STRESS, COMO CONVIVER COM ELE

STRESS, COMO CONVIVER COM ELE

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  Tupam Editores

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O stress é um dos fatores mais importantes e atuais que relacionam a psicologia com a saúde. Há cada vez mais estudos que correlacionam o stress com alguns problemas sérios de saúde, como a hipertensão, a doença coronária, depressão e o ataque cardíaco.

Vivemos uma época em que o stress está mais presente do que nunca. A vida moderna está repleta de dificuldades, frustrações, prazos e exigências. O ritmo acelerado a que somos submetidos, é o principal motivo que nos deixa com menos possibilidades de aproveitar o pouco tempo livre de que dispomos para o lazer. A maior parte das vezes sentimos que estamos stressados, mas não conseguimos determinar muito bem as razões. Normalmente não se trata de apenas um motivo, mas antes de vários problemas que se acumulam provocando o tão propalado stress, que nos incomoda.

E nem é um problema da atualidade! Desde o primórdio dos tempos que o ser humano convive com o stress. É o ele que nos faz acordar, nos mantém em alerta, e nos capacita para dar resposta a determinadas situações ou acontecimentos e nos estimula a perseguir objetivos.

O stress é "um dos mecanismos mais maravilhosos e complexos com que a natureza nos prendou, sendo fundamental para a sobrevivência".

Nunca se falou tanto de stress como atualmente. Todos se queixam, mas poucos sabem que não se pode viver sem ele. Muitos referem que se trata de um conceito atual, sendo frequentemente associado a situações de desequilíbrio emocional, todavia poucos sabem que este tipo de associação já é feita, pelo menos desde o século XIV. As bases científicas para o estudo do stress, contudo, só foram estabelecidas em 1936 por Walter Cannon e Hans Selye. Estes investigadores procederam à medição das respostas fisiológicas de animais às pressões externas, tal como o calor e o frio, tendo-as extrapolado posteriormente para os seres humanos.

Estudos subsequentes estabeleceram que é causado por fatores stressores distintos e mensuráveis. Um dos arquitetos desta teoria foi Richard Rahe, que instituiu a primeira escala de stress de Holmes e Rahe. Já as investigações mais recentes sugerem que as circunstâncias externas não possuem qualquer capacidade intrínseca para produzir stress, e que, ao invés, o seu efeito é mediado pelas perceções e capacidades de cada indivíduo.

Apesar de ter sido rapidamente assimilado pela população em geral, o vocábulo stress nem sempre é utilizado de forma correta. Mas então o que é e como se define o stress? A primeira definição de stress foi concebida por Selye (1980) para representar a propensão do organismo para reagir de forma idêntica a estímulos diversos, conceito este que tem vindo a evoluir ao longo dos tempos.

Pode definir-se stress como "o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosas e outras, capazes de perturbar a homeostase", ocorrendo sempre como uma resposta emocional a uma situação de risco, resposta essa que pode ser adequada ou desadequada. Uma resposta desadequada causa stress nocivo para a saúde, bloqueando o indivíduo e impedindo-o de atingir os seus objetivos. É precisamente aqui que começam os problemas e é também por isso que se inicia o processo de envelhecimento precoce.

Segundo alguns especialistas, o envelhecimento não está relacionado com a destruição celular, mas sim com a capacidade de reparar o que foi destruído. Ao perder-se essa capacidade, o organismo torna-se frágil e envelhece. O stress nocivo danifica os telómeros, estruturas responsáveis pela manutenção da saúde dos cromossomas, que produzem as células. O desgaste dos telómeros leva ao desgaste dos cromossomas, que por sua vez perdem a capacidade de produzir novas células e, consequentemente, o organismo deixa de conseguir regenerar o que vai sendo destruído.

O desequilíbrio entre o corpo e a mente provocado pelo stress, afeta igualmente as defesas do nosso organismo. Este pode causar perturbações mentais, erupções da pele, alterações do aparelho digestivo, de determinadas glândulas internas, como a tiroide, perturbações menstruais, impotência, falta de apetite sexual, entre outras.

