ARRITMIA CARDÍACA

ARRITMIA CARDÍACA

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Metade das doenças cardiovasculares mata por arritmias

Por altura da comemoração de mais um "Dia Mundial do Coração", faz sentido destacar um estudo inédito recentemente realizado pelo Instituto Português do Ritmo Cardíaco (IPRC) e pela Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia (APAPE). A investigação revela que cerca de dois e meio por cento da população com mais de quarenta anos sofrem de fibrilhação auricular, o equivalente a 121 825 de portugueses com este tipo de arritmia cardíaca. Mostra também que quarenta por cento dos doentes não estavam diagnosticados e, entre os que sabiam da sua doença, apenas 74 por cento faziam medicação.

A fibrilhação auricular é a mais frequente das arritmias. Caracteriza-se pela contracção rápida e descoordenada das câmaras superiores do coração, as aurículas, ocasionando batimentos cardíacos rápidos e irregulares. Este não é, porém, o único tipo de arritmia que afecta o coração e que pode, inclusive, fazê-lo parar devido às oscilações bruscas no ritmo cardíaco, susceptíveis de ocasionar a morte súbita. A arritmia cardíaca, apesar de ainda ser muito subestimada em Portugal, é responsável por quinze por cento dos acidentes vasculares.

A maior parte das arritmias passa despercebida devido à ausência de sintomas, como ocorre com as fisiológicas. Outras manifestam-se através de simples palpitações, que podem evoluir para tonturas, síncopes ou perdas de consciência. Geralmente estas são passageiras e não causam complicações. No entanto, quando se tornam mais graves e persistentes, podem indiciar doença cardíaca subjacente e deverá ser um alerta para que o doente recorra ao seu médico.

Como surge a arritmia

As arritmias são alterações no ritmo ou na frequência cardíaca, podendo esta acelerar-se, ser mais lenta ou tornar-se irregular. Podem surgir em qualquer idade e até em corações saudáveis, assim como ser esporádicas, frequentes ou contínuas. Cada pessoa tem o seu próprio ritmo, com batimentos mais lentos ou acelerados, dependendo da idade, stress, consumo de cafeína, tabaco, álcool e drogas ou até da actividade física. Alguns fármacos, como broncodilatadores, descongestionantes, antitússicos e suplementos vitamínicos, podem também contribuir para alterar a frequência dos batimentos cardíacos.

Normalmente situam-se entre 60 a 100 ciclos ou batidas por minuto (BPM). Nas crianças, o ritmo cardíaco poderá ser um pouco mais elevado. Da mesma forma, quando se pratica exercício físico, as pulsações podem acelerar para 110 batidas ou mais, em consequência do aumento do débito cardíaco e do fornecimento de sangue aos vários órgãos do corpo. Inversamente, em situações de repouso, nomeadamente durante o sono, o ritmo cardíaco pode baixar até às quarenta batidas, sem que isso implique iminência de risco cardíaco.

As arritmias são apenas transtornos eléctricos no coração e não sinónimo de ataque cardíaco, que, geralmente, ocorre na sequência da obstrução do fluxo sanguíneo nas artérias. No entanto, algumas, em particular as assintomáticas, podem estar associadas a episódios mais adversos, como um maior risco de coágulos no coração, que comprometem a circulação sanguínea. A insuficiência cardíaca e morte súbita, assim como o embolismo e o acidente vascular cerebral (AVC), são alguns dos mais graves desfechos que ocorrem nas arritmias, enquanto as tonturas ou desmaios, em consequência de uma menor pressão arterial, poderão não provocar complicações de maior.

Os batimentos cardíacos são o resultado de impulsos eléctricos com origem no nódulo sinusal, que fazem com que as aurículas e os ventrículos possam contrair-se de forma sincronizada e rítmica, por forma a bombear o sangue aos vários órgãos do corpo. Nem sempre o impulso eléctrico, porém, segue uma sequência linear, causando por vezes "curto-circuitos" que podem desencadear arritmias.

