HIPERTENSÃO

HIPERTENSÃO

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Vulgarmente conhecida por "tensão alta", a hipertensão arterial (HTA) é uma das doenças com maior prevalência no mundo moderno e o problema de saúde pública mais importante em Portugal. É responsável por um elevado número de complicações cardiovasculares e constitui a principal causa de morte e de incapacidade.

Em Abril teve lugar, na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, a 7ª Reunião Multidisciplinar da Consulta de Hipertensão do Hospital de S. João, onde foi lançada a compilação, em livro, do estudo mais representativo da Hipertensão – a prevalência, tratamento e controlo – no nosso país.

A consciência da necessidade de um estudo com aquelas características, para um adequado planeamento de estratégias de intervenção, e o desenvolvimento de iniciativas mais eficazes para o combate a esta doença levou o Prof. Mário Espiga de Macedo – especialista em Medicina Interna e Cardiologia e membro do Departamento de Controlo da Qualidade de Saúde da Direcção-Geral de Saúde – a realizar este projecto, que reune os únicos estudos existentes sobre a doença.

Os dados falam por si. Cerca de três milhões de portugueses adultos sofrem de hipertensão arterial, sendo a sua prevalência mais elevada entre o sexo masculino e atenuando-se na população mais idosa.

O conhecimento da existência da doença entre a população do continente é de 42 por cento e na Região Autónoma dos Açores de 61 por cento. Relativamente ao tratamento, no continente estavam a ser tratados 39,1 por cento dos doentes, na Região Autónoma da Madeira 34,3 por cento e 57,9 por cento nos Açores. No continente apenas 11,2 por cento dos hipertensos têm a hipertensão controlada, valor que aumenta para 12,5 por cento na Madeira, verificando-se de novo o melhor resultado nos Açores com 35 por cento sob controlo.

É considerada uma doença silenciosa porque, na maioria dos casos, não apresenta sintomatologia, sendo, muitas vezes, reconhecida apenas pelas lesões nos órgãos atingidos. Como noutras patologias, a detecção precoce é o caminho para controlar a doença, ainda tão desconhecida entre nós.

Com o objectivo de promover a sensibilização, a nível global, para os riscos associados à pressão arterial elevada, a World Hypertension League instituiu o dia 17 de Maio como Dia Mundial da Hipertensão, sendo assinalado anualmente. Com o estímulo e apoio daquela instituição, a Sociedade Portuguesa de Hipertensão Arterial, em parceria com a Ordem dos Farmacêuticos, celebram pela primeira vez o evento na cidade de Évora, sob o lema "Conheça os seus números. Verifique a sua pressão arterial".

Conhecer a doença

A HTA é a elevação da pressão arterial acima dos valores considerados normais; ocorre quando o coração, ao bombear o sangue, exerce uma força excessiva sobre a parede das artérias.

Os valores da pressão arterial são determinados pela pressão a que o sangue circula nas artérias, em consequência da acção do bombeamento que o coração efectua em cada pulsação.

A pressão arterial é expressa por dois valores. O mais elevado corresponde à pressão sistólica (máxima), a tensão máxima que o sangue exerce sobre as paredes arteriais quando expelido através da aorta após a contracção do músculo cardíaco (sístole). O mais baixo indica a pressão diastólica (mínima), a tensão exercida sobre os vasos sanguíneos durante o período de descontracção das paredes musculares do coração (diástole), ou seja, entre dois batimentos ou pulsações.

A pressão ou tensão arterial de cada indivíduo varia de momento para momento, em resposta às diferentes actividades e emoções. O ciclo aumenta geralmente pela manhã (devido ao despertar/levantar e à libertação de certas hormonas), diminui ligeiramente durante 1 ou 2 horas (próximo do meio-dia), aumenta durante a tarde (devido a nova elevação da libertação de hormonas) e reduz durante a noite.

Algumas situações como stress, ruído, dor, actividade física, alterações do sono e até ansiedade provocada pela "bata branca" (presença do farmacêutico, médico ou enfermeiro), aumentam transitoriamente a tensão arterial.

