ACNE, PROBLEMAS À FLOR DA PELE

ACNE, PROBLEMAS À FLOR DA PELE

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

  Tupam Editores

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"Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto,
Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto.
Porque é que tudo é incerto, não pode ser sempre assim,..."

Se há tema que expressa fielmente as transformações, incertezas e indefinições da adolescência é o "Não há Estrelas no Céu", de Carlos Tê e Rui Veloso.

A adolescência é um período específico e essencial no desenvolvimento humano, quando as identidades física e psíquica sofrem modificações, muitas vezes definitivas e influenciadoras do comportamento na fase adulta.

Nesta fase o jovem convive com perdas, medos e interrogações que geram insegurança e angústia.

As alterações físicas e a perda do papel familiar infantil fazem com que os adolescentes percam a identidade que já dominam, e à qual já estão acostumados, para se transformarem em alguém que ainda não conhecem e não sabem como será.

As transformações corporais são as mais angustiantes, pois ocorrem de forma rápida, fora de controle, independentemente da vontade e de forma visível para todos, não podendo ser ocultadas, ao contrário dos sentimentos, medos e inseguranças.

A aparência, começando pela pele, preocupa grandemente os adolescentes e suas famílias, contudo a intensidade das lesões originadas pelas temíveis borbulhas nem sempre é proporcional à ansiedade por elas gerada.

A acne vulgar é uma dermatose crónica, não contagiosa, de alta frequência (85 por cento), comum em adolescentes e que acomete tanto o sexo feminino quanto o masculino. Embora mais precoce em adolescentes do sexo feminino, aos 14 anos, os meninos, aos 16 anos, apresentam as formas mais intensas e graves de acne.

É uma doença do folículo polissebáceo, que possui como fatores fundamentais hiperprodução sebácea, hiperqueratinização folicular, aumento da colonização por propionibacterium acnes e inflamação dérmica periglandular.

Esta produção exagerada de sebo misturada a outras substâncias forma um tipo de "tampão" que provoca a obstrução do "poro", o que impede a saída natural das células mortas e bactérias que normalmente aí se encontram.

A acne ocorre em áreas onde existe um maior número de glândulas sebáceas, como a face, o tórax, os ombros e o dorso, e em todas as raças, embora seja menos intensa em asiáticos e africanos, manifestando-se mais gravemente no sexo masculino.

Não existe um perfil epidemiológico universal da acne: admite-se que a sua prevalência varie entre 35 e 90 por cento nos adolescentes, com incidência de 79 a 95 por cento entre os adolescentes do Ocidente; mas pode chegar a 100 por cento em ambos os sexos.

Em geral afeta 95 por cento dos meninos e 83 por cento das meninas com 16 anos. De aparecimento precoce (11 anos nas meninas, e 12 anos nos meninos) a acne tem maior prevalência entre os homens devido à influência androgénica.

Clinicamente, é caracterizada por comedões, pápulas, pústulas, quistos, abcessos, sendo geralmente acompanhada de seborreia, e classificada em quatro níveis:

Grau I – a forma mais frequente e mais leve, não inflamatória ou comedogénica, caracterizada pela presença de comedões fechados e abertos;

Grau II – acne inflamatória ou pápulo-pustulosa, em que se associam aos comedões pápulas e pústulas de conteúdo purulento;

Grau III – a acne nódulo-quística é uma das formas mais severas de acne, quando se somam nódulos mais exuberantes;

Gau IV – acne conglobata, na qual há formação de abcessos e fístulas.

As complicações mais relevantes da enfermidade são cicatrizes físicas e sequelas psicossociais, que podem persistir após o desaparecimento das lesões ativas.

Mas nem tudo é mau. Normalmente há uma regressão espontânea da acne após os 20 anos, embora possa persistir na idade adulta. A solução para o problema, independentemente da idade, passa por conhecer as causas que lhe deram origem.

Causas que desencadeiam o problema

A origem da acne costuma estar relacionada com uma disfunção das glândulas sebáceas. O funcionamento destas glândulas depende, sobretudo, da estimulação proporcionada pelos androgénios, hormonas sexuais consideradas masculinas, devido ao facto de serem produzidas pelos testículos, embora estejam presentes em ambos os sexos, pois são igualmente produzidas, tanto nos homens como nas mulheres, pelas glândulas supra-renais.

Embora a atividade das glândulas sebáceas seja reduzida durante a infância, a produção de evidentes alterações a nível hormonal na puberdade, provoca o seu estímulo, entre outros efeitos.