São várias as situações que podem originar stress negativo, apesar de variarem de pessoa para pessoa. No entanto há alguns fatores comuns como a morte de alguém próximo, excesso de trabalho, divórcio, instabilidade profissional, doença, entre outros. As crianças também podem sofrer deste tipo de stress, impedindo o seu desenvolvimento, já que provoca uma redução na produção da hormona do crescimento pela glândula pituitária. Um mau ambiente familiar, alcoolismo, abuso sexual ou outros traumas, podem ser as causas do stress infantil.

A neuroquímica de resposta ao stress

Pensa-se que a neuroquímica de resposta ao stress esteja já totalmente compreendida, apesar de persistirem dúvidas sobre a forma de interação de todos os intervenientes no cérebro e em todo o organismo. Na presença de um fator que provoca stress, são segregadas a CRH (hormona libertadora de corticotropina) e a AVP (arginina vasopressina) no sistema hipofisário, ativando os neurónios localizados no núcleo paraventricular do hipotálamo.

O sistema LC/NE – locus ceruleus e outros grupos de células noradrenérgicas da medula e do "pons" (ou ponte de Varolii) – também é ativado, recorrendo à epinefrina cerebral para executar as respostas autonómicas e endócrinas, que funcionam como sistema de alarme. O sistema nervoso autónomo dá uma resposta rápida ao stress. É habitualmente conhecida como a resposta luta ou fuga (fight-or-flight response), "ativando" o sistema nervoso simpático e "desativando" o sistema nervoso parassimpático, o que conduz a mudanças cardiovasculares, respiratórias, gastrointestinais, renais e endócrinas.

O denominado eixo hipotálamo-pituitária-adrenal é também ativado pela libertação da CRH e AVP. Esta ativação leva à segregação da hormona adrenocorticotrópica (ACTH), que, por sua vez, vai atuar sobre as células da camada cortical da glândula adrenal, estimulando-as a libertar cortisol e outros glucocorticoides. Estes corticoides envolvem todo o organismo na resposta ao stress, contribuindo, no final, para a determinação dessa mesma resposta através do feedback inibitório. Segundo Seyle, nem sempre as reações ao stress são más, sendo mesmo necessário um certo nível de stress para a motivação, o crescimento e o desenvolvimento individual. Normalmente, o stress é referido em níveis e fases.

Tipos, níveis e fases do stress

Podem identificar-se dois tipos de stress. O Eustress é o "stress bom", estimulante e revigorante, e o Distress corresponde ao "stress mau", aquele que ultrapassa a capacidade psicológica ou fisiológica para repor a homeostasia. O stress bom é inerente à motivação suscitada pelos desafios profissionais e de uma atividade produtiva e propiciadora de realizações, e que acarreta um sentimento de bem-estar. Este tipo de stress ajuda o indivíduo a manter-se centrado no objetivo que pretende alcançar, enérgico e alerta.

Em situações de emergência pode salvar-lhe a vida, dando-lhe a força extra para se defender, mobilizando-o a agir. Na verdade, em muitos casos, protege-nos, preparando o corpo para reagir rapidamente a situações adversas. Esta resposta automática de "luta ou fuga" ajudou a garantir a sobrevivência do Homem quando o ambiente exigiu reações físicas rápidas em resposta às ameaças, como as dos animais predadores.

Já o stress mau é característico das situações de não cumprimento das exigências das tarefas e outras solicitações que dão origem a consequências de vária ordem como insatisfação, cansaço e doenças físicas e psíquicas, entre outras. O stress no trabalho, ou stress profissional, é hoje em dia uma importante causa num mundo cada vez mais preocupado com a obtenção imediata do lucro de empresas e organizações, aumentando a pressão sobre os trabalhadores. Esta pressão vai, muitas vezes, para além do que é razoável, fazendo do local de trabalho uma fonte geradora de stress adicional.

