BURNOUT

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DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Se a fadiga crónica é a sua companheira, cada dia é um mau dia, e se sente que nada do que faz tem valor, o problema é sério. Estará com Burnout?

O termo inglês, cuja tradução é uma composição de "burn" – que quer dizer "queimar" –, e "out", que significa "fora", ou seja, "perder o fogo", "perder a energia", indica que a pessoa com Síndrome de Burnout, também chamada de Síndrome do esgotamento profissional, se consome e desgasta, física e psicologicamente.

Descrito, pela primeira vez, pelo psicanalista americano, de origem alemã, Herbert J. Freudenberger, no seu artigo Staff Burn-out, em 1974, o termo pretendia alertar a comunidade científica para os problemas a que os indivíduos com "profissões de ajuda" estavam expostos. O psiquiatra, ele próprio vítima de burnout por duas vezes, o definiu como "um estado de fadiga ou frustração que se produz pela dedicação a uma causa, forma de vida ou uma relação que não correspondeu às expetativas".

Contudo, foi com Cristina Maslach e Susan Jackson, nos anos oitenta, que se desenvolveu e aprofundou este conceito, com a criação de um instrumento de avaliação, designado por Inventário de Burnout de Maslach (Maslach Burnout Inventory (MBI)), composto por vinte e dois itens acerca de sentimentos e atitudes relacionadas com o trabalho, sendo esses itens distribuídos por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal.

Segundo as autoras, o burnout é uma síndrome multifatorial constituída por exaustão emocional, desumanização/despersonalização e reduzida realização no trabalho que pode observar-se em indivíduos com profissões onde existe interação/ajuda com, ou a outras pessoas. De referir que a evolução do conceito foi pouco consistente, não havendo desde logo uma definição padrão.

Nas últimas décadas, o burnout atraiu a atenção de investigadores, profissionais e público em geral, e estimulou a pesquisa sobre os fatores associados ao trabalho, particularmente nas "profissões de ajuda", tornando-as foco de interesse.

O interesse pela temática no meio científico ficou a dever-se em larga medida a Freudenberger, a Maslach e a Jackson. Maslach e Jackson contribuíram para a evolução da compreensão da síndrome de burnout, não só pela construção do MBI, o instrumento que permitiu avaliar a síndrome, mas também pelo desenvolvimento do conceito, que operacionalizaram nas três dimensões, anteriormente mencionadas e que a seguir se caracterizam:

A exaustão emocional aponta para um esgotamento quer físico quer mental, com a sensação de se ter chegado ao limite das capacidades. A exaustão leva os trabalhadores a um distanciamento emocional e cognitivo do seu trabalho, provavelmente como forma de lidar com as exigências do trabalho. O facto de a exaustão ser um critério necessário para a definição da síndrome de burnout não quer dizer que seja suficiente.

A despersonalização significa que o indivíduo apresenta alterações na relação interpessoal, traduzidas pelo contacto impessoal e distante com os clientes (quer sejam alunos, doentes, ou outros) e colegas de trabalho, desenvolvendo atitudes de indiferença e cinismo.

A reduzida realização pessoal refere-se a sentimentos de diminuição de competências e produtividade no trabalho, de baixa autoeficácia, desmotivação, podendo levar o profissional a ter vontade de abandonar o trabalho.

Nos primeiros estudos, a síndrome de burnout foi predominantemente identificada nos serviços humanos, como sendo uma condição inerente à atividade ocupacional e especialmente prevalente em profissões cuja tarefa implicava o relacionamento com pessoas. Mas, no final dos anos 80 os investigadores começaram a aperceber-se de que a síndrome ocorria fora dos serviços humanos, entre gestores, empresários e operários, o que fez com que o conceito de burnout, que tinha como fundamental a intensa relação com os clientes, fosse alargado a outras atividades que exigem criatividade, solução de problemas ou coordenação.

Atualmente sabe-se que o burnout pode afetar qualquer indivíduo de qualquer área, desde que haja exposição prolongada a condições laborais adversas, e dificuldade em lidar com elas. É verdade, porém, que a natureza de certas funções as torna mais permeáveis ao risco, como por exemplo, jornalistas; professores (e estudantes); taxistas; bombeiros; serviços de emergência médica; cuidadores (médicos, enfermeiros, assistentes sociais); líderes de equipas, CEO’s, gestores em áreas de risco; a área comercial (banca, telemarketing, vendas); e as forças de segurança (polícias, guardas prisionais), entre tantos outros.

Assim, não é difícil entender a razão por que ao conceptualizar a síndrome de burnout é importante falar de stress. Aliás, de acordo com o Webster’s Medical Dictionary, o termo burnout é caracterizado por uma "exaustão física ou emocional, especialmente como resultado de um stress prolongado".

Stress e Burnout

O stress é um dos termos mais usados no quotidiano, sendo já parte integrante da condição da vida humana. Mas, face ao stress existem vários tipos de reação por parte dos indivíduos.

