Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), a expectativa de vida do ser humano no planeta, aumentou 5 anos no período de 2000 a 2015, mas no entanto subsistem enormes desigualdades entre os vários países e regiões. Para esta melhoria muito têm contribuído as modernas técnicas e equipamentos de diagnóstico, hoje acessíveis em praticamente todos os países desenvolvidos mas com oferta ainda muito limitada ou deficiente em países mais pobres ou em via de desenvolvimento.
Em 2015 existiam 12 países com expectativa de vida superior a 82 anos e 22 com esse indicador em menos de 60 anos, localizados sobretudo no continente africano, sendo por isso necessário impulsionar a cobertura universal da saúde básica em todos os países a fim de que "ninguém seja deixado para trás", segundo palavras da diretora-geral da organização Margaret Chan. Nos extremos, estão o Japão com um média de vida de 86,8 anos para as mulheres e a Serra Leoa com a menor expectativa de vida (49,3 anos), para os homens.
Têm sido feitos enormes progressos em todo o mundo, na redução do sofrimento e mortes prematuras decorrentes de doenças tratáveis que, com os meios adequados, podiam ser evitadas. No entanto os condicionamentos económicos e financeiros dos países e instituições, as guerras, as dificuldades de acesso a técnicas mais sofisticadas de diagnóstico e aos medicamentos, limitam a possibilidade de acesso aos cuidados de saúde através de rastreios, exames médicos regulares ou check-up e à prevenção.
Evolução da medicina humana
Nos seus primórdios, a medicina humana baseava-se em práticas religiosas e mágicas, para tentar lutar contra a doença. O temor da morte e das enfermidades fez com que o homem se interessasse pela natureza da vida em si mesma. Sem nada poder fazer, observou os seus semelhantes serem destruídos por forças cuja origem desconhecia.
Existia a convicção de que a morte e as doenças eram obra do demónio e que as coisas boas e que proporcionavam prazer provinham de divindades gentis e generosas. Outros fenómenos, como tempestades, escuridão, noites sem lua e eventos similares, eram associados ao demónio.
Surgiram então os feiticeiros que possuíam conhecimento das estrelas e das propriedades curativas de ervas e venenos, que acalmariam os demónios. Assim, o início da medicina foi de magia e as suas práticas instintivas e empíricas.
Um dos passos mais importantes na evolução histórica da medicina foi a medicina hipocrática (séc. V a.C.), que isolou esta área do conhecimento da prática mágica, religiosa e empírica, estabelecendo-a como um conhecimento técnico. Hipócrates marca o fim da medicina mítico-teúrgica (baseada em magia), e o início da observação científica dos factos clínicos.
Com Hipócrates nasceu a observação clínica, incluindo a história da doença que leva o doente a procurar o médico, e o exame físico detalhado do paciente em busca de dados para a formulação do diagnóstico e prognóstico.
Foi o primeiro a usar o vocábulo diagnóstico, que significa discernimento, (do prefixo dia, através de, e gnosis, conhecimento). Diagnóstico, significa, portanto, discernir pelo conhecimento.
Inicialmente, o médico dispunha apenas dos sentidos para examinar o paciente. Através da visão observava o enfermo, com o tato realizava a palpação e tomava o pulso, com a audição ouvia as suas queixas e ruídos anormais, e com o olfato podia sentir odores característicos.
Segundo o "pai da medicina", o exame clínico deve começar pelas coisas mais importantes e facilmente reconhecíveis, como as semelhanças e diferenças com o estado normal de saúde. Observar tudo o que se pode ver, ouvir, tocar, sentir e reconhecer pelos meios de conhecimento adquiridos.
Para além do doente, examinava-se também o material que excretava, especialmente a urina. O exame macroscópico da urina, designado uroscopia, foi largamente utilizado até ao séc. XVIII. Igualmente importante era o exame de pulso, tendo sido descritas por Galeno (séc. II d.C.) vinte e sete variedades.
No séc. XVIII o exame físico foi aperfeiçoado com a percussão do tórax, introduzida por Auenbrugger e divulgado em França por Corvisant. No séc. XIX a semiótica foi enriquecida pela descrição de sintomas e sinais característicos de muitas doenças e pela idealização de manobras e técnicas especiais de exame. Foram descritos centenas de sinais identificadores de doenças, que passaram a ser conhecidas pelos nomes dos que as investigaram. Os médicos do séc. XIX primavam pelo esmero na observação clínica.
A tecnologia no diagnóstico médico
A instrumentação médica teve início em 1816, com a invenção do estetoscópio por Laennec. No seu início, o modelo biauricular atual não passava de um tosco tubo de madeira.
Seguiu-se a termometria. Embora o termómetro fosse conhecido desde o século XVII, a sua utilização como instrumento para medir a temperatura corporal data de 1852, quando Traube e, a seguir, Wunderlich, na Alemanha, introduziram o gráfico de temperatura ou curva térmica, que permitiu a caracterização dos vários tipos de febre.
