SANGUE: A GOTA QUE SALVA VIDAS

SANGUE: A GOTA QUE SALVA VIDAS

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

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Tudo começou em 2004 quando mais de 70 países se reuniram para prestar homenagem ao dador de sangue. Posteriormente, a Assembleia Mundial da Saúde, na qual participam 192 países, escolheu o dia 14 de Junho, natalício de Karl Landsteiner, prémio Nobel pelas suas descobertas e classificação dos grupos sanguíneos, como data simbólica para homenagear aqueles que, anonimamente e de uma forma altruística, doam o seu sangue para salvar vidas.

Sob o lema "Doar sangue com regularidade", comemora-se no dia 14 de Junho o Dia Mundial do Dador de Sangue, cujo objectivo consiste, para além de agradecer aos milhões de dadores em todo o mundo, sensibilizar outros para a importância da doação com a finalidade de dispor de reservas de sangue, seguro, para transfusão.

O Dia Mundial do Dador de Sangue é coordenado, conjuntamente, por quatro organizações fundadoras: a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, a Federação Internacional de Organizações de Dadores de Sangue e a Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue. Todos os anos, estes parceiros se reúnem num evento internacional que serve, não apenas para apoiar campanhas nacionais e locais, como fornece uma oportunidade única para uma campanha mediática, a nível internacional, que promova a doação regular e voluntária de sangue. Este ano, as comemorações tiveram como pano de fundo o Dubai, com o patrocínio directo do governo dos Emiratos Árabes Unidos.

Tendo na mira da campanha de 2008 o dador regular, os organizadores pretendiam concretizar três grandes objectivos: sensibilizar a população sobre a necessidade de doar sangue com regularidade devido ao curto espaço de tempo de conservação dos componentes sanguíneos; fomentar o reconhecimento de que os dadores regulares não remunerados são indivíduos saudáveis que fazem parte do sistema nacional de saúde e que, para além de possuírem estilos de vida salutares, são submetidos a testes periódicos; focar a atenção na saúde dos dadores e na qualidade dos serviços de saúde que lhe são prestados, como factores essenciais para estimular o seu compromisso de continuarem a doar sangue com regularidade.

Apesar das comemorações terem começado apenas em 2005, o número de participantes aumenta todos os anos. O objectivo é conseguir que as doações sejam 100 por cento voluntárias, criando uma base estável de dadores que se comprometa a doar sangue, a longo prazo, e contribuir para uma reserva que satisfaça as necessidades de cada país.

À semelhança de anos anteriores, a campanha de 2008 também disponibiliza no site da organização e da OMS, um cartaz e um folheto informativo sobre o evento, para além das várias iniciativas e actividades previstas para este ano.

Panorama mundial

Embora, a necessidade de sangue seja universal, há grandes diferenças entre os países industrializados e os países menos desenvolvidos no que se refere ao acesso a sangue seguro em níveis satisfatórios.

Apesar da OMS considerar os dadores regulares os mais seguros, por possuírem níveis baixos de transmissão de doenças infecciosas, são poucos os países que podem dispor de um sistema de doação 100 por cento voluntário e não remunerado. Segundo aquela organização, 82 por cento dos habitantes do planeta passam pela incerteza de não saberem se podem receber sangue numa situação de urgência e, quando o recebem, poucas garantias existem de que seja seguro. A agravar o cenário, os países em vias de desenvolvimento são os que mais necessidade têm de transfusões sanguíneas, particularmente, no caso de doenças consideradas mortais, como a anemia grave infantil provocada pelo paludismo, a malária ou a desnutrição, havendo também muitas complicações no parto ou durante a gravidez, razão pela qual a OMS dedicou o ano anterior ao "Sangue Seguro para uma Maternidade Segura". Dados preocupantes da OMS revelam que mais de 500 mil mulheres morrem, por ano, devido à falta de sangue, sendo as hemorragias a causa mais comum de mortalidade materna.

Por outro lado, nos países subdesenvolvidos, onde se concentram cerca de 80 por cento da população mundial, apenas são recolhidos 45 por cento da provisão mundial de sangue.

Exemplo disso é o caso da África subsariana onde, anualmente, são realizadas colheitas que correspondem a 3 milhões de unidades de sangue para uma população de mais de 700 milhões. Para cobrir as necessidades de cada país, a OMS recomenda que 1 a 3 por cento da população se tornem dadores, mas os números, mais uma vez, não favorecem os países em desenvolvimento onde menos de 1 por cento da população faz doações. Nos países mais ricos, a recolha de sangue é 11 vezes superior. Contudo, nos últimos anos, verificaram-se avanços significativos nos países subdesenvolvidos, aumentando para cerca de 70 por cento o número de dadores voluntários, embora as doações de familiares e de dadores remunerados continue a ser uma importante fonte de recolha.