O nível de stress varia de pessoa para pessoa. A capacidade do indivíduo para tolerar, ou lidar com o stress depende de vários fatores, incluindo a qualidade dos seus relacionamentos, a sua visão geral sobre a vida, a sua inteligência emocional e a própria genética. Assim, o que é stressante para determinada pessoa, pode não o ser para outra e o que parece resultar como atenuante do stress num indivíduo pode não ser eficaz para outro. Por poder causar danos generalizados, é importante conhecer as diferentes fases do stress, bem como o limite próprio de cada um de nós.

A primeira fase denomina-se de Fase de alerta e ocorre quando o indivíduo entra em contacto com o agente stressor e o seu organismo perde o seu equilíbrio. São sintomas normais como aumento da sudorese, tensão e dor muscular normalmente na região dos ombros, taquicardia, insónia, hipertensão súbita e passageira, dor de estômago, alteração no apetite, entre outros. Na Fase da resistência, a segunda, o corpo tenta regressar ao seu equilíbrio. O organismo pode adaptar-se ao problema ou eliminá-lo. A sintomatologia inclui mal-estar generalizado, sensação de desgaste físico constante, tonturas, aparecimento de problemas dermatológicos, hipertensão arterial, gastrite prolongada, sensibilidade emotiva excessiva.

Por fim a Fase da exaustão. Esta fase torna-se perigosa uma vez que já se instalaram diversos comprometimentos físicos em forma de doença. Insónias, tiques nervosos, taquicardia, hipertensão arterial confirmada, úlcera, pesadelos, angústia, perda do senso de humor, apatia e impossibilidade de trabalhar são alguns dos sintomas que a caraterizam. Identificar as causas do stress é, sem dúvida, uma forma de aprender a controlá-lo e evitar as suas potencialmente graves consequências.

As causas e consequências

Geralmente, vemos o stress como sendo algo de negativo que nos acontece como por exemplo um horário de trabalho cansativo ou uma relação complicada. No entanto, acontecimentos positivos, tais como casar, comprar casa nova, entrar na faculdade, ou até receber uma promoção, também podem estar na sua origem.

No entanto, o stress não é causado exclusivamente por fatores externos. Ele pode ser auto-gerado, por exemplo, quando nos preocupamos em excesso com algo que pode ou não vir a acontecer e pensamentos pessimistas sobre a vida, também podem constituir fonte de stress. As suas causas também dependem da perceção que temos dele, pois algo que é stressante para determinada pessoa pode não o ser para outra.

Importante é perceber que o primeiro passo para dominar as causas indutoras do stress, é identificá-los. Existem diferentes tipos de fatores:

– Fatores emocionais, também denominados como fatores internos, incluem medos e ansiedades, e certos traços de personalidade (perfecionismo, pessimismo, desconfiança ou sensação de impotência ou falta de controle sobre a própria vida) que podem distorcer o pensamento ou a perceção dos outros;

– Fatores familiares, podem incluir mudanças no nosso relacionamento, problemas financeiros, lidar com uma criança difícil ou um adolescente rebelde ou experimentar a síndrome do ninho vazio (quando os filhos se autonomizam e deixam a casa dos pais);

– Fatores sociais, surgem nas nossas interações pessoais e podem incluir encontros, festas e falar em público;

– Fatores químicos, os que se prendem com o uso de algum tipo de droga (como o álcool, a nicotina, a cafeína ou tranquilizantes);

– Fatores fóbicos, aqueles que dizem respeito, por exemplo, ao medo de andar de avião ou estar em espaços fechados, medo de agulhas, entre outros;

– Fatores físicos, aquelas situações que sobrecarregam o nosso organismo e não preservam as necessidades básicas de sono ou alimentação, por exemplo; trabalhar longas horas sem dormir e stress no trabalho, privando-se de alimentos saudáveis ou ter que estar em pé durante todo o dia. Podem também incluir a gravidez, síndrome pré-menstrual, ou a prática de exercício em excesso;

– Fatores relacionados com a dor, podem incluir dor aguda ou dor crónica, que também são situações stressantes;

– Fatores ambientais, que incluem o ruído, o trânsito, a poluição, a falta de espaço, excesso de calor ou de frio, são também motivo para agudizar o problema. De realçar ainda, entre as inúmeras origens de stress, como importante causa, o stress profissional, de que antes falámos.

