Nos seres humanos, o envelhecimento é um processo natural de desgaste das células do organismo, por razões ainda não completamente conhecidas, mas que segundo alguns teóricos pode ficar a dever-se ao acumular de danos provocados por mutações no ADN originando falhas no organismo, por fatores ambientais ou, segundo outros, devido a programação genética.
Seja por uma ou outra razão, a verdade é que à luz do conhecimento atual, o envelhecimento é um processo inexorável e irreversível, parte importante de todas as sociedades humanas e reflete as mudanças biológicas e as convenções sociais e culturais.
Não obstante, cada vez mais sociedades consomem importantes recursos, energia e tempo, exclusivamente para dissimular os efeitos do envelhecimento e dos efeitos associados, quer seja através de cirurgia plástica, maquilhagens, pinturas e outros artifícios, numa atitude de negação do processo que todavia é absolutamente imparável.
Em contrapartida, é muito comum estre os mais jovens procurar aparentar mais idade que a real, com o intuito de conseguir o respeito habitualmente associado às idades mais avançadas ou mesmo obter permissão para realizar atividades reservadas às pessoas mais velhas, como o acesso a bebidas alcoólicas ou à condução de viaturas.
Novos paradigmas
Devido principalmente à melhoria das condições de vida, a expectativa de vida das populações tem vindo a aumentar consideravelmente um pouco por todo o mundo. Enquanto que os países mais desenvolvidos têm convivido progressivamente com essa realidade desde finais do século XIX, nos países considerados “em desenvolvimento” somente a partir da década de 70 se começou a observar esse aumento, em boa parte devido à introdução de políticas de planeamento familiar que conduziram à redução das taxas de natalidade e de mortalidade e em boa medida pelas novas políticas de globalização.
Para se ter uma ideia aproximada da evolução havida, segundo um projeto da OCDE que visava fazer estimativas sobre os níveis de bem-estar na Europa Ocidental, nas primeiras décadas do século XIX, a esperança de vida rondava os 33 anos e no ano 2000 quase chegou aos oitenta, tendo continuado a crescer até aos cerca de 81, 3 anos dos nossos dias.
Com as pessoas a viver mais tempo, gerou-se a necessidade de aprender a lidar e conviver com o idoso, sendo por isso fundamental criar as condições para o inserir no convívio social, respondendo às suas necessidades e desejos, por forma a conquistar-se uma boa qualidade de vida na terceira idade e buscando um envelhecimento saudável, sendo este o grande desafio das sociedades no século XXI.
A terceira idade é atualmente considerada um importante mercado consumidor e um enorme contingente eleitoral, tratando-se por isso de um público que pode fazer grande diferença nas urnas e em algumas das novas áreas de atividade social. Por outro lado, deveremos ter presente que a qualidade de vida na terceira idade começa a ser garantida desde que nos tornamos crianças e se vai adquirindo gradualmente ao longo de toda uma vida, como resultado de tudo o que fizemos ou deixámos de fazer, pois a velhice está inserida numa perspetiva de ciclo vital.
O idoso que hoje somos é o produto do jovem e do adulto que fomos no passado, deparando-nos com as consequências do que foi sendo construído ao longo de toda a nossa história emocional, afetiva, física, profissional e social. Sendo a qualidade de vida dos idosos uma consequência de todos esses processos, o ideal é que ela seja abordada no seu conjunto, não a desligando nunca das outras etapas percorridas, independentemente de existirem medidas tendentes a melhorá-la, como programas de promoção de saúde e atividades específicas voltadas para o idoso, que são importantes e muito eficazes na terceira idade.
No entanto, ainda que os programas de promoção de saúde sejam os mais alargados e eficientes possível, a eficácia dos hospitais, médicos e tratamentos não garantem por si só a desejada qualidade, pois o indivíduo pode ter isso tudo mas não estar feliz, não se sentir minimamente realizado e não ter prazer em viver. O idoso necessita de sentir-se realizado, valorizado e integrado na sociedade, sendo para isso muito importante que mantenha projetos de vida para concretizar e que essa vontade seja respeitada, sendo que a sua saúde física, mental e emocional vão ser consequência dessas realizações.
