CANCRO DA PRÓSTATA

CANCRO DA PRÓSTATA

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Em termos genéricos, o cancro é um grupo de doenças que envolve o crescimento e divisão anormal de células com potencial para invadir e disseminar-se para outras regiões do corpo, a partir do local original. De entre os vários tipos de cancro conhecidos, os nomes são atribuídos em função do órgão em que se inicia a doença, isto é, o que está associado ao nome do órgão atingido. Obviamente que o cancro da próstata afeta exclusivamente o homem, desenvolvendo-se na próstata, a glândula do sistema reprodutor masculino.

Apesar desta doença ter sido descoberta pelo anatomista veneziano Niccòlo Mass em 1536 e ilustrada dois anos mais tarde pelo seu colega de profissão Andreas Vesalius, somente em 1853 foi identificada. Considerada inicialmente uma doença rara, os primeiros tratamentos, como a radioterapia específica da próstata, só surgiram cerca de cinquenta anos depois, no início do século XX.

A partir daí e ao longo do século, vários estudiosos se dedicaram ao estudo e desenvolvimento de novas terapias, de entre as quais destacamos cinco deles: Hugh Young – que realizou a primeira remoção da glândula em 1904 no Jonhs Hopkins Hospital –, Patrick Walsh – que desenvolveu a prostatetomia retropúbica radical –, Charles Huggins – que em 1941 publicou estudos, nos quais analisou os resultados da utilização do estrogénio para travar a produção de testosterona nos homens com cancro mestastizado, vindo a ganhar o prémio Nobel da medicina em 1966, pela descoberta da "castração química"– e Andrzej Schally e Roger Guillemin – que descobriram o papel da hormona GnRH na reprodução, tendo sido igualmente galardoados com o prémio Nobel em 1977 pelas suas investigações nesta área.

A braquiterapia com "sementes" radioativas foi utilizada pela primeira vez em 1983 e ao regime inicial de ciclosfosfamida e 5-flourouracil depressa se juntaram os múltiplos regimes, recorrendo a outras substâncias quimioterapêuticas.

Patofisiologia do cancro da próstata

O cancro da próstata é um adenocarcinoma, causado pela mutação das células normais da próstata. Existem vários fatores que estão na origem do cancro, porém a verdadeira causa ainda é desconhecida. Em termos genéticos, os cientistas afirmam que não é apenas um gene que está implicado, mas uma variedade deles, inclusivamente o BRCA1 e BRAC2, também responsáveis pelo desenvolvimento do cancro da mama e dos ovários.

A área da glândula onde os carcinomas são mais comuns é a periférica. Inicialmente, a pequena massa de células cancerígenas permanece confinada à membrana basal, condição conhecida como o carcinoma in situ. Apesar de não existirem provas de que esta condição seja uma das precursoras do cancro, está muito associada ao seu desenvolvimento. Com o decorrer do tempo, as células malignas multiplicam-se e começam a disseminar-se para o tecido prostático circundante, formando, assim, o tumor. Se não for detetado a tempo, irá evoluir e invadir os órgãos circundantes, nomeadamente os nódulos linfáticos e a estrutura óssea.

A classificação do tumor, uma vez identificado, é vital por ser um dos fatores predominantemente usados para escolher o tratamento mais adequado ao paciente. Existem algumas escalas de classificação à disposição do patologista: o score de Gleason – que indica o grau de semelhança entre o tumor e a glândula prostática – o sistema Whitmore-Jewett, o estádio da doença, o Antigénio Específico da Próstata (PSA), a idade e a saúde em geral do doente.

Factores de risco

Ainda se desconhecem os mecanismos que subjazem à mutação das células, mas o risco de o homem vir a desenvolver, ou não, cancro da próstata, está relacionado com a idade, genes, raça, dieta alimentar, medicamentos, estilo de vida, infeções ou inflamações na próstata, níveis de testosterona elevados, entre outros.

De entre estes, o fator mais importante é a idade. Este tipo de cancro não é predominante em homens com menos de 45 anos, mas com o avançar da idade torna-se mais comum. A idade média do diagnóstico é aos 70 anos.

Como é um carcinoma que se desenvolve lentamente, muitos homens acabam por morrem sem saber que tinham cancro da próstata ou sentirem verdadeiramente os seus efeitos.

Investigações que envolveram a análise em homens chineses, alemães, suecos, jamaicanos, israelitas, que morreram de outras causas, mostraram a existência de cancro da próstata em 30 por cento dos homens nos seus cinquenta anos e em 80 por cento dos homens com 70 anos de idade.

