TESTIS CANCRI

TESTIS CANCRI

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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O corpo humano é formado por triliões de células agrupadas para formarem tecidos e órgãos. A maioria das células normais crescem, reproduzem-se e morrem em resposta a sinais internos e externos do organismo. Quando esses processos ocorrem de modo equilibrado e forma ordenada, o corpo mantém-se saudável, executando as suas funções com normalidade.

Porém, uma célula normal pode sofrer alterações no material genético ADN, transformando-se numa célula mutada que, se não for combatida pelo próprio organismo, pode dividir-se de maneira desordenada e dar origem a um tumor ou neoplasia.

A maior parte dos tumores afeta, indiscriminadamente, os dois géneros, mas alguns deles podem ser considerados masculinos, já que atacam única e exclusivamente zonas específicas da anatomia do homem, como sejam a próstata, pénis e testículos.

Contrariamente à mulher, que aprende durante a sua formação e crescimento a necessidade de consultar periodicamente o ginecologista para verificar e cuidar da saúde dos órgãos reprodutores, genitais e mama, na educação do homem, na maioria das vezes, o assunto nem é abordado.

O preconceito à volta dos temas ligados à sexualidade masculina é a primeira barreira a ser vencida na luta contra estes tipos de cancro, sendo outra a falta de informação. Informar a população masculina sobre a sintomatologia dessas doenças, os fatores de risco e o quanto um diagnóstico precoce aumenta as hipóteses de cura são atitudes fundamentais que precisam de ser adotadas de forma a diminuir a resistência deste público em consultar o médico quando se apercebe de algum problema do foro urológico.

Uma das doenças que a população masculina ainda conhece de forma deficiente e para a qual não está alertada é o cancro do testículo que, significativamente é mais comum entre os jovens que em idosos, sendo os mais frequentes os que acometem homens entre os 20 e os 40 anos.

O cancro do testículo representa um a dois por cento da generalidade dos cancros que afetam o homem. No entanto, o número de casos triplicou nos últimos 20 anos e continua a subir, sendo diagnosticados entre 6 a 8 mil homens com a doença todos os anos.

Em Portugal o tumor do testículo é considerado uma das "patologias problema" na área oncológica. O diagnóstico tardio e a inexistência de uma cultura médica para solução do problema estão entre as causas possíveis para o excesso de mortalidade devida a este tipo de cancro. Todos os anos surgem no nosso país 200 novos casos de cancro do testículo e destes, cerca de 20 doentes acabam por morrer. E, enquanto os melhores resultados de alguns países da União Europeia indicam uma sobrevivência de 95 por cento, por cá fica-se pelos 85 por cento.

Por se tratar de uma patologia com elevados níveis de sucesso no tratamento e geralmente curável, qualquer influência que confira risco aumentado de mortalidade deve ser identificada, para que sejam adotadas as melhores estratégias de intervenção, em particular por parte dos doentes.

Conhecer melhor para bem intervir

O cancro do testículo consiste no crescimento descontrolado de células anormais num ou em ambos os testículos, as glândulas sexuais masculinas. Localizados no escroto, na parte anterior do pénis, estes órgãos são responsáveis pela produção de testosterona e outras hormonas masculinas e ainda por produzirem e armazenarem o esperma, que contém as células necessárias para a reprodução.

O cancro do testículo, ao desenvolver-se, pode permanecer no interior do órgão ou disseminar-se para os gânglios linfáticos do abdómen e da região pélvica.

A origem deste tumor ainda permanece desconhecida. Estatisticamente, os homens que apresentam maior risco são os que nasceram com o testículo não-descido (criptorquidia), ou seja, que permaneceu no abdómen ou na virilha em vez de se desenvolver normalmente para o escroto antes ou pouco depois do nascimento. As crianças com esta alteração têm um risco aumentado de desenvolver cancro do testículo se não forem tratados até aos 11 anos.

Idade jovem, raça caucasiana, história clínica familiar, peso à nascença, puberdade antecipada, problemas de fertilidade, testículo subdesenvolvido, diagnóstico serológico VIH positivo e determinadas doenças genéticas, como a síndrome de Down ou síndrome de Klinefelter, são outros fatores de risco assinalados.

