AMAMENTAÇÃO

AMAMENTAÇÃO

GRAVIDEZ E MATERNIDADE

  Tupam Editores

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Amamentar é muito mais do que nutrir uma criança. É um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, na sua habilidade de se defender de infeções, na sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional.

O aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, amor, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, económica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil, além de ter um enorme impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebé.

Nenhuma outra ação da mãe terá um impacto tão profundo na saúde atual e futura do bebé, como a amamentação. Nenhum leite de substituição consegue reproduzir as propriedades únicas do leite materno, independentemente das vitaminas, minerais e suplementos que se adicionem ao que é, no fundo, uma formulação química. O leite materno é o único alimento natural, completo e complexo para bebés humanos.

Nas últimas décadas têm surgido cada vez mais evidências sobre as vantagens da amamentação para a saúde e, consequentemente, recomendações acerca do aleitamento materno.

Desde 1991, a Organização Mundial de Saúde, em associação com a UNICEF, tem vindo a empreender um esforço a nível mundial no sentido de proteger, promover e apoiar o aleitamento materno, tendo vindo a recomendar que:

– As crianças desfrutem do aleitamento materno exclusivo até aos seis meses de idade, ou seja, até essa idade o bebé deve alimentar-se apenas do leite materno, não devendo ingerir nenhum outro alimento complementar ou bebida;

– A partir dos 6 meses de idade todas as crianças devem receber alimentos complementares (sopas, papas, etc.) e manter o aleitamento materno;

– As crianças devem continuar a ser amamentadas, pelo menos, até completarem 2 anos de idade.

As razões para estas recomendações são óbvias. O leite materno contém tudo o que o bebé precisa: proteínas, lípidos, lactose, vitaminas, ferro, minerais, água e enzimas nas quantidades exatas para um crescimento e desenvolvimento ideais.

Amamentar

Os bebés amamentados são mais saudáveis pois o leite materno contém substâncias que impedem o desenvolvimento de bactérias nocivas nos intestinos, que lhe causariam infeções gastrointestinais e diarreicas. Têm também menos infeções do ouvido médio, menos infeções respiratórias e risco reduzido de desenvolver alergias, cancro, diabetes infantil e obesidade; risco reduzido de Síndrome de Morte Súbita Infantil (SMSI), e de poderem desenvolver enterocolite necrótica.

Têm também menos tendência para desenvolver doenças cardíacas, eczema, asma e outras doenças alérgicas ao longo da sua vida. A amamentação também melhora o desenvolvimento cerebral. São vários os estudos que comprovam a existência de um melhor desenvolvimento e acuidade visual em crianças que foram amamentadas.

Mas as vantagens da amamentação não são só para o bebé. A mãe também beneficia pois amamentar reduz as hemorragias pós-parto e o risco de anemia; exerce um efeito protetor contra diversos tipos de cancro, tais como o cancro da mama e dos ovários, e contra a osteoporose; atrasa o regresso da fertilidade; ajuda a que o útero regresse ao seu tamanho original após o parto e contribui para que a mãe recupere a sua silhueta normal, pois queima calorias (até 500 calorias a mais por dia).

Além disso, a mãe que amamenta sente frequentemente mais autoconfiança e melhor adaptação ao seu bebé, e o melhor é que o leite materno – que é único e nutricionalmente completo – está sempre disponível e na temperatura ideal, o que poupa energia, tempo e recursos.

Composição do leite materno: Como e quando amamentar

Que o leite materno oferece ao recém-nascido um alimento completo não é novidade para ninguém. Por incrível que pareça, cada mãe produz o leite exatamente de acordo com as necessidades do seu filho. Esta característica é impossível de reproduzir artificialmente o que significa que não se conseguiria atingir os mesmos efeitos no organismo do bebé.

As características bioquímicas do leite materno variam, não só de mãe para mãe, mas durante o dia, durante as diferentes fases da amamentação e até mesmo durante a mesma mamada. O precioso alimento sofre alterações na composição e quantidade ao longo do tempo, passando por vários estágios: quando o bebé nasce, produz colostro que, 4 a 5 dias após o parto, passa a leite de transição e, posteriormente, a leite maduro (15 dias após o parto).

