De forma razoavelmente simplificada, a memória humana pode ser definida como a capacidade inata do cérebro para obter, armazenar e evocar informações disponíveis no cérebro – a chamada memória biológica interna –, ou em dispositivos artificiais externos designados por memória artificial.
Desde que nascemos que os nossos cérebros são permanentemente bombardeados com enormes quantidades de informação sobre nós próprios e sobre o mundo que nos rodeia. A forma como conseguimos guardar tudo o que vivenciamos e aprendemos ao longo da vida chama-se memória e, não obstante a tremenda evolução a que assistimos nos últimos anos na área das neurociências, em resultado do mapeamento cognitivo, ainda existem alguns mistérios por desvendar.
Os mecanismos de memória procedem igualmente ao armazenamento de informação e de factos obtidos através de experiência ouvidas ou vivenciadas, além de focalizarem objetos específicos, requerendo para o efeito de enormes quantidades de energia mental e que, com a idade, se vão deteriorando. É este processo de conexão entre múltiplos fragmentos de memória e de conhecimento, que vai gerar novas ideias, ajudando à tomada de decisões quotidianas.
O ser humano retém diferentes tipos de memórias, que ocorrem em várias zonas do cérebro em simultâneo e ficam retidas durante períodos de tempo variáveis, umas mais duradouras que outras. As memórias de curto prazo podem durar somente alguns segundos (memória ultrarrápida) ou horas (que serve para gerir o sentido da realidade), enquanto que as memórias a longo prazo podem permanecer durante anos.
Possuímos ainda um outro tipo de memória de trabalho, que nos permite reter uma certa quantidade de dados na mente durante um período de tempo limitado, através de processos de repetição. Na prática, quando por exemplo repetimos vezes sem conta a nós próprios um número de telefone, para mais tarde nos lembrarmos, estamos a usar a nossa memória de trabalho.
A memória pode também ser categorizada através da própria memória, estejamos ou não conscientes disso. É chamada memória declarativa ou explícita, que consiste nos tipos de memória com que convivemos conscientemente. Uma parte dessas memórias são coisas ou factos de conhecimento geral, como por exemplo a capital de um país, ou o número de jogadores de uma equipa de futebol; outros consistem em eventos por que passámos, como as emoções do nosso primeiro amor de infância ou uma reprimenda de um professor na sala de aula.
A memória implícita ou não-declarativa, é a que acumulamos inconscientemente, onde estão incluídas as memórias processuais que o corpo utiliza para se lembrar das habilidades que aprendemos ao longo do tempo, como andar de bicicleta ou tocar um instrumento musical. Este tipo de memória pode também moldar respostas “instintivas” como o salivar ao cheirar ou sentir a nossa comida favorita ou a tensão gerada pelo medo perante um perigo eminente.
Geralmente, as memórias declarativas são mais fáceis de formar do que as não-declarativas, dado que é mais rápido memorizar a capital de um país do que aprender a tocar piano. Porém, as não-declarativas perduram durante mais tempo, como andar de bicicleta, que nunca mais esquecemos!
Amnésia
A perda de capacidade total ou parcial de aprendizagem ou de memórias, resulta geralmente de alguma lesão na cabeça, ataque súbito de doença, de um tumor ou alcoolismo crónico.
Uma pessoa tornar-se esquecida é comum e normal com o avanço da idade, contudo, quando a perda de memória começa a interferir com as suas atividades diárias, precisa de ser avaliado por um médico pois pode ser um sinal de uma doença mais complicada.
Trata-se de uma ocorrência que pode ter início repentinamente ou seguir um percurso mais longo que se vai agravando ao longo de meses ou anos, sendo esta a situação mais frequente. Esta patologia pode tornar-se extremamente angustiante para o paciente como para os seus familiares e amigos em particular quando começa a interferir com as tarefas de rotina diárias.
Frequentemente, a amnésia pode também estar associada a outros problemas emocionais como a ansiedade, a depressão e o esforço excessivo, sendo que nestes casos a perda de memória pode ser mais devido a deficiente concentração do que a perda real. Além disso estes pacientes também têm normalmente dificuldade em dormir, o que agrava a situação.
Outras causas podem igualmente estar associadas à perda temporária ou definitiva de memória, como: doença da tiroide, abuso de álcool a longo prazo, efeitos secundários de alguns tipos de medicação, deficiência de vitamina B1, infeções por sífilis ou VIH ou em casos extremos, algum tumor cerebral.
Os pacientes da amnésia precisam o apoio dedicado dos amigos e da família. A perda de memória pode ser travada adotando estilos de vida mais saudáveis e procurando manter ativa a função de memória, à medida que envelhecemos.
Quais os limites?
