VIGOREXIA - A obsessão pelo corpo perfeito!

VIGOREXIA - A obsessão pelo corpo perfeito!

EXERCÍCIO FÍSICO

  Tupam Editores

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Corpos esbeltos são, desde há muito, sinónimo de beleza, juventude, e saúde. Mas o novo milénio é mais exigente: um físico perfeito também é essencial à felicidade e realização pessoal, sucesso e influência, e até abre portas no mercado laboral.

Esta preocupação excessiva com a aparência tornou, nas últimas décadas, mais expressivos transtornos como a anorexia e a bulimia, por exemplo, mas foi-se afinando; afinal não basta ser magro e que as roupas assentem que nem uma luva – há que parecer um atleta olímpico, mesmo que a profissão obrigue a oito horas diárias à secretária ou atendimento ao balcão.

Músculos definidos e resistência física digna de um Rocky – para alinhar em trails de alta intensidade ao fim de semana, sem que na segunda-feira seja visível qualquer vestígio de fadiga –, fazem parte de qualquer profissional de sucesso.

Querer definir o corpo ou deixá-lo mais atraente não é uma atitude negativa, e a prática de atividade física de forma regular é um pilar importante para um estilo de vida saudável, mas quando o limite entre o saudável e a obsessão é ultrapassado, o problema passa a ter nome: Vigorexia, também conhecido por Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), ou Síndrome de Adónis.

Pouco familiar e pomposo, o termo esconde um distúrbio psicológico sério – em que há alterações na perceção da autoimagem e preocupações irracionais de possíveis imperfeições na aparência –, que tem vindo a crescer no mundo moderno. Acredita-se que é um transtorno obsessivo compulsivo decorrente da cultura atual, muito focada na alimentação saudável e na procura do corpo perfeito, tonificado e musculado.

A doença pode afetar qualquer pessoa independentemente da idade ou sexo, mas é mais comum em indivíduos do sexo masculino, com idades entre os 18 e os 35 anos e residentes em meios urbanos. Aponta-se para uma incidência de cinco em cada 10 mil pessoas, no entanto, dada a relevância que se dá ao corpo sobretudo na faixa etária referida, acredita-se que nos próximos anos o número aumente consideravelmente.

Os doentes que sofrem de vigorexia possuem uma visão distorcida do seu corpo e, mesmo que a sua tonificação muscular seja saliente, nunca é suficiente.

Existe uma insatisfação constante com a forma, força e vigor do corpo, e todos os sacrifícios são poucos para conseguir o corpo perfeito. É uma corrida sem fim, porque a imagem que vêem no espelho é sempre a de uma pessoa com menos músculos e sem qualquer atrativo físico, que precisa de mais exercício.

Tornam-se viciados em exercício, e transformam os seus lares em autênticos ginásios, ou passam horas a fio em ginásios públicos, contudo, os resultados obtidos nunca os satisfazem.

O transtorno acaba por lhes causar um sofrimento significativo, interferindo na sua vida social, hábitos alimentares, carreira e, acima de tudo, na saúde.

Lamentavelmente, este quadro é comummente subdiagnosticado na sociedade atual. Isto porque homens e mulheres extremamente tonificados e musculados são admirados e vistos como fortes e atraentes.

Sinais e consequências de vigorexia

O principal sintoma de vigorexia é o facto de o indivíduo estar em ótima forma física e julgar a sua aparência como fraca, franzina e pequena, ou seja, o principal sinal que caracteriza a vigorexia é a distorção na perceção do corpo. Todos os outros sinais da patologia são decorrentes deste.

Os outros comportamentos que caracterizam o distúrbio são:

Obsessão com uma parte específica do corpo (e muitas vezes até com o cabelo, pele, tamanho do pénis);

Insatisfação com a sua estrutura muscular (constante sensação de que os músculos estão subdesenvolvidos);

Tentativa permanente de esconder características consideradas não ideais;

Observação repetida ao espelho ou, pelo contrário, esforço permanente por evitar esse gesto;

Personalidade introvertida, sentimento de inferioridade e baixa autoestima;

Comparação constante com outras pessoas e necessidade extrema da aprovação de terceiros;

Possuir uma rotina extenuante de exercícios, visando exclusivamente a hipertrofia (ganho de massa muscular) e evitar exercícios aeróbicos para que não ocorra perda da massa muscular adquirida durante as vigorosas sessões de treino de força;

Exercitar-se mesmo estando lesionado;

Dores musculares constantes e fadiga intensa;

Perda frequente das obrigações sociais ou de trabalho devido a uma necessidade compulsiva de treinar;

Experimentar extrema ansiedade em caso de perder um treino;

Prática de dietas rigorosas e inadequadas e continuar a segui-las mesmo sofrendo com efeitos colaterais;

Uso de quantidades excessivas de suplementos alimentares e abuso de substâncias anabolizantes para ganhar massa muscular;

Tendência para a automedicação;

Menor desempenho durante o contacto íntimo;

Ritmo cardíaco acelerado;

Depressão, irritabilidade, insónias.

