Somos parte da terra e ela é parte de nós: O impacto da saúde do planeta na saúde humana.
Desde há muito que o Homem está a "comprar e a vender o céu, o calor da Terra", apesar de não ser "dono da frescura do ar ou do brilho das águas". Deste modo, o Homem tem vindo a provocar alterações climáticas, que poderão tornar-se irreversíveis, destruindo, sem parcimónia o nosso ecossistema, deteriorando a qualidade do ambiente, esquecendo-se que se pode estar a destruir a si próprio.
Os factores ambientais podem provocar ou ser determinantes no desenvolvimento de várias doenças, não apenas a nível de ambiente exterior, mas também a nível interior, dentro de casa. Se a saúde do ambiente que nos envolve for deficiente, então, essa deficiência irá repercutir-se em todos os animais e ecossistemas que coabitam nesse ambiente. Os seres humanos não escapam à regra.
Alguns destes factores fazem parte do mundo natural, outros resultam da acção humana. As doenças destes decorrentes são, entre outras, a asma e as alergias provocadas por poluentes, pólenes e pó, bem como deficiências à nascença, nas grávidas que estiveram expostas a químicos.
Também o desenvolvimento de cancro pode estar associado a causas ambientais, desde a exposição solar à radiação, passando pelo fumo do tabaco e por químicos industriais.
Os enfisemas, as doenças cardíacas, as falhas renais, os problemas de visão e as mortes laborais por doença, podem advir da exposição à poluição do ar, ao fumo do tabaco e aos químicos ambiente. Por seu lado, a exposição ao chumbo, mercúrio e urânio, elementos presentes no ambiente, podem levar à morte por envenenamento.
Porém, o Homem tem, igualmente, vindo a tomar consciência e conhecimento sobre as consequências das suas acções e está a mudar o seu comportamento, encarando de forma diferente as fronteiras e os determinantes da saúde humana.
Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou os resultados do primeiro estudo, realizado a nível mundial, que analisa o impacto dos factores ambientais na saúde humana. Os investigadores concluíram que se poderia prevenir a morte de 13 milhões de pessoas, em todo o mundo, se vivêssemos num ambiente mais saudável, sendo as crianças com menos de cinco anos as maiores vítimas, representando 74% das mortes, devido sobretudo, a diarreia e a infecções respiratórias.
Em 23 países, mais de 10% das mortes devem-se somente a dois factores de risco ambientais: insalubridade da água, incluindo falta de saneamento básico e higiene, e à poluição no ambiente doméstico devido ao tipo de combustível que é utilizado para cozinhar.
São, consequentemente, os países em vias de desenvolvimento, com destaque para Angola, Burkina Faso, Mali e o Afeganistão, os mais atingidos com os problemas de saúde ambiental, sendo que cada indivíduo perde cerca de 20 vezes mais anos de vida saudável, comparativamente com os indivíduos que vivem nos países desenvolvidos. Porém, nestes países, quase um sexto das doenças podiam ser prevenidas.
O relatório da OMS espelha não apenas as grandes deficiências na qualidade ambiental, mas refere também que, em todos os países, a saúde da população poderia melhorar através da redução dos riscos ambientais, nos quais se inclui a poluição, o stress no trabalho, a radiação UV, o ruído, os factores agrícolas e as mudanças no clima e nos ecossistemas.
Segundo a Dr.ª Susanne Weber-Mosdorf, directora-geral-adjunta para o Desenvolvimento Sustentável e Ambientes Saudáveis da OMS, o relatório é o primeiro passo no caminho da prevenção, na caminhada para uma melhor saúde ambiental, fornecendo informações-chave a cada país para que os seus governantes possam delinear objectivos e tomar medidas que se coadunam com deficiências do país, melhorando a qualidade da saúde no mesmo.
Um dos exemplos apontados pelo relatório e que poderá reduzir drasticamente a taxa de mortalidade e as infecções respiratórias nas mulheres e nas crianças é a melhoria da qualidade do ambiente doméstico. Deste modo, deverá recorrer-se a combustíveis mais limpos, gás e electricidade, a melhores equipamentos para cozinhar, melhorar a ventilação dos locais ou mudar de comportamento, como manter as crianças afastadas do fumo. Já a nível do ar exterior, os governos devem tomar medidas urgentes no sentido de reduzir os níveis da poluição do ar.
Em Portugal e na UE
Na UE está em curso o Plano de Acção "Ambiente e Saúde" 2004/2010, lançado pela Comissão em 2004, cujo objectivo é o combate às doenças provocadas pela poluição ambiental.
Este plano, que inclui uma forte componente de investigação, prevê a criação de um sistema integrado de informações sobre o estado do ambiente, o ecossistema e a saúde humana e identifica as acções que é necessário levar a cabo com vista a "melhorar os conhecimentos sobre a relação entre o ambiente e a saúde e a determinar a forma como a exposição ambiental provoca efeitos epidemiológicos".
O plano prevê o incremento das investigações na área da asma e alergias, anomalias do desenvolvimento neurológico, cancro, efeitos de desregulação endócrina e o emergente efeito das alterações climáticas na saúde.
Em Portugal, estima-se que os factores ambientais sejam responsáveis por 14% das mortes por doença. Se as condições ambientais fossem melhoradas, podiam evitar-se cerca de 15.000 mortes.
No que se refere ao nosso País, o relatório da OMS indica que o grupo de doenças com a taxa mais baixa é a malária, que se situa nos 0,0 (inexistente) – a taxa mundial mais elevada é de 32,0. Já o grupo de doenças com a taxa mais alta é o das doenças cardiovasculares, que se situa nos 4,2 – a taxa mundial mais baixa é de 1,3 e a mais alta é de 13,0.
Neste âmbito e de modo a "dar resposta aos compromissos nacionais e internacionais assumidos no contexto Ambiente e Saúde", o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e o Ministério da Saúde desenvolveram um Projecto de Plano Nacional de Acção Ambiente e Saúde, abrangendo o período de 2007/2013.
Neste projecto, que será de consulta pública, as várias entidades propuseram "objectivos, vectores de intervenção e acções programáticas, consubstanciadas em fichas de projecto, desenvolvidas em Domínios Prioritários de intervenção, no quadro da estratégia delineada". Após a saída dos resultados da consulta pública, que serão levados em conta pelo Grupo de Trabalho Ambiente e Saúde, o projecto será concluído e debatido pelo Conselho de Ministros.
Proteger o ambiente e a saúde é um dos maiores desafios propostos ao Homem moderno. Relacionar-se harmoniosamente com o meio ambiente de modo a torná-lo num ambiente inteiro, assumindo, cada vez mais, "o compromisso de salvaguarda da equidade entre gerações, assente num modelo de desenvolvimento sustentável", é fundamental para que todas as espécies deste planeta possam viver mais e melhor.
"Se todos os animais desaparecem, o homem morrerá de solidão espiritual. Porque o que suceder aos animais afectará os homens. Tudo está ligado".
Na área da saúde e bem-estar, recursos como recomendações nutricionais personalizadas, acompanhamento dietético e acesso a receitas saudáveis também podem ser oferecidos por supermercados inteligentes...
De acordo com a OMS, os cuidados de saúde primários, representam um abordagem de toda a sociedade à saúde e bem-estar, centrada nas necessidades e preferências das pessoas, famílias e comunidades.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.