Independentemente de ser devido ao aumento dos níveis de androgénios ou a uma especial sensibilidade das próprias glândulas, existem muitos adolescentes que, ao longo da puberdade, formam uma quantidade de sebo fora do normal e apresentam um aumento da erupção cutânea das células superficiais dos canais excretores dos folículos pilossebáceos, os principais fatores que proporcionam o mecanismo de produção das lesões características da acne.

Crê-se também que exista uma certa predisposição genética para se sofrer de acne, pelo menos nas formas mais graves, já que os principais casos da patologia são mais frequentes entre os membros de algumas famílias do que em toda a população.

Para além das causas mencionadas, responsáveis pelas formas de acne vulgar, existem outros fatores que podem originar erupções acneiformes.

Por exemplo, os folículos pilossebáceos podem ser obstruídos pelo contacto habitual com determinados produtos industriais, como óleos minerais, hidrocarbonetos clorados ou alcatrão.

Podem igualmente surgir lesões semelhantes às da acne provocadas por uma estimulação das glândulas sebáceas originadas por vários medicamentos, independentemente de serem aplicados localmente ou administrados por via geral, como os corticoides, anticonvulsivantes, determinados antibióticos e medicamentos de ação androgénica.

Longe de ser exclusiva dos adolescentes, a acne afeta também os adultos, principalmente mulheres entre os 25 e 40 anos, estimando-se que atinja cerca de 41 por cento destas.

A acne tardia é geralmente menos severa que a do adolescente: as borbulhas e os comedões são menos numerosos, menos inflamados, e maioritariamente localizados no contorno da boca e no queixo (zona mandibular e peri-oral) no caso das mulheres, e nas costas e no peito nos homens. O efeito inestético é menor que nos adolescentes, por isso a acne do adulto é melhor vivida e por vezes negligenciada: apenas 22 por cento das mulheres adultas com acne cuidam da doença.

Embora no caso dos adolescentes esteja essencialmente associada às modificações hormonais da puberdade, a acne tardia é multifatorial, podendo dever-se:

– A uma pele oleosa por natureza;

– Às oscilações hormonais associadas aos ciclos menstruais, que desencadeiam com frequência o aparecimento de borbulhas alguns dias antes da menstruação. As alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez podem também ser acompanhadas por uma crise de acne;

– À utilização sucessiva de cosméticos inapropriados, nomeadamente maquilhagem muito oleosa e oclusiva, como algumas bases;

– Alguns medicamentos, uma contraceção inadequada, predisposição genética, stress, poluição e, mais raramente, uma perturbação no funcionamento dos ovários ou das glândulas suprarrenais.

Ainda que não tenha cura, a acne pode ser controlada e, em todos estes casos, consegue obter-se a melhoria das lesões, através da eliminação do fator causador.

Aqui a orientação médica é fundamental. Somente o médico poderá diagnosticar e definir o tratamento ideal e mais adequado para cada caso.

Formas de tratamento: o caseiro e o farmacêutico

A acne não é um problema banal e deve ser tratada com incomplacência pois a sua evolução gera cicatrizes que podem comprometer a aparência para toda a vida.

Variando de acordo com o paciente e o tipo de acne, o tratamento costuma ser longo, dependendo o seu sucesso da persistência e colaboração dos atingidos.

Inicialmente, e em desespero, o adolescente tenta resolver o problema recorrendo a algumas "mezinhas" caseiras.

Existem vários tratamentos caseiros contra a acne sendo talvez o mais popular, a máscara de arroz. Para preparar este "remédio natural" deverá ter leite e arroz que, depois de cozido, se tritura. Junta-se depois o leite e envolve-se até conseguir uma mistura bastante cremosa e consistente que se aplica na face.

Mas os clássicos são mesmo o iogurte e o pepino. Já toda a gente ouviu dizer que aplicar iogurte ou rodelas de pepino sobre a face ajudam a acabar com as borbulhas. E é verdade!

Outra possibilidade, que também está sempre à mão, é a cebola. Corta-se uma cebola ao meio e depois com um cotonete recupera-se um pouco do seu líquido, que se aplica nas borbulhas até que estas cicatrizem por completo.

A fruta também pode ser benéfica. Pode cozer-se uma maçã ou uma pêra sem pele e quando estiver quase cozida, retira-se a polpa e o caroço e tritura-se ou esmaga-se com um garfo até conseguir uma pasta, que se coloca no rosto durante 20 minutos.

Apesar de eficazes estes tratamentos caseiros são mais demorados do que os adolescentes gostariam. É a altura de recorrer a um especialista e ao tratamento químico, mais curto e mais eficaz.

Os opções são várias e a escolha do método mais adequado baseia-se no quadro clínico, que varia de indivíduo para indivíduo.

Basicamente existem dois tipos de tratamentos: o tópico, ou seja, medicamentos que são aplicados diretamente sobre a pele, e o tratamento oral.