Alguns conseguem gerir a situação de forma eficaz e através de mecanismos de adaptação e de coping conseguem controlar o seu stress. Outros são mais frágeis, e possuem traços na sua personalidade de ansiedade, de Depressão, de obsessividade ou têm menos mecanismos de coping. É nestes indivíduos com menor resiliência que as patologias surgem com maior frequência.

Vive-se numa época de competitividade, onde se procura constantemente atingir metas – a maior parte das vezes irreais –, sendo cada vez mais difícil encontrar equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, a produtividade e a saúde. E, quando um desses elementos não está em harmonia, a qualidade de vida fica prejudicada: sofre a pessoa, perde a empresa, e desgasta-se a família.

As constantes mudanças nas organizações, as fusões, os avanços tecnológicos, a sobrecarga de trabalho colocam, frequentemente, os profissionais na corda bamba, frente a situações de stress. Este pode ocorrer em qualquer pessoa mas, quando se refere especificamente à ocupação desempenhada, é designado por stress ocupacional ou profissional.

É importante relembrar que nem sempre o stress no trabalho é negativo (distresse). O stress positivo (eustresse) motiva e estimula o indivíduo a lidar com determinada situação, mantendo a percepção mais aguçada, concentração focal e envolvimento maior no objetivo proposto em busca da superação de si próprio.

O problema é que nem sempre os profissionais conseguem distinguir o stress positivo do stress negativo (que intimida e acovarda o indivíduo, e faz com que fuja das situações); e o stress que anteriormente era uma válvula propulsora, passa a atuar como uma chama que queima o pavio de forma descontrolada.

Basicamente, o stress ocupacional consiste num problema negativo, de caráter perceptual, resultante de estratégias inadequadas de combate às fontes da patologia, e que traz consequências negativas tanto a nível mental, como físico. Este stress pode ser desencadeado por uma situação súbita ou por situações conflituantes contínuas e seguidas, e pode apresentar-se como um estado de curta duração ou pode prolongar-se no tempo, até à condição de stress crónico.

O fenómeno do stress ocupacional – que afeta uma grande percentagem de trabalhadores no mundo industrializado –, pode originar o burnout, que pode conceptualizar-se como a fase final do stress profissional crónico.

Atualmente, o stress ocupacional e o burnout são vistos como um problema psicossocial, que preocupa a comunidade científica e as entidades organizacionais, devido à severidade das suas consequências individuais e organizacionais.

Manifestações, causas e consequências da síndrome

A dedicação exagerada à atividade profissional – com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho – é uma característica marcante da síndrome, mas não a única.

O desejo de ser o melhor e demonstrar sempre alto grau de desempenho é outra fase importante da síndrome: o portador de burnout mede a autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional.

No total são 12 os estágios de burnout. Para além dos já mencionados é importante referir também a negligência com as necessidades pessoais (comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido); o recalque de conflitos – o indivíduo percebe que algo não está bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas; a reinterpretação dos valores – isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da autoestima é o trabalho; Negação de problemas – nesta fase os outros são completamente desvalorizados e considerados incapazes. Os contactos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes; Recolhimento; Mudanças evidentes de comportamento; Despersonalização; Vazio interior; Depressão – marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido; e, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Este estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica uma urgência.

O ritmo acelerado e as tensões existentes no trabalho atualmente, por si só, não desencadeiam a síndrome. Quando o assunto é trabalho o desgaste com rotinas extenuantes e monótonas, as horas extras, o trabalho por turnos, a mudança constante, a incerteza face ao futuro quer da empresa quer do posto de trabalho, a sobrecarga de responsabilidade, a irracionalidade administrativa ou organizacional, e a falta de apoio dos superiores constituem a regra.

Que o ambiente de trabalho e as condições organizacionais são fundamentais para que a síndrome se desenvolva é indubitável, mas a sua manifestação depende muito mais da reação individual de cada pessoa frente aos problemas que surgem na rotina profissional. O sentimento de inadequação na empresa e o sofrimento psíquico intenso desembocam geralmente nos sintomas físicos, quando não se pode disfarçar a insatisfação, pois esta já afetou a saúde.

O desenvolvimento da síndrome de burnout vem acompanhado de várias manifestações. Alguns sintomas físicos possíveis são: a fadiga, a sensação de exaustão (cansaço crónico), a indiferença ou frieza, a sensação de baixo rendimento profissional, frequentes dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais, alterações do sono (insónias) e ainda dificuldades respiratórias.