No que respeita aos nutrientes, as proteínas classificam-se em caseína e proteínas do soro, sintetizadas pela glândula mamária, e albumina, enzimas e hormonas provenientes do plasma. A sua principal fonte de energia são as gorduras, principalmente triglicéridos (98 por cento), e o principal hidrato de carbono é a lactose (aprox. 70g por litro). A lactose é fundamental na absorção de minerais como cálcio e ferro e a sua concentração parece não sofrer influência da dieta materna.

Composição do leite materno

Os minerais presentes no leite (Ca, Fe, Zn, Cu, etc.) são altamente biodisponíves quando comparados ao leite de vaca ou a fórmulas infantis, e a sua concentração também não é afetada pela alimentação da mãe. Já as vitaminas (A, D, E, K, C e complexo B) têm a concentração influenciada diretamente pela dieta materna, daí a importância desta fazer uma alimentação saudável, variada e equilibrada.

Como em qualquer situação nova, uma mãe que amamenta pela primeira vez tem algumas questões e dúvidas que gostaria de ver esclarecidas, como por exemplo: se o seu leite será suficiente para alimentar o filho; se será "fraco"; como aumentar a produção de leite materno; quando e como amamentar, entre outras. Lamentavelmente, existem alguns mitos e histórias que, muitas vezes, afastam as mães da amamentação, em vez de as encorajar.

Apesar de poderem surgir alguns problemas durante a amamentação, este é um período de grande cumplicidade e intimidade entre mãe e filho. Amamentar exige afeto e entrega, e é muito mais do que pôr em prática técnicas aprendidas, ainda que estas também façam parte deste ato de amor.

É o caso das técnicas e posições para amamentar. O momento da mamada é único e merece uma preparação especial. Existem algumas técnicas que ajudam a mãe a encontrar a posição correta para acomodar o bebé e facilitar a pega.

Existem três posições mais comuns, mas nada impede mãe e bebé de acharem uma forma mais agradável de se acomodar na hora da mamada. A posição ideal é aquela onde ambos ficam confortáveis, com o bebé alinhado ao corpo da mãe.

A posição tradicional é a sentada, em que o bebé fica de frente para a mãe, barriga com barriga, e quanto mais colados estiverem, mais fácil é a amamentação. Na posição sentada inversa, a mãe deve segurar o bebé como se fosse uma bola de futebol americano, colocando o corpinho debaixo de sua axila, com a barriga apoiada nas suas costelas. A mãe apoia o corpo do bebé com o braço e a cabeça com a mão. Nesta posição torna-se fácil para o bebé agarrar uma boa parte da auréola.

Algumas mães, especialmente as que passaram por uma cesariana, optam por amamentar os filhos deitadas, ficando o bebé de frente para a mãe, barriga com barriga.

Almofada para amamentação

Independentemente da posição que a mãe escolha para amamentar o bebé, é importante que esteja relaxada, confortável e bem apoiada, sem se curvar para a frente ou para trás. O bebé, da mesma forma, deve estar corretamente posicionado, com o corpo junto ao da mãe, na altura da mama, os quadris seguros e o pescoço levemente esticado.

Posição escolhida e bebé a mamar, dir-se-ia que o problema estaria resolvido. Mas não é bem assim. Muitos bebés agarram o peito, mamam um pouco e dormem sem que se tenham alimentado o suficiente. Pouco depois acordam e querem mamar novamente. Imagine-se este cenário a meio da noite…

Para que isto não aconteça existem alguns truques que a mãe pode por em prática de forma a permitir a conclusão da mamada. Assim, para manter o bebé desperto e interessado em comer, a mãe deve dedicar alguns minutos a estimulá-lo. Pode tocar-lhe suavemente na planta dos pés, nariz ou orelhas; massajar delicadamente as mãos e o corpo; mudar a fralda; retirar a roupa da parte inferior do corpo; conversar com ele enquanto mama, amamentar num local iluminado, etc. O objetivo é que o bebé consiga concluir a mamada e fique saciado, até porque isto pode contribuir para diminuir o número de mamadas diárias, que normalmente já são muitas!

