PSORÍASE CONHECER PARA DESMISTIFICAR

PSORÍASE CONHECER PARA DESMISTIFICAR

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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A pele é o maior órgão do corpo humano, constituindo 15 por cento do peso corporal. Cobre quase todo o corpo, à excepção dos orifícios alimentares, olhos e as superfícies mucosas genitais sendo, por isso, afectada pelo maior número de doenças.

De entre as várias doenças que afectam a pele, uma das mais comuns e provavelmente das mais desconhecidas é a psoríase. Trata-se de uma doença milenar, muito frequente, de causas desconhecidas e comum em pessoas da mesma família. É uma doença crónica incurável, não contagiosa, podendo ser tão discreta que nem o próprio paciente se apercebe que sofre da doença.

Afecta um a três por cento da população mundial (cerca de 190 milhões de pessoas) tanto homens como mulheres. Pode surgir em qualquer idade embora se manifeste na faixa etária entre os 20 e 40 anos e vai evoluindo ao longo da vida com períodos de melhoria e agravamento.

Os motivos que causam a doença ainda não estão totalmente esclarecidos. Investigações científicas demonstram que em 30 por cento dos casos a origem tem uma base genética. No entanto, outros factores são de considerar, como o stress emocional, traumas ou irritações na pele, infecções na garganta, baixa humidade do ar ou mesmo alguns medicamentos.

A doença caracteriza-se pelo aparecimento de manchas ou placas vermelhas no corpo com uma descamação intensa. As principais áreas afectadas são os joelhos, cotovelos, couro cabeludo e o dorso. A pele fica inflamada, muito vermelha ou rósea e com um aspecto espesso como escamas esbranquiçadas. O eritema, a descamação, e as placas ocorrem quando o sistema imunitário provoca a renovação demasiado rápida de células da pele.

O desencadear desta reacção imunitária pode incluir lesões físicas ou infecções, alergias, determinadas doenças, e stress emocional. Algumas pessoas sentem muita comichão (entre 60 a 70 por cento dos casos) enquanto outras não. Em termos de gravidade, a doença também varia muito de pessoa para pessoa.

O diagnóstico é feito pelo dermatologista através de exame à pele, unhas e couro cabeludo do paciente. Como se trata de uma doença que não se manifesta nos órgãos internos, os exames laboratoriais são de pouca utilidade. Em caso de dúvida, o especialista recorre a análise através de uma biopsia da pele.

Tipos de Psoríase

Existem vários tipos de psoríase, que se classificam de acordo com o seu espectro clínico. No entanto, o mais comum é a psoríase em placas ou psoríase vulgar, que representa a maioria dos casos da doença. Neste tipo de psoríase as lesões apresentam relevo, vermelhidão e estão cobertas por uma escama prateada.

O número, extensão e dimensão das lesões varia entre os doentes e de acordo com as diferentes fases de evolução da doença. São principalmente os cotovelos, joelhos, a região lombar e o couro cabeludo as zonas mais afectadas e, nos casos mais graves, estas lesões podem cobrir extensas áreas do corpo.

A psoríase gutata afecta principalmente crianças e jovens, muitas vezes em consequência de uma rinofaringite, faringite ou amigdalite, e é menos frequente que a psoríase vulgar. Manifesta-se geralmente de forma súbita sendo as lesões pequenas, redondas e disseminadas, em forma de gota, nos membros e tronco.

Este tipo de psoríase pode desaparecer definitivamente após o primeiro episódio ou evoluir para psoríase vulgar.

A psoríase inversa deve o seu nome à localização "inversa" das lesões cutâneas. As lesões situam-se nas pregas, ou seja, nas axilas, virilhas e na região infra-mamária. Apresentam a mesma coloração avermelhada que as anteriores mas são brilhantes e sem escamas. Esta diferenciação no aspecto por vezes dificulta o diagnóstico da doença.

O tipo de psoríase considerada mais grave é a psoríase eritrodérmica devido ao risco de desenvolvimento de complicações. Nestes doentes a pele de toda a superfície corporal adquire um aspecto vermelho e inflamado.

A psoríase pustular afecta menos de dez por cento dos pacientes. Pode surgir como uma complicação da psoríase em placas, em consequência da toma de alguns medicamentos ou pela sua abrupta interrupção. Estas lesões caracterizam-se pelo aparecimento de pústulas ou pequenas "bolhas" cheias de pus. A mais frequente é a pustulose palmoplantar, surgindo as lesões sobre um fundo avermelhado nas palmas das mãos e plantas dos pés, por vezes com grande descamação e fissuras dolorosas.

