SALMÃO, LUTAR CONTRA A CORRENTE

SALMÃO, LUTAR CONTRA A CORRENTE

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  Tupam Editores

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Se é dos que pensa que ir contra a corrente não leva a lugar nenhum, desengane-se! Há pelo menos uma espécie animal que se lança corajosamente contra a corrente com um objetivo específico em mente – regressar ao local onde nasceu para se reproduzir e manter a sobrevivência da sua espécie. Trata-se do salmão.

Este "evento" caracteriza-se como um dos mais fantásticos da natureza, pela tamanha dificuldade e desafios que estes peixes enfrentam, razão pela qual o número dos que conseguem retornar aos rios para procriar é reduzido.

A viagem que fazem é longa e árdua. O salmão consegue nadar, frequentemente durante semanas, contra leitos com muito pouca água, atravessando correntes velozes e rápidos turbulentos, lançando-se vigorosamente em grandes saltos em tentativas sucessivas até ultrapassar (quando consegue), as quedas de água

E não se perde! É guiado, principalmente, pelo seu desenvolvidíssimo sentido do olfato, que utiliza para identificar, de entre todos os outros, o cheiro característico do rio onde nasceu.

Apenas a morte pode impedir estes belos peixes de linhas hidrodinâmicas de alcançarem o seu objetivo.

Espécie que, na natureza, recebe a classificação de anádromo, pertencente ao filo Chordata, e à família Salmonidae (que também engloba as trutas), o salmão é, normalmente, um peixe de porte grande, embora o tamanho possa variar, consoante a espécie.

Existem sete espécies de salmão: uma no Oceano Atlântico, de nome científico Salmo Salar, e seis no Oceano Pacífico. O salmão do atlântico encontra-se principalmente na parte norte do oceano e reproduz-se nos rios da América do Norte e da Europa.

As seis espécies do Pacífico são: prateado (ou coho), chum (também conhecido por Keta), real (ou chinook), rosado, vermelho (ou sockeye) e cereja (ou masu). Encontram-se nas águas do norte desse oceano, e reproduzem-se nos rios perto das costas norte-americana e asiática.

O peixe possui maxilar pequeno atingindo a metade posterior do olho, corpo alongado, coberto por escamas relativamente pequenas, e duas barbatanas dorsais sendo a primeira espinhosa e a segunda adiposa (situada entre a barbatana dorsal e anal). As barbatanas pélvicas ocupam uma posição abdominal.

A espécie que vive no Atlântico pesa em média cerca de 5,5 quilos. Já as do Pacífico variam – o salmão rosado pesa normalmente de 1,4 a 2,7 quilos, mas o salmão real pode alcançar 11 quilos ou até mais.

Enquanto está no oceano, o salmão tem cor prateada e manchas nas costas e barbatanas. Durante a estação reprodutiva, nos rios, a sua cor passa por mudanças que variam de acordo com a espécie.

A reprodução e a migração do salmão

O salmão que chega à zona de reprodução, enfraquecido e extenuado, só longinquamente se assemelha ao peixe gordo e lustroso que abandonou o oceano poucas semanas antes. O corpo cortado apresenta equimoses; as barbatanas estão rasgadas e laceradas e os olhos e as brânquias infestados de fungos e outros parasitas.

No extremo das suas forças, a fêmea abre uma cavidade pouco funda no areão do leito do rio e nela deposita os ovos (geralmente entre 2500 a 7000 ovos, dependendo do tamanho do peixe) que, depois de fecundados pelo macho, são por ela cobertos com o areão.

Normalmente, após a desova, os adultos morrem (pelo menos os que vivem no Oceano Pacífico, porque há muitos salmões da espécie do Atlântico que voltam ao mar e podem reproduzir-se novamente).

Os ovos fecundados, enterrados no areão, levam entre três e doze semanas para eclodir. As pequenas larvas permanecem no ninho durante cerca de três semanas, alimentadas pelas reservas do saco vitelino que apresentam imediatamente após a eclosão dos ovos. Depois, sobem à superfície, onde o seu desenvolvimento prossegue.

Após um período que varia de menos de um mês a dois anos, conforme as espécies, os salmões deixam o local onde nasceram e iniciam a sua viagem para o mar.

Esta migração, que tem início na primavera, é aparentemente desencadeada, pelo menos em parte, pelo aumento da duração dos dias. A quantidade crescente de luz solar estimula a produção hormonal e provoca um aumento geral do metabolismo do salmão.

As espécies jovens, para escaparem aos predadores, deslocam-se principalmente durante o crepúsculo e de noite, passando as horas de luz ocultas nos fundos de areia ou areão, e entre rochas. Os peixes vão-se alimentando e desenvolvendo durante o percurso, verificando-se as alterações fisiológicas necessárias para os anos que irão passar na água salgada.