Entre os sintomas psicológicos podem revelar-se mudanças, tais como, trabalhar cada vez mais de uma forma mais intensa, com sentimento de impotência perante situações de vida ocupacional, assim como um sentimento de confusão e de inutilidade, irritabilidade, pouca atenção a detalhes, aumento do absentismo ocupacional, aumento do sentimento de responsabilidade exagerada ou fora de contexto perante uma situação de doença, atitudes negativas, de rigidez, com baixo nível de entusiasmo, levando para casa os problemas do trabalho. O consumo de álcool e drogas, como forma de amortecer os efeitos do cansaço e esgotamento, estão também muitas vezes presentes.

A existência de graves alterações no comportamento – que geralmente afetam colegas, pacientes, familiares de pacientes e inclusive os seus próprios familiares –, também são notórias.

Como se pode perceber, a síndrome de burnout apresenta-se como uma síndrome complexa que acarreta consequências imprevistas e muito variáveis. A principal consequência da síndrome é o desenvolvimento de doenças físicas ou psiquiátricas. As doenças psiquiátricas que se desenvolvem neste contexto com mais frequência são:

– Perturbações de ansiedade como: Perturbação de Ansiedade Generalizada, Perturbação de Pânico, Fobias, Perturbação de Somatização e Agorafobia.

– Perturbações Depressivas: Distimia e Depressão Major.

Estas patologias têm consequências a curto e a longo prazo. O sofrimento induzido pela doença e o absentismo laboral por incapacidade são as primeiras a surgir. Como se não bastasse, têm elevados custos financeiros intrínsecos (medicamentos, consultas e diminuição da produtividade).

A longo prazo, além das consequências psiquiátricas, há a referir as consequências físicas, principalmente as doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, AVCs e enfarte do miocárdio), diabetes, diminuição da imunidade e doenças gastrointestinais.

No campo laboral o absentismo e as reformas antecipadas são a principal consequência. O impacto económico desta questão é marcante. As consequências sociais e familiares são também evidentes – conflitos familiares e divórcios. Em última análise o suicídio é a consequência mais grave desta situação.

Diagnóstico e tratamento

Para a realização do diagnóstico da síndrome de burnout o médico tem em conta sinais e sintomas físicos, como fadiga, insónias, irritabilidade, tristeza, apatia, angústia, tremores e inquietação. Após uma avaliação criteriosa o médico poderá, se necessário, afastar o profissional do seu trabalho para a realização do tratamento adequado, que pode ser medicamentoso, por meio de psicoterápicos ou intervenções psicossociais, no sentido de tratar o meio social em que o profissional está inserido, as suas angústias, sentimentos e a capacitação para o retorno ao trabalho após o tratamento.

As estratégias de prevenção e tratamento do burnout podem ser organizadas em três categorias: individuais (referentes à formação de resolução de problemas, assertividade e gestão do tempo de forma eficaz); de grupo (que consistem em procurar o apoio dos colegas e supervisores, melhorando desta forma as capacidades, obtendo novas informações e apoio emocional, ou outro tipo de ajuda) e organizacionais (fundamentais, visto que o problema se encontra no contexto laboral; estas estratégias consistem no desenvolvimento de medidas de prevenção para melhorar o clima de trabalho, tais como programas de socialização).

É importante que a prevenção e o tratamento do burnout sejam abordados como problemas coletivos e organizacionais e não como um problema individual. A empresa pode adotar algumas medidas para a prevenção, tais como: evitar o excesso de horas extras, proporcionar condições de trabalho atrativas e gratificantes, modificar os métodos de prestação de cuidados, reconhecer a necessidade de educação permanente e investir no aperfeiçoamento profissional (por exemplo, formação em assertividade), dar suporte social às equipas e fomentar a sua participação nas decisões, etc.

O tratamento da síndrome de burnout pode ser feito através de várias formas entre as quais: o encaminhamento para terapia psicológica; sessões de grupo (onde o indivíduo se pode abrir e trocar ideias com outras pessoas com o mesmo problema); adotar algumas técnicas de relaxamento, como o yoga ou a meditação; iniciar a prática de algum tipo de exercício físico regular (sempre adaptada à forma física do trabalhador); a alimentação deve ser adequada e o sono apropriado às necessidades individuais, sem esquecer o repouso e o lazer com amigos e familiares.

De referir que a psicoterapia acompanha geralmente o tratamento farmacológico e pode ser uma ajuda para o êxito da terapêutica. Neste caso é muito importante o papel do psicoterapeuta, que deve procurar incutir no doente a persistência necessária para prosseguir com a terapêutica farmacológica, que pode alternar entre analgésicos e suplementos minerais, até aos ansiolíticos e antidepressivos, até porque cada caso é específico.

Quando se trata de burnout o volume de stress a que uma pessoa é exposta é importante, mas não é tudo. É necessário saber gerir a situação de forma eficaz e encontrar o equilíbrio entre trabalho e lazer, entre a tensão e o relaxamento. Para algumas pessoas, as mais obsessivas e que não conseguem ver para além do trabalho, há que reaprender a viver as demais dimensões da vida… e isso pode não ser tão fácil como parece. Mas é possível!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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