SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

SOCIEDADE E SAÚDE

  Tupam Editores

0

Quando o mundo se libertar da atual pandemia da COVID-19 ou a puder manter sob controle, vai muito previsivelmente ter de enfrentar a mais severa crise económica e social que alguma vez a humanidade conheceu em tempo de paz.

Tal como aconteceu no passado durante crises de dimensão semelhante, a crise atual está a revelar fragilidades estruturais na sociedade, de algum modo não evidentes para o grande público, mas simultaneamente tem vindo a revelar uma grande capacidade de as pessoas e instituições se reorganizarem permitindo responder com mais eficácia aos desafios colocados para proteção da saúde pública e preservação do tecido económico e social.

É desde já evidente, que em vastas regiões do globo o crescimento dos índices de desenvolvimento humano que se verificava nas últimas décadas, um pouco por efeito da globalização, está em retrocesso de forma profundamente desigual em termos socioeconómicos e territoriais, perante o risco dos efeitos da pandemia.

Por outro lado, na opinião de especialistas de investigação genética, é igualmente expectável um decréscimo demográfico e uma diminuição da esperança média de vida, devido ao efeito combinado da morte de idosos, mas também de jovens em idade reprodutiva, situação recorrente em resultado de epidemias ou nos pós-guerra e que os últimos dados estatísticos já indiciam.

Impactos imediatos e a longo prazo

No atual contexto pandémico provocado pelo SARS-CoV-2, muitas alterações importantes têm vindo a ser apontadas como responsáveis pelo impacto negativo na saúde mental e no bem-estar psicológico das pessoas, não só das diretamente afetadas pela doença, mas em particular dos profissionais de saúde que delas cuidam.

A atual crise está a provocar profundas e provavelmente irreversíveis alterações na sociedade, designadamente nos estilos de vida, com potencial impacto imediato no bem-estar e na saúde mental da população, que podem conduzir a depressão, ansiedade, stress, perturbações do foro psiquiátrico e burnout.

O medo e a incerteza percecionados pelos indivíduos, as medidas de saúde pública adotadas, tais como o distanciamento físico pelo confinamento obrigatório, as consequências socioeconómicas devido ao desemprego e à perda de rendimentos, além dos efeitos diretos causados pelo vírus no sistema nervoso central, são os principais fatores responsáveis por aquelas perturbações.

O impacto socioeconómico, político e cultural da pandemia vai por certo provocar alterações profundas na sociedade humana do futuro, como é já visível no aumento do teletrabalho, na regionalização das cadeias de fornecimento globais de bens e serviços, no enorme incremento na utilização da internet e até na polarização política.

Por observação da tendência observada nas empresas de grande dimensão e nas empresas de serviços, que optaram pela adesão generalizada ao teletrabalho, alguns investigadores já admitem que a pandemia está a causar uma autêntica revolução na forma como o trabalho é encarado, abrindo ainda mais as portas à estratégia de digitalização da economia a nível global.

Um outro indicador desse efeito de mudança estrutural nas sociedades tem sido observado no enorme incremento do ensino à distância, em particular no ensino superior, mas também já utilizado em outros níveis de ensino pelos governos, como forma de minimizar os efeitos nefastos do encerramento físico das escolas.

As viagens de trabalho e as conferências internacionais, irão também ser afetadas, sendo substituídas por análogos virtuais, havendo até quem já defenda uma possível reversão mais ampla da globalização que estava em curso, sobretudo no que diz respeito às cadeias de abastecimento, criando em alternativa redes regionais de cadeias de fornecimento, em reação à pandemia.

Sequelas na saúde mental

A pandemia e as medidas de contenção que dela resultaram, adotadas pelos governos, possuem impactos psicossociais profundos e duradouros, que segundo estudo recente publicado pelo International Journal of Medicine, estão associados com ansiedade, angústia, medo de contágio, insónia, stress, depressão e risco elevado de suicídio, que provavelmente irão perdurar por muito tempo para além da pandemia.