A alimentação tem também um papel importante. Um homem obeso tem mais probabilidades de desenvolver esta patologia. A ingestão de alguns tipos de alimentos, como as gorduras hidrogenadas, níveis elevados de ácidos ómega 6 e níveis baixos de vitamina E, D e selénio podem contribuir para o aumento do risco de cancro da próstata. Já a exposição a determinados fármacos, como anti-inflamatórios e estatinas, podem fazer baixar o risco de desenvolvimento daquela doença.

Algumas investigações referem que um elevado número de ejaculações durante a flor da idade poderá ser um fator protetor, mas os estudos nesta área ainda são muito controversos.

Meios de Diagnóstico

O cancro da próstata, na sua fase inicial, é normalmente, assintomático. À medida que se vai desenvolvendo, o paciente vai começar a sentir os seus efeitos. Nomeadamente, vai sofrer de disfunções urinárias – urinar frequentemente, dificuldade em manter o jato urinário estável, dores durante o ato urinário, urinar sangue, entre outras. Ao alastrar para outros órgãos, poderá causar sintomas adicionais. O mais comum é a dor óssea, frequentemente nas vértebras.

Atualmente, um dos testes disponíveis para a deteção do cancro da próstata tem como base a verificação dos níveis de um marcador tumoral, o Antigénio Específico da Próstata (PSA). Níveis elevados de PSA indicam uma possível existência de cancro. Outro teste de diagnóstico é o toque retal. Porém, a certeza absoluta da presença de um cancro advém apenas da realização de uma biópsia.

Tal como para outras doenças, o diagnóstico precoce é fundamental. Todavia, quando se fala em cancro da próstata, as opiniões sobre o rastreio divergem. Segundo alguns especialistas, ainda não está provado se os benefícios dos testes de rastreio superam os riscos.

A realização de um teste de verificação do PSA pode levar a um diagnóstico exagerado e, consequentemente, à realização de testes follow-up de rotina mais invasivos, como a biópsia, que podem causar dor, hemorragias e infeções.

Por outro lado, muitas organizações médicas, incluindo a American Urological Association, recomendam a realização do toque retal e o doseamento do PSA a partir dos cinquenta anos. A realização dos testes de rastreio deverá, inclusivamente, começar mais cedo nos homens em risco.

Mais recentemente, um grupo de investigadores norte-americanos da Escola de Medicina da Universidade de Stanford está a testar uma nova técnica, que poderá permitir diagnosticar vários tipos de cancro com recurso a apenas uma gota de sangue, método menos invasivo, tendente a abrir novos caminhos para uma resposta mais efetiva a tratamentos no futuro.

Tratamentos

Existem várias opções terapêuticas, selecionadas de acordo com os parâmetros de avaliação do tumor. Os tratamentos podem envolver o recurso à vigilância ativa, cirurgia, radioterapia, incluindo braquiterapia, terapia do feixe externo, ultrasom focalizado de alta intensidade (HIFU), quimioterapia, criocirurgia, terapia hormonal ou ao uso concomitante de algumas terapias.

Terapias na calha

Os esforços dos investigadores na área urológica deram frutos recentemente, quer na área do diagnóstico, quer a nível de tratamento.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Michigan, coordenada pelo Dr. Chinnaiyan, identificou, pela primeira vez, na urina humana, uma substância que permite aos médicos distinguir tecidos normais da próstata, dos tumores cancerosos localizados e dos tumores invasivos. Comparativamente ao PSA, este potencial marcador parece indicar com mais precisão o nível de agressividade tumoral.

Para descobrir este novo marcador, a equipa comparou 1126 metabolitos, presentes em 262 amostras de tecido, sangue e urina, quer saudável, quer na presença de um cancro localizado ou cancro metastático.

Um dos potenciais marcadores biológicos, a sarcosina – um derivado do aminoácido glicina -, chamou a particular atenção dos investigadores. Os seus níveis mostraram-se elevados em 79 por cento dos cancros da próstata invasivos e em 42 por cento dos cancros em estádios mais precoces. Depois de realizados vários estudos, os cientistas verificaram que os níveis de sarcosina eram mais elevados nas células malignas invasivas que nas células normais.

Outra das mais-valias deste marcador é o controlo da agressividade tumoral: ao adicionar-se sarcosina às células benignas ou quando se induziam as próprias células a produzir o derivado, estas tornavam-se cancerosas e invasivas. Contudo, quando se interrompia esta produção, a agressividade do tumor diminuía. Os investigadores salientam, porém, que os resultados são preliminares, sendo necessária a realização de mais experiências, pois "não podemos confiar em apenas um só metabolito, precisamos de um conjunto para diagnosticar a agressividade deste cancro com fiabilidade".

