Mau hálito, gases, acne fora de época, icterícia, língua esbranquiçada, irritação cutânea, refluxo gastroesofágico, má digestão e dor abdominal podem ser alguns dos sintomas mais comuns de que o fígado não está bem e deve por isso merecer toda a nossa atenção. Normalmente estes sinais, quando ligeiros, passam despercebidos no nosso dia-a-dia e podem surgir todos de uma só vez ou alternadamente um após outro.
O fígado é um dos órgãos de maior importância no organismo humano e podemos estar a intoxicá-lo sem que nos apercebamos disso, pois o que habitualmente fazemos quando os primeiros sinais são ligeiros é deixar andar, na expectativa de que o quadro se auto-reverta, o que muitas vezes acontece tarde, quando a intoxicação já está demasiado avançada.
Considerada a víscera humana mais volumosa, o fígado está situado ligeiramente do lado direito da cavidade abdominal e logo abaixo do diafragma, repousando sobre o estômago e a massa intestinal. Pesando aproximadamente 1500 gramas, em estado saudável, tem um diâmetro máximo de 24 a 28 centímetros, a sua superfície tem a aparência de granito polido e uma cor avermelhada e pardacenta.
Este órgão pode ser comparado a um ovoide ao qual foi retirada a parte inferior esquerda, e a sua parte superior em forma convexa molda-se à cúpula do diafragma. A sua parte inferior pelo contrário, é côncava e acidentada apresentando dois sulcos que a dividem em três zonas distintas, sendo que a zona média é por sua vez atravessada por um terceiro sulco transversal, designado por hilo do fígado (porta do fígado), por onde passam a artéria hepática, a veia porta e os canais biliares.
O fígado tem uma importantíssima função antitóxica que consiste em transformar os ácidos aminados supérfluos e o carbamato de amónio em ureia. Além disso, possui a capacidade para eliminar ou atenuar várias substâncias tóxicas que se formam no organismo por fermentação ou putrefações intestinais, bem como alguns venenos como o chumbo, arsénio e álcool, eventualmente introduzidos no organismo, sendo retirados pela glândula hepática que sobre estes reage por forma a reduzir ou eliminar-lhes a toxicidade, fenómeno químico ainda não totalmente esclarecido.
Disseminadas na estrutura do fígado, coexistem certas células estreladas de natureza porosa designadas por células de Kupffer, que possuem a propriedade de fagocitar as partículas estranhas que fiquem ao seu alcance. Ao mesmo tempo, com elementos que retira do sangue, a célula hepática fabrica cerca de 1,5 litros de bílis por dia, produto da secreção externa do fígado, que em seguida é lançada no intestino através dos ductos biliares.
Além destas funções, o fígado executa cerca de 220 outras não menos importantes, todas elas interligadas e correlacionadas! Assim, as células hepáticas, são também responsáveis pela transformação de glicose em glicogénio, também conhecido por amido animal, e respetivo armazenamento e, ligada a este processo, dá-se a regulação e organização de proteínas e gorduras em estruturas químicas utilizáveis pelo organismo da concentração dos aminoácidos no sangue, que resulta na conversão de glicose, que por sua vez utilizada pelo organismo durante os processos do metabolismo. A ureia, subproduto entretanto resultante do processo, é eliminado pelo rim. Diversos outros processos decorrem simultaneamente, destruindo, reprocessando e reconstruindo, como se estivéssemos na presença de vários órgãos independentes, cada um com a sua função.
É fácil perceber-se a importância de um fígado saudável. Uma dieta pouco cuidada, o excesso de bebidas alcoólicas, óleos e gorduras, podem estar na origem de uma intoxicação; daí ser importante estar atento aos sinais de que algo está mal, seguir os passos necessários e recomendados para a sua correção, ganhando assim mais saúde e disposição.
Doença hepática
Se para além dos sintomas mais ligeiros do quotidiano já referidos, alguma vez sentiu uma espécie de pontada ou algum tipo anormal de tensão sob a costela direita, isso pode ser sintoma de fígado pouco saudável, sinal claro de que ele se está a “queixar”, uma vez que ambos são diferentes sintomas de doença hepática mais avançada.
Dificuldades em levantar-se pela manhã, tendência para adormecer à hora do almoço, ou cansaço e sonolência excessivos nos fins de semana, bem como problemas de digestão, defecação e obstipação frequente, são igualmente sinais preocupantes de doença hepática.
A hepatite é uma inflamação no fígado que, dependendo do agente que a provoca, se pode curar apenas com repouso, requerer tratamentos prolongados ou mesmo um transplante de fígado quando se desenvolvem complicações graves de cirrose como a falência hepática ou o cancro no fígado, que podem levar à morte.
