OFTALMOLOGIA

OFTALMOLOGIA

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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A oftalmologia ocupou sempre um lugar privilegiado na história da medicina devido à sua importância e ao desconhecimento do funcionamento do órgão da visão. A ignorância levou a que, durante décadas, lhe fossem atribuídos poderes mágicos, benéficos ou nefastos. Os avanços da medicina proporcionaram o conhecimento e mostraram o verdadeiro poder da visão, a possibilidade de abrir os olhos e ver o mundo.

Um olhar ao longo do tempo

A oftalmologia foi uma das primeiras áreas da medicina a ser encarada como uma especialidade independente.

As primeiras descrições anatómicas do olho datam da Grécia antiga. A cultura árabe também deu grande relevo a esta disciplina, sendo na altura de vital importância a obra Dez tratados sobre o olho, de Hunayn ibn Ishaq, no século IX. Porém, só a partir do século XVII, após a descoberta das características da refracção ocular, nomeadamente da acomodação e da inversão da imagem da retina, os progressos começaram a ser visíveis.

No século seguinte assistiu--se ao aparecimento de vários e importantes tratamentos oculares, desde a descoberta da localização da catarata (no cristalino), à realização do primeiro cateterismo das vias lacrimais – Dominique Anel, 1714 – e da primeira intervenção cirúrgica para corrigir o estrabismo – John Taylor, 1737. Também neste século foram descritas, pela primeira vez, algumas deficiências visuais como o glaucoma (1750), a cegueira noturna (1767), a cegueira para as cores (1794) e, já no século XIX, o astigmatismo (1801).

A descoberta de Hermann Von Helmholtz – o oftalmoscópio – foi de extrema importância, pois permitiu estabelecer a ponte entre as deficiências visuais e as patologias internas.

Já a primeira metade do século XX foi marcada por descobertas na área cirúrgica, como a correcção do deslocamento da retina, e pela invenção de uma lâmpada que possibilitou a observação microscópica dos componentes anteriores do olho – córnea, íris, entre outros.

A segunda metade do século foi marcada pela descoberta de novos meios de diagnóstico – como o eletrorretinograma, a ecografia, a gonioscopia e a tonografia electrónica – e pelos avanços ocorridos na área da prevenção das doenças, quer através da realização regular de exames, quer através do tratamento precoce de patologias visuais congénitas.

Apesar de muitas perguntas ainda permanecerem sem resposta, actualmente, a oftalmologia moderna conta com avançadas técnicas microcirúrgicas, como a queratoplastia e a goniotomia, com técnicas cirúrgicas correctivas que recorrem à ecografia e aos raios laser e com técnicas de colocação de lentes acrílicas na córnea. Estes avanços tecnológicos tornaram possível a prevenção e o tratamento de doenças que no início do século eram consideradas incuráveis.

Problemas e doenças oculares

Um olho completamente normal, ou emétrope, consegue fixar e focar sobre a retina imagens até seis metros. Uma correcta focalização da imagem depende do poder de refracção do cristalino e a sua percepção é condicionada à capacidade de curvatura que possui.

Alterações a esta normalidade ocular são consideradas ametropias. Muitas destas não são consideradas doenças, como os defeitos refractivos – miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia –, que na maioria dos casos podem ser corrigidos através do uso de um simples par de óculos ou de lentes de contacto. Apenas em casos raros é necessário o recurso à cirurgia.

Os defeitos refractivos são considerados os problemas visuais mais comuns, sendo causados por um conjunto de alterações ao nível da focagem das imagens.

Na miopia a imagem é focada à frente da retina e o indivíduo tem dificuldade em ver ao longe. Um olho míope é mais propenso ao desenvolvimento de algumas doenças oculares graves, como o glaucoma e o descolamento da retina. A hipermetropia caracteriza-se pela dificuldade em ver ao perto. É uma condição que provoca fadiga ocular e dores de cabeça, por ser exigido aos olhos um aumento da focagem. Já o astigmatismo resulta, na maioria dos casos, de uma desigualdade na curvatura córnea, causando uma distorção na visão. A presbiopia, ou vista cansada, deve-se à perda de elasticidade progressiva do cristalino, associada à idade.