Alguns especialistas consideram ainda que a infeção do testículo pelo vírus da papeira, a exposição materna ao dietilestilbestrol (DES estrogénio sintético usado como anti-abortivo e na insuficiência ovárica) e a exposição ao agente laranja (herbicida utilizado na guerra do Vietname) também podem aumentar o risco de desenvolver a doença.

Consoante as células que os formam, os tumores testiculares podem ser classificados em vários tipos, destacando-se, pela sua perigosidade, os tumores de células germinais e os tumores dos tecidos de suporte, ou tumores do estroma. Praticamente todos os cancros do testículo têm a sua origem nas células germinais, responsáveis pela produção do esperma.

Existem dois tipos de tumores de células germinais: seminomas e não seminomas. Os seminomas tendem a crescer lentamente, permanecendo geralmente no interior do testículo durante muito tempo sem se disseminarem. Os não seminomas formam-se a partir de células germinais mais maduras e mostram maior probabilidade de se espalharem, especialmente para os gânglios linfáticos (estruturas com a forma de feijões que se encontram por todo o corpo e que produzem e armazenam as células que combatem as infeções).

Apenas uma pequena percentagem de cancros testiculares corresponde a tumores com origem nos tecidos de suporte do testículo. Estes cancros do estroma são denominados tumores das células de Sertoli e tumores das células de Leydig.

Os tumores do testículo são geralmente malignos, com tendência para invadir, ao longo do tempo, os tecidos contíguos, como o escroto, e também para se propagarem através do sangue ou da linfa a pontos mais afastados do organismo, formando tumores secundários, ou metástases, sobretudo nos pulmões e fígado. Assim, tal como em todas as doenças, é de extrema importância vigiar as suas manifestações para atuar o mais precocemente possível.

Manifestações e diagnóstico

As manifestações costumam evidenciar-se progressivamente. Ao longo das fases iniciais, o sinal mais comum corresponde à formação de inchaço provocado pelo crescimento do tumor, um fenómeno que pode ser detetado através do aumento de volume do testículo. Embora o testículo afetado habitualmente conserve a sua forma normal oval, por vezes, adota uma forma esférica ou até mesmo irregular.

Outros sintomas manifestam-se através da dor ou sensação de "peso" nos testículos ou virilhas, rigidez em parte ou em todo o testículo, moínha, desconforto ou acumulação de fluido no escroto, sangue misturado com o sémen na ejaculação, dores nas costas e abdominais (estômago), sensação de mal-estar e cansaço.

Os homens podem ainda notar um aumento do volume mamário e, raramente, poderá observar-se excreção de um fluido leitoso do mamilo. Estes sinais ocorrem apenas quando o tumor afeta a secreção das hormonas masculinas. Outros sintomas menos comuns, que tendem a aparecer depois de o cancro se ter disseminado para outras partes do corpo, são o aparecimento de nódulos no pescoço, dor persistente nas costas, falta de ar (dispneia) e sangue ao tossir.

Quaisquer excrescências ou anomalias verificadas nos testículos ou no escroto devem ser observadas pelo médico assistente e, se necessário, por um especialista.

O diagnóstico implica a criação do histórico clínico para apurar fatores de risco, desenvolvimento de queixas, exame objetivo para avaliar o escroto e eventuais gânglios linfáticos, bem como exames complementares de diagnóstico, nomeadamente ecografia escrotal e análises sanguíneas (com determinação de alfafetoproteína (AFP), gonadotrofina beta-coriónica humana (B-HCG) e desidrogenase láctica (LDH)).

Geralmente o primeiro exame consiste na aplicação de ultra-sons aplicados aos testículos, que permitam visualizar o seu aspeto interior), tornando possível distinguir as excrescências cancerígenas das benignas.

Alguns tipos de cancro do testículo produzem substâncias químicas os denominados marcadores tumorais que libertam para a corrente sanguínea. As principais são a AFP e a B-HCG. A presença destas substâncias pode ajudar a detetar o alastramento do cancro, o efeito do tratamento e, mais tarde, se o cancro voltou a manifestar-se ou não.

Tal como em outros tumores, a melhor forma de diagnosticar o cancro do testículo é através de intervenção cirúrgica. Quando se suspeitar de cancro, ou caso se proceda a biópsia para exames que confirmem a existência de cancro, o testículo é removido. Procede-se, então, a análise microscópica mais específica a fim de identificar o tipo de células cancerígenas.

