DEPRESSÃO

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  Tupam Editores

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Sob o lema "Depressão: Tratar e Recuperar", comemorou-se em Outubro o Dia Europeu da Depressão, evento que este ano teve como palco inaugural o Parlamento Europeu, em Bruxelas. A iniciativa teve por objectivo sensibilizar a opinião pública para um problema que afecta, em algum momento, mais de 50 milhões de pessoas no continente.

As várias acções da campanha vieram mostrar que a depressão é um fenómeno frequente, atinge cada vez mais pessoas, provoca um grande impacto na qualidade de vida individual e familiar e contribui para a morbilidade de várias doenças, nomeadamente cardiovasculares. Esta situação torna-se mais preocupante quando se sabe que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão ameaça tornar-se, dentro de 20 anos, a doença mais frequente em todo o mundo, ultrapassando o cancro ou as doenças cardíacas, para além de constituir o principal factor de risco do suicídio.

Estima-se em mais de 121 milhões o número actual de pessoas que sofrem da doença, 15 a 20 por cento da população mundial. Portugal detém um dos índices mais elevados, com cerca de 1200 óbitos por ano atribuídos àquela patologia.

É no entanto entre as mulheres que a depressão incide com mais frequência. Cerca de 25 por cento sofrem daquele distúrbio em algum momento de suas vidas, contra 12 por cento dos homens, embora a concretização do suicídio seja mais elevada entre estes, não obstante o maior número de tentativas falhadas se verifique no sexo feminino. A ocorrência de pensamentos mórbidos e negativos é muito comum nas pessoas deprimidas, o que resulta numa taxa de suicídio 30 vezes superior à média da população em geral.

Mais de metade dos suicidas estão deprimidos, bastando-lhes apenas um acontecimento mais traumático, como a ruptura de uma relação amorosa ou familiar, para provocar o desfecho fatal. Também uma deficiência física ou doença orgânica, sobretudo quando se tornou crónica, grave e dolorosa, pode conduzir ao suicídio, sendo mais frequente entre as pessoas idosas.

A depressão caracteriza-se por um sentimento de tristeza intensa que ocorre, por vezes, após uma perda recente ou um episódio traumático, mas que é sempre desproporcional em relação ao evento, para além de persistir durante um período de tempo prolongado.

É precisamente a sua condição duradoura, assim como os vários sintomas psicológicos e físicos que a acompanham, que a distinguem dos comportamentos melancólicos e de pesar que surgem como resposta natural a experiências da vida quotidiana, como o desapontamento, morte de familiar ou amigo, uma catástrofe ou traumatismo.

Um episódio depressivo pode durar seis a nove meses, embora em cerca de 20 por cento dos casos possa prolongar-se para além de dois anos. Mesmo quando a pessoa pensa que já se libertou da doença, ela pode voltar a manifestar-se várias vezes ao longo dos anos e tornar-se crónica.

Não existe uma causa única conhecida para a depressão, mas parece ser consequência de uma combinação de factores genéticos, bioquímicos e psicológicos.

Há estudos que indicam que as doenças depressivas são transtornos do cérebro, como o demonstram as Imagens de Ressonância Magnética de pessoas deprimidas. Nestes pacientes, verifica-se que as áreas do cérebro responsáveis pela regulação do humor, pensamento e apetite parecem não funcionar adequadamente.

Por outro lado, as substâncias químicas utilizadas pelas células cerebrais para comunicar entre si, os neurotransmissores, parecem não estar em equilíbrio nas pessoas deprimidas. Porém, estas imagens não revelam as causas da depressão. Mesmo a investigação genética conclui que, apesar de alguns tipos de depressão se transmitirem de geração em geração, o aparecimento da doença é o resultado da influência de uma multiplicidade de genes que actua em conjunto com factores ambientais ou de outra natureza.

A maioria das pessoas pode ficar deprimida com acontecimentos traumáticos e tristes, mas conseguem superar o trauma; outras permanecem anos com depressão não diagnosticada, até ao momento em que são vítimas de uma crise mais profunda e com consequências mais graves. Os sintomas físicos, que deveriam funcionar como alerta, são por vezes confundidos com outras patologias, não sendo reconhecidos pelo doente nem pelo médico como associados à depressão. Perante alguns sintomas psicológicos como, desinteresse pelas actividades do dia-a-dia, irritabilidade e pessimismo, muitas pessoas recorrem ao médico. O diagnóstico precoce da depressão é o primeiro passo para controlar a doença e tratar os sintomas, no sentido de o doente regressar à sua vida normal.