As hepatites e outras doenças do fígado, além de poderem ser provocadas pelo consumo de produtos tóxicos como o álcool, medicamentos e alguns alimentos, também podem ter origem em alguma perturbação do sistema imunitário que, sem explicação plausível, começa a desenvolver auto-anticorpos, que atacam as células do fígado, em vez de as protegerem, bem como por alguns agentes bacterianos e vírus.
Os sintomas das hepatites são geralmente pouco específicos mas quando não tratadas atempadamente podem transformar-se em doença crónica e evoluir para cirrose. Daí que seja necessário consultar o médico com a maior brevidade possível e, após diagnóstico, fazer um adequado acompanhamento da patologia. Na maioria dos casos a hepatite não chega a causar grandes transtornos aos seus portadores, já que as defesas do organismo reagem e encarregam-se de combater os agentes infeciosos, designadamente quando se trata de vírus. Nas situações em que os anticorpos produzidos pelo organismo não são suficientes para travar a infeção, poderá se necessário o recurso a medicina especializada e tratamentos com fármacos antivíricos.
Tratamentos alternativos à medicina convencional
A exemplo da maioria de outras patologias, as doenças do fígado, sejam inflamatórias, tóxicas ou virais, são atualmente tratadas com medicamentos, porém é igualmente possível curá-las através da medicina natural, sem a utilização de produtos químicos, desde que as alternativas sejam usadas racionalmente.
As plantas medicinais, usadas desde os primórdios da humanidade, já demonstraram a sua eficácia ao longo do tempo para um leque alargado de doenças, desde que usadas com critério, e funcionam realmente em particular para as doenças do fígado, no qual trabalham rápida e diretamente para ajudar a debelar a doença.
No entanto de entre os milhares de ervas medicinais catalogadas, apenas um pequeníssimo número é eficaz no tratamento doas várias doenças hepatobiliares, de entre as quais se destacam as mais conhecidas, quanto à sua utilização.
Silimarina – Resultados estabelecidos por ensaios experimentais e clínicos, demonstam que para além de reduzir a reação inflamatória e inibir a fibrogénese no fígado, exerce uma atividade antioxidante e estabilizadora e promove a regeneração dos hepatócitos (as células que sintetizam as proteínas). Nas doenças hepáticas severas e crónicas causadas pelas doenças hepáticas alcoólicas e não alcoólicas, toxicidade hepática induzida por drogas e substâncias químicas, a silimarina, pode ter um efeito benéfico.
Alcachofra – A investigação revelou que o extrato de alcachofra demonstra um significativo efeito antioxidante capaz de proteger as células hepáticas dos danos, além de diminuir os níveis de gordura e colesterol no fígado. Também é usada para aliviar os sintomas de azia e ressaca alcoólica através da estimulação do fluxo da bílis no fígado.
Além dos problemas hepáticos, é igualmente usada para baixar os níveis de colesterol, na síndrome do intestino irritável, problemas renais, retenção de líquidos (edema), as infeções da bexiga e artrite.
Raíz de chicória – Proporciona proteção contra os radicais livres induzidos por produtos químicos com potencial toxicidade para o fígado, além de lhe fornecer um importante suporte funcional para travar o stress oxidativo e a lesão hepática em boa parte das situações.
O pré-tratamento com extrato de chicória reduz significativamente o stress oxidativo e previne os danos celulares, ao mesmo tempo que melhora as condições hepáticas degradadas por toxicidade.
Sempre-viva – Planta medicinal usada há séculos como estimulante e desintoxicante do fígado é conhecida pelas suas propriedades antiespasmódicas, anti-inflamatórias e purificador do sangue. Na medicina popular é vulgarmente usada para tratar a doença hepática e para ajudar o organismo a desintoxicar toxinas, bactérias, metais pesados e poluição atmosférica.
Pectina – É uma fibra solúvel, componente natural das frutas e vegetais, que ajuda a restaurar o fígado nos processos mais agudos e crónicos, normalizando o metabolismo do colesterol e restaurando energias do corpo quando se encontra em carência.
Somente através da combinação destes componentes é possível curar o fígado. Daí que qualquer tratamento deve ser realizado de acordo com um esquema rigoroso, estabelecido por um nutricionista competente e usando produtos de qualidade, isentos de impurezas químicas, nem sempre fáceis de encontrar.
Prevenir é o melhor passo para a cura! Para isso, siga uma alimentação pobre em gorduras, modere o consumo de bebidas alcoólicas e aprenda a identificar os sinais e a combater as doenças hepáticas, que geralmente têm diagnóstico tardio.