Ao longo da história a obesidade tem sido vista de formas diferentes. Em algumas civilizações da antiguidade ser gordo era considerado sinal de sucesso; noutras, como no Japão medieval, era considerado um deslize moral cometido pelo indivíduo e, na Europa, o estigma da obesidade era fundamentado pela igreja católica no pecado capital da gula.
Assim, a obesidade foi estigmatizada pela sociedade existindo atualmente uma tendência maior para o preconceito, exceto em algumas regiões como África, por exemplo, em que a obesidade nos homens é sinal de domínio e poder e nas mulheres sinal de maior fertilidade.
Porém, foram os avanços nas investigações das últimas décadas que permitiram descobrir que a obesidade é uma doença multifatorial, não estando, por isso, vinculada a um único aspeto individual. Trata-se de uma condição complexa, de dimensões sociais, biológicas e psicossociais consideráveis, que pode afetar qualquer pessoa de qualquer idade ou grupo socioeconómico, em qualquer parte do mundo.
Os números não deixam espaço para dúvidas. Segundo informações que partiram de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançaram no passado mês de outubro novas diretrizes para enfrentar o que eles consideram uma epidemia global, estima-se que 41 milhões de crianças menores de 5 anos sejam obesas ou estejam acima do peso no mundo.
Entre os adultos, a obesidade afeta cerca de 641 milhões de adultos ou 13% da população mundial adulta, podendo chegar aos 20 por cento em 2025, se o ritmo atual se mantiver, sendo em Portugal de 1,5 milhões. A revista científica The Lancet, baseada num estudo conduzido pelo Instituto de Métrica e Avaliação para a Saúde (IHME) da Universidade de Washington, refere em recente publicação, que há atualmente 2,1 bilhões de pessoas obesas ou com sobrepeso, o que representa quase 30% da população mundial.
A globalização trouxe múltiplos benefícios à população mundial, mas no percurso dessa evolução carregou consigo uma doença originada pelo modelo de comportamento atual que pode resumir-se em apenas algumas palavras: sedentarismo, gula, stress, acomodação frente às facilidades tecnológicas (controlo remoto, telemóvel, homebanking, fast food, etc). É um modo de vida baseado na inatividade corporal frente aos ecrãs de TV e do computador, no consumo de alimentos industrializados, e num altíssimo grau de tensão psicológica onde os profissionais são cada vez mais viciados no trabalho (workaholics).
A obesidade define-se como a acumulação excessiva de gorduras nos depósitos do tecido adiposo do organismo, quer seja por aumento do número de adipócitos ou pelo incremento do seu tamanho, que se traduz em excesso de peso corporal.
A forma mais simples de determinar o possível excesso de tecido gordo de uma pessoa é avaliar o seu peso corporal e comparar o resultado com o peso que teoricamente deveria ter segundo parâmetros como idade, sexo, altura e tipo de constituição física.
De acordo com as recomendações da OMS para avaliação do perfil antropométrico-nutricional das populações de adultos, utiliza-se o Índice de Massa Corporal (IMC) - o peso em quilos dividido pelo quadrado da altura, em metros.
Admite-se que a percentagem de gordura corporal se deva situar entre 15 e 18 por cento para o sexo masculino e entre 20 e 25 por cento para o sexo feminino. Assim, fala-se de excesso de peso quando um indivíduo supera em 10 por cento o seu peso corporal ideal e de obesidade quando o excesso é superior a 15 por cento.
A obesidade é a mais recente epidemia global, com elevadíssimos custos pessoais, sociais e económicos. O seu desenvolvimento possui múltiplas causas e é o resultado de complexas interações entre fatores genéticos, psicológicos, sócioeconómicos, culturais e ambientais.
As causas da doença
Para compreender o mecanismo causal da obesidade deve ter-se em conta o conceito de balanço energético, ou seja, a diferença entre a energia que o organismo obtém a partir do metabolismo dos nutrientes contidos nos alimentos consumidos e a que é gasta para a manutenção das funções vitais, o calor corporal e o trabalho muscular.
Se o balanço energético for positivo, ou seja, se a quantidade de energia obtida através dos alimentos for superior à que se despende, o organismo tende a acumular gorduras nos depósitos adiposos do organismo, principalmente no tecido subcutâneo e em volta das vísceras internas.
De entre os vários fatores que podem conduzir a um balanço energético positivo, o mais comum é o excesso de contribuição energética através da alimentação e hábitos alimentares inadequados, baseados essencialmente em fatores culturais e psicológicos.
A existência de predisposição genética para a obesidade, devido à tendência especial do organismo para acumular gorduras no tecido adiposo, explica a elevada incidência de obesidade em determinadas famílias. Esta explicação, contudo, acaba por não ser satisfatória para todos, pois não se pode determinar o organismo metabólico responsável nem os genes envolvidos.
