Nada pior do que após uma agradável refeição sentirmos um enorme ardor no estômago, uma espécie de calor desagradável, que provoca um inesperado mal estar e por vezes dor, vulgarmente conhecido por azia e em termos médicos por pirose.
A azia é um problema comum a muitas pessoas, em geral devido à ingestão ou excesso de determinados alimentos que a potenciam, sendo o recurso aos antiácidos a fórmula mais usada para tratar ou prevenir este problema, quer através de produtos naturais quer por meio de fármacos.
Limitar o consumo de alimentos que pela sua natureza promovem a passagem do ácido produzido no estômago para o esófago, como é o caso do tomate, citrinos, chocolate, chá e café, pode ser uma eficaz forma de prevenção da acidez gástrica popularmente conhecida por azia. Outras ações como, por exemplo, retirar o glúten das refeições ou a toma de suplementos à base de enzimas digestivas podem igualmente ajudar no combate aos sintomas de inchaço abdominal, gases e pirose.
É de salientar que para iniciar a digestão, o estômago produz uma grande quantidade de ácidos, essenciais para manter um elevado nível de acidez que promova uma boa digestão. Para tornar isso possível as células do estômago possuem a enorme capacidade de produzir cerca de 2-3 litros de ácido clorídrico por dia, – o mesmo ácido que é usado em nossas casas como elemento corrosivo de limpezas –, além das enzimas pepsina e renina. Enquanto a pepsina promove a decomposição das proteínas em peptídeos pequenos, a renina, que é produzida em grandes quantidades no estômago dos recém-nascidos, tem a propriedade de separar o leite em frações líquidas e sólidas.
Apesar das células da mucosa estomacal estarem protegidas por uma espessa camada de muco, elas são continuamente lesadas e destruídas por ação do ácido gástrico. Em consequência dessa ação, a mucosa é constantemente regenerada, estimando-se por isso que seja totalmente reconstituída a cada 3 dias.
Devido à presença do ácido clorídrico, a acidez no interior do estômago mantêm-se elevada, entre os valores 1 e 3, mas ainda assim perfeitamente suportável para manter o equilíbrio em um estômago saudável.
A acidez é medida em valores de pH (potencial de Hidrogénio), sendo que quanto menor for o seu valor maior será a acidez e, em contrapartida, quanto mais elevado for o pH, maior será a alcalinidade do meio, sendo que um pH de 7 corresponde a um pH neutro.
Esta acidez do estômago tem por funções principais, estimular as enzimas digestivas e processar a decomposição dos alimentos, além de promover a eliminação dos agentes infecciosos ou bacterianos ingeridos através dos alimentos ou bebidas.
Dado o elevado nível de acidez presente no estômago, seria natural que se mantivesse constantemente em estado de ardência, mas tal não sucede devido à proteção existente nas suas paredes internas. Na realidade, as paredes internas do estômago são constituídas por uma envolvente mucosa gástrica coberta por um muco protetor muito rico em bicarbonatos, compostos-base que neutralizam a acidez produzida e que é essencial para promover a boa digestão dos alimentos.
Porém outros órgãos do aparelho digestivo, tais como o esófago, não tendo qualquer proteção, estão por isso expostos aos conteúdos ácidos que saem do estômago e sobem para o esófago, provocando dor e sensação de ardor de que todos os pacientes que sofrem de refluxo gastroesofágico se queixam.
Prevenção
Muito embora a patologia careça de estudos mais precisos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 7% da população mundial sofre diariamente de dores provocadas por azia, 15% uma vez por semana e 50% tem episódios de ardência a intervalos mensais.
Nos países mais desenvolvidos, os números relativos a doenças esofágicas são assustadores com os casos de incidência a quadruplicarem a cada vinte anos, em boa parte devido à emergência de outras patologias como a doença do refluxo gastroesofágico e outras não especificadas.
A fim de prevenir o aparecimento de incómodos e dolorosos sintomas de azia e ardor estomacal é fundamental que haja uma mudança nos hábitos alimentares que pode resultar em grandes melhorias para a saúde e bem-estar, e que geralmente passam pela manutenção de um peso corporal saudável através da prática regular de exercício físico a par do controle na alimentação.
Para isso há que tomar algumas medidas como:
• Evitar alimentos demasiado condimentados ou com excesso de gorduras, onde se inclui o consumo de chocolate, pimentos, cebolas e alho, café e fritos em geral;
• Evitar o álcool e o tabaco, seja sob que pretexto for, pois esses agentes agravam os quadros de ardor gástrico;
• Evitar o uso de roupas muito apertadas ou cintos na região abdominal;
• Não se deitar ou sentar imediatamente após as refeições;
• Ingerir mais fruta e legumes que o habitual, porém evitando os cítricos;
• Em certas situações, é conveniente altear o travesseiro ao deitar-se, por forma a que a cabeça fique ligeiramente mais elevada relativamente ao resto do corpo.
