só, um factor de risco.

Um estudo recente publicado no Journal of the National Cancer Institute vem sugerir a existência de uma relação entre o aumento dos níveis de insulina, a obesidade e o cancro da mama, em mulheres pós-menopáusicas. Este facto poderá vir a tornar-se mais um factor de risco.

Muitas vezes, o cancro é descoberto pelos pacientes e não pelos médicos, uma vez que a mulher começa a aperceber-se das alterações no seu corpo. Desta forma é fundamental que todas as mulheres (e homens) conheçam os sete sinais de aviso de cancro – "inflamação que não passa, tosse ou rouquidão persistente, má ou difícil digestão ou dores ao engolir, espessamento ou protuberância no seio ou noutra localização, alteração visível em sinal ou verruga, alteração nos hábitos intestinais ou urinários e hemorragia ou descarga não usual."

Apesar de não existirem dados actualizados sobre a incidência do cancro da mama em mulheres jovens, os médicos especialistas na área reconhecem o aparecimento de um número crescente de casos, "com a agravante de serem mulheres cada vez mais jovens e com diagnósticos iniciais feitos em fases adiantadas". Todos os dias surgem onze a doze novos casos deste tipo de cancro em Portugal.

Os especialistas adiantam algumas possibilidades para este "fenómeno", mas ainda pairam muitas dúvidas no ar.

Nestes casos, a genética desempenha um papel importante. Estima-se que 4 a 8 por cento dos casos de cancro da mama sejam hereditários. O Instituto Português de Oncologia tem uma consulta de Cancro da Mama Familiar, cujas primeiras utentes são filhas de mulheres que tiveram cancro na mama. Na opinião dos especialistas, salientando, mais uma vez, que não há dados conclusivos: "O estilo de vida é muito diferente do que era há 30 ou 40 anos. O uso de contraceptivos orais é muito mais generalizado e precoce. Por outro lado, [estas mulheres jovens são filhas] das mulheres que primeiro tiveram acesso à pílula em altas doses e aos tratamentos de substituição hormonal".

Outra das possíveis razões apontadas é a falta de meios eficazes para a detecção de cancro antes dos 35 anos, uma vez que as mamografias são desaconselhadas devido às radiações e as ecografias mamárias não têm a mesma acuidade de uma mamografia.

Um relatório recente, publicado no Journal of the National Cancer Institute, sugere que a radiação das mamografias pode ter um efeito mais nefasto nas mulheres mais jovens com mutação do gene BRCA. O relatório indica que radiografias anuais realizadas entre os 25 e os 29 anos poderão proporcionar a essas mulheres uma vida inteira de risco de cancro da mama induzido pela radiação, sendo que o número de mortes é de 26 por 10 mil. Se as mulheres se submeterem a mamografias entre os 30 e os 34 anos o número de mortes diminui para 20 em cada 10 mil mulheres.

Porém, se as ecografias mamárias não são tão eficazes como uma mamografia, como se poderá detectar esta patologia numa fase precoce em mulheres jovens? Segundo o Dr. Mário Bernardo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa e oncologista, é necessário aumentar o nível de exigência na formação dos profissionais de medicina e a responsabilidade que cada cidadão deve ter pela sua própria saúde.

O cancro da mama no homem

Apenas um por cento do total dos pacientes com cancro da mama é do sexo masculino. Contudo, eles morrem mais do que elas.

Estes números advêm do facto de a maioria dos casos ser detectada tardiamente e, consequentemente, haver uma maior necessidade de recorrer a tratamentos agressivos, cujos resultados são mais nefastos. Apesar de a taxa de sobrevivência ser semelhante em ambos os sexos, quando a doença é diagnosticada tardiamente nos homens, a sua taxa de sobrevivência é menor.