Confirmada a existência de cancro, são realizados outros exames específicos para investigar a possibilidade de alastramento, como raio-X torácico para observação dos pulmões, e uma tomografia computorizada (TAC) para observação das glândulas linfáticas do abdómen e peito.

As opções de tratamento vão depender de fatores como tipo de tumor e o seu estádio, estado geral do doente e da sua vontade.

Tratamento e prognóstico

Como nas demais doenças, o tratamento será mais fácil e terá maiores probabilidades de êxito nos cancros de testículo detetados precocemente.

A cirurgia de remoção do testículo ou orquiectomia radical, constitui o tratamento primário, e por vezes único, para praticamente todos os tipos e estádios de tumor testicular. Após a cirurgia o doente é seguido em consulta, devendo ser observado a cada 3-4 semanas durante os primeiros anos e depois anualmente. São realizados exames complementares de diagnóstico (análises sanguíneas, TAC e outros) para determinar a cura ou recidiva da doença e, consoante a evolução, o médico poderá sugerir tratamentos adicionais.

A radioterapia utiliza raios X de alta energia para destruir as células cancerosas. No caso dos seminomas é administrada radioterapia após a orquiectomia para destruir células que tenham metastizado para os gânglios linfáticos. A radioterapia é também utilizada em doentes com tumores do tipo não-seminoma. Contudo a dose de radiação aplicada é mais baixa na primeira. Os efeitos secundários da radioterapia incluem náusea, diarreia, fadiga, irritação da pele na zona aplicada e infertilidade, mas algumas medidas preventivas podem minorar ou mesmo evitar estas complicações.

A quimioterapia usa fármacos para destruir as células cancerígenas que tenham metastizado, podendo ser administrada antes da cirurgia (quimioterapia neo-adjuvante), para reduzir a massa tumoral, ou após (quimioterapia adjuvante) para destruir as células que tenham permanecido após a cirurgia.

Estes fármacos, geralmente cisplatina, etoposido, bleomicina, ifosfamida, paclitaxel, vinblastina podem ser administrados por via endovenosa (num soro), por via oral (comprimidos) ou injetados no músculo. Apesar de dependerem do fármaco usado, em geral os efeitos secundários incluem fadiga, náuseas, queda de cabelo, infertilidade e risco aumentado para contrair infeções, que podem ser minorados por meio da administração de outros medicamentos e medidas.

O prognóstico dos tumores do testículo depende do seu tipo e estádio no momento do diagnóstico. No conjunto considera-se que, atualmente, o prognóstico é bastante favorável pois as medidas terapêuticas disponíveis possibilitam a erradicação definitiva do tumor, na maioria dos casos.

De acordo com os dados estatísticos de sobrevivência dos indivíduos afetados, em caso de seminoma, mais de 90 por cento dos pacientes conseguem sobreviver até cerca de dez anos após o diagnóstico; no caso de outros tumores do testículo, observa-se idêntico índice de sobrevivência ao fim de três a cinco anos.

O prognóstico é mais desfavorável quando o diagnóstico tarda e somente é realizado depois de o tumor já ter invadido os gânglios linfáticos abdominais ou após se terem desenvolvido metástases noutros órgãos.

Apesar de os tumores do testículo nem sempre apresentarem sintomas, o homem acaba por ser o único responsável por situações deste tipo.

Tal como o género feminino, o homem deve consciencializar-se de que a prevenção é o segredo para uma vida longa. O urologista deve tornar-se o médico de referência para o homem, como o ginecologista é para a mulher. O homem vive em média 7 anos menos que a mulher e, a cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens. Este desleixo do homem em cuidar da sua saúde, através da prevenção, pode ser considerada um problema social.

O preconceito ainda é o maior inimigo da prevenção de muitas doenças do foro urológico. Ultrapassar essa barreira pode ser o primeiro passo para melhorar as condições de saúde e diminuir a mortalidade masculina.

A falta de informação gera o preconceito. Evitar a contaminação do preconceito procurando o apoio e informação necessária para evitar a interferência com a saúde masculina deve constituir o desiderato de cada um de nós!

Para desfrutar a vida sem preocupações, vigiar antes de remediar!

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