A depressão pode surgir sem que esteja associada a qualquer episódio traumático ou de stress, nomeadamente quando se tomam alguns medicamentos como, corticosteróides, anti-histamínicos, betabloqueadores, analgésicos, antiparkinsónicos ou se consomem algumas substâncias tóxicas ou álcool. Daí a maior incidência de transtornos depressivos nas gerações nascidas nas últimas décadas do século passado, devido ao uso abusivo de drogas, sobretudo entre a população mais jovem.

Factores que afectam os níveis hormonais, como distúrbios na tiróide, podem igualmente provocar transtornos depressivos. Situações similares podem ocorrer quando a mulher entra na menopausa ou sofre de depressão pós-parto. Estas são algumas das razões que podem explicar a maior incidência da doença entre as mulheres.

Tipos de depressão

Os sintomas mais comuns da depressão podem agrupar-se em emocionais (ansiedade e irritabilidade, falta de ânimo, transtornos cognitivos, perda de interesse ou prazer, ideias suicidas e sentimentos de culpa) e físicos (perda de apetite ou compulsão alimentar com oscilações no peso, dores de cabeça, musculares e abdominais que podem generalizar-se a todo o corpo, distúrbios do sono que vão desde a insónia ao sono excessivo, fadiga constante e sensação de languidez ou de agitação).

Sempre que o doente apresente, pelo menos, cinco dos sintomas descritos anteriormente, por um período superior a duas semanas, e que comprometem a realização de tarefas importantes, como o trabalho ou estudo, está-se perante uma depressão maior, também conhecida por depressão clínica ou unipolar.

Neste tipo de depressão o estado de ânimo mantém-se num único pólo emocional, sem existência de episódios de mania, ao contrário da depressão bipolar ou transtorno maníaco-depressivo, em que o doente varia os seus estados de humor de forma cíclica.

A depressão crónica ou distimia apresenta vários dos sintomas que caracterizam a depressão maior, mas são de menor intensidade, embora se prologuem por mais tempo, ultrapassando mesmo os dois anos ou mais. Trata-se de uma depressão menos severa, em que os episódios crónicos não incapacitam a pessoa para as actividades quotidianas, mas lhe retiram energia suficiente para as realizar, o que afecta também o seu sentimento de bem-estar.

Normalmente os distímicos não apresentam alterações no apetite ou desejo sexual, assim como episódios de mania e de ansiedade. Contudo, os doentes depressivos crónicos também podem ter episódios de depressão maior em simultâneo e, nesse caso, sofrem de depressão-dupla.

Há ainda um grupo de transtornos depressivos que se podem desenvolver sob circunstâncias únicas, cujos sintomas são ligeiros e se manifestam durante pouco tempo, como resultado de uma situação stressante. É o caso da depressão pós-parto, associada a alterações a nível emocional e hormonal, que afecta 10 a 15 por cento das mulheres; o distúrbio afectivo sazonal, que ocorre de forma cíclica durante os meses de inverno quando diminui a luz solar, mas que desaparece com a primavera; a tensão pré-menstrual (TPM), que se manifesta cerca de uma semana antes do ciclo menstrual, atingindo entre três a oito por cento das mulheres em idade fértil.

Neste grupo, pela sua ocorrência muito peculiar, pode ainda incluir-se a depressão psicótica, embora os sintomas sejam mais graves, pois surge quando o depressivo maior manifesta, em simultâneo, uma brusca ruptura com a realidade, ocorrendo alucinações e delírios.

É frequente a depressão coexistir com outras doenças, que podem estar na origem dos estados depressivos ou ser resultado destes. Doenças como o stress pós-traumático, o transtorno de pânico e o obsessivo-compulsivo, ou ainda a fobia social e a ansiedade generalizada também devem ser diagnosticadas e tratadas. Porém, um outro grupo de doenças clínicas pode também acompanhar a depressão: o cancro, sida, diabetes, doença de Parkinson e problemas cardíacos.

O diagnóstico de cada tipo de situação vai permitir ao médico elaborar o tratamento mais adequado, que ajude o doente a recuperar a sua funcionalidade e qualidade de vida.

Tratamentos disponíveis

O tratamento depende do tipo de depressão e varia consoante o doente, já que cada um pode exigir uma abordagem específica. Há normalmente dois tipos de tratamento, o psicológico e o biológico/farmacológico, que, tendo em conta o diagnóstico e a gravidade do caso, podem ser aplicados em conjunto.

Há ainda um outro tratamento que, embora estivesse conotado com reputação negativa no passado, está a ser cada vez mais utilizado nos casos em que os medicamentos ou a psicoterapia não produzem qualquer efeito. Trata-se da terapia electroconvulsiva, também conhecida por terapia de choque, que tem evoluído muito nos últimos tempos, contribuindo para o alívio de muitas depressões resistentes e graves, em particular nas pessoas com sintomas psicóticos e pensamentos suicidas.