A nível farmacológico, estão a ser realizadas experiências com uma nova substância, já considerada a maior inovação dos últimos setenta anos, que se mostrou eficaz na redução de tumores da próstata em estádio avançado.

As hormonas masculinas alimentam o crescimento tumoral. Os atuais tratamentos, quer cirúrgicos quer farmacológicos, diminuem a produção destas hormonas nos testículos, mas não conseguem impedir que outras partes do corpo as produzam. Porém, este novo fármaco, denominado abiraterone, tem como alvo a enzima CYP17, essencial para a produção de hormonas masculinas em todo o organismo.

No estudo, o abiraterone conseguiu reduzir em mais de 30 por cento o tamanho dos tumores em um quarto dos participantes – pacientes cujos cancros continuavam a alastrar apesar da administração de hormonoterapia. Adicionalmente, em 35 por cento dos doentes verificou-se uma estagnação no desenvolvimento tumoral. Decorridas doze semanas de tratamento, 71 por cento dos pacientes sofreram uma redução de 50 por cento ou superior nos níveis de PSA, tendo estes descido para níveis quase indetetáveis.

Segundo o investigador Charles J. Ryan, coordenador do estudo, decorrido um ano após o início da terapia, alguns destes doentes ainda estão vivos e sem qualquer sinal de progressão da doença. Sem o novo medicamento a sua esperança de vida seria de apenas três a quatro meses.

Os cientistas vão agora iniciar um estudo numa população mais alargada, que tomará aleatoriamente ou o abiraterone ou um placebo. Se os resultados se revelarem positivos como até aqui, a empresa irá submeter a substância à aprovação da FDA, com vista à sua comercialização.

Em Portugal

O cancro da próstata vitima todos os anos cerca de 1800 homens em Portugal, sendo a segunda causa de morte por cancro no país. O elevado número de mortes deve-se à baixa percentagem de homens que consulta o médico para fazer um rastreio antecipado.

Existem várias razões para um homem se eximir a fazer o rastreio, nomeadamente o estigma ligado a esta doença. Segundo um dos especialistas da área urológica, o Dr. Tomé Lopes, "há ainda alguns mitos relativamente a estas doenças prostáticas". E acrescenta: "muitos homens têm receio do toque retal que é sempre necessário para avaliar o estado da próstata. Em segundo lugar, muitas vezes o médico de família é uma senhora e os homens têm algum pudor em falar sobre "estas coisas".

Muitas vezes os homens ligam a próstata à sua sexualidade e aos genitais, havendo por isso, muito pudor em falar sobre este assunto. "Em consequência, o doente só procura o médico quando começa a sentir os sintomas da disfunção urinária e poderá já ser tarde demais, "porque o cancro da próstata, no início, quando é curável, não dá sintomas nenhuns".

A Associação Portuguesa de Urologia, que há mais de 12 anos vem promovendo campanhas visando alertar os homens com mais de 50 anos para esta grave patologia, lançou no final do ano passado, no âmbito do Dia Europeu das Doenças da Próstata, um estudo sobre a "Avaliação de práticas e conhecimento dos homens relativamente a doença prostática em Portugal". Este estudo, que contou com a participação de 2200 voluntários, concluiu que 90 por cento dos inquiridos já tinham ouvido falar no cancro da próstata, mas que apenas 20 por cento tinham consultado o seu médico com o objetivo de se submeterem a um diagnóstico precoce.

Foi igualmente assinado um protocolo entre a Associação Nacional de Farmácias (ANF), a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata (APDP) e a Associação Portuguesa de Urologia com o objetivo de melhorar os cuidados de saúde prestados, não apenas a estes doentes, mas a todos os que sofrem de doenças da área urológica.

Dando continuidade a estas ações de sensibilização, foi instituído pelo Parlamento Europeu, o dia 27 de setembro de 2017 como Dia Europeu de Conscientização sobre o Cancro da Próstata. Em Portugal estão previstos vários eventos para o próximo mês de setembro, com destaque para o 47º Encontro Anual da Sociedade Internacional de Incontinência, a 2ª Conferência Internacional da Caparica sobre Nefrologia Transacional e a realização do Congresso da Associação Portuguesa de Urologia.O cancro da próstata é o cancro no masculino. Independentemente das questões controversas sobre o rastreio, é necessário que os homens sejam alertados para esta patologia e esclareçam todas as dúvidas com o seu médico. Acima de tudo, é peremptório que a vergonha e o medo não vençam.

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