Desde tempos imemoriáveis que a humanidade vem utilizando as plantas como remédio para aliviar ou curar as suas doenças. Produtores e produtos do conhecimento, os seres humanos, na sua longa caminhada através de milhares de gerações, perceberam que as plantas continham algo que administrado sob a forma de misturas complexas como chás, tinturas, xaropes, pós, pomadas, gotas, ingeridas simples ou cozinhadas, apresentavam propriedades que provocavam reações benéficas no organismo, resultando na recuperação da saúde.
Devido à aquisição desse conhecimento empírico, em culturas tradicionalmente rurais mais isoladas, ainda hoje a transmissão oral de experiências acumuladas, constitui a principal fonte de informação utilizada, dado a aprendizagem ser feita através da socialização no interior de pequenas comunidades e de parentesco, sem necessidade de instituições mediadoras, inexistentes.
A medicina de um povo expressa a sua cultura e reproduz as suas características de origem, sua resistência e formas de transmissão, sendo que a utilização de plantas medicinais sempre esteve associada a lendas, práticas mágicas e ritualísticas, que podem ser encontradas em diversas citações religiosas sobre o valor terapêutico das plantas.
Em vastas comunidades da atualidade, que se estendem pela ásia, áfrica, américas e outros territórios mais remotos, as plantas medicinais são usadas como única forma de cura e tratamento de algumas doenças, simbolizando não poucas vezes a única forma de tratamento de determinadas patologias específicas da região, estimando-se que aproximadamente 80 por cento da população do planeta já tenha usado algum tipo de vegetal para aliviar sintomas de alguma doença.
O crescente consumo de medicamentos à base de plantas um pouco por todo o mundo, entre todas as classes sociais, é devido principalmente à dificuldade de acesso da população aos sistemas de saúde pública e ao elevado preço dos medicamentos convencionais, tornando o seu consumo quase inacessível para cerca de 60% da população mundial.
A classificação de planta medicinal, é atribuída ao conjunto de plantas nas quais podem ser encontradas substâncias com ação farmacológica, que permitem a cura ou tratamento de doenças, variando entre as espécies, e que normalmente estão relacionadas com as defesas da própria planta e a atração de polinizadores.
De entre as principais substâncias com ação farmacológica encontradas em plantas, destacam-se os alcaloides, flavonoides, mucilagens, taninos e óleos essenciais.
Os alcaloides atuam no sistema nervoso central e podem exercer ação calmante, anestésica e analgésica; as mucilagens possuem propriedades cicatrizantes, laxativas e expetorantes, entre outras; os flavonoides possuem ação anti-inflamatória e hepatoprotetora, entre outras; os taninos destacam-se pela sua ação adstringente e antimicrobiana; os óleos essenciais, por sua vez, têm poder bactericida, cicatrizante, analgésico e relaxante, entre outros.
No nosso país, só ocasionalmente um médico poderá indicar o uso de produtos à base de plantas para qualquer doença, sendo por isso normalmente utilizadas por indicação de amigos e familiares que já tiveram experiências bem-sucedidas com plantas medicinais. Podem ser usadas frescas após a colheita ou secas, dependendo da espécie e de como deve ser preparada, sendo que também a preparação varia com a espécie e deve ser cuidadosamente avaliada. Casos há em que a utilização da planta para um chá ou infusão, pode fazer com que se percam os efeitos pretendidos.
A utilização de plantas medicinais cresce hoje a cada dia, não só em virtude do seu custo ser menor que os medicamentos de farmácia, mas por as pessoas terem interiorizado a falsa ideia de que as plantas apresentam menor risco que os medicamentos, atitude preocupante já que algumas das plantas utilizadas tradicionalmente nunca foram alvo de estudos toxicológicos, apesar de continuarem a ser utilizadas, confiando assim na experiência adquirida por terceiros.