O medo de contágio e o isolamento social são apenas alguns dos fatores stressantes que resultam da pandemia e das medidas impostas pelas autoridades sanitárias, sejam quarentenas ou outras, que podem contribuir para o agravamento do quadro de saúde mental da população, com maior incidência nos grupos profissionais da saúde e estudantes, não esquecendo os mais idosos, na sua maioria confinados em lares e longe do conforto e afeto de familiares.

É por isso muito importante tomar medidas desde já no sentido de promover o bem-estar e reforço da saúde mental a fim de mitigar o sofrimento psicológico da população em geral e em particular de todos os profissionais que estão na linha da frente, designadamente os profissionais dos serviços de saúde, cidadãos em isolamento ou quarentena, pessoas infetadas pelo SARS-CoV-2 ou doentes com COVID-19.

Embora o isolamento seja importante e necessário para proteger a saúde física, impedindo a propagação do vírus através de contágio, é igualmente importante que se tomem medidas no sentido de reduzir os riscos de as pessoas virem a sofrer de doenças do foro psiquiátrico, que tendem a aumentar em função do tempo de isolamento.

Apesar da pandemia ser principalmente uma crise de saúde física e social, é necessário implementar medidas de saúde mental e de bem-estar em tempo útil, pois se assim não for poderá vir a tornar-se numa grave crise de saúde mental, com todas as implicações que isso poderá acarretar em termos de custos humanos, familiares, sociais e de despesa pública em saúde, bem como em termos de redução da produtividade a nível nacional.

Além das vidas ceifadas, este golpe no nosso equilíbrio e bem-estar, está a deixar um profundo rasto de perdas materiais, laborais e situacionais. A nossa estrutura de valores perdeu a sua identidade, passando agora a estar em permanente mutação face às constantes atualizações de normas, imposições externas e dependentes do desenvolvimento técnico-científico.

Com expectativa, a Humanidade prepara-se com esperança renovada para o pós-pandemia, acreditando na eficácia das novas vacinas e tem boas razões para isso! Em séculos de existência do ser humano na Terra, já ultrapassámos dezenas de pandemias e sobrevivemos! Com novos conhecimentos científicos e novas armas terapêuticas cada vez mais evoluídas, vamos vencer o vírus.

Devemos, contudo, ajudar-nos e ajudar os nossos semelhantes, cumprindo escrupulosamente as regras de higienização e distanciamento recomendadas pelas Autoridades de Saúde e que o bom senso aconselha.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
10 de Abril de 2024

Referências Externas:

UMA HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

SOCIEDADE E SAÚDE

UMA HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

O Dia Internacional da Mulher, data dedicada à celebração das conquistas e contribuições das mulheres ao longo da história, bem como à consciencialização sobre as desigualdades de género e à promoção...
PRÉMIO NOBEL DE MEDICINA 2023

SOCIEDADE E SAÚDE

PRÉMIO NOBEL DE MEDICINA 2023

Em cerimónia realizada a 2 de outubro no Instituto Karolinska, na Suécia, o porta-voz do Comité do Prémio Nobel revelou que Katalin Karikó e Drew Weissman eram os galardoados com o Prémio Nobel de Fis...
TRATAMENTOS PARA A DOR CIÁTICA

DOENÇAS E TRATAMENTOS

TRATAMENTOS PARA A DOR CIÁTICA

A dor ciática ou mais vulgarmente designada somente por ciática, é um sinal de perturbação da função do maior nervo do corpo humano, o nervo ciático, que pode tornar-se incapacitante e causar muito so...
BACTERICIDA, BACTERIOSTÁTICO OU BACTERIOLÍTICO?

MEDICINA E MEDICAMENTOS

BACTERICIDA, BACTERIOSTÁTICO OU BACTERIOLÍTICO?

Os produtos que atuam no combate a bactérias são classificados como antibacterianos e geralmente são divididos entre bactericidas, bacteriostáticos e bacteriolíticos.
0 Comentários