A importância da prevenção

A realização do auto-exame da mama é fundamental, em qualquer idade, para a detecção precoce do cancro da mama, aumentando, assim, as hipóteses de cura. É fundamental que a mulher conheça o seu próprio corpo. O auto-exame, que deverá ser realizado mensalmente, após a menstruação – depois da menopausa, este poderá ser feito em qualquer altura do mês – , tem como objectivo encontrar nódulos palpáveis. De salientar que 80 por cento dos nódulos encontrados são benignos. As mulheres que têm um peito maior deverão fazer mais pressão sobre os seus seios.

As regras de prevenção do cancro da mama são também as regras gerais de saúde: praticar exercício físico, nomeadamente exercícios que envolvam os membros superiores; fazer uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas e vegetais e pobre em gorduras; controlar o peso, e cortar com alguns hábitos nocivos à saúde, como por exemplo, o tabaco.

A mulher deve estar também atenta à modificação da forma da mama e do mamilo, a alterações cutâneas localizadas – depressão, espessamento ou endurecimento da pele –, à retracção do mamilo e ao aparecimento de corrimento mamário, sobretudo de sangue. A participação em rastreios pode ser também uma forma de prevenir o cancro.

Grupos de apoio

Também as associações de apoio a mulheres com cancro da mama confirmam o aparecimento de casos em mulheres cada vez mais jovens. Segundo a vice-presidente da Associação Portuguesa de Apoio às Mulheres com Cancro da Mama,a psicóloga Paula Viegas, nem todas as mulheres pedem auxílio na mesma fase da doença. As primeiras reacções às más notícias são semelhantes: em primeiro lugar vem a incredulidade, a rejeição e a revolta. Posteriormente, vem o cansaço e o desespero e, finalmente, a aceitação.

O cancro não é uma doença por si só. Com a sua chegada, chegam também a ansiedade, o stress, devido às rotinas de tratamento, e a depressão. A mesma psicóloga afirma que o cancro da mama é encarado de forma diferente aos 30 e aos 50 anos. "No pico da sexualidade, da beleza física, da força e da realização profissional, uma mulher jovem sofre tal como uma mulher madura, mas o foco da sua dor incide noutras questões." Se uma mãe de família acredita que não está tão disponível, como anteriormente, para acompanhar o marido e os filhos, já uma jovem vive na incerteza de saber se ainda poderá casar e ter filhos. Existem, pórem, denominadores comuns a todas as idades: medo, angústia e culpa.

Os especialistas concordam que nenhuma mulher deveria passar por esta situação sem o apoio de psicoterapia ou de grupos de auto-ajuda. Muitas vezes a família e os amigos evitam falar sobre o assunto, pois não sabem como lidar com a situação.

O Movimento Vencer e Viver, criado por mulheres que já tiveram um cancro da mama, tem como objectivo aconselhar e ajudar mulheres – quer durante os tratamentos, quer na fase pós-mastectomia –, ensinando-as a viver com o seu próprio corpo. De acordo com a presidente da associação, uma das questões mais colocadas é sobre a reconstrução do peito: "Querem saber se a fazem ou não. Pedem-nos para verem o resultado em nós. É um momento muito íntimo; expomo-nos, mas estamos a ajudá-las".

Novos tratamentos na calha

Nos últimos vinte anos fizeram-se grandes progressos na identificação da doença e no seu tratamento. Agora sabe-se que o desenvolvimento tumoral, a progressão e a metastização são acompanhados de um manancial de conhecidas mutações genéticas. A taxa de mortalidade diminuiu nos anos noventa e os oncologistas estão a curar mais mulheres, a prolongar a taxa de sobrevivência graças ao diagnóstico precoce e a tratamentos mais eficazes.

Actualmente há vários tipos de tratamento, que vão desde a excisão do tumor até aos vários tipos de mastectomia, passando pela rádio, quimioterapia e fármacos para controlo hormonal. A escolha dos tratamentos depende da fase do cancro aquando do dignóstico, da idade da mulher e da sua escolha.