Ao contrário do que se possa pensar inicialmente, uma pessoa com vigorexia não está fisicamente saudável. Quem sofre de vigorexia pratica exercício de forma exagerada e compulsiva – o que se reflete nos ossos, tendões, articulações e músculos, e dá origem a lesões frequentes –, e controla de forma igualmente rigorosa a dieta.

Esta tende a ser restringida a nutrientes destinados somente à constituição dos músculos, o que causa um desequilíbrio de nutrientes e prejudica a saúde em geral.

As refeições são geralmente de elevado teor proteico, havendo quem chegue a eliminar certos alimentos da dieta como é o caso do açúcar, gorduras e hidratos de carbono. A fome é muitas vezes saciada com recurso a proteínas e suplementos para o ganho de massa muscular.

Nos casos mais graves os indivíduos recorrem a esteroides anabolizantes, que podem ser bastante prejudiciais à saúde sendo a causa de problemas renais, articulares, doenças cardiovasculares, disfunção sexual, diminuição do tecido testicular e aumento do risco de alguns tipos de cancro, como o da próstata no caso dos homens, e de infertilidade no caso das mulheres.

Na maior parte dos casos os indivíduos estão cientes dos riscos e dos prejuízos que estão a infligir à saúde ao usar os esteroides, mas o facto não é suficiente para os deter no impulso de “melhorar” a sua imagem.

Para muitas pessoas os comportamentos descritos nem são considerados um problema, e essa é a maior barreira ao diagnóstico da doença e ao seu tratamento adequado.

Tratar a patologia para recuperar a saúde

Não existe um consenso sobre as causas da vigorexia, mas acredita-se que o distúrbio aconteça por razões multifatoriais, entre elas a genética. Alguns estudos revelam que as pessoas que têm parentes consanguíneos com vigorexia também podem desenvolver o transtorno. As diferenças neuroquímicas são outro fator a ter em conta. Os estudos mostram que dependendo da estrutura cerebral ou neuroquímica do indivíduo, pode haver uma predisposição para o desenvolvimento da patologia.

Para além dos fatores já mencionados, o ambiente onde a pessoa está inserida, bem como a cultura, a influência dos media, e os traumas e abusos que tenha sofrido na infância podem, igualmente, contribuir para que ela procure um corpo cada vez mais “forte”.

Em geral, os indivíduos com vigorexia não procuram tratamento. Primeiro porque têm dificuldade em admitir que apresentam o transtorno e acham que não há nada de errado com o seu comportamento, e depois porque os métodos terapêuticos provavelmente levam à perda de massa muscular.

Infelizmente não é possível prevenir a vigorexia. Os grandes pilares do seu controlo são a deteção e o tratamento precoces. O processo deve envolver a família e os amigos, e é levado a cabo por uma equipe multidisciplinar que pode incluir um médico endocrinologista (para monitorizar e corrigir as taxas hormonais), um nutricionista (para elaborar uma dieta equilibrada de nutrientes e vitaminas), um treinador físico (para estabelecer os treinos mais adequados), um psiquiatra, e um psicólogo, que utilizará a terapia para ajudar o doente.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que passa pela avaliação e correção de padrões de pensamento do doente, tem-se revelado extremamente útil no controlo deste tipo de transtorno.

O objetivo é levar o indivíduo a aceitar o seu corpo como ele é, identificando a perceção distorcida que ele tem da sua própria imagem corporal, bem como os aspetos positivos da sua aparência física. Também faz parte do tratamento psicológico confrontar os padrões corporais alcançáveis e inalcançáveis, encorajar comportamentos mais sadios e ajudar o doente a enfrentar a sua aversão em expor o corpo.

Os comportamentos obsessivos relacionados com o exercício, a alimentação e a verificação constante do tamanho dos músculos devem ser inibidos. A prática de exercício físico não deve ser interrompida, no entanto, deve ser feita sob orientação do profissional de educação física.

O psiquiatra pode receitar medicamentos antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina que serão úteis para controlar a depressão e a ansiedade, além de outros sintomas relacionados ao comportamento obsessivo-compulsivo.

É importante frisar que o sucesso do tratamento da vigorexia depende muito de uma boa relação entre os profissionais envolvidos e o doente.

A vigorexia não se resolve por si, e pode afetar seriamente o dia-a-dia dos doentes. Pedir ajuda é o primeiro passo para deixar de sofrer com este problema. Se já alguma vez lhe passou pela cabeça que pode estar a exagerar mas não consegue parar, não hesite, peça ajuda!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
18 de Março de 2024

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