Por esta razão, torna-se muitas vezes difícil ao clínico diagnosticar a hipertensão, sendo necessário que o doente continue a ser observado durante alguns meses antes que o diagnóstico seja possível e a terapia adequada possa ser estabelecida com segurança. Durante este período de avaliação não devem ser administrados quaisquer medicamentos ao indivíduo suspeito de HTA.

Designa-se hipertensão arterial todas as situações em que se verificam valores de tensão arterial aumentados. Para esta caracterização, consideram-se valores de tensão arterial sistólica superiores ou iguais a 140 mmHg (milímetros de mercúrio) e/ou valores de tensão arterial diastólica superiores a 90 mmHg.

Entre as crianças não existe uma definição claramente estabelecida para os valores da pressão arterial. No entanto, considera-se que valores tensionais acima de 110/70 mmHg, devem ser considerados suspeitos, antes dos 10 anos de idade.

A doença surge normalmente entre os 30 e os 50 anos de idade, sendo que cerca de dois terços das pessoas com idade superior a 65 anos são hipertensas.

Quanto mais idosa for a pessoa maior a probabilidade de desenvolver hipertensão. Ainda assim, uma pressão arterial elevada no idoso não deve ser considerada normal.

Apesar de durante os primeiros anos a doença ser assintomática, alguns sinais devem alertar o indivíduo para a possibilidade de ser hipertenso. Entre os mais comuns incluem-se dores de cabeça frequentes, tonturas, falhas de memória, hemorragia nasal, falta de ar, dores no peito e distúrbios gastrointestinais.

Os benefícios da detecção precoce e do controlo da HTA estão bem demonstrados. A hipertensão arterial não tratada implica um risco elevado de doença cardiovascular.

Riscos e causas da HTA

A hipertensão está associada a diversas doenças graves como insuficiência cardíaca, cardiopatia isquémica, incluindo angina de peito, enfarte do miocárdio e morte súbita, arritmias cardíacas, aneurismas, insuficiência renal crónica, arteriosclerose e perda de visão (retinopatia hipertensiva).

A maioria das vezes a HTA não tem uma causa aparente, sendo por isso designada hipertensão essencial ou primária. Pensa-se, no entanto, que se deve a uma combinação de factores hereditários e de estilos de vida menos correctos. Os factores hereditários não são modificáveis mas o estilo de vida é.

O controlo de factores de risco como a obesidade, erros alimentares, o tabagismo, álcool, sedentarismo e o stress é fundamental na prevenção das complicações cardiovasculares.

As causas da hipertensão secundária, embora relativamente raras, têm grande importância por serem potencialmente curáveis. Entre as mais importantes incluem-se a doença renal, principal causa de HTA secundária conhecida; embora raramente, também as doenças endócrinas podem causar hipertensão, mas as mais frequentes actuam através da produção hormonal incrementada pelas glândulas suprarenais, geralmente associada a um tumor, por regra, benigno; a doença iatrogénica, cujo melhor exemplo é o das mulheres a tomar contraceptivos orais. Quase todas as que tomam a pílula sofrem uma elevação, mesmo que ligeira, da pressão arterial.

Não é conhecida cura para a hipertensão mas, apesar de ser uma doença crónica, na maioria dos casos é controlável.

Tratamento não farmacológico e farmacológico

O tratamento deve iniciar-se utilizando medidas não farmacológicas. A adopção de um estilo de vida saudável proporciona geralmente uma descida significativa da pressão arterial, que pode ser suficiente para baixar até valores tensionais normais.

Entre os hábitos de vida saudável a adoptar salienta-se a importância da redução da ingestão de sal (sódio) na alimentação – inferior a 6 g/dia (1 colher de chá). O aumento da ingestão de alimentos ricos em potássio (feijão, ervilhas, vegetais de cor verde-escuro, cenoura, beterraba, tomate, laranja, banana) e fibras, redução do consumo de bebidas alcoólicas (um máximo de 30 ml etanol/dia para os homens e 15 ml/dia para as mulheres) e a cessação do hábito de fumar estão entre as medidas comprovadamente eficazes.

A actividade física regular é considerada, desde há muito tempo, uma componente preponderante de um estilo de vida saudável. A sua prática é outra das medidas que deve ser adoptada. O exercício eleito como o adequado deve compreender movimentos cíclicos (marcha, corrida, natação, dança) e deve ser de, pelo menos, 30 minutos diários.