Ainda não foi encontrada a cura nem um fármaco milagroso, mas tratamentos para o cancro da mama estão a progredir em várias frentes, desde a genética até à descoberta de novas substâncias com vista à erradicação desta epidemia.

Um dos casos mais recentes e mediáticos na área da genética é o nascimento de uma menina, a quem foi irradicado o gene mutante BRCA1, um dos genes responsáveis pelo desenvolvimento do cancro da mama, após ter sido submetida a uma selecção genética intra-uterina prévia.

Ainda no âmbito da área da genética, um grupo de investigadores do Colégio de Medicina Baylor elaborou um mapa das células cancerígenas do cancro da mama, identificando as 157 mutações nos cromossomas de ADN de cada uma dessas células. Após a realização do mapa, os investigadores verificaram que estas células possuíam uma característica que as distinguia das restantes: a mistura de cromossomas. Os investigadores verificaram ainda que o gene RAD51C, responsável por grandes reparações nas alterações dos cromossomas quando há transferência de ADN, desempenha um papel importante: a sua alteração origina vários reordenamentos entre as fracções de ADN.

Está igualmente a ser desenvolvida uma vacina contra o gene HER-2 positivo, que poderá vir a oferecer protecção total contra este gene. Nos testes em ratinhos, esta vacina eliminou totalmente o tumor HER-2 positivo. A vacina poderá tratar as mulheres com este tipo de tumores resistentes aos actuais tratamentos, prevenir a reincidência ou até mesmo ser utilizada em mulheres sem cancro, com vista a impedir o seu desenvolvimento inicial.

Investigadores sul-coreanos desenvolveram, também nesta área, um sistema de radioterapia genética que detecta e trata células cancerosas resistentes à rádio e à quimioterapia. Este também demonstrou ser bem-sucedido nos testes laboratoriais.

O alvo desta nova arma terapêutica são as células malignas hipóxicas deficientes em oxigénio, que têm activo o gene HIF-1. Este gene é responsável pela sobrevivência celular, tornando as células imunes à maioria dos actuais tratamentos. As células hipóxicas são encontradas em vários tipos de cancro, incluindo o da mama.

Já a nível farmacológico foi testado, recentemente, um novo inibidor da tirosinacinase, o lapatinib, e os resultados foram um sucesso. Esta substância, cujo alvo são as células estaminais do cancro, nomeadamente os receptores localizados na superfície da célula, conseguiu fazer regredir o tumor em apenas seis semanas. Segundo os coordenadores do estudo, este vem demonstrar que o lapatinib pode reduzir as células estaminais que causam o cancro em mulheres a receber tratamento neoadjuvante.

Outro dos mais recentes estudos foi realizado por uma investigadora do Hauptman-Woodward Medical Research Institute, Debashis Ghosh, cuja descoberta pode vir a curar e, possivelmente, prevenir um dos tipos mais comuns de cancro da mama. Esta investigadora conseguiu determinar a terceira e última estrutura da enzima aromatase, usada pelo organismo para produzir estrogénio.

A partir deste estudo poderão vir a ser desenvolvidas novas substâncias que ataquem tumores estrogénio-dependentes. Já este ano, especialistas do Hospital Monte Sinai anunciaram o desenvolvimento de um teste através do qual se consegue prever, com uma precisão de 80 por cento, as possibilidades de recuperação de uma mulher com cancro da mama, possibilitando, inclusivamente, determinar qual o tratamento à medida mais adequado.

Poderíamos continuar a descrever as novas descobertas que são realizadas para travar a evolução do cancro da mama, que o papel não chegava. O que é importante reter é que há esperança e que os investigadores e a Indústria Farmacêutica vão continuar a sua luta incessante até encontrarem uma cura. A prevenção é, sem dúvida, vital; não desanimar e lutar, também! O cancro da mama ocupa o primeiro lugar do pódio da taxa de sobrevivência que, se for diagnosticado numa fase precoce, é de 90 por cento. Cada mulher que a ele sobrevive também.

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Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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