A medida indireta da pressão arterial só se tornou possível a partir de 1880, quando von Basch, na Alemanha, idealizou o primeiro aparelho, uma bolsa de borracha cheia de água ligada a uma coluna de mercúrio ou a um manómetro. Em 1896, um médico italiano, Riva-Rocci, substituiu a bolsa por um manguito de borracha e a água por ar. Só foi possível medir a pressão diastólica, 9 anos mais tarde quando um jovem médico russo, Nikolai Korotkov, descobriu os sons que eram produzidos durante a descompressão da artéria.
No final do séc. XIX o médico já dispunha dos três instrumentos básicos utilizados no exame do doente. Além desses três instrumentos, outros acessórios foram adicionados à sua maleta, como o oftalmoscópio, abaixador de língua, otoscópio, rinoscópio, martelo de reflexos e outros.
Por sua vez, o aperfeiçoamento do microscópio deu origem à microbiologia, permitindo identificar os agentes patogénicos de muitas doenças. A microscopia veio revelar a estrutura celular dos seres vivos e permitir a identificação das alterações patológicas dos tecidos produzidas pelas doenças.
Porém, a tecnologia médica propriamente dita só se desenvolveu no decurso do século XX, com o diagnóstico por imagem, endoscopia, métodos gráficos, exames laboratoriais e provas funcionais.
Considera-se como marco inicial da era tecnológica a descoberta dos raios-X, por Roentgen, em 1895. Pressentia-se que algo de extraordinário fora descoberto e previa-se uma nova fase para a medicina, o que efetivamente ocorreu.
Aos raios-X seguiram-se outros métodos de obtenção de imagem, como a cintilografia, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, e mais recentemente, a tomografia por emissão de positrões (PET) e gamagrafia.
A endoscopia foi outra grande conquista. A história deste exame compreende quatro períodos: das válvulas e espéculos, até o século XVIII; dos endoscópios rígidos, de 1805 a 1932; dos endoscópios semiflexíveis, de 1932 a 1957, e dos endoscópios flexíveis, a partir de 1958. Estes foram por sua vez ultrapassados 20 anos mais tarde pela vídeo-endoscopia.
Os métodos gráficos passaram para o domínio do diagnóstico clínico, inicialmente com a eletrocardiografia, e posteriormente, com a eletroencefalografia, manometria, eletromiografia, e outros exames complementares.
A contribuição do laboratório para o diagnóstico clínico é imensa. Vai da hematologia à bioquímica, imunologia e provas funcionais, e todos os dias são acrescentados novos exames e novas técnicas de alta sensibilidade aos recursos auxiliares do diagnóstico clínico.
Nos últimos anos assistimos, maravilhados, às novas conquistas da tecnologia médica, com a introdução dos raios Laser, dos computadores, da robótica, da manipulação genética e da clonagem de seres vivos. Todo este avanço tecnológico mudou a face da medicina e trouxe evidentes benefícios à humanidade.
Durante séculos, praticamente todo o esforço da medicina esteve voltado para o tratamento das doenças. Surgiram medicamentos revolucionários, foram inventadas técnicas cirúrgicas altamente complexas e a qualidade de vida dos doentes melhorou. No entanto, percebeu-se que o mal só poderia ser combatido de forma realmente eficaz se fosse tratado precocemente.
Em virtude dessa mudança conceptual, na última década, um dos campos da medicina que mais cresceu e ganhou importância foi o da prevenção. E foi esta nova medicina preventiva que colocou em evidência a importância dos check-up médicos.
Check-up, uma oportunidade para mudar
É fácil entender a importância de um check-up – termo utilizado para definir o exame médico completo, com análises laboratoriais e radiológicas regulares, para detecção ou despistagem de eventuais doenças ou problemas de saúde. Se uma doença é detetada no seu início, as hipóteses de tratamento e cura são maiores.
O conjunto de exames que todos os doentes conhecem pela expressão inglesa check-up tornou-se popular a partir de 1960. No auge do programa espacial norte-americano, os astronautas precisavam de ser avaliados com rigor. Para isso, deviam submeter-se a uma bateria de exames físicos e psicológicos que validassem a sua aptidão para enfrentar as exigentes condições no espaço.
No final dessa década, o check-up já era indicado pelos médicos para os doentes em geral. Na época, contudo, os exames não eram feitos com a intenção de descobrir e prevenir doenças como hoje acontece, mas apenas para auxiliar o médico a estabelecer o diagnóstico correto, principalmente quando surgiam dúvidas sobre o quadro de determinado paciente. E se há alguns anos o ideal era proceder a inúmeros exames para "cercar" as possíveis mazelas por todos os lados, atualmente vigora a ideia de um check-up personalizado.