Alimentos que ajudam a aliviar o desconforto
Os alimentos probióticos como o iogurte, ao estimularem a produção de bactérias benéficas para a flora intestinal, evitam a prisão de ventre e além disso previnem o desconforto estomacal particularmente quando adicionados a frutas ricas em fibras ou cereais integrais.
Frutas não ácidas como banana, maçã, pera e goiaba são facilmente digeríveis e quando bem mastigadas podem ajudar no alívio do mal-estar e da sensação de ardor, além de facilitarem o trabalho do estômago.
Sopas e vegetais cozinhados, dado que após a cozedura, as fibras dos vegetais ficam amolecidas favorecendo a digestão e promovendo o esvaziamento gástrico mais rápido.
Pão ligeiramente torrado pode também ajudar no alívio do desconforto gástrico, dado que ao perder água por ação do calor, altera a estrutura dos carboidratos facilitando a digestão e o esvaziamento gástrico.
O arroz integral, com um elevado teor de fibras, é um carboidrato complexo que ajuda a digestão, aumenta a saciedade e controla as substâncias libertadas pelo estômago que podem causar sensação de ardor.
O mamão e a papaia, frutas sobejamente conhecidas por combater eficazmente distúrbios intestinais como a obstipação, são também um poderoso antioxidante natural e por isso atenuam as dores de estômago provocadas pelo excesso de acidez.
Tratamentos
O corpo humano é uma máquina inteligente perfeita, que funciona harmoniosamente a partir da atuação de um conjunto de diversos sistemas, tentando a todo o momento mantê-los em equilíbrio. Isto é, quando o nosso corpo está a produzir demasiado ácido clorídrico, ele mesmo se encarregará de parar a sua produção logo que receba sinais de que o estômago está a produzi-lo em excesso.
Todavia, quando todas as dietas e medidas preventivas falham e o desconforto e as dores atingem níveis próximos do insuportável, o recurso aos fármacos antiácidos é a medida mais frequentemente adoptada.
Os antiácidos são uma classe de medicamentos que devem ser usados com parcimónia, uma vez que ao tomarmos algum que faça diminuir a quantidade de ácido clorídrico a ser excretada, logo que o seu efeito termine o corpo vai reagir, produzindo cada vez mais ácido, estabelecendo-se assim uma dependência de fármacos.
Casos há em que pacientes com excesso de peso, azia e outras patologias associadas não conseguem emagrecer devido ao receio de deixarem de tomar a sua medicação habitual e voltarem a ter os sintomas de ardência e dor devido à dependência.
Para a maioria das pessoas, os antiácidos funcionam como forma de controlarem a incomodidade dos sintomas, sem se preocuparem em fazer mudanças, por vezes difíceis, no seu estilo de vida, como perder peso, parar de fumar, fazer exercício regularmente e cortar os alimentos causadores da azia e refluxo gastroesofágico. A má alimentação, a ansiedade e o uso concomitante de outros medicamentos são os principais fatores para desenvolvimento de outras doenças do estômago.
Efeitos secundários dos antiácidos
Os antiácidos não sujeitos a receita médica de auto-prescrição comummente usados, consistem em sais de carbonato de cálcio, magnésio e alumínio, com várias formulações ou compostos e cuja função é neutralizar parcialmente os efeitos do ácido clorídrico gástrico e inibir a enzima proteolítica pepsina.
A toma prolongada de antiácidos, em particular os fármacos “inibidores da bomba de protões”, também designados por “azois”, cuja ação remove ou neutraliza o ácido do conteúdo gástrico, aliviando a dor estomacal, podem produzir efeitos secundários de alguma gravidade como inibir ou condicionar a absorção de vitamina B12 e outros elementos essenciais ao bom funcionamento do organismo.
De entre as preparações que utilizam como base os três minerais mencionados, o magnésio pode causar diarreia e o cálcio e alumínio podem causar obstipação intestinal. Acresce ainda que, embora em casos muito raros, o cálcio pode também causar cálculos renais ou outros problemas e se o paciente tomar grandes quantidades de antiácidos que contenham alumínio, pode ficar em risco de perda de cálcio na estrutura óssea, levando à osteoporose.
Por isso antes de iniciar a toma regular de antiácidos, em particular se já estiver a tomar outros medicamentos ou produtos, é sempre melhor pedir o aconselhamento médico ou farmacêutico pois trata-se de uma classe de fármacos que podem modificar a maneira como o organismo absorve os outros que também está a tomar.
A doença celíaca é um distúrbio digestivo e imunológico crónico que danifica o intestino delgado, desencadeada pela ingestão de alimentos contendo glúten.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.