Um bebé não tem horários rígidos para mamar, devendo ser amamentado quando o pedir. Os intervalos entre mamadas podem variar entre 2h40 a 4h40 durante o dia e ir até às 5h durante a noite, garantindo 6 a 10 refeições, em 24 horas.

A maioria dos bebés saudáveis e de termo (que nascem entre as 37 e 42 semanas), sabe melhor que ninguém, quando precisa de mamar, durante quanto tempo – normalmente entre 20 a 45 minutos –, e a quantidade necessária. A mãe deve dar de mamar com a frequência e a duração que o bebé desejar, mesmo durante a noite.

Ora isto levanta um dos problemas que mais aflige uma mãe que amamenta: a escassez de leite e a possibilidade de estimular a sua produção.

Os pequenos problemas da amamentação
bebé a mamar

A quantidade e qualidade do leite produzido é sempre uma preocupação para a mãe que pode ficar com dúvidas sobre se o bebé está a ser convenientemente alimentado e nutrido. Os especialistas afirmam, no entanto, que é muito raro uma mulher não produzir leite suficiente, e esse leite nunca é "fraco".

O corpo da mulher produz leite à medida que o bebé solicita. Quanto mais ele mamar, mais leite a mãe vai produzir, razão pela qual se deve deixar mamar o maior número de vezes possível (10 ou mais vezes), num período de 24 horas, mesmo durante a noite. Desta forma estimula-se o reflexo da hormona prolactina que aumenta a produção de leite materno.

Deve ainda tentar retirar leite entre as mamadas, pois quando o seio se esvazia totalmente a produção de leite é estimulada.

A nível da alimentação, a mãe deve fazer uma alimentação equilibrada rica em frutas, vegetais, cereais integrais, e aumentar a ingestão de água – cerca de 3 a 4 litros por dia.

Há ainda algumas ervas que são conhecidas por aumentarem a produção de leite materno. Entre elas estão o funcho e a erva-doce (anis), que podem ser tomadas na forma de chá; até existem chás já preparados especialmente para esse fim. No entanto, é bom conversar com o pediatra antes de o fazer, pois alguns deles são contraindicados na fase da amamentação.

Há quem opte por tomar Silimarina, a substância ativa da planta Silybum marianum, ou Carduus marianus, para ajudar a produzir mais leite, contudo, este e outros medicamentos só devem ser tomados sob orientação médica, particularmente quando está a amamentar. A silimarina tem ainda como benefício proteger a mãe contra a inflamação da mama (mastite), um dos problemas que pode surgir durante a amamentação.

Mas o primeiro obstáculo pelo qual a mãe que começa a amamentar passa, talvez seja o ingurgitamento mamário, que acontece normalmente por volta do terceiro dia pós-parto. A ingurgitação ocorre quando os seios ficam doridos e tensos devido à deficiente drenagem do leite, e pode ser passageira (até 24 horas) ou durar vários dias (4 a 5 dias).

O importante é não desistir de amamentar e procurar ajuda dos profissionais para encontrar estratégias que a ajudem a ultrapassar este problema. Gradualmente, o corpo vai ajustar-se e começar a produzir exatamente a quantidade de leite necessária para o bebé.

Já durante a amamentação, a mastite é uma inflamação do tecido mamário comum durante a lactação devido a infeção ou ingurgitamento do seio com leite. Caracteriza-se por uma inflamação (dor, vermelhidão, calor localizado) com ou sem infeção, que pode ser acompanhada por febre e sintomas do tipo gripal. Por estranho que pareça, para ultrapassar o problema, a mãe deve continuar a amamentar aumentando a frequência das mamadas de forma a estimular a drenagem do leite, e consultar o médico que lhe dará indicações mais específicas.

Não é de estranhar que durante esta fase a pele dos mamilos se torne mais sensível, fique irritada, resseque, e por vezes acabe por gretar. O aparecimento de gretas nos mamilos, contudo, não está diretamente associado à frequência com que se dá de mamar, ou à sua duração, mas antes ao modo como o bebé agarra o peito.

Neste caso a mãe deve, após o banho e após cada mamada, aplicar e deixar secar algumas gotas de leite materno no mamilo e auréola; proteger o mamilo do contacto com a roupa, mantendo-o bem limpo e seco, e proteger a pele com um creme adequado para a tornar mais flexível e resistente.