O profissional de saúde só estabelece a lista de exames a realizar após uma minuciosa consulta clínica e avaliação criteriosa do historial médico, tendo em atenção a idade, sexo, atividade profissional e estilo de vida de cada paciente. Nos últimos 20 anos os exames tornaram-se menos invasivos, fornecendo dados com maior precisão e fiabilidade.
Em resultado de vários estudos epidemiológicos e das mudanças do estilo de vida da sociedade, muitos médicos consideram importante o início de exames regulares, em adultos saudáveis, a partir dos 35 anos de idade.
As doenças cardiovasculares, causadas pelo stress, sedentarismo, tabagismo e alimentação inadequada encabeçam a lista de causas para a elevada taxa de mortalidade, com tendência a atacar cada vez mais precocemente vítimas de ambos os sexos.
Assim, se não aos 35 anos, é vital que a partir dos 40 anos as pessoas se submetam aos exames indicados pelos seus médicos, com regularidade, normalmente o clínico geral e urologista para os homens e o ginecologista para as mulheres.
O check-up é personalizado, variando os exames em função do perfil de cada paciente.
Alguns porém, são básicos. Uma simples colheita de sangue fornece resultados de vários testes que podem indicar a presença de distúrbios, como é o caso do exame ao ácido úrico, urina, ureia, creatinina, bilirrubina, TGO/TGP, Gama GT, TSH, fosfatase alcalina, amilase, colesterol (HDL, LDL e total), triglicéridos, glicemia, proteína C reativa (PCR), grupo sanguíneo, hepatite B, hepatite C e HIV.
Fazem também parte do conjunto "tradicional" de exames dirigidos a ambos os géneros, o eletrocardiograma simples, vulgarmente conhecido como ECG, e o teste ergométrico com prova de esforço, ecodopplercardiograma, radiografia ao tórax, popularmente conhecida por raio-X, provas de função pulmonar, como a espirometria, a osteodensitometria e colonoscopia.
Para ambos os géneros, as áreas da otorrinolaringologia, oftalmologia, dermatologia, estomatologia e medicina dentária também devem ser controladas com regularidade.
Para avaliar a saúde da mulher, além do diagnóstico clínico esta deverá submeter-se também a observação ginecológica para a realização regular de exames como o Papanicolau ou citopatológico cérvico-vaginal, ultrassonografia transvaginal, ecografia mamária e mamografia.
O género masculino também tem necessidades específicas de check-up. Do ponto de vista urológico, os principais exames de controlo são o toque retal e o PSA mas, exames à testosterona, SHBG, albumina, prolactina, FSH e LH não devem ser ignorados.
A periodicidade na realização do check-up deve ser adequada ao perfil do paciente que a influencia e, dependendo de cada caso particular, o clínico poderá marcar as consultas a intervalos de um a dois anos ou, em alternativa, a cada seis meses.
Frases como "para quê ir ao médico se me sinto bem?" ou então "quanto mais se procura, mais se acha… é melhor ficar sossegado" são comuns em pessoas dos diversos níveis sociais. Porém, evitar a realização de um check-up, inventando desculpas por recear a ida ao médico ou achar que só se deve procurar apoio profissional quando uma condição de saúde se instala, é um erro. Pelo contrário, um check-up pode até ser uma oportunidade para mudar o rumo de vida.
A ida ao médico para consulta deve tornar-se uma rotina na vida das pessoas. Com a sua capacidade de pensar, perguntar, ouvir, sentir, olhar, tocar e examinar, o doente ainda é o instrumento de diagnóstico mais poderoso que possuem (e por vezes, já terapêutico …).
Não restam dúvidas de que as avançadas ferramentas tecnológicas atuais, possibilitam cada vez mais informações importantes e decisivas mas só válidas se usadas com inteligência e sensibilidade.
O exame físico, ou melhor, o exame do paciente continua indispensável. Um dos ícones da medicina moderna e um maiores clínicos de sempre, Sir William Osler, dizia mesmo que "a medicina deve começar com o paciente, deve continuar com o paciente e terminar com o paciente".
Quando se trata da nossa saúde e bem estar, não se deve ficar pelos planos, eles devem ser levados à prática! Incluir na agenda pessoal uma consulta anual de rotina, principalmente quando se tem mais de 40-50 anos, para deteção atempada de uma doença, por vezes silenciosa, pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Para desfrutar a vida sem preocupações, vigiar antes de remediar!
A coenzima Q10 é uma benzoquinona presente em praticamente todas as células do organismo humano, que participa nos processos de produção de ATP (trifosfato de adenosina).
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
Face ao esperado agravamento das condições climáticas, torna-se necessário estar precavido e saber cuidar da pele, primeira linha de defesa do nosso corpo contra as intempéries.
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