A meditação, a massagem, a prática de ioga, tai chi chuan, uma pescaria ou trabalhos manuais são igualmente benéficos pois combatem o stress do dia-a-dia.

Os doentes hipertensos devem evitar a toma de medicamentos que elevem a pressão arterial, nomeadamente os anti-inflamatórios, anticoncepcionais, antidepressivos, anti-histamínicos e moderadores de apetite.

Estas mudanças no estilo de vida do hipertenso devem ser permanentes por forma a que o tratamento fique simplificado quando os vários profissionais, para além do médico, como nutricionistas, terapeutas, enfermeiros e outros, intervierem.

Também o envolvimento da família é muito importante, por contribuir para ajudar o doente a alcançar as metas pretendidas. Além disso, quando se tem um hipertenso na família devem ser postas em prática todas as medidas de vida saudável, porque a hipótese de os restantes membros se tornarem também hipertensos é muito elevada.

Se algum tempo após a implementação destas medidas não se tiver registado uma descida adequada da pressão arterial, torna-se necessário recorrer ao tratamento farmacológico. De sublinhar que os medicamentos não curam a HTA, ajudando apenas a controlar a doença. Por isso, uma vez iniciado o tratamento, em princípio, deverá ser mantido ao longo de toda a vida.

Qualquer pessoa com hipertensão arterial primária pode mantê-la sob controlo com uma ampla variedade de medicamentos disponíveis, mas o tratamento deve ser adaptado individualmente.

Os fármacos de primeira linha estão classificados em quatro classes:

Os diuréticos tiazídicos (hidroclorotiazida, indapamida, clortalidona e outros), que ajudam os rins a eliminar o sal e a água, diminuindo o volume de sangue no organismo e consequentemente reduzindo a pressão.

Os bloqueadores adrenérgicos, em que se que incluem os alfa-bloqueadores e beta-bloqueadores (propanolol, atenolol, carvedilol e outros) e os alfa-beta-bloqueadores, que actuam bloqueando o sistema nervoso simpático, responsável pela rápido aumento de pressão em resposta ao stress.

Os inibidores de enzimas conversoras de angiotensina e bloqueadores de angiotensina II são os antagonistas de cálcio e vasodilatadores, que reduzem a pressão dilatando as artérias.

Antagonistas de cálcio e vasodilatadores directos, que reduzem a pressão dilatando os vasos sanguíneos.

O objectivo da terapêutica farmacológica é controlar a pressão arterial com o menor número e a menor dose de fármacos, o que se traduz em menos efeitos colaterais e menos despesa para o doente. Em termos tensionais a meta a alcançar são valores iguais ou inferiores a 140/90 mmHg, embora em indivíduos idosos se possa aceitar valores um pouco mais elevados.

Conheça os seus números. Verifique a sua pressão arterial.

O lema deste ano do Dia Mundial da Hipertensão realça a importância da medição da pressão arterial como meio de diagnóstico e de detecção precoce da HTA.

Muito comum em Portugal, a HTA atinge quase metade da população adulta e, não apresentando sintomatologia no início, só se descobre medindo-a.

Apesar de ser um acto simples e fácil de aprender, a medição da pressão arterial deve ser efectuada com todo o cuidado e rigor, por médicos, enfermeiros e pessoas devidamente treinadas. O esfigmomanómetro de mercúrio é o equipamento que proporciona maior confiança e rigor na medição da pressão arterial.

Todos os adultos que se enquadrem nos parâmetros normais devem medir a sua pressão arterial pelo menos uma vez por ano. No caso de população obesa, diabética e fumadora ou com antecedentes familiares de doença cardiovascular, deve proceder-se a um controlo mais frequente e sempre de acordo com as indicações médicas.

Medir a tensão arterial é a única forma de controlar os seus valores. A trombose cerebral (AVC), ou o ataque cardíaco, são as complicações mais comuns de uma hipertensão não controlada, com alguns anos de existência. Pode ser tarde quando surgem as primeiras manifestações da doença.

A hipertensão prejudica gravemente a saúde e a qualidade de vida, e mata! Não pode ser ignorada! Conhecer os seus números, controlando-os, pode salvar muitas vidas.

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