Por ocasião do Dia Mundial do Dador, os organizadores aproveitam também para implementar estratégias que apontem para a redução dos níveis de contágio, ocasionados pelas transfusões sanguíneas, de doenças graves como o VIH/SIDA, paludismo, sífilis e hepatite B e C. Para isso, a OMS alerta para a necessidade de analisar todo o sangue recolhido, não obstante um estudo recente, patrocinado por aquela organização, indicar que, pelo menos 65 países não aplicam as suas recomendações. Falta de sistemas fiáveis e ausência de eficientes controlos de qualidade laboratoriais devido à carência de recursos e pessoal técnico são algumas das razões que justificam as incorrectas colheitas de sangue, que frequentemente se registam nos países menos desenvolvidos. Por outro lado, as tecnologias mais avançadas e utilizadas nos países mais ricos não permitem, por vezes, detectar as infecções mais recentes, para além de também não serem acessíveis aos países mais pobres. No entanto, o número de análises para detectar os marcadores das 4 infecções principais – VIH, hepatite B e C e a sífilis –, tem aumentado nos países subdesenvolvidos, particularmente no continente africano, embora 28 países da África subsariana ainda não disponham de sistemas de controlo de qualidade dos seus serviços de transfusão sanguínea.

Situação portuguesa não é alarmante

Apesar das reservas de sangue tipo A e O positivo "estarem abaixo do desejável" segundo Gabriel Olim, presidente do Instituto Português do Sangue (IPS), "não há razão para alarmismos", garantiu aquele responsável no início do ano, sendo os meses de Fevereiro e Março considerados com bons níveis de colheita. Para Olim, ainda faltam 500 unidades daqueles dois tipos de sangue para se atingir o limiar de segurança, cuja margem ideal é de 7 dias de reservas, sendo perigoso sempre que descem para níveis inferiores a 3 dias, altura em que o IPS activa brigadas de recolha no sentido de captar mais dadores.

Actualmente, o IPS é responsável pela colheita de 60 por cento das reservas de sangue em Portugal, a que se juntam ainda as unidades de 26 hospitais que também fazem recolhas, mas não em níveis aceitáveis para torná-los auto-suficientes, acabando o IPS por colmatar 80 por cento das necessidades hospitalares, conforme aqueles estabelecimentos de saúde possuam ou não bancos de emergência.

As perspectivas futuras, segundo refere Olim, apontam para um aumento dos níveis de recolha de sangue, já que o IPS calcula que, aproximadamente, 215 mil unidades serão recolhidas em 2008, o que revela um progresso face a 2007, altura em que se recolheram 206.641 unidades de sangue.

Contudo, o responsável daquele instituto não deixa de alertar para a necessidade das pessoas se dirigirem aos postos móveis e doarem sangue, sobretudo nos meses de Janeiro e Agosto, meses críticos em que as reservas tendem a descer por haver "muitas pessoas constipadas ou a tomar medicamentos e que não podem dar sangue", situação agravada pelo período das festas e férias, com a consequente redução da actividade das empresas consideradas "muito dinâmicas" na colheita. Conforme dados do IPS, os tipos de sangue mais raros, como os AB, permanecem em níveis estáveis e satisfatórios, pois apesar de haver menos pessoas com estes tipos de sangue, também há poucas solicitações. E, apesar de serem cada vez menos os hospitais que se dedicam à colheita de sangue e sua posterior análise, por falta de recursos, a situação, por enquanto, não é preocupante, pois o país ainda não recorreu a reservas de sangue de outros países.

Razões para dar sangue

Apesar dos avanços da medicina, ainda não foi encontrado nenhum composto artificial que substitua, sistematicamente, as doações de sangue humano, como também não é previsível que ocorra a curto prazo. O sangue é um dos tecidos vivos que circulam pelo corpo, rico em nutrientes e células vivas (glóbulos), e cuja quantidade varia conforme o peso do indivíduo, oscilando entre os 4 e 7 litros. Muitas pessoas desconhecem que doar sangue não implica qualquer tipo de risco para a saúde, sendo um processo simples, rápido e, sobretudo, indolor.

Actualmente, doar sangue é muito seguro, pois o material utilizado na colheita é descartável, eliminando qualquer possibilidade de transmissão de doenças. Por outro lado, o organismo, após a doação, começa a trabalhar para compensar, rapidamente, a quantidade de sangue perdido e voltar aos níveis anteriores.

Qualquer pessoa entre os 18 e os 65 anos e com mais de 50 kg pode doar sangue, desde que esteja em bom estado de saúde e mantenha hábitos de vida saudáveis. Os homens podem doar sangue de 3 em 3 meses, enquanto que no caso das mulheres é conveniente que o façam 3 vezes por ano. Dentro das fronteiras lusas, os candidatos podem dirigir-se a qualquer dos centros regionais de sangue do Instituto Português do Sangue em Lisboa, Porto e Coimbra, para além dos respectivos serviços de transfusão de sangue dos hospitais públicos e privados. O tempo dispensado, em média, não ultrapassa os 30 minutos, com os exames prévios incluídos, sendo apenas retirados cerca de 4,5 decilitros, o que corresponde a uma unidade de sangue.

Milhões de vidas podem salvar-se todos os anos através da dádiva do valioso líquido vermelho. Por cada unidade de sangue podem salvar-se até três vidas, motivo pelo qual o grande desafio é que a corrente de solidariedade e altruísmo criada a cada 14 de Junho se mantenha ao longo dos 365 dias e aumente o número de dadores regulares e seguros.

Ver mais:
HEMOFILIA: APRENDER A AMAR O SANGUE


Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

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