O objectivo do tratamento deverá consistir em melhorar a situação anímica em que o paciente se encontra, restabelecendo a sua capacidade funcional para realizar as actividades diárias. A decisão do médico vai também ter em conta a resposta do doente a um determinado fármaco, a sua tolerância aos efeitos secundários ou a existência de alguma contra-indicação devido a uma outra doença.

Os efeitos adversos mais frequentes dos antidepressivos são náuseas, dores de cabeça, boca seca, problemas sexuais, insónias e diarreia, mas que podem evoluir para situações mais graves e, inclusive, inibir o doente de utilizar máquinas ou conduzir.

Os antidepressivos podem também propiciar o isolamento do doente de ambientes sociais comuns e agravar a depressão e o comportamento suicida, sendo, por vezes, necessário a sua hospitalização quando coloca em risco a sua vida ou a de terceiros. Por isso, o doente, sobretudo no início do tratamento, deve ser acompanhado pelo médico e pela família, que poderá alertar sobre qualquer alteração de comportamento.

O tratamento farmacológico deve manter-se durante seis a doze meses, no sentido de evitar o risco de recaídas, embora o efeito do fármaco só se manifeste decorridas algumas semanas após a sua toma regular.

Os medicamentos disponíveis para esta patologia podem variar desde os antidepressivos tricíclicos, a amitriptilina, imipramina e doxepina, os inibidores selectivos da recaptação da serotonina/noradrenalina (ISRS), a nefazodona, trazodona, venlafaxina, sertralina e fluoxetina, os inibidores da monoaminoxidase (IMAO), a fenelzina e moclobemida, até aos psicoestimulantes. Estes últimos são recomendados aos indivíduos que não reagem a outros fármacos, nomeadamente antidepressivos.

Os psicoestimulantes têm efeito rápido, muitas vezes em menos de 24 horas, o que torna estes medicamentos vantajosos para pessoas idosas, convalescentes de alguma cirurgia ou doença prolongada. A sua utilização abusiva é muito frequente, sendo um fármaco que provoca habituação e dependência, ao contrário dos antidepressivos, embora com estes também tenha de fazer-se o chamado "desmame", para evitar que os sintomas reincidam. As pessoas que sofrem de delírios ou alucinações podem ainda beneficiar com a utilização de fármacos antipsicóticos.

Os antidepressivos actuam directamente sobre o cérebro, modificando a transmissão neuroquímica em áreas do sistema nervoso que regulam o estado do humor como, nível de vitalidade, energia, emoções e interesse. Têm por função restabelecer os níveis normais de substâncias, nomeadamente a serotonina, dopamina e noradrenalina.

Muitos antidepressivos têm sido prescritos de forma arbitrária, sendo consumidos mesmo quando não ocorrem desequilíbrios bioquímicos significativos, em depressões menos graves, onde outras terapias poderiam ser mais eficazes e sem efeitos colaterais.

Ainda que vários estudos científicos ponham em causa a pouca eficácia de certos fármacos contra alguns tipos de depressão, sendo preferível a sua substituição por alternativas, estes continuam a ser consumidos em grande escala por milhões de pessoas, numa sociedade que baseou os seus alicerces de saúde no consumo abusivo de medicamentos.

É o caso da fluoxetina, cujo nome comercial mais conhecido é o Prozac, que entrou na cultura popular como o "comprimido da felicidade", tendo alcançado vendas tão elevadas que o posicionaram como o medicamento mais vendido no mundo até surgir o Viagra.

A sociedade actual parece ter menor resistência à dor, frustração, tristeza e aos problemas do quotidiano, sendo os antidepressivos, devido aos raros efeitos adversos que provocam, utilizados como placebo para todos os males, sobretudo nas pessoas que procuram uma rápida fuga para alívio da situação.

Desde sempre que o homem teve de lidar com eventos difíceis na sua vida e o fenómeno da depressão acompanha a história da Humanidade. Há, inclusive, alguns relatos da patologia desde a antiguidade, na antiga Grécia, através de Galeno e Hipócrates.

Como o próprio título sugere, para a posteridade fica o quadro de Van Gogh No Limiar da Eternidade, no qual o célebre pintor reflecte todo o desespero, angústia e tristeza da pessoa com depressão, neste caso um idoso. O quadro, pintado em 1890, é revelador do estado de ânimo em que se encontrava o seu autor, que passou por vários internamentos hospitalares e que, à semelhança de muitos outros deprimidos psicóticos, optou pelo suicídio para fugir à depressão que tanto o atormentava. Hoje há mais soluções!

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