Usadas com frequência como alternativa aos medicamentos de síntese, estão hoje disponíveis no mercado, sendo regulados pelas Autoridades de Saúde de muitos países, medicamentos à base de plantas, também designados por fitoterápicos, que “têm como substâncias ativas, exclusivamente, substâncias derivadas de plantas, preparações à base de plantas ou uma associação das duas anteriores” tal como são definidas pelo Infarmed.
Existem dois tipos diferentes de medicamentos à base de plantas: os que têm de cumprir todas as exigências relativas à demonstração da sua qualidade, segurança e eficácia e os que são considerados “medicamentos tradicionais à base de plantas”, que têm de cumprir as mesmas exigências relativas à qualidade e segurança, mas cujas indicações terapêuticas são baseadas na longa tradição de utilização.
Não há diferença entre os medicamentos preparados à base de plantas e outros medicamentos em termos de exigência de qualidade, eficácia e segurança, que são garantidas pelo Infarmed, como entidade responsável pela autorização dos pedidos de registo. Por isso, uma cuidada avaliação das quantidades seguras para consumo de determinada planta é indispensável, já que o seu uso indiscriminado pode provocar sérios riscos à saúde, em particular quando já se é portador de algum tipo de patologia.
Para o tratamento de sintomas simples, como dores de cabeça, cólicas ou mesmo de uma ressaca, recorremos frequentemente a algumas plantas medicinais com alguma ligeireza, por ser comum as pessoas dizerem que o que é natural não faz mal. No entanto, tal como os medicamentos convencionais, algumas plantas possuem substâncias (princípios ativos), que podem causar sérios danos à saúde e até mesmo a morte do paciente.
Alguns compostos presentes nas folhas, flores e raízes das plantas que lhes conferem um gosto amargo são chamados de alcaloides, isto é, substâncias com propriedades alcalinas básicas. Sendo de origem vegetal, os alcaloides também podem ser sintetizados em laboratório e hoje a sua principal aplicação é no fabrico de medicamentos pela indústria farmacêutica, mas nas plantas, os alcaloides servem para as proteger de insetos e animais.
A planta Catharanthus roseus, nativa e endémica de Madagascar, mas cultivada em outros países como planta ornamental e desde há muito utilizada para fins terapêuticos, possui mais de 90 alcaloides na sua composição, entre os quais se destacam a vincristina, hoje usada no tratamento da leucemia linfoblástica aguda infantil em diferentes momentos de tratamento quimioterápico e a vimblastina, outra substância importante para a indústria farmacêutica amplamente usada do tratamento de vários tipos de linfoma.
De entre os alcaloides, destaque-se ainda a morfina, extraída da flor da papoila (Papaver somniferum), um dos mais antigos usados pelo homem no alívio da dor intensa, como dor pós-cirúrgica, osteoartrose avançada, cancro em estado terminal e outras doenças igualmente graves, pelo menos desde o ano 400 aC.
Por causarem dependência física e psíquica levando as pessoas ao vício, todos os medicamentos que contenham este alcaloide devem ser administrados sob rigorosa orientação médica.
Na impossibilidade de referir todos, destacamos a seguir alguns dos alcaloides mais conhecidos, extraídos de plantas, mas que nem por isso são suficientemente divulgados como tal.
Cafeína – está presente no café, chá preto e muitas outras bebidas, agindo como estimulante do sistema nervoso central;
Tabaco – as folhas da planta do tabaco usadas para o fabrico dos cigarros, charutos e similares é uma droga recreativa viciante por conter nicotina, uma substância alcaloide psicoativa, que também pode ser usada em determinados medicamentos. Moída pode ser utilizada como rapé no alívio de enxaquecas ou como terapia de substituição para combater as dependências;
Cocaína – é extraída das folhas da coca, planta cultivada principalmente na Colômbia, Bolívia e Peru. Já foi utilizada como medicamento e até na composição de algumas bebidas energéticas, mas atualmente é usada como droga catastrófica;
Efedrina – é extraída de uma espécie de planta nativa da Mongólia, Rússia e China, chamada Ephedra sinica (ma huang), sendo usada como broncodilatador e descongestionante;
Atropina – a atropa belladonna, comummente conhecida como beladona ou beladona mortal, é uma planta herbácea perene venenosa, nativa da europa e ásia ocidental usada em medicina como antiespasmódico;
Cicuta – planta venenosa, também conhecida por abioto em algumas regiões de Portugal, dela é extraída a coniinia um potente alcaloide que pode causar paralisia muscular, não sendo usado em medicina no nosso país.
