FRIGIDEZ, DISFUNÇÃO SEXUAL NO FEMININO

FRIGIDEZ, DISFUNÇÃO SEXUAL NO FEMININO

SEXUALIDADE E FERTILIDADE

  Tupam Editores

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Termo geralmente usado para designar um quadro tecnicamente conhecido como inapetência (falta de apetite) sexual, inibição de desejos, ou ainda disfunção sexual geral, a palavra Frigidez pressupõe inapetência sexual da mulher e em menor grau no homem, não apenas por falta de vontade de sexo físico, mas também do desejo de fantasias e pensamentos eróticos.

Incluída no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5; 302.71 - Transtorno de desejo sexual hipoativo) e na classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10; F52), a Frigidez ou desejo sexual hipoativo, é considerada uma "Disfunção sexual, não causada por transtorno ou doença orgânica".

Este distúrbio é portanto diferente da disfunção orgástica ou anorgasmia (DSM-5; 302.73), em que o desejo e a excitação estão presentes, mas a mulher não consegue atingir o orgasmo. Há mais duas disfunções sexuais na mulher, a dispareunia, que é a dor durante a penetração vaginal, e o vaginismo, caraterizado pelo receio doentio de ser penetrada acompanhado do desejo de ter a relação, que acaba por não ser consumada. Portanto a frigidez retira à mulher o desejo sexual, impedindo-a de realizar o ato de forma satisfatória e atingir o prazer.

Trata-se de um bloqueio total ou parcial da resposta psicofisiológica da excitação. É caraterizado principalmente pela deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo para a atividade sexual, com os consequentes sofrimentos ou dificuldades interpessoais. Este quadro pode ser geral, ou apenas de ordem situacional, ou seja, com determinado parceiro ou em situações específicas.

Poderemos ser levados a pensar que, relativamente ao passado, se verifica um aumento súbito do número de mulheres a sofrer deste transtorno. No entanto, as mulheres contemporâneas não são mais frígidas que as suas antepassadas. O que se passa é que, apesar de ainda constituir tabu, são cada vez mais as mulheres que procuram a ajuda de um profissional para tentar perceber por que para elas o ato sexual é um sacrifício, quando deveria ser o culminar da realização de um ato de amor, ou se existe alguma falha na sua sexualidade.

Embora existam relatos de disfunção permanente, são raras as mulheres totalmente insensíveis ao prazer e que assim permanecerão até ao fim das suas vidas. Na maioria dos casos a frigidez não é definitiva mas pode atingir qualquer pessoa em períodos diversos da sua vida.

Algumas mulheres deparam-se com o problema logo na adolescência, rejeitando totalmente a sexualidade e os contactos físicos. Neste caso os valores sentimentais são exaltados e colocados acima das relações sexuais, consideradas "sujas" e "desprezíveis". Outras vezes é na primeira relação sexual que a frigidez se revela, podendo explicar-se pela inexperiência dos parceiros.

Os tabus

Uma das experiências sexuais mais importantes e memoráveis na vida de um homem é a "primeira relação sexual", sendo por isso causa frequente de ansiedade. Se, no homem, o orgasmo coincide com a ejaculação, na mulher coincide com a contração repetida das paredes da vagina.

O desejo sexual e a excitação na mulher, dependem essencialmente das emoções, nomeadamente do carinho, ternura e atenção manifestadas pelo homem durante o "namoro" que precede a experiência sexual, onde naturalmente se incluem os preliminares. É, por isso muito importante, que o homem se demore a explorar o próprio corpo, bem como o de sua parceira.

Assim sendo, tendo como finalidade obter a máxima satisfação e prazer mútuos, o homem deve procurar partilhar e participar nesta viagem com a sua parceira, especialmente aquando da "primeira vez", dado esta prefigurar, como já referido, uma das experiências mais importantes da sua vida. Porém, tratando-se de um assunto ainda hoje tabu, nem sempre os intervenientes se encontram preparados para as "surpresas" que a experiência pode trazer, daí que o domínio das emoções e os preliminares sexuais, sejam a "chave" do êxito para uma relação satisfatória.

No feminino, o transtorno pode manifestar-se igualmente no pós-parto – especialmente nos de maior complexidade e demora –, em consequência das alterações que podem ocorrer a nível do períneo (algumas mulheres receiam que a cicatriz provocada pela episiotomia rebente durante o ato sexual, retraindo-se e evitando o contacto. Além disso, o novo estatuto de "mãe" pode dificultar a conciliação com o de "amante" e de "mulher ativa". Na depressão pós-parto a ausência de prazer pode prolongar-se normalmente para além dos três meses.

