Dor de cabeça, falta de concentração, stress e um sono sem fim são alguns dos sintomas de um problema cada vez mais presente.
O trânsito, o trabalho e uma rotina sempre atribulada estão entre os responsáveis por este estado que se denomina de fadiga. Por vezes esta fadiga é um sintoma de uma doença que acomete a pessoa em algum momento pontual ‑ como no caso das doenças infeciosas virais ‑, o grande problema é quando se torna crónico, com duração superior a três meses.
A Síndrome de Fadiga Crónica (SFC), também chamada de Encefalomielite Miálgica (EM), é uma desordem complicada caracterizada por um quadro de fadiga ou cansaço extremo que não pode ser explicado por qualquer condição médica subjacente.
É uma doença real, crónica e complexa, que afeta vários sistemas do organismo, mas no entanto, a sua origem continua desconhecida.
Pode afetar 400 a 2500 pessoas por cada 100 mil adultos, a nível global. Em Portugal não existem estatísticas da sua prevalência mas sabe-se que afeta, cerca de três vezes, mais mulheres do que homens, atingindo pessoas de todas as etnias, grupos socioeconómicos e idades. A faixa etária entre os 25 e os 45 anos é a mais atingida, mas as crianças ou as pessoas de mais idade também são afetadas.
A evolução da doença é imprevisível. Às vezes, desaparece em pouco mais de seis meses, mas pode durar anos ou persistir pelo resto da vida.
A ignorância em relação às suas causas persiste. Pode ser uma combinação de fatores que afetam as pessoas que nasceram com uma predisposição para a perturbação. Entre os fatores estudados incluem-se:
Infeções virais – por algumas pessoas desenvolverem a SFC após uma infeção viral, os investigadores questionam se alguns vírus podem acionar a perturbação. Os vírus suspeitos incluem o Epstein-Barr, o herpesvírus humano 6 e o vírus da leucemia em ratos, contudo, ainda não foi encontrada nenhuma ligação conclusiva.
Problemas do sistema imunitário – o sistema imunitário daqueles que possuem a síndrome parece ser ligeiramente prejudicado, mas não é claro se o dano é suficiente para causar o distúrbio.
Desiquilíbrios hormonais – as pessoas com a síndrome por vezes também possuem níveis anómalos de hormonas no sangue, produzidas pelo hipotálamo, a glândula pituitária e as glândulas suprarrenais, no entanto, a importância destas anomalias ainda não se conhece.
Não existe um só teste para confirmar o diagnóstico da SFC. O doente pode ter de se submeter a vários testes médicos para excluir outros problemas de saúde que tenham sintomas semelhantes.
Sintomatologia e diagnóstico da síndrome
Em Portugal existe ainda muito desconhecimento sobre esta síndrome, inclusive por parte da comunidade médica, que a considera como um problema do foro mental. Este desconhecimento acaba por provocar diagnósticos incorretos que originam tratamentos inadequados e, consequentemente, agravam os sintomas dos doentes.
Os diagnósticos tardios levam ainda a uma sobrecarga adicional da doença nos pacientes e nas suas famílias com repercussões económicas e sociais.
Geralmente, o diagnóstico estabelece-se através da identificação de inúmeros sintomas e da exclusão de doenças com causa conhecida.
A fadiga crónica tem um conjunto de sintomas que, manifestando-se em simultâneo e prolongadamente, permitem concluir que se está perante a doença. São eles: lapsos de memória, dificuldade de concentração, garganta inflamada, dores musculares, dores nas articulações, enxaquecas, perturbações gastrointestinais, alterações do sono e sono não reparador, ansiedade e depressão.
A depressão anda, realmente, associada à fadiga crónica. Estudos realizados permitiram concluir que pessoas com a síndrome têm uma taxa muito maior de depressão do que o resto da população.
Além dos sintomas enumerados – considerados os sintomas primários –, existem outros que podem aparecer na SFC como a tosse, diarreia, tonturas, olhos e boca secos, dores de ouvido, batidas cardíacas irregulares, náuseas, suores frios, irritabilidade, dificuldade em respirar, formigueiro nas mãos e perda de peso.
Esta sintomatologia varia de pessoa para pessoa e, na mesma pessoa, de intensidade ao longo do tempo, o que dificulta o tratamento e a adaptação do doente a um novo estilo de vida que lhe permita lidar com a condição.
Alguns doentes podem manter um nível estável de intensidade dos sintomas, no entanto, também podem alternar entre períodos de abrandamento das queixas e períodos de crise com o agravamento da intensidade dos sintomas.
Quanto ao diagnóstico, a verdade é que não existem exames laboratoriais, radiológicos ou outros que confirmem ou excluam a presença da SFC. Os exames complementares de diagnóstico e os testes de rotina ao sangue, geralmente revelam resultados normais.
Uma vez que os sintomas da SFC podem ser semelhantes aos de outros problemas de saúde, o médico deve começar por excluir outras patologias. Essas podem incluir perturbações do sono (como por exemplo, apneia do sono obstrutiva, síndrome de pernas inquietas, ou insónias), condições médicas como anemia, diabetes e hipotiroidismo, problemas de saúde mental como depressão, ansiedade, distúrbio bipolar e esquizofrenia.