Como a acne é uma doença que acomete a pele, o tratamento tópico é o mais adequado, sendo os medicamentos orais mais utilizados em casos graves ou específicos.

Assim, entre os tratamentos tópicos destaca-se:

A tretinoína, um derivado da vitamina A de aplicação local, que possui uma importante ação queratolítica, ou seja, atua contra a hiperqueratinização. Exerce ainda uma ação leve e indireta sobre a proliferação bacteriana nas glândulas sebáceas. Por essa razão os produtos com tretinoína são mais indicados no tratamento das formas não inflamatórias da acne, como os pontos brancos e negros.

O peróxido de benzoílo é um exfoliante que combate a inflamação e a infeção bacteriana, não influenciando a produção de sebo, podendo ser usado especialmente nas formas inflamatórias da acne (por exemplo, acne pápulo-pustulosa). Tem o inconveniente de originar irritação e descamação excessiva da pele.

O ácido azelaico é um medicamento que possui três mecanismos de ação diferentes. Tem efeito queratolítico, ou seja, promove a desobstrução do "tampão" de queratina e sebo, além de possuir ação antibacteriana e anti-inflamatória, eliminando eficazmente as bactérias associadas à acne e diminuindo a inflamação.

Existem também alguns antibióticos de aplicação tópica, como a clindamicina e a eritromicina, geralmente em forma de gel ou solução que combatem a infeção bacteriana e a inflamação.

Relativamente aos tratamentos orais, os antibióticos orais, como a minociclina e a tetraciclina, são utilizados com sucesso nas formas graves de acne. Existe, contudo, a possibilidade de ocorrer resistência bacteriana ao antibiótico tornando-o, deste modo, ineficaz.

Uma das principais causas da acne é a produção excessiva de sebo devido ao excesso de androgénios. Deste modo, outra opção de tratamento é o emprego de substâncias capazes de antagonizar os efeitos dos androgénios.

Assim, um componente antiandrogénico elimina eficazmente a influência destes, reduzindo acentuadamemte a produção de sebo.

Atualmente, os tratamentos hormonais estão apenas disponíveis para o género feminino. Para que não ocorram irregularidades no ciclo menstrual, o antiandrogénio deve ser tomado juntamente com estrogénio, a hormona feminina.

Na faixa dos 20 anos, a maior parte dos jovens tem como missão livrar-se da acne e controlar a oleosidade da pele. Para além do tratamento, a pergunta que se põe é se existe possibilidade de prevenir e evitar o aparecimento das "horríveis" borbulhas.

Cuidados para prevenir e evitar a acne

Para se evitar a acne alguns cuidados são de grande ajuda. O principal consiste na limpeza correta do rosto. Deve dar-se preferência a sabonetes suaves de limpeza profunda e evitar produtos abrasivos e esfoliantes. Os sabonetes com triclosan e ácido salicílico são uma boa escolha.

Os cosméticos devem ser livres de fragrâncias, devendo optar-se por produtos "oil free" (livres de óleo), para não obstruirem os poros, nem causarem inflamações. Não se deve compartilhar maquilhagem, e colocar os cremes no rosto sempre com a ajuda de uma espátula para não contaminar o produto. Evitar a exposição ao sol e usar sempre protetor solar, pois além de evitar queimaduras ajuda a combater a acne.

É igualmente importante manter uma dieta equilibrada, pois vitaminas e minerais ajudam o corpo a equilibrar os níveis de agentes causadores da doença bacteriana:

A Vitamina A reduz a produção de sebo, por ser um importante antioxidante;

A Vitamina B6 é benéfica na erupção da acne, no período pré-menstrual;

O zinco é importante na cura de ferimentos, no controle de inflamações e bactérias, e na regeneração dos tecidos.

Uma boa notícia é que não existem provas científicas de que o chocolate ou outros alimentos provoquem acne mas se, ao ingerir determinado alimento, se aperceber da presença de acne, passe a evitá-lo.

Ainda que considerado um processo normal de desenvolvimento, a acne é simplesmente o grande inimigo dos adolescentes, e acaba por ser uma doença "deformante".

Os adolescentes temem não ser aceites se não forem bonitos, de peles saudáveis, considerando-se anormais, o que causa sequelas a nível físico e psicossocial. Por isso, as suas vítimas são frequentemente discriminadas e isoladas pelos próprios colegas, causando perda de confiança e auto-estima, tornando-os tímidos e introspetivos, levando consequentemente a um isolamento social.

Por estas razões é importante apoiar e entender estes jovens, orientando-os e incentivando-os a aceitar e conviver com o problema, para que este se torne cada vez menos importante, de modo a facilitar o convívio com o meio em que vivem.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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