Existem deficiências visuais que resultam da disfunção do movimento ocular. Na maioria dos casos são congénitas ou associadas a alterações dos músculos oculares. A pertubação mais frequente é o estrabismo, no qual os olhos podem estar desviados para dentro, para fora, para cima ou para baixo. Este pode ser constante ou surgir apenas em determinados momentos. Se a patologia for congénita, é necessário tratá-la precocemente. Um tratamento tardio poderá significar a diminuição da acuidade visual num dos olhos.

As cataratas, o glaucoma, a retinopatia diabética e a degenerescência macular, em ambas as formas, são consideradas patologias oculares graves, na medida em que podem levar à cegueira.

A catarata caracteriza-se por uma alteração da transparência do cristalino. Resulta, frequentemente, do envelhecimento do órgão, mas também pode ser de origem congénita ou consequência de traumatismos, doenças crónicas da vista e doenças sistémicas, como a diabetes. A facoemulsificação – cirurgia realizada através de microincisões com ultra-som – é a mais recente forma de tratamento. Durante a cirurgia é removida parte do cristalino doente (opacificado) e implantado um cristalino artificial.

O glaucoma pode resultar da subida da tensão ocular, que conduz a uma morte lenta e progressiva do nervo óptico. Esta doença é, inicialmente, assintomática. Apenas numa fase já avançada, quando o nervo óptico já sofreu lesões graves e irreversíveis, o doente irá sentir alterações na visão. Dependendo da gravidade e do tipo de glaucoma, esta patologia pode ser tratada através de fármacos indicados para baixar a pressão ocular ou através de cirurgia, como, por exemplo, a trabeculoplastia-laser, a goniotomia, entre outras.

A retinopatia diabética é uma manifestação ocular da diabetes. O aumento dos níveis de açúcar no sangue causa alterações nos vasos sanguíneos da retina no interior do olho, sangrando facilmente para a retina. Nestes casos, pode igualmente ocorrer um desenvolvimento de vasos anormais na retina. Também estes vasos, muito frágeis, deixam perder sangue, conduzindo à formação de tecido fibroso, repuxando a retina. Para evitar a cegueira é necessário controlar a glicemia. Num estádio mais avançado poder-se-á recorrer aos tratamentos a laser.

A degenerescência macular (relacionada com a idade) resulta da deterioração da mácula. Esta patologia afecta as pessoas idosas e pode ter duas formas: atrófica (seca) e exsudativa (húmida). Na maioria das vezes, ambas as formas afectam os dois olhos em simultâneo. Actualmente pode recorrer-se à terapia fotodinâmica com verteporfina, uma das mais avançadas, que se caracteriza pela oclusão dos vasos anormais, eliminando o derrame sem lesionar a retina, como ocorre na fotocoagulação a laser, cuja taxa de sucesso é de 1 para 6.

A oftalmologia também abrange o tratamento das afecções dos anexos oculares, como o aparelho lacrimal, as pálpebras e a conjuntiva.

A importância da prevenção

Prevenir é sempre o melhor remédio. Um indivíduo saudável deve consultar o médico antes de completar vinte anos e dois anos antes de entrar na escola. Alguns especialistas defendem até que o primeiro exame oftalmológico deve ser realizado aos seis meses. Os adultos saudáveis deverão procurar um oftalmologista entre os 20 e os 40 anos. Após os 40 anos, devem consultar o médico de dois em dois anos.

Olhar directamente para o sol pode danificar a visão. É, por isso, aconselhável o uso de óculos de sol e de protecção eficaz contra os raios UV-A e UV-B. Também é completamente desaconselhável a utilização de pomadas oftálmicas ou colírios usados por outras pessoas, pois são fonte de transmissão de doenças.

De olhos postos no futuro

Em Portugal cerca de 4 milhões de pessoas sofrem de doenças oculares e 700 mil destas apresentam baixa acuidade visual não passível de correcção com lentes. Destas, 40 mil são cegos e metade têm menos de 65 anos.

