Outrora, os cuidados de saúde prestados às pessoas enfermas eram realizados por pessoas solidárias, magos e feitiçeiros, que baseavam as suas curas, muitas das vezes, em rezas e crendices. Posteriormente, estes cuidados passaram a ser prestados de forma mais eficaz por freiras e pelos militares. Aquele cunho está ainda presente, em muitos países, na terminologia actual.
No último século assistiu-se a uma evolução do conceito de enfermagem – abrangendo, hoje em dia, outras áreas dentro desta ciência –, evolução essa que percorreu os mais variados contextos, desde o cultural, ao político, passando pelo tecnológico. Porém, durante todo este percurso houve um factor que não sofreu qualquer alteração: o objecto receptor destes cuidados, o indivíduo.
Actualmente, os cuidados de saúde são prestados por enfermeiros com formação a nível científico, tecnológico e humano, regidos por princípios éticos, baseados, em primeira e última instância, no respeito pelo ser humano e pela sua multiculturalidade. Deste modo, no âmbito do exercício da sua profissão, o enfermeiro tem habilitações para intervir sobre as mais variadas situações de saúde e de doença, identificando o seu carácter bio-psico-social.
Deste modo, e segundo as definições mais modernas, o enfermeiro é o profissional que "na área da saúde, tem como objectivo prestar cuidados de enfermagem, ao ser humano são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível".
Estes actuam em quatro grandes áreas: na prestação de cuidados, na administrativa, na educativa e na investigacional.
A nível da área de prestação de cuidados, a mais conhecida, estes caracterizam-se, entre outros, por "terem por fundamento uma interacção entre enfermeiro e utente, indivíduo, família, grupos e comunidade, estabelecerem uma relação de ajuda com o utente e utilizarem metodologia científica – que inclui a identificação dos problemas de saúde em geral e de enfermagem em especial, a recolha e apreciação de dados sobre cada situação que se apresenta, a formulação do diagnóstico de enfermagem, a elaboração e realização de planos para a prestação de cuidados de enfermagem, a execução correcta e adequada" desses mesmos cuidados, avaliando-os e reformulando-os, sempre que necessário. Os enfermeiros decidem, igualmente, "sobre técnicas e meios a utilizar na prestação de cuidados, potenciando e rentabilizando os recursos existentes, criando a confiança e a participação activa do indivíduo, família, grupos e comunidade", utilizando o seu conhecimento científico para manter e recuperar as funções vitais, nomeadamente, a respiração, alimentação, eliminação, circulação, e comunicação" e "procedem à administração da terapêutica prescrita, detectando os seus efeitos e actuando em conformidade".
A nível administrativo, os enfermeiros "participam na elaboração e concretização de protocolos referentes a normas e critérios para administração de tratamentos e medicamentos," e podem exercer cargos de consultadoria em escritórios de advocacia ou em seguradoras, entre outros.
Já no plano educativo, esta classe procede ao "ensino do utente sobre a administração e utilização de medicamentos ou tratamentos", participa na "coordenação e dinamização das actividades inerentes à situação de saúde/doença, quer o utente seja seguido em internamento, ambulatório ou domiciliário".
A era moderna assistiu, também, à criação de licenciaturas na área da enfermagem e de várias especializações.
Em Portugal, em 1999, o Decreto-Lei nº 353/99, "fixou as regras gerais a que ficou subordinado o Ensino de Enfermagem no âmbito do ensino superior politécnico, estabelecendo que à licenciatura cabe "assegurar a formação científica, técnica, humana e cultural para a prestação e gestão de cuidados de enfermagem gerais"
(nº 1, art. 5º) e ainda a participação na gestão, na formação de profissionais e na investigação, áreas de actuação profissional previstas no Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros", criado em 1996.
Dois anos mais tarde, com a criação da Ordem dos Enfermeiros foi afirmado que "os enfermeiros constituem, actualmente, uma comunidade profissional e científica da maior relevância no funcionamento do sistema de saúde e na garantia do acesso da população a cuidados de saúde de qualidade, em especial em cuidados de enfermagem".
Apesar de a formação dos enfermeiros ainda diferir de país para país, esta classe tem vindo a acumular responsabilidades e status. Esta situação estimulou o aparecimento de jornais científicos com artigos especializados decorrentes de investigações nesta área em particular e na saúde em geral, que promovem, cada vez mais, o desenvolvimento desta disciplina e dos seus profissionais.
Representando cerca de 80% dos profissionais de saúde, o enfermeiro desempenha, deste modo, um papel fulcral dentro dos sistemas de saúde, uma vez que é dele a "responsabilidade última de garantir a continuidade e a segurança nos cuidados que presta aos cidadãos", prevendo-se um fortalecimento, cada vez maior deste seu papel, quer no Centro de Saúde, quer na Unidade de Saúde Familiar. Pretende-se que este seja, igualmente, responsável pela garantia da existência de um técnico de referência, por cada família, que lhe permita a "possibilidade de gerir os seus prórpios recursos e saber a que outros recursos poderá recorrer".
Tendo a seu cargo uma panóplia de tarefas, o enfermeiro é o elemento mais multidisciplinar no grupo dos profissionais de saúde, sendo objectivo desta classe, um pouco por todo o mundo, o desenvolvimento de uma profissão orientada para a aprendizagem constante e regular dos parâmetros da competência e da ética.
Mais do que salvadores, os enfermeiros são guardadores de vidas, que nos acompanham em todo o caminho, nem que seja para que não nos sintamos sós no momento da despedida. Tão curta a vida, da arte tão longa a aprendizagem, tão dura a prova, dolorosa a conquista (Chaucer).
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