Ao longo da sua vida existe ainda outro período delicado e muitas vezes difícil de encarar pela mulher. A menopausa – frequentemente encarada como um atentado à feminilidade – é para muitas mulheres um fator psicossomático difícil de ultrapassar. Se a vida sexual do casal já antes não era satisfatória, a menopausa só vem agravar o problema, podendo mesmo servir de justificação para pôr termo às relações sexuais e, muitas vezes, ao fim de uma relação de anos.

A situação conflituosa e o stress que daí advém, a perda de um ente querido ou a descoberta de uma doença grave são também períodos sensíveis que podem diminuir a libido da mulher.

Quando a cabeça está sobrecarregada com sentimentos angustiantes e negativos alcançar o prazer é uma tarefa difícil.

Será a frigidez um problema exclusivamente feminino?

Pensar que a frigidez é um problema exclusivamente feminino revela total desconhecimento das consequências deste transtorno. Embora seja uma forma de sofrimento especificamente feminina, o problema afeta os dois membros do casal, que somente através da íntima colaboração entre si, por meio de diálogo aberto e compreensão recíproca, pode conduzir à sua solução.

Qualquer tipo de disfunção sexual de um dos parceiros é da responsabilidade exclusiva do casal, competindo-lhes, por isso, tratá-la. Muitas vezes a frigidez é a defesa psíquica da mulher contra a ausência de certezas do amor e envolvimento do homem. A frigidez reflete os "medos" da mulher perante a "quebra" de admiração e estima por parte do seu companheiro, bem como o receio de abandono ou rejeição a qualquer momento.

Numa relação sexual desastrosa, o impacto é naturalmente diferente para os dois géneros. No homem, o fator "cobrança" pode originar impotência sexual psicológica. Para a mulher o fardo é ainda mais pesado, pois não se trata da falha de desempenho de um órgão mas a reprovação completa do seu ser, aniquilando a sua autoestima.

É difícil determinar o número de mulheres que, pontualmente ou de forma mais prolongada, sofrem de frigidez. Segundo os especialistas em sexologia, cerca de 20 por cento das consultas são motivadas pela incapacidade de atingir o orgasmo. Sabe-se, no entanto, que muitas mulheres silenciam a situação, pelas mais diversas razões.

Algumas admitem simular o prazer durante a relação para evitar que o companheiro seja levado a pensar que não o ama, para não o contrariar, ou então porque sempre assim foi desde o início da relação. Não mudar nada parece ser a solução mais fácil, embora muitas vezes a mais penosa e duradoura.

São reveladores os casos de mulheres que já no outono da vida, perdidos os complexos, refletindo sobre a sua atividade sexual, face à atualidade, referem com alguma nostalgia: "Amei toda a vida o meu companheiro, porém nunca soube o que era um orgasmo"!

Simular não é honesto e não soluciona nada. Para além da frustração da mulher, a longo prazo comporta outros riscos para o casal. Um bom relacionamento sexual é fator preponderante para a manutenção do equilíbrio psicológico de ambos. Quando as relações sexuais se degradam, cada elemento dos pares sofre as consequências, passando a predominar o "sentimento de culpa", que inibe um relacionamento saudável e se reflete em todos os seus atos subsequentes.

A mulher censura-se por não se sentir compelida a responder às carícias do companheiro, e o homem por não ser capaz de a satisfazer. Isto só aumenta ainda mais a angústia, dificultando ou mesmo inviabilizando relações sexuais futuras.

Acima de tudo há que perceber que a frigidez é um problema que não tem um só responsável. Assim, um dos primeiros passos para a sua resolução é descobrir as suas causas e seguir os tratamentos aconselhados pelos profissionais.

Causas e tratamento

As causas das disfunções sexuais podem classificar-se em orgânicas, psicológicas e de origem cultural ou social. A frigidez é normalmente o produto dessas influências, tendo a vertente social um peso muito significativo.

A nível orgânico podem incluir-se as dispareunias, as vulvovaginites, vaginites ou dificuldades de irrigação sanguínea. De salientar igualmente a hiperprolactinémia, responsável pelo incremento de produção da hormona prolactina que inibe por completo a motivação sexual. Os transtornos psiquiátricos crónicos – como a depressão – geram igualmente uma diminuição ou mesmo a ausência de apetite sexual.