Além de ser de difícil tratamento, esta forma de psoríase é acompanhada de sintomas como febre e mau estar, entre outros, havendo um risco elevado de desenvolvimento de complicações, algumas das quais potencialmente fatais.

Tratamentos disponíveis

Quando se pensa em tratamento deve ter-se em conta que um doente cuja psoríase se inicia aos 20 ou 30 anos de idade tem pela frente mais 40 a 60 anos de vida, durante os quais terá de mantê-lo, por períodos que podem ser mais ou menos longos.

Actualmente não existe uma cura permanente para a doença mas pode obter-se uma remissão satisfatória das lesões e placas através de uma vasta gama de medicamentos. Como todos os doentes lidam com a doença de maneira diferente, a escolha da terapia deve basear-se no diálogo entre o médico e doente.

Estão disponíveis tratamentos sistémicos e tópicos, que por vezes se podem combinar. Os tratamentos tópicos constituem os de primeira linha. Entre os estes pode referir-se a associação de calcipotriol e betametasona (combinação de um análogo de vitamina D3 com um corticosteróide). Foi concebido para pessoas com psoríase vulgar ligeira, moderada ou grave, cuja área afectada não seja superior a 30 por cento da superfície corporal total e está disponível sob a forma de pomada, devendo aplicar-se uma vez ao dia, produzindo uma acção rápida e eficaz.

O calcipotriol é utilizado para a psoríase vulgar e actua através da desaceleração da hiperproliferação de queratinócitos e das alterações imunitárias na pele psoriásica. Deve aplicar-se duas vezes por dia e, após 8 semanas, cerca de 70 por cento dos doentes experimentam remissão parcial ou mesmo total.

Uma forma de tratamento muito antiga é o alcatrão mineral. É possível encontrá-lo nos champôs para a psoríase ligeira do couro cabeludo. Desconhece-se o seu exacto mecanismo de acção mas o alcatrão mineral torna a pele mais sensível à luz podendo desacelerar a rápida proliferação de queratinócitos. Além disso reduz a inflamação, o prurido e a descamação da pele. As melhoras são notadas em poucas semanas, mas pode demorar cerca de dois meses até se alcançarem os benefícios máximos pretendidos.

 Os corticosteróides (também denominados esteróides) são utilizados normalmente na psoríase ligeira a moderada. Embora tenham uma acção rápida, a sua segurança no tratamento a longo prazo não foi estudada.

Os emolientes, óleos para banho e duche hidratam a pele e ajudam a sarar além de manterem a pele limpa e isenta de psoríase.

Frequentemente combinado com outros produtos tópicos utiliza-se também o ácido salicílico para aumentar o efeito daqueles. É um queratolítico que está presente em champôs, sabonetes, loções e geles, cuja principal função é a remoção eficaz das escamas.

Nos tratamentos tópicos é também utilizado o tazaroteno. Trata-se de um retinóide tópico, derivado da vitamina A, utilizado para tratar a psoríase em placas, ligeira a moderada e actua, tal como algumas das opções anteriores, através da desaceleração da hiperproliferação de queratinócitos.

Os tratamentos sistémicos são administrados, nomeadamente, sob a forma de comprimidos, injecção e fototerapia. Este tipo de tratamentos afecta todo o organismo e, por essa razão, são utilizados apenas nas formas graves da doença.

Entre os vários tipos de medicação sistémica disponíveis podem citar-se as terapias biológicas. Os agentes biológicos são desenvolvidos a partir de fontes vivas que actuam no sistema imunitário, defendendo as proteínas e células, da psoríase.

São administradas até as placas desaparecerem e normalmente em dois períodos de dois meses consegue alcançar-se uma taxa de sucesso entre 40 e 60 por cento.

A ciclosporina é um fármaco imunossupressor e antifúngico que desacelera o crescimento da pele ao evitar alguma da actividade do sistema imunitário. É normalmente utilizado nos casos mais graves em que outras terapias falharam. Mais de 90 por cento dos doentes registam uma remissão com a utilização desta substância.

No que respeita à fototerapia, não se sabe exactamente como a luz actua na pele. O que é certo é que a luz natural e as diferentes formas de tratamentos ultravioleta (UV) melhoram as áreas atingidas pela psoríase, particularmente nos casos moderados a graves, em que a doença resiste aos cremes e pomadas tópicas.

Este tratamento é normalmente administrado em clínicas dermatológicas. Existem três tipos de tratamento UV – o tratamento UVB, o tratamento PUVA e o tratamento UVB de banda estreita, ou fototerapia a laser.