As correntes fortes contra as quais os seus pais lutaram para chegar à área de desova favorecem agora as espécies jovens, guiando-as rapidamente e em segurança para o oceano. Depois de chegarem ao mar, os salmões seguem para zonas de alimentação, onde permanecem até ao recomeço de um novo ciclo, que os impele, por sua vez, a regressar aos rios de desova ancestrais.

O salmão do mar, mais conhecido por salmão selvagem, é um excelente alimento. Vem de tempos distantes a nutritiva parceria entre este peixe e a espécie humana. Não é de agora que os nutricionistas o consideram um aliado quando o assunto é alimentação saudável.

Segundo especialistas em nutrição, além de ser uma boa fonte de proteínas, é um peixe rico em ómega-3, que melhora o humor e previne doenças cardiovasculares, Alzheimer e depressão. Contudo, as propriedades do salmão selvagem – pescado de maneira natural – são diferentes do salmão criado em cativeiro, que acaba por ser o que a grande maioria da população consome.

Atualmente, cerca de 70 por cento do consumo mundial tem como origem viveiros do Chile, Canadá, Estados Unidos e norte da Europa. Mas serão as características do peixe idênticas?

Salmão selvagem vs Aquacultura

Sobre os benefícios do consumo do salmão selvagem ninguém tem dúvidas. Para além de ser um alimento saboroso, é possuidor de uma textura macia e aveludada, como todo o peixe gordo, e desmancha-se na boca.

A cor vermelha da sua carne é gerada pelo pigmento astaxantina, que o peixe absorve por se alimentar principalmente de camarão e Krill. Mas como a dieta do salmão é variada, também as cores de sua carne variam, indo desde o branco ou rosa suave, até ao vermelho vivo.

Além de fornecer proteínas, este peixe é igualmente uma excelente fonte de selénio, fósforo, niacina e de vitamina B12; boa fonte de ferro, magnésio, potássio, zinco, vitamina A, vitamina B1, vitamina B5 e vitamina B6 e excelente fonte de ómega-3.

É por isso um poderoso antioxidante que ajuda a prevenir doenças cardiovasculares, inflamatórias, e atua no sistema imunitário. Em busca de todas estas propriedades e benefícios, o salmão está cada vez mais presente no nosso cardápio.

Mas, segundo alguns especialistas, nem todo o salmão apresenta as mesmas características, e o dedo é apontado ao peixe de aquacultura – a criação ou cultura de organismos aquáticos, recorrendo a técnicas concebidas para aumentar, para além das capacidades naturais do meio, a produção dos referidos organismos.

A cultura do salmão engloba a criação e alimentação de um grande número de peixes em pequenas estruturas de redes fechadas. Uma cultura típica contém até uma dúzia de estruturas, com um número de entre dez e quinze mil peixes em cada uma delas. Com uma taxa rápida de expansão, a aquacultura é responsável por mais de 30 por cento de todas as proteínas consumidas anualmente no mundo.

Falar de aquacultura é falar de três realidades: para o consumidor, a diferença de preço entre o peixe "cultivado" e o selvagem; o preconceito sobre um peixe que não é "do mar"; e a inevitável realidade de que as reservas de peixe no mar estão a esgotar-se.

Ainda não se sabe ao certo quando o oceano deixará de nos dar peixe, nem se essas previsões catastróficas são realistas, mas a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) considera o papel da aquacultura cada vez mais relevante. Até porque em 2030, a população mundial terá ultrapassado os oito mil milhões.

Se, nessa altura, se mantiverem as percentagens de consumo de peixe de 17 quilos anuais per capita (Portugal consome 59 quilos anuais per capita), serão necessárias 29 milhões de toneladas de peixe extra às 110 milhões já produzidas e capturadas atualmente. Em 2030, contudo, os oceanos estarão completamente saturados, reservas em ruptura, e espécies extintas.

Mas nem todos veem a aquacultura com os mesmos olhos. Para além de afirmarem que o peixe de aquacultura deixa um rasto de destruição nos ambientes marinhos, referem que esta tem o potencial de aumentar a disseminação de espécies invasivas, visto que frequentemente as espécies criadas não são nativas das áreas de criação.

Quando há fugas para o meio ambiente, é frequente que os animais introduzidos se revelem mais resistentes e que as espécies nativas se apoderem dos ecossistemas. Afirmam, por isso, que é responsável pela destruição de incontáveis ecossistemas e das comunidades piscatórias que deles dependem, em alguns dos ambientes marinhos mais vulneráveis do planeta.

Em relação ao peixe de aquacultura referem que tem um elevado nível de antibióticos e hormonas, e que, por ser criado num ambiente controlado e manipulado artificialmente, está mais suscetível a doenças e intoxicações e, por conseguinte, contém químicos e possui menos ómega-3.

Quanto à diferença na tonalidade referem que a astaxantina e a cantaxantina que, na natureza tingem a carne do salmão, em cativeiro são substâncias sintéticas, fabricadas artificialmente em laboratório, derivadas da petroquímica, e que consumidas em grandes quantidades podem causar problemas de visão e alergias e, segundo estudos recentes, podem ser tóxicas e carcinogénicas.