Manter a autoestima
A nível comportamental, com o avançar da idade os homens, mais que as mulheres, podem aparentar perder a vaidade e o interesse pela vida. Na realidade, a menos que o homem se tenha recusado a aceitar a inexorável passagem do tempo como um processo natural e pleno de possibilidades de novas aprendizagens e enriquecimento pessoal, vive a atualidade de forma intensa, é capaz de ir aprendendo a lidar com as limitações do seu próprio corpo e adapta-se continuamente a essas exigências de um modo natural, sem ansiedade.
Não é fácil, mas os felizardos que atingem esse patamar continuam tão ou mais vaidosos que antes porque continuam a gostar de si próprios e estão atentos para fazer tudo o que for necessário, em termos de cuidados pessoais, para manterem uma elevada autoestima. O homem que se cuida pode chegar aos 65 anos com muito mais vigor e portanto irá gozar de uma vida mais longa e em todos os sentidos com mais qualidade. Se, por outro lado, só começar a preocupar-se com os seus cuidados pessoais após essa idade, terá pelo menos a possibilidade de retardar possíveis processos degenerativos em evolução no organismo.
Ao mesmo tempo que cuidamos da saúde e dos aspetos físicos aprendendo a lidar com as mudanças provocadas pela natureza, devemos apostar continuadamente na capacidade de sermos felizes, de agradar ao outro de forma altruísta, num ato de dar e receber, e desta forma ultrapassar a percepção de que há coisas que já não podemos fazer como antes, mas continuando a fazê-las, embora de forma diferente, sem contudo as abandonar. Esta atitude pode levar a algumas surpresas agradáveis quer nas relações mais íntimas quer no desporto ou quaisquer outras atividades susceptíveis de nos proporcionarem prazer.
Evitar companhias desagradáveis, abandonar obrigações rotineiras que não interessam e procurar a companhia e convivência de pessoas de todas as idades. Usar a imaginação aprendendo a fazer novas coisas todos os dias e incrementar as atividades sociais, pois esta é a receita mais eficaz para afastar doenças degenerativas como Alzheimer e evitar depressões. Só ou acompanhado, o idoso deve manter-se o mais ativo possível, dançar, jogar, ler, andar, nadar, correr fazer terapia e socializar.
Envelhecimento ativo
Esta nova realidade de aumento da expectativa de vida da população mundial com que hoje nos confrontamos, tem vido a mudar impercetivelmente a forma como olhamos para a pessoa idosa, cujo estatuto começou a ganhar importância que não possuía até agora na civilização ocidental.
Em função desse novo paradigma a tendência é que se criem cada vez mais serviços e bens voltados para os idosos em todos os sectores de atividade designadamente no lazer, educação, desporto, entretenimento e serviços, entre muitos outros, o que em alguns países já começou a ser feito há algum tempo.
Na realidade a população continua a envelhecer por todo o mundo cada vez mais tarde e o idoso tenderá a tornar-se o consumidor mais importante e respeitado durante as próximas décadas.
É importante que possamos aprender a envelhecer com saúde, qualidade de vida e felizes, sendo para isso necessário entender que muito mais importante que a nossa herança genética, são os nossos hábitos de vida ao longo da nossa passagem pelo planeta!
Significa isto que podemos escolher uma velhice feliz, sendo para isso necessário seguir uma alimentação e hábitos saudáveis, praticar atividade física regular e adequada, lazer, repouso, atividades e bons relacionamentos que nos proporcionem prazer e ... muita paixão pela vida e pelo que fazemos!
Onde houver paixão não há mais espaço para a apatia e depressão. Envelhecer é um processo natural e automático pelo que, desde que não se morra por acidente ou doença, o envelhecimento saudável é uma conquista civilizacional, sendo por isso urgente vencer os preconceitos ainda existentes sobre o que o idoso pode ou não fazer, libertando-o para as escolhas ou opções de vida que fizer.
Tal como qualquer pessoa mais jovem, o idoso deve continuar a acreditar que pode ousar tudo aquilo que sente que lhe fará bem. Provavelmente irá cansar-se mais rapidamente, mas embora com um condicionamento físico adequado, poderá manter uma mobilidade excelente, uma atividade sexual saudável e contínua, uma vida plena e feliz!