Tipos de arritmias, causas e sintomas

Quando o impulso eléctrico é originado no local errado ou as vias para a sua transmissão estão alteradas, podem desencadear-se taquicardias ou batimentos acelerados, também conhecidas por palpitações. Estes sintomas são acompanhadas por desmaios (síncopes), tonturas (pré-síncopes), estados de fadiga, dificuldade em respirar, dor ou opressão no peito. A taquicardia, que ocorre quando as batidas se elevam acima de 100 por minuto, surge associada a exercício físico intenso, stress emocional, febre, anemia ou outras doenças.

Pelo contrário, quando a frequência cardíaca cai abaixo das sessenta batidas por minuto devido a bloqueios que impedem a passagem do impulso cardíaco, verifica-se uma bradicardia, com batimentos lentos do coração, que também pode causar desmaios, tonturas ou cansaço.

A bradicardia, tal como a taquicardia, não é considerada doença em si, mas sintomas clínicos de alguma doença cardíaca. Uma taquicardia extrema pode obrigar a uma contracção rápida e brusca dos ventrículos. Perdendo a capacidade de se encher de sangue durante cada ciclo, produzem uma falha cardíaca ou, eventualmente, a morte. Desfecho muito semelhante apresenta a bradicardia extrema, isto é, quando as batidas são tão lentas que, limitando o fluxo sanguíneo, impedem a oxigenação adequada dos tecidos.

As arritmias podem ainda classificar-se em auriculares, juncionais e ventriculares, dependendo do local onde são originadas.

Do primeiro grupo fazem parte as arritmias do nó sinusal, que muitas vezes obriga à implantação de um pacemaker; a taquicardia sinusal não corresponde bem a uma doença cardíaca, exigindo tratamento somente quando é provocada por anemia ou hipertiroidismo; a fibrilhação auricular, que consiste na alteração do ritmo cardíaco, pode atingir 300 batimentos por minuto, reduzindo a capacidade de enchimento dos ventrículos e aumentando o risco de AVC pela formação de coágulos nas aurículas; nesta classificação surge ainda o flutter auricular, muito semelhante à fibrilhação mas que, em vez de possuir várias ondas eléctricas desorganizadas, existe apenas uma onda que circula rapidamente na aurícula.

As arritmias juncionais surgem normalmente na junção entre as aurículas e os ventrículos e podem dividir-se em ritmo juncional, taquicardia juncional ou ainda extra-sístole juncional.

Nas arritmias ventriculares, saliente-se a taquicardia ventricular caracterizada por um ritmo ventricular acelerado que, em raras ocasiões, ocorre em pessoas sem doença. Geralmente, está associada a cardiopatias graves, podendo levar, inclusive a uma fibrilhação ventricular. Esta pode surgir quando o ritmo é muito rápido e irregular, sendo a principal responsável pela morte súbita e cerca de metade das mortes cardíacas. Nestas situações, a sobrevivência do doente depende sempre da precocidade da desfibrilhação, pois cada minuto de demora equivale a menos dez por cento de probabilidades de reverter a situação.

A frequência cardíaca não reage apenas ao exercício físico ou ao estado de repouso do indivíduo, mas também a estímulos como a acção de medicamentos (antidepressivos e broncodilatadores) e de substâncias e drogas ilícitas (cafeína, nicotina, álcool e cocaína), bem como a situações fisiológicas, como dor, ansiedade, excitação sexual ou, inclusive, a descargas excessivas de adrenalina que ocorrem em situações de stress psíquico.

Por outro lado, algumas doenças não cardíacas como a anemia, doença pulmonar crónica, hipertiroidismo ou ainda alguns distúrbios do sono, como a síndrome da apneia obstrutiva, podem ocasionar uma arritmia cardíaca, embora o coração permaneça saudável.

