MULHER - Higiene íntima

MULHER - Higiene íntima

SEXUALIDADE E FERTILIDADE

  Tupam Editores

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A maioria das mulheres gosta de cuidar da beleza e preocupa-se com a sua aparência – por vezes até de forma excessiva!

Mulher - higiene

Esfoliantes, hidratantes, antirrugas para o rosto, maquilhagem dispendiosa, anticelulíticos e adelgaçantes para o corpo, manicure, pedicure e depilação, entre outros tratamentos estéticos – a lista poderia continuar indefinidamente, pois todos os dias surgem novidades e novos desafios do mercado.

Mulher - flor

Mas será que essa preocupação se estende à sua higiene íntima?

O estilo de vida da mulher moderna tem vindo a sofrer uma série de modificações nos últimos anos, implicando alteração de hábitos nem sempre benéficos para a sua saúde e bem estar.

O uso de roupas sintéticas justas ou de licra – entre outras práticas –, pode ter eventualmente contribuído para prejudicar, ou até originar alguns problemas do foro mais íntimo.

Para além do vestuário, são vários os fatores exteriores que podem interferir com o bem estar genital feminino. A atividade sexual, tipo de alimentação, estado hormonal, emocional e hábitos de higiene são fatores reconhecidos como importantes para o bem estar e, em certos casos, podem causar alguns distúrbios genitais.

Pode definir-se higiene íntima feminina como o conjunto de práticas de asseio da região anogenital, com o objetivo de a manter livre de humidade e resíduos (urina, fezes, ou fluídos). Compreende o hábito de cuidados específicos, que deverão contribuir para a promoção da saúde, bem-estar, conforto e segurança, prevenindo e minimizando o risco de infeções.

É imperativo que a mulher conheça o seu corpo, em particular a área genital, e as alterações que sofre ao longo do ciclo e, mesmo ao longo da vida.

Variações fisiológicas ao longo da vida

A morfologia e fisiologia da vagina e da vulva sofrem consideráveis alterações ao longo da vida, nas várias fases da evolução da mulher: infância, puberdade, idade fértil, gravidez, menopausa e pós-menopausa. Existe, portanto, uma forte associação hormonal que está na base das alterações características de cada fase ou condição.

Na infância, o pH vaginal é alcalino, sendo comum a existência de microrganismos potencialmente patogénicos, em pequenas quantidades, não implicando necessariamente estados de infeção.

Já a puberdade é uma fase marcada pelo início da produção hormonal de estrogénios e pelo equilíbrio da flora vaginal. Durante a menstruação, o fluxo menstrual altera o pH vaginal, tornando-o alcalino e proporcionando o desenvolvimento e proliferação de múltiplos microrganismos.

Na gravidez, surge uma maior quantidade de secreção vaginal e registam-se alterações de pH e da própria flora vaginal. Nesta fase tão especial para a mulher, as alterações hormonais levam a um aumento da concentração de lactobacilos e, consequentemente, à acidificação do meio.

Por fim, o climatério é a fase da vida da mulher que compreende a transição do período reprodutivo e fértil para o não reprodutivo. Devido ao declínio da produção hormonal, a flora e o pH vaginais tornam-se semelhantes aos da infância.

A flora vaginal é possivelmente o elemento mais estudado do aparelho genital feminino desde que, em finais do século XIX, Albert Döderlein, ginecologista alemão, observou uma grande quantidade de microrganismos Gram-positivos, aos quais se convencionou chamar bacilos de Döderlein. Estes resultam de um estado de equilíbrio entre os agentes patogénicos e não patogénicos, num total de cerca de 50 estirpes bacterianas.

Apesar de a flora vaginal constituir um fulcral mecanismo de defesa do trato genital, atuando de forma sinérgica e complementar com outros mecanismos de defesa, em certas condições, fatores externos ou internos, alteram este ambiente protetor ou diminuem as defesas da mulher. Infeções gerais, diabetes, a simples toma de um antibiótico para uma infeção respiratória, ou a própria gravidez, alteram as condições de pH local ou destroem os bacilos protetores crescendo, na sua ausência, outros microrganismos mais raros e agressivos.

Infeções consequentes e o tratamento mais adequado

As três infeções genitais mais comuns na mulher são a tricomoníase, causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis; a vaginose bacteriana, consequência da superpopulação de bactérias do tipo Gