HIPERTENSÃO

Hipertensão arterial e cancro influenciam-se mutuamente

O conjunto das doenças cardiovasculares e os vários tipos de cancro representam, respetivamente, a primeira e a segunda maiores causas de morte em Portugal e no mundo. Esses grupos distintos de doenças que crescem a cada dia, partilham, contudo, muitas causas comuns, como o envelhecimento e o aumento de peso da população, alimentação inadequada, tabagismo, poluição, hereditariedade, genética, stress, entre outros.

Hipertensão arterial e cancro influenciam-se mutuamente

DOENÇAS E TRATAMENTOS

A DIABETES

A hipertensão é o principal fator de risco para as mais graves complicações cardiovasculares, como enfartes e AVC, acometendo mais de 30 por cento da população geral.

A relação entre cancro e hipertensão tem-se tornado cada vez mais estreita em função dos tratamentos utilizados para uma patologia que, frequentemente, pode induzir ao desenvolvimento da outra, explica o médico Marcus Malachias, professar da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, no Brasil.

A maioria dos tratamentos oncológicos eleva a pressão arterial. Cerca de 33 por cento dos pacientes em tratamento oncológico anteriormente normotensos, passam a apresentar hipertensão, muitas vezes resistente.

As maiores incidências de hipertensão são observadas em pacientes com cancro renal e gástrico. Há também tumores, como os da glândula suprarrenal, que produzem potentes hormonas indutores de hipertensão.

Muitos quimioterápicos estão diretamente relacionados com o desenvolvimento ou agravamento da hipertensão pré-existente, como os agentes alquilantes (ciclosfosfamida, cisplatina), os inibidores do fator de crescimento endotelial (como o bevacizumabe) e inibidores da tirosina quinase (sunitinibe, sorafenib, pazopanib).

Além disso, tratamentos adjuvantes preconizados para os pacientes com cancro podem também elevar a pressão arterial, como corticoides, anti-inflamatórios, analgésicos, eritropoietina e a radioterapia. Muitos quimioterápicos podem também causar insuficiência cardíaca, arritmias e outras complicações cardiovasculares. 

hipertensão induzida ou agravada pela quimioterapia pode ocorrer desde o início do tratamento até bem tardiamente. Por isso, é fundamental a monitorização da pressão arterial durante o tratamento contra o cancro, afirma o médico.

Há até situações em que a ocorrência e o grau de hipertensão é indicativo da eficácia terapêutica do antineoplásico. Mesmo assim, é imperativo controlar a hipertensão com tratamentos específicos, uma vez que a escolha adequada de anti-hipertensivos não interfere na eficácia da terapia oncológica.

Mais recentemente, tem sido descrita a possibilidade de que o inverso também ocorra, ou seja, que os medicamentos utilizados para o tratamento da hipertensão possam aumentar o risco de desenvolvimento de cancro.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a entidade que regula os produtos de saúde no Brasil, emitiu recente um alerta sobre a hidroclorotiazida, um diurético amplamente utilizado no tratamento da hipertensão, que pode aumentar a sensibilidade da pele e dos lábios à exposição solar, favorecendo o surgimento de cancro da pele não-melanoma.

Muitos outros anti-hipertensivos têm sido investigados sobre a possibilidade de estimularem tipos específicos de cancro. Inibidores da enzima de conversão têm sido associados ao cancro do pulmão, por exemplo.

Antagonistas dos canais de cálcio já foram apontados como responsáveis por aumentar o risco de cancro da mama. Além disso, impurezas cancerígenas foram detetadas em fármacos anti-hipertensivos genéricos e similares, fabricados e distribuídos em vários países. Mas robustas análises recentes têm demonstrado que os benefícios para a saúde do controlo da hipertensão superam enormemente qualquer risco de cancro.

Há, por outro, alguns estudos favoráveis em relação aos anti-hipertensivos além da prevenção cardiovascular, como os que apontam que betabloqueadores podem melhorar a evolução de pacientes com cancro da mama e do ovário.

Da mesma forma, bloqueadores dos recetores de angiotensina podem potencializar a resposta ao tratamento oncológico contra tumores sólidos, como os do pâncreas e da mama. O tratamento cirúrgico de tumores como o feocromocitoma, Cushing e o aldosteronoma podem até curar a hipertensão por eles causada.

“O importante é lembrar que, assim como ninguém deve abandonar o tratamento oncológico devido aos potenciais efeitos colaterais dos medicamentos, a hipertensão, embora silenciosa, também deve ser tratada continuamente para a preservação da saúde e prevenção das suas complicações. Toda ação terapêutica pode incorrer em efeitos colaterais, mas o cancro e a hipertensão são notadamente mais perigosos do que qualquer risco de efeito adverso. A orientação médica deve dirimir dúvidas e apontar as melhores escolhas de tratamento em cada caso”, conclui Marcus Malachias.

Fonte: Veja

OUTRAS NOTÍCIAS RELACIONADAS


ÚLTIMAS NOTÍCIAS