Ao contrário de equipamentos electrónicos como computadores, smartphones, tablets, pen drivers e outros suportes de memória de massa, o cérebro humano parece ter capacidades ilimitadas. No entanto, a maioria das pessoas tem dificuldades em decorar um simples nome, uma data de aniversário ou um número de telefone.
Desde há longa data que neurocientistas e outros investigadores têm vindo a tentar medir a quantidade de informação que poderá ser “armazenada” na memória humana, tarefa que se torna quase impossível quando sabemos de casos de algumas pessoas dedicadas que realizam feitos excecionais com as suas mentes. Um deles é o chinês Chao Lu, que em 2005 quando ainda estudante universitário recitou corretamente durante um período de 24 horas seguidas, 67 980 dígitos do número Pi (π). Inúmeros outros génios realizaram façanhas ainda mais incríveis, como por exemplo recordarem-se de complexos detalhes e pequenos pormenores de uma imagem visualizada há anos, ocorrências que continuam a repetir-se diariamente em um qualquer lugar no mundo e que continuam a surpreender-nos.
Existem também, embora em casos muito raros – cerca de 30 casos identificados em todo o mundo –, relatos de pessoas que depois de uma lesão cerebral grave adquirem a denominada Síndrome da Sabedoria Adquirida, ainda um autêntico mistério para a medicina, não obstante os especialistas tentarem encontrar uma explicação plausível para a ocorrência.
Segundo alguns investigadores, os portadores desta síndrome, depois de sofrerem uma lesão no lado esquerdo da cabeça, desenvolvem uma reação neurológica segundo a qual o cérebro compensa a perda de neurónios, desenvolvendo novos tecidos no lado direito.
Na realidade, as pessoas atingidas por este tipo de lesões cranianas, desenvolvem repentinamente novas habilidades como o domínio da matemática, o talento artístico ou a memória fotográfica, entre outras, capacidades que segundo os estudiosos do fenómeno, se ficarão a dever a manifestações de capacidades latentes após traumatismo forte na cabeça.
Em agosto de 1979, Orlando L. Serrel era um típico miúdo americano de 10 anos de idade que não possuía qualquer habilidade especial, até ser fortemente atingido no lado esquerdo da cabeça por uma bola de baisebol. A partir daí, repentinamente passou a demonstrar ser capaz de se lembrar de inúmeras matrículas de veículos e a efetuar cálculos complexos sobre datas de décadas anteriores, o que fez dele um génio.
Funcionamento
O que faz com que a massa cinzenta desses génios supere a memória do indivíduo comum? De maneira geral, gostamos da ideia de sermos donos das nossas próprias opções. Mas será que é mesmo assim? Por outro lado, o que é que esses supertalentos nos podem ensinar sobre a verdadeira capacidade do cérebro humano?
A nossa capacidade de memória está baseada na fisiologia do cérebro, que é composta por aproximadamente 100 biliões de neurónios, porém apenas um bilião deles têm a função de armazenamento de recordações mais antigas, chamados de células piramidais.
Se cada neurónio de uma pessoa comum pudesse armazenar apenas uma unidade de memória, a informação transbordaria do cérebro. Segundo Paul Reber, professor de psicologia da Northwestern University, nos EUA, a quantidade de neurónios disponível não é suficiente para armazenar as informações adquiridas por um indivíduo, o que leva os cientistas a acreditar que em vez disso, as recordações se formam nas conexões entre os neurónios e ao longo da rede neural, cada um deles gerando extensões semelhantes a linhas de metro que se cruzam numa única estação central, mas percorrendo cerca de mil outros neurónios.
Como melhorar a memória
Qualquer que seja a atividade do ser humano, as suas funções de memória mantêm-se em funcionamento permanentemente, detetando o que ouvimos, sentimos e fazemos. É por isso muito importante que a exercitemos constantemente, não só para aumentar a quantidade de informação que conseguirmos memorizar, como também para reduzir ao mínimo a possibilidade de virmos a desenvolver défices de memória no futuro.
Hoje amplamente divulgadas, existem múltiplas técnicas que nos podem ajudar a melhorar a memória com particular destaque para as tradicionais terapias orientais, os cuidados com uma nutrição saudável e com a toma de determinados medicamentos. Sob pena de se deteriorar, a memória necessita de ser estimulada, utilizando ao máximo a nossa capacidade mental, quer através de novos desafios e novas atividades, quer tentando aprender novas habilidades ou artes. Isso poderá estimular o crescimento dos circuitos neurais expandindo o cérebro.
Sabendo que a capacidade da memória se degenera naturalmente durante o processo de envelhecimento, compete-nos como seres inteligentes, tentar retardar o mais possível esse processo, mantendo a nossa autossuficiência com a mente sã!
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