Mais cedo ou mais tarde as consequências do stress, reflexo das alterações que este induz no organismo, acabam por se manifestar. Atualmente considera-se o stress psicológico como um fator importante numa variedade de sintomas físicos e processos de doenças. A investigação clínica sugere que uma larga maioria das doenças estão relacionadas com a exposição prolongada ao stress, e as evidências mostram como o stress crónico pode reduzir a imunidade e tornar as pessoas mais suscetíveis a infeções.

Porém as consequências físicas não ficam por aqui. O stress contribui também para o desenvolvimento de doença cardíaca e aumento da tensão arterial. Os médicos descobriram que muitas doenças da pele, como urticária e eczema, estão relacionadas com o stress. Pensa-se que seja igualmente uma causa comum de dor e problemas de saúde, como dores de cabeça, costas, barriga (estômago), diarreia, perda de sono e perda do desejo sexual. O stress também parece contribuir para estimular o apetite e aumento de peso ou provocar o efeito inverso (emagrecimento), entre muitas outras consequências. E o pior é que não existe um tratamento milagroso para o stress. Cada pessoa possui mecanismos autónomos para com ele lidar, não existindo uma receita padrão que a todos sirva, no combate ao stress.

Combater o stress

O stress excessivo apoderou-se do quotidiano, logo a sua gestão deve ser encarada como uma forma de melhorar, simultaneamente, a saúde e a qualidade de vida de cada um de nós. Existem várias formas para o combater, que incluem medidas bem simples para relaxar. Em primeiro lugar é necessário respirar corretamente, utilizando também o diafragma. Outro truque é humedecer os lábios e sugá-los. A sensação de frescura provocada por esta ação é outra ferramenta antisetresse. Pode ainda inserir-se uma rolha na boca, ação que vai proporcionar um relaxamento muscular geral e das articulações temperomadibulares.

Meditar, rezar, praticar Tai chi ou Chi-gong são outras opções a que se pode recorrer. Uma das mais-valias da meditação está na palavra "Omm". Ao pronunciá-la estimula-se a libertação de óxido nítrico, substância que é utilizada pelo endotélio para relaxar o músculo liso, levando a um aumento do fluxo sanguíneo e a uma consequente diminuição da pressão arterial.

A alimentação também desempenha um papel importante no combate ao stress. Por exemplo, o magnésio é um mineral antistresse. A ingestão de alimentos como a beterraba, as passas, os cereais de grãos inteiros, entre outros, podem prover as necessidades do organismo com o mineral. Já os alimentos ricos em vitamina C, como laranjas, toranjas e kiwis bem como os alimentos ricos em potássio, a banana, abacate e iogurte, podem ajudar a reduzir a pressão.

Devem também ingerir-se alimentos ricos em antioxidantes, como tomates, mirtilos, cenouras e bróculos, para fortalecer o sistema imunitário. Construir e assumir uma atitude positiva na vida permite reduzir o stress, revitalizando-se. Se disponibilizarmos regularmente algum do nosso tempo para a diversão e relaxamento, isso vai permitir-nos construir uma barreira à grande maioria dos agentes stressores, desenvolvendo uma melhor "forma" para os enfrentar e debelar.

Algumas das formas mais saudáveis para relaxar e nos revitalizar são a caminhada, jardinagem, a música, prática de exercício físico, dormir o suficiente, tomar um relaxante banho, submeter-se a uma massagem, ou saborear uma chávena de chá, entre outras.

Cada pessoa possui um nível ideal de stress, que lhe proporciona plena satisfação. Abaixo desse nível surgem a desmotivação, o aborrecimento, apatia e incapacidade, e a montante surge a tensão desagradável e incapacitante. Esforcemo-nos para perceber qual o nível funcional e adequado de stress a cada um de nós e mantenhamo-lo sob controlo.

Além isso, manter pensamentos positivos … sempre!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
17 de Novembro de 2023

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