Existem ainda algumas patologias de origem endócrina, hormonal, que originam acumulação excessiva de gorduras no tecido adiposo e aumento do peso corporal. Mas, no conjunto dos obesos, os casos em que se pode determinar a existência de uma perturbação adjacente constituem uma percentagem mínima.
E porque na obesidade não está em causa apenas a questão estética – que muitas vezes provoca conflitos emocionais que diminuem a autoestima do indivíduo –, convém relembrar outras complicações que, além de atentarem contra a qualidade de vida, podem colocar diretamente em risco a sua existência. Para além do âmbito psicológico a doença pode afetar o sistema osteoarticular, o aparelho cardiovascular, os aparelhos respiratório e digestivo e o sistema endócrino.
Para combater a obesidade surgem todos os dias soluções milagrosas, que conseguem poucos ou nenhuns resultados. A solução para o problema passa por conseguir uma progressiva redução da gordura corporal até se alcançar um peso próximo do ideal e, a partir daí, tentar estabilizá-lo.
Reduzir a ingestão calórica mediante uma profunda modificação dos hábitos alimentares e combater o sedentarismo de modo a aumentar o gasto energético são as medidas básicas para alcançar este objetivo. Quando estas medidas se mostram insuficientes, o uso de medicação adequada pode resolver o problema.
Medicação e modo de ação
O tratamento da obesidade requer disciplina e paciência. Algumas pessoas, em busca de uma solução rápida, fazem uso dos medicamentos ignorando que essa é uma via que requer muita responsabilidade, por poder causar sérios prejuízos à sua saúde. Apenas o médico pode receitar um fármaco, que deve vir sempre acompanhado de alterações no estilo de vida, dieta disciplinada e prática de exercício físico.
Está estabelecido um perfil delimitado para os doentes com necessidades terapêuticas: pessoas cujo IMC é igual ou superior a 30; IMC igual ou maior que 25, se acompanhado de outros fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia, entre outros; ou quando o tratamento convencional (dieta + exercícios) não obteve êxito.
Os medicamentos usados para a obesidade podem dividir-se em três grupos, de acordo com o seu modo de ação principal: os que atuam no sistema nervoso central modificando o apetite; os que agem sobre o metabolismo incrementando a termogénese (com produção de calor e maior consumo de calorias), e os que atuam sobre o sistema gastrointestinal diminuindo a absorção de gorduras.
Os que atuam no sistema nervoso central são designados anorexígenos, dividindo-se em catecolaminérgicos, serotoninérgicos, e serotoninérgicos associados aos catecolaminérgicos.
A formulação dos catecolaminérgicos pode ser à base de anfetaminas e atuam incrementando a neurotransmissão catecolaminérgica (responsável pela resposta rápida ao stress), promovendo a libertação de neurotransmissores catecolaminas, como a adrenalina, a noradrenalina e a dopamina. A libertação destas substâncias deixa o organismo em vigília máxima, bloqueando a sinalização da fome e, consequentemente, causando ausência de apetite.
Por outro lado, os medicamentos serotoninérgicos, dos quais se destacam a fluoxetina e a sertralina, atuam nos recetores da serotonina localizados no hipotálamo ventromedial, relacionados com a indução da diminuição do consumo alimentar.
Os medicamentos que associam os serotoninérgicos aos catecolaminérgicos atuam na neurotransmissão de ambos os sistemas e são também conhecidos por sacienógenos. A sibutramina é um exemplo desse tipo de fármaco: a sensação de saciedade é maior com o aumento da serotonina e o apetite é inibido com o aumento das catecolaminas.
Os medicamentos que incrementam a termogénese aumentam a atividade do sistema nervoso, acelerando o ritmo das atividades do organismo, nomeadamente dos sistemas respiratório e cardíaco. O corpo tem necessidade de gastar calorias para manter a temperatura estável e, com a aceleração do ritmo, queimam-se mais calorias. A aminofilina, a efedrina e a cafeína, por exemplo, são termogénicos que aumentam a ação da noradrenalina nas terminações nervosas.
Por último, os fármacos inibidores da absorção intestinal de gordura, representados pelo orlistato, que ao atuar no intestino inibe as lípases responsáveis pela quebra de moléculas de triglicéridos, que geram os ácidos gordos livres e monoglicéridos. O ponto ativo da lipase fica ligado ao orlistato e um terço dos triglicéridos não é absorvido pelo intestino, sendo posteriormente eliminados nas fezes.