Tendo como pano de fundo este panorama, a Fundação Champalimaud, inaugurada no final de 2004 para "apoiar investigação em áreas de ponta, estimular descobertas que beneficiem pessoas e patrocinar novos padrões de conhecimento", estabeleceu um acordo com o L.V. Prasad Eye Institute – "um dos mais reputados centros de investigação translacional na área da visão, nomeadamente na utilização com sucesso de células estaminais no tratamento de doenças dos olhos" – que irá tornar possível a criação do C-TRACER (Champalimaud-Translational Centre in Eye Research), localizado em Hyderabad, na Índia.

O C-TRACER irá ter como prioridade o estudo baseado em células estaminais para tratar doenças oculares, a investigação translacional recorrendo às actuais e potenciais metodologias clínicas, de modo a melhorar os conhecimentos nesta área e a realização de programas de "capacity building" para candidatos dos países em vias de desenvolvimento, de expressão portuguesa. A criação deste centro irá contribuir de maneira significativa para a prevenção e erradicação das doenças oculares, numa primeira instância em Portugal, na CPLP, na Índia e, em segunda instância, no mundo.

Ainda no domínio português, uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra identificou uma das possíveis causas da retinopatia diabética. Segundo Paulo Santos, coordenador da investigação, "a doença perturba o funcionamento do ATP, o que gera a libertação de uma substância nociva responsável pela morte dos neurónios".

Outro dos centros que tem vindo a contribuir signifivamente para o tratamento das patologias oculares e para a eliminação da cegueira, sendo responsável pela melhoria da qualidade de vida de milhares de pessoas, é o Instituto Cubano de Oftalmologia Ramón Pando Ferrer, a que acorrem pessoas de todo mundo. Apesar de a maioria dos pacientes sofrer de cataratas, também ali são operados doentes que sofrem de pterígio, estrabismo, ptose do olho, glaucoma, retinose pigmentar, retinopatia diabética, quando reúnem as condições necessárias de acordo com os parâmetros médicos.

Este hospital está equipado com as mais recentes tecnologias de ponta e os especialistas utilizam as técnicas mais avançadas de microcirurgia. Os médicos, que realizam entre 14 mil a 18 mil cirurgias anualmente, podem recorrer ao HRT-II – para a topografia de nervo óptico e retina – com vista à detecção precoce do glaucoma; ao OCT-3 – para a topografia de coerência óptica –, usado para diagnosticar afecções maculares; ao microscópio confocal que detecta problemas nas várias estruturas da córnea; à facoemulsificação; ao Eximer Laser, para tratar os problemas refractivos e à terapia fotodinâmica para tratar a degenerescência macular, entre outros.

Novas terapias

Por todo o mundo, investigadores e cientistas lutam por encontrar novos tratamentos para erradicar as doenças oculares. De entre eles destaca-se o professor de genética molecular humana, da University College London, Robin Ali, que, desde 2007, coordena os primeiros testes em humanos de uma nova terapia genética para tratar a Amaurose Congénita de Leber.

Apesar desta ser uma patologia rara, a equipa de investigação afirmou que, se esta terapia passar nos testes de segurança e eficácia, poder-se-ão tratar as cem doenças da visão, causadas por um único gene, de forma muito semelhante.

Também recentemente uma equipa de investigadores da Universidade de Aberdeen, coordenada pelo Dr. Arash Sahraie, desenvolve um novo tratamento, a neuro-eye therapy, para tratar a perda parcial da visão após trombose.

O dispositivo utilizado na neuro-eye therapy é muito simples e pode ser instalado em casa ou no escritório. O doente tem como tarefa diária a visualização de imagens no seu computador e decidir se estas se apresentam ou não na área onde já não consegue ver. Os testes clínicos demonstraram uma melhoria na visão (aumento na capacidade de navegação, leitura e concentração) e uma melhoria da detecção de objectos em movimento na área cega.

A visão é um dos mais importantes sentidos humanos. Sem ela sentimo-nos perdidos, fechados num mundo de cores imaginadas. Muitas outras investigações estão na calha, muitos sucessos ainda estão para vir, dando a possibilidade a muitos doentes de ver o mundo com outros olhos, sentindo as suas verdadeiras cores.

Ver mais:
CATARATAS: QUANDO A VISÃO SE TORNA OPACA


Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

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