Com a função de desacelarar o crescimento das células cutâneas e suprimir a acção do sistema imunitário existe o metotrexato (MTX). Trata-se de um fármaco citotóxico para o tratamento do cancro, que também foi aprovado para esta doença, nos anos 70. Pode ser administrado oralmente ou por injecção. Na sua administração há que ter em atenção o historial clínico do doente.

Os retinóides orais, derivados da vitamina A, regulam o crescimento e a descamação das células cutâneas na superfície da pele. Actuam também através da normalização do crescimento dos queratinócitos, sendo úteis no tratamento das formas graves da doença quando não houve resposta a outras terapias.

Em termos de investigação

Cientistas por todo o mundo trabalham em várias vertentes de investigação com base nas vantagens da biologia molecular, com o objectivo de identificar os factores genéticos e imunitários envolvidos no aparecimento e progressão da doença.

Já se sabe que os neutrófilos polimorfonucleares estão envolvidos nas reacções inflamatórias da pele psoriática mas, para além dos polimorfos e dos linfócitos T, estão envolvidos igualmente os fibroblastos e as células endoteliais. Por esta razão, os cientistas dedicam-se também ao estudo das alterações nos mensageiros moleculares que perturbam a comunicação entre as células, na psoríase.

No futuro as terapias moleculares poderão tornar-se mais precisas e provocar menos efeitos secundários. São vários os medicamentos actualmente objecto de ensaios clínicos e que utilizam um determinado número de moléculas com um efeito específico na inibição dos linfócitos T.

Um dos tratamentos recentemente aprovado pela Comissão Europeia para o tratamento da doença foi a substância adalimumab – primeira e única terapêutica biológica semelhante ao metotrexato. É indicado para o tratamento da psoríase em placas, moderada a grave, tratando-se do primeiro anticorpo monoclonal totalmente humano. É mais uma opção disponível para os dermatologistas numa tentativa de melhorar a qualidade de vida destes doentes.

Impacto psicológico e emocional

O diagnóstico de psoríase pode provocar uma série de emoções, desde o choque, à confusão e revolta. A depressão e baixa auto-estima são comuns entre estes pacientes pois as lesões na pele fazem senti-los social ou sexualmente não atractivos. Algumas pessoas sentem vergonha do seu corpo e acabam por "fechar-se" em casa de modo a evitar contactos sociais. No trabalho sentem-se inseguras devido à aparência da sua pele.

Mostrar as mãos em público, mudar de roupa próximo de colegas em balneários ou simplesmente vestir uns calções e uma t-shirt são algumas situações evitadas pelos doentes, incluindo no local de trabalho.

As idas à praia ou à piscina são as situações mais complicadas para os doentes. Tanto a vida sexual como as relações familiares são afectadas e, no que respeita ao absentismo laboral, a maioria dos doentes chega a faltar ao trabalho até vinte dias por ano devido à doença.

Sentimentos como a vergonha adicionam stress ao dia-a-dia, sendo este um dos factores que contribui para o agravamento da psoríase. Entra-se deste modo num ciclo vicioso.

Psoríase em Portugal

Em Portugal estima-se que a doença afecte cerca de 250 mil pessoas. Não é contagiosa, apresenta um curso imprevisível, pode ser resistente ao tratamento, tendo taxas de suicídio superiores às de doentes com cancro. Neste contexto o apoio psicológico é fundamental pois os doentes tendem a abandonar o tratamento quando os resultados não correspondem às suas expectativas.

Formalmente instituída em Fevereiro de 2005, a PSO Portugal – Associação Portuguesa da Psoríase lutou para que esta doença tivesse sido reconhecida como doença crónica e incapacitante e para que os medicamentos fossem comparticipados. A Lei nº 6/2010, de 7 de Maio, veio finalmente consagrar aquela pretensão, tendo incluído os medicamentos para o tratamento da psoríase no escalão A de comparticipação.

Entre os vários objectivos, esta associação promove regularmente campanhas para alertar, despertar e sensibilizar a sociedade para a discriminação social e profissional de que são alvo os doentes de psoríase.

Não podemos esquecer que nenhum tratamento funciona da mesma forma para todos os doentes. Importante é encontrar um tratamento que funcione melhor para cada caso particular de forma a alcançar uma melhoria da qualidade de vida.

Como em qualquer outra doença, quanto mais se conhecer mais se pode fazer. Aprender a viver com a psoríase vai ajudar o paciente a sentir-se melhor consigo mesmo e com os que o rodeiam.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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