Refere-se que os peixes são as novas galinhas do mar: comem rações e possuem menor quantidade de gorduras saudáveis, e maior quantidade de gorduras saturadas.

Ao que parece, estas rações contêm demasiado peixe ou demasiada soja, e para não se alimentar o peixe com outro peixe (apesar de, no habitat natural isso ocorrer naturalmente), fizeram-se alterações na dieta. Alguns especialistas afirmam que o salmão poderá ser, dentro de pouco tempo, vegetariano, podendo levar à sua alteração genética.

Porém, se há opiniões diversas e alguns mitos no que diz respeito à aquacultura, há também uma série de factos enunciados pelos produtores, investigadores e nutricionistas. Existe uma preocupação geral da população com o corpo e com a saúde, razão pela qual se come mais peixe.

Os nutricionistas não negam que o peixe de aquacultura tem mais gordura, em geral, e níveis diferentes de ómega-3 e ómega-6. Não existe, contudo, nenhuma evidência científica que explique se esse excesso de gordura é nocivo. Numa população que ainda tem défices nutricionais como a nossa, os investigadores só veem vantagens em promover o consumo de peixe gordo.

A verdade é que ao consumir estes peixes ficamos de certa forma dependentes do tipo de controlo de qualidade que as empresas que exploram estas culturas façam desses produtos. Em cativeiro, o salmão está completamente dependente do tipo de rações que lhe derem, pelo que, também as rações deveriam ser alvo de estrito controlo.

Ainda que seja um tema de controvérsia circunscrito, há unanimidade de opinião dos estudiosos sobre os benefícios do consumo do salmão para a saúde.

Benefícios do consumo para a saúde

Considerado um dos alimentos mais saudáveis do mundo, o salmão é um peixe altamente nutritivo. Pode ser consumido cru, defumado, grelhado, frito, dependendo do gosto e da originalidade de cada um. Cada 100g de peixe fornecem em média 200 calorias.

Além de boa fonte proteica, ácidos gordos ómega-3, ácido docosahexaenoico (DHA), ácido dimetilaminoetanol (DMAE), vitamina A, vitamina C, vitamina D, e vitaminas do complexo B (B3 - niacina; B6 - piridoxina; B12), o salmão também é rico em minerais como ferro, potássio, sódio, cálcio, selénio, magnésio e triptófanos.

O organismo beneficia a vários níveis com o seu consumo. Por ser uma boa fonte de antioxidantes, auxilia na prevenção do processo de oxidação e dos radicais livres que prejudicam o corpo.

O ácido dimetilaminoetanol atua nos músculos da face, simulando a ação da acetilcolina, diminuindo a flacidez dessa região. Já os ácidos gordos e o selénio podem evitar que os raios ultravioleta prejudiquem a pele, prevenindo, dessa forma, o envelhecimento precoce e as rugas.

Quando se trata de evitar doenças inflamatórias e do coração, o salmão é também um aliado. As doenças cardiovasculares, assim como muitas outras, ocorrem pelo excesso de inflamação nas regiões afetadas, e é aí que o ómega-3 atua, diminuindo a inflamação. Ajuda a prevenir a artrite, dores nas articulações, o enfarte do miocárdio, entre outros problemas cardiovasculares; ajuda a reduzir o nível dos triglicéridos e do colesterol (aumentando os níveis de HDL e diminuindo os de LDL).

Em conjunto com os ácidos gordos, os aminoácidos ajudam a prevenir a degeneração macular, a secura da retina, perda de visão e fadiga dos olhos. Está comprovado que as pessoas que comem peixe regularmente têm uma visão melhor do que as que não o fazem. Já o cálcio e a vitamina D ajudam no fortalecimento dos ossos e dentes; e as proteínas no crescimento muscular e dos tecidos.

Mas os benefícios não acabam aqui, os nutrientes do salmão também contribuem para promover o bom humor e para diminuir os sintomas de depressão, o que ocorre pela ação conjunta de diferentes nutrientes: o ómega-3 aumenta a fluidez das membranas dos neurónios, melhorando os impulsos nervosos; as vitaminas do complexo B, por sua vez, atuam no metabolismo destas células, enquanto o selénio e o magnésio diminuem a formação de espécies reativas de oxigénio que podem gerar a morte neuronal. Por último, o aminoácido triptófano estimula a formação de serotonina, importante neurotransmissor relacionado com o bom humor.

Bons motivos para consumir salmão não faltam. Já Hipócrates dizia "Que o teu alimento seja o teu medicamento". Uma alimentação equilibrada e ponderada vai contribuir, certamente, para uma vida mais saudável e longa. Pense nisso, se estiver entre os não apreciadores de salmão, e renda-se aos seus múltiplos benefícios.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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