Porém, quando a arritmia surge na sequência de doença cardíaca, particularmente se associada a uma redução do poder de contracção do coração (insuficiência cardíaca), deverá constituir motivo de preocupação e vigilância médica. Neste grupo incluem-se os doentes que sofrem de hipertensão arterial, doença arterial coronária, como angina de peito ou enfarte do miocárdio, as doenças das válvulas cardíacas ou ainda as relacionadas com o músculo cardíaco, como as cardiomiopatias.

Quando o ritmo anormal passar a ser um problema

A descrição detalhada dos sintomas pode ajudar o médico a estabelecer um diagnóstico preliminar e determinar a gravidade da arritmia, que vai depender da frequência das batidas, sua regularidade e duração. Por isso, o doente deve informar da existência de dor torácica, náuseas, alterações de equilíbrio, falta de ar, e se as palpitações surgem em estado de repouso ou durante uma actividade física.

A auscultação cardíaca, palpação do pulso arterial e as provas de esforço são importantes na medida em que permitem detectar alterações na frequência e ritmo cardíaco. No entanto, a confirmação do diagnóstico só poderá ser feita através de electrocardiograma ou Holter ECG, monitor ambulatório que regista a actividade eléctrica do coração em contínuo durante 24 horas.

O cardiologista poderá também indicar a realização de um ecocardiograma para avaliar a presença de anomalias congénitas ou adquiridas, como as cardiopatias ou derrames do pericárdio. Embora mais onerosas, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, que permitem visualizar o coração, assim como identificar regiões lesadas por um enfarto, podem ser opções de diagnóstico bastante seguras.

O tratamento de uma arritmia depende sempre da sua causa. Nas mais simples, não originadas por doença cardíaca prévia, o tratamento pode ser feito pela ablação ou destruição do foco eléctrico anormal. Pode também recorrer-se a alguns fármacos antiarrítmicos para o controlo da frequência e do ritmo cardíaco.

Os anticoagulantes, que reduzem o risco de trombos e o consequente derrame cerebral, podem ser úteis em pessoas que sofrem de fibrilhação auricular, a mais frequente de todas as arritmias. Em caso de bloqueio grave, torna-se conveniente a implantação de um pacemaker cardíaco, uma técnica também utilizada para as bradicardias, com o objectivo de estimular o batimento cardíaco.

Um ritmo sinusal, fibrilhação auricular ou mesmo a paragem cardíaca podem reverter-se através de uma descarga eléctrica adequada no tórax, denominada desfibrilhação. Em pacientes com antecedentes de paragem cardíaca, o implante permanente de um cardiodesfibrilhador deve ser considerado, pois permite identificar a arritmia e aplicar descargas eléctricas no coração quando necessário.

O prognóstico de uma bradicardia é habitualmente favorável. Mais preocupantes são as taquicardias ventriculares, que podem evoluir para morte súbita, por serem, na sua maioria, assintomáticas.

Para reduzir os sintomas associados à arritmia, o médico pode ainda prescrever antidepressivos e aconselhar a interrupção no consumo de café, álcool, tabaco e comportamentos de risco.

Controlar o stress, praticar exercício físico, dormir adequadamente, vigiar o colesterol e a pressão arterial são factores que podem propiciar uma vida mais saudável, eliminando a ansiedade e preocupação de ter "aquele ritmo alucinante e acelerado" a bater no peito. Ou, pelo contrário, permanecer com a sensação de a "máquina" parar de funcionar repentinamente.

Uma maior consciencialização e informação por parte das pessoas pode também ajudar na prevenção de possíveis sequelas ocasionadas por arritmias. Muitas delas não apresentam sintomas e, por isso, grande parte da população desconhece os seus riscos. Também não sabe que a prevenção das arritmias, assim como o seu tratamento, pode tornar o relógio biológico humano mais eficaz e fazê-lo durar por muitos e bons anos. É só questão de se estar atento aos primeiros indícios que fazem disparar o alarme.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
17 de Novembro de 2023

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