Classificadas como plantas multiusos, ignoradas pela maioria das pessoas, poderemos considerar ainda uma multiplicidade de outras plantas alimentícias não convencionais, que ganham cada vez mais espaço na culinária, sendo usadas em muitas culturas como medicamentos tradicionais à base de plantas, de entre as quais destacamos:
Babosa (Aloé Vera) – de origem africana, pertence à família das liliáceas, é parecida com o cacto e são conhecidas cerca de 300 espécies, das quais a Aloé vera é a mais conhecida.
Possui vários benefícios para a saúde, dado que é muito rica em magnésio, potássio, vitamina C e iodo, além de conter substâncias ativas regeneradoras e anti-inflamatórias como a aloína, glucomanano e traquinona. Pelas propriedades antifúngicas poderosas, a sua seiva pode ser usada no tratamento da caspa ou micoses, por exemplo.
Camomila – é muito utilizada como planta medicinal em todo o mundo, devido principalmente à sua ação calmante.
Erva-limão – também conhecida por erva-príncipe, é uma planta medicinal que apresenta folhas aromáticas graças à presença de um óleo essencial rico em citral, uma substância com aroma forte e fresco semelhante a casca de limão, usada principalmente em doenças de estômago.
Confrei – é uma planta arbustiva originária da europa e ásia sendo, no entanto hoje comum por todo o mundo. As suas largas folhas são usadas desde a antiguidade na preparação de chás para tratamento caseiro de doenças gastrintestinais, disenterias, inflamações, reumatismos, hemorroidas, tosse e várias outras enfermidades. Porém, estudos recentes, revelaram que o seu uso prolongado pode ser tóxico para o fígado e outros órgãos, não sendo recomendado o seu uso por via oral.
Curcuma – é também conhecida por açafrão-da-índia, açafroeira, gengibre-dourado, açafrão-da-terra e, no mercado internacional por turmeric. Essencialmente conhecida por ser usada como corante, ganhou destaque nos últimos anos, pelas propriedades medicinais do seu rizoma, rico em óleo essencial e compostos como a curcumina, que pode ajudar no combate a alguns tipos de cancro, retardar o envelhecimento e combater as doenças de Parkinson e Alzheimer.
Ginkgo Biloba – é uma espécie de gimnosperma, conhecida em todo o mundo pelos seus benefícios relacionados com a memória. É uma planta arbórea, nativa da Coreia, China e Japão, considerada um “fóssil vivo” devido à sua capacidade surpreendente de viver durante mais de 4 mil anos. Muito rica em flavonoides e terpenoides, tem por isso uma forte ação anti-inflamatória e antioxidante.
Boldo – é uma planta medicinal que tem como substâncias ativas a boldina ou o ácido rosmarínico, que pode ser utilizado como remédio caseiro para as más digestões e para o fígado, devido às suas propriedades hepáticas e digestivas, além de diurético, anti-inflamatório e antioxidante. No entanto, as suas folhas possuem alcaloides, pelo que nem sempre se poderá concluir que por ser um produto natural, não tem contraindicações.
Sabemos que diversas plantas possuem realmente substâncias que podem beneficiar a nossa saúde, mas o uso excessivo ou a falta de conhecimento relativamente às caraterísticas morfológicas da planta, podem conduzir a sérios riscos para a saúde. Assim sendo, evite o consumo de plantas que não conheça suficientemente e que não tenham sido alvo de estudos.
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