Devido à multiplicidade dos sintomas, os doentes poderão ser acompanhados por várias especialidades, dependendo das queixas e sintomas a tratar, devendo trabalhar em equipa, o que permitirá alcançar um melhor resultado no tratamento.
Esta equipa multidisciplinar pode ser formada por médicos de Reumatologia, Infeciologia, Neurologia, Medicina Geral e Familiar, Medicina Clínica Geral, Endocrinologia, Psicologia e Psiquiatria.
Tratamento farmacológico e não farmacológico
Por ser uma doença sem cura, o tratamento tem como objetivo aliviar a sintomatologia proporcionando a melhor qualidade de vida possível ao paciente. Uma vez que esta síndrome não atinge os doentes da mesma forma, o tratamento deve ser adaptado caso a caso.
Estes doentes são particularmente sensíveis a determinados fármacos (nomeadamente aos que atuam sobre o Sistema Nervoso Central), logo, o tratamento deve iniciar-se com doses baixas, que irão aumentando gradualmente até ser bem tolerado.
Normalmente são utilizados antidepressivos tricíclicos – onde se incluem a amitriptilina, a nortriptilina, a desipramina e a doxepina –, que melhoram o sono e o tornam mais reparador, e ainda ajudam a diminuir a dor generalizada.
Também para aliviar a dor e a febre podem ser prescritos AINEs (Anti-inflamatórios não esteroides) como o naproxeno, o ibuprofeno, e o piroxicam.
A fadiga, por si só, não é uma indicação para uma terapêutica sintomática, no entanto, se ela provoca letargia ou sonolência diurna poderá haver necessidade de uma abordagem farmacológica. Alguns estudos revelaram que estimulantes como a amantadina e o modafinil são úteis.
Alguns doentes apresentam historial de alergias e estes sintomas podem ressurgir periodicamente. Os anti-histamínicos não sedativos são eficazes, sendo os mais utilizados o astemizol e a loratadina. De referir que a terapêutica antialérgica serve apenas para tratar os sintomas da alergia, não é eficaz para a SFC.
A verdade é que o tratamento mais eficaz para a SFC parece ser uma abordagem de duas vias: o aconselhamento psicológico e um programa de exercícios cuidado.
O apoio psicológico, em complementaridade com o tratamento farmacológico e não farmacológico, tem-se revelado eficaz nestes doentes.
Existem vários tipos de psicoterapia e esta pode ter diversos formatos: individual, em casal, em família ou sessões de terapia de grupo. Em muitos casos os psicólogos podem usar uma combinação de técnicas psicoterapêuticas, de acordo com a individualidade de cada pessoa.
Os tipos mais comuns de terapias psicológicas são a cognitiva comportamental, psicodinâmica ou psicanálise. A terapia cognitivo-comportamental revelou, em estudos, ser a mais adequada no tratamento de doentes com a SFC. Em alguns casos, pode ser necessário o acompanhamento de um psiquiatra, para complementar o acompanhamento psicológico.
Quanto ao exercício físico, estes doentes normalmente têm dificuldade em manter uma prática regular de exercício devido à fadiga, à intolerância ortostática ou à dor, uma vez que mesmo um baixo nível de esforço pode desencadear o mal-estar pós-esforço.
Cada doente tem um nível de tolerância diferente, logo, deve avaliar que atividade é mais adequada para si e a que mais lhe agrada, o que facilitará a adesão e continuidade da prática. Se conseguir tolerar algum exercício poderá tentar atividades de baixo impacto como caminhadas, yoga, tai-chi ou pilates. O importante é não exagerar no esforço dispendido, e encontrar o equilíbrio certo entre as suas capacidades e necessidades.
Para além das opções de tratamento já mencionadas, o doente com SFC também pode obter alívio da sintomatologia se adotar um estilo de vida mais saudável.
Outras estratégias para combater a fadiga crónica
O primeiro conselho é alimentar-se bem. Uma alimentação equilibrada contribui para atenuar a sintomatologia da doença.
Deve optar por uma dieta que estimule a digestão, absorção e assimilação correta dos alimentos, de forma a nutrir devidamente o corpo. Isto inclui a ingestão de muitas frutas, vegetais, proteínas, e, eventualmente, suplementos vitamínicos – como por exemplo cálcio, coenzima Q10 (ubiquinina), vitaminas do complexo B, vitaminas C e D, ferro, e selénio. Reduza as gorduras saturadas e os alimentos ricos em açúcar ou sal, e evite a cafeína, o álcool e a nicotina, de forma a ter um sono mais descansado e a controlar os sintomas da condição.
Estabelecer uma rotina de sono é igualmente importante. O sono ajuda a restabelecer energias e, por isso, é uma prioridade na luta contra os efeitos da fadiga crónica. Deve, assim, garantir que dorme as horas suficientes (entre sete e nove horas por dia).
Habitue o corpo a respeitar o horário de sono. Deve deitar-se sempre às horas certas e desligar a televisão, o telemóvel e quaisquer outras distrações eletrónicas antes de dormir.
Mantenha-se calmo. Os fatores psicológicos têm uma grande influência no desenvolvimento da fadiga crónica. Deve, por isso, manter-se relaxado e evitar as fontes de stress e a ansiedade na sua vida. Não se deixe sobrecarregar de trabalho, nem o leve para casa. Aprenda a delegar funções e a dizer que não sempre que se justificar.
Afinal, é a sua saúde e bem-estar que está em causa!
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
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