A medicação utilizada (por exemplo os antidepressivos ou anti-hipertensores) em algumas doenças contribuem igualmente para a diminuição da libido.

Nos fatores de origem emocional incluem-se as situações traumáticas experimentadas ao longo da vida, como o abuso ou violência sexual, repressões sexuais antigas, e as culpas e ansiedades vinculadas à proibição de sexo.

Os conflitos conjugais, muitas vezes acompanhados de agressão, ausência de respeito mútuo, comunicação e intimidade do casal, ou ainda a monotonia e falta de imaginação conjugal, são outros fatores a considerar. Além disso, por vezes extingue-se a atração ou afeição pelo parceiro escolhido para companheiro.

Entre as causas de ordem cultural ou social, incluem-se a educação, orientação sexual e o temor de uma gravidez indesejada associada à insegurança dos métodos contracetivos.

Os tabus e crendices, as dificuldades do dia-a-dia, a insegurança, a baixa autoestima, o stress, uma excessiva preocupação com o desempenho e o envelhecimento são também fatores a salientar.

Além disso, na atualidade, o casal que trabalha fora de casa não tem tempo para se dedicar aos preliminares indispensáveis à vida sexual, que facilitem e propiciem o ambiente de intimidade e estímulo sexual adequados.

Só a identificação da causa, ou causas, pode levar ao tratamento e cura. Apesar de não existirem ainda medicamentos para o tratamento desta disfunção sexual, a ciência tem avançado no estudo da sexualidade da mulher com vista a melhorar o seu bem-estar e qualidade de vida.

A ciência tem vindo a anunciar que o viagra, utilizado na terapêutica da impotência masculina, poderia igualmente ajudar as mulheres a atingir o clímax. No entanto, as mulheres têm mais facilidade em atingir esse estado de prazer, que os homens. Para as ajudar, a ciência tem de ser capaz de resolver mais que o problema, quase mecânico, da lubrificação. Por isso, a maioria dos tratamentos disponíveis no mercado visam precisamente as alterações hormonais que podem comprometer a satisfação da feminina.

Sabe-se que a produção de testosterona e estrogénio pelo organismo, diminui na menopausa. Portanto, a medicina tem procurado compensar estes desequilíbrios hormonais e a indústria farmacêutica e laboratórios, trabalham no desenvolvimento de métodos cada vez mais eficientes, capazes de repor o que está em falta.

Não são raros os casos de frigidez em doentes diabéticas ou com problemas de ordem neurológica, cuja medicação passa pelos tranquilizantes. Nestes casos é indispensável a supressão do medicamento responsável pelo transtorno e a alteração da medicação.

A maioria absoluta dos casos de frigidez deve-se a fatores de ordem psicológica ou social. Aqui o melhor caminho a seguir é o acompanhamento psicoterapêutico da mulher e a terapia do casal. É necessário avaliar as áreas comprometidas no relacionamento – emoção, cognição ou comunicação –, e depois identificar os fatores determinantes, procedendo ao afastamento das condições interferentes e das situações que possam estar a prejudicar a libido feminina.

O primeiro passo para a solução do problema é o diálogo franco e permanente com o cônjuge, sem restrições de qualquer índole, pois muitas vezes a monotonia conjugal e a rotina são os grandes responsáveis por este transtorno. Uma mudança de hábitos ou estilo de vida –
- ambientes novos, fantasias sexuais – contribuem para uma vida sexual mais ativa e positiva.

O sexo deve ser entendido como um momento mágico entre o casal, em que as preocupações e ansiedade devem estar ausentes. Deve por isso aproveitar-se ao máximo esse lapso de tempo a dois, investindo nos preliminares, para que o desejo sexual aflore de forma natural. Fazendo do ato sexual um momento relaxante, certamente os dois parceiros irão querer repetir a experiência mais vezes!

Um aspeto muito importante para a resolução das dificuldades é "dar tempo ao tempo". Nada é inultrapassável. Uma conversa aberta e sincera, falando dos "medos", das "inseguranças" e das "frustrações" de cada um, e o querer estar sempre com o outro ajudando-o a ultrapassar os seus conflitos pessoais, é a chave para uma vida feliz e plena a dois.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
13 de Fevereiro de 2024

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