Apesar de todos os problemas, como cansaço e situações de stress por que passaram ambos, mãe e bebé, não existe período mais preocupante do que aquele em que a mãe já vislumbra o dia em que terá de regressar ao trabalho. Depois de ter passado os últimos meses em perfeita simbiose com o seu bebé, as saudades de todos os momentos que viveram juntos, levam a pensar que talvez seja altura de parar de amamentar. Mas não deve desistir. É verdade que conciliar a amamentação e o trabalho não é fácil, mas é possível!

Conciliar a amamentação com o regresso ao trabalho
trabalho e amamentação

No regresso ao trabalho basta um pouco de determinação e muita organização para continuar a amamentar o bebé. Vale a pena o esforço, tanto para a mãe como para o bebé, e prolonga a relação de intimidade entre ambos.

Para começar terá de criar novas rotinas diárias. Cerca de um mês antes de voltar ao trabalho devem estabelecer-se rotinas para amamentar e acostumar o bebé a mamar em horários determinados.

Uma semana antes deve extrair leite nos momentos do dia em que tiver em excesso (normalmente, de manhã), e entre as mamadas ao longo do dia. Desta forma, terá biberões de leite materno que poderá congelar para as refeições da semana seguinte do bebé.

Para extrair e armazenar o leite materno existem alguns fatores que convém ter em consideração. Pode extrair o leite manualmente ou com um extrator adequado. Se optar por um extrator lembre-se que a extração de leite é uma técnica que se aprende, portanto, é necessário tempo e paciência para a dominar. Quando usar o dispositivo pela primeira vez, não se deve sentir desanimada se apenas conseguir extrair pouco leite ou até nenhum.

As bombas extratoras de leite materno existem em grande variedade e quase todas providenciam a sucção necessária para o extrair. Se uma bomba não funcionar deve experimentar outra, pois existem diversas, incluindo manuais e automáticas com bateria. Dependendo do tipo de bomba, em média, levará entre 15 a 45 minutos para esvaziar ambos os seios. As boas bombas imitam o movimento de sucção dos bebés, estimulando a descida do leite sem causar dor.

Depois de extraído, o leite deve ser armazenado em recipientes esterilizados de vidro, ou de plástico duro (depois de lavados com água quente e sabão), etiquetar cada recipiente com a hora e data da recolha e usar sempre o leite extraído há mais tempo. Estes recipientes, que devem possuir tampas herméticas para fecharem corretamente, devem preferencialmente armazenar apenas cerca de 100ml em cada, para reduzir ao mínimo o desperdício de cada vez que o descongelar.

leite congelado

Quanto à conservação, se for armazenado no frigorífico, o leite materno tem um prazo de validade entre 3 a 7 dias, num bom congelador pode ser utilizado até 3 meses de prazo e numa arca com temperatura constante inferior a -20º, 6 meses.

Sabe-se que o processo de congelamento destrói alguns dos anticorpos presentes no leite, por isso só deve congelar o leite que realmente não for consumido de imediato. Ainda assim, o leite materno congelado é muito mais saudável e oferece maior proteção contra doenças do que qualquer fórmula láctea.

O processo de descongelação é tão importante quanto o de conservação. O leite materno nunca deve ser descongelado ou aquecido no micro-ondas, pois as proteínas do leite serão destruídas. O micro-ondas não é aconselhado para aquecer alimentos para o bebé, pois cria certos pontos onde o alimento é mais aquecido que outros, podendo provocar queimaduras da boca frágil do bebé.

A melhor forma de descongelar leite materno é colocá-lo previamente no frigorífico, e pouco antes de o dar ao bebé, aquecê-lo um pouco em banho-maria (com água quente e não a ferver!). O leite materno que for descongelado pode ser armazenado durante 24 horas no frigorífico, mas nunca deve voltar a ser congelado.

Optar por continuar a alimentar o bebé com leite materno após o regresso ao trabalho é muito recompensador: e é saudável para a mãe e para o bebé. Pode dar mais trabalho, mas pense que também é muito mais barato e saudável do que alimentar o bebé com uma fórmula láctea. E faz de si uma Super Mãe!

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