Até ao momento o tratamento da obesidade tem-se focado predominantemente em substâncias destinadas a suprimir o apetite ou a aumentar o metabolismo.
À medida, porém, que as cinturas vão crescendo, a investigação sobre novas formas e novos medicamentos para perder peso e manter o corpo saudavelmente magro torna-se mais urgente. Como em todas as áreas de estudo, as ideias evoluem e desenvolvem-se de formas inesperadas, muitas vezes desafiando os factos aceites.
Adipotide® é o nome de uma nova marca de fármaco, de investigação recente, que parece ser a grande promessa para acabar com o excesso de peso, uma vez que promete uma redução de até 11 por cento em cerca de um mês, além de controlar o apetite.
Adipotide®, a luz ao fundo do túnel
A maior parte das pessoas sente-se insatisfeita com o seu corpo, ou porque tem uma gordurinha aqui ou um pneuzinho ali, sempre difíceis de combater. Porém, a solução para esse problema pode estar para breve.
Fica a dever-se a uma equipa de investigadores do Centro do Cancro MD Anderson, da Universidade do Texas, a descoberta de um novo medicamento, que atua sobre as células do tecido adiposo branco, o nome científico para o tipo não-saudável de gordura que se acumula sob a pele e em redor do abdómen, sem interferir diretamente com o cérebro.
Ao contrário de outros fármacos com a mesma finalidade, que inibem o apetite ou impedem a absorção de gorduras, o Adipotide® imita o mecanismo de ação de alguns tratamentos contra o cancro que cortam o fornecimento de sangue e oxigénio aos tumores com a finalidade de os deixar sem nutrientes e "matá-los à fome".
O medicamento em causa une-se à proibitina, uma proteína localizada na superfície dos vasos sanguíneos que abastecem a gordura, que contém peptídeos sintéticos (elementos que auxiliam a digestão) que vão induzir a morte celular. A inibição da circulação sanguínea nesses tecidos provoca a morte das células adiposas, que posteriormente são reabsorvidas e metabolizadas pelo organismo.
Foram realizados testes em macacus rhesus e em roedores. A eficácia do medicamento foi notória nos macacos que, após um mês de tratamento com injeções diárias, perderam 11 por cento do seu peso corporal. O desaparecimento do tecido adiposo branco foi comprovado através de imagens de ressonância magnética realizadas antes e depois do tratamento.
Os investigadores verificaram ainda que o peso, a circunferência abdominal e o IMC dos macacos continuaram a diminuir durante três semanas após o tratamento. Além disso, os animais revelaram um aumento da resistência à insulina, o que sugere que o fármaco possa evitar o desenvolvimento da diabetes tipo 2.
Nos roedores os resultados foram ainda mais promissores, tendo estes animais perdido 30 por cento do peso que possuíam no mesmo período de tempo.
Relativamente aos efeitos secundários do medicamento, os investigadores afirmam não haver nada de grave a assinalar. Os animais permaneceram sãos e alerta, interagindo com os tratadores, não perderam apetite, nem demonstraram nenhum sinal de náusea ou rejeição, o que é um bom indício, já que os medicamentos comummente utilizados apresentam efeitos colaterais indesejáveis. O principal efeito secundário foi detetado nos rins. No entanto, os investigadores afirmam que "o efeito renal foi dose-dependente, previsível e reversível".
Para a equipa de investigação o desenvolvimento deste composto para uso humano é uma forma não-cirúrgica para reduzir realmente o tecido adiposo branco acumulado, em contraste com os atuais métodos usados para perder peso.
Milhões de pessoas tentam perder peso todos os anos. O método mais comum é tentar alguma dieta nova e radical, saltar refeições, deixar mesmo de comer ou recorrer aos medicamentos disponíveis, com ou sem aconselhamento médico.
Para a maior parte dessas pessoas todas as dietas falham, originando mesmo um aumento do peso, dos níveis de stress e de frustração.
Segundo a última revisão da Consumer Health Digest de fevereiro de 2017 o Adipotide® continua a ser testado em seres humanos e o fabricante afirma esperar resultados duradouros na redução do excesso de gorduras, mesmo depois de parar de o tomar, aconselhando-se no entanto precaução no seu uso, até que haja garantias de segurança.
Apesar de ser ainda ser considerado um medicamento experimental o Adipotide® tem potencial de emagrecer, sendo já uma luz ao fundo do túnel, podendo muito bem vir a ser a solução para perder todos os tipos de peso: o do abdómen e aquele que surge quando se sabe que se comeu demais… o peso na consciência!
Em termos gerais, os nutracêuticos são produtos ou suplementos alimentares com funções nutritivas e terapêuticas, com a finalidade de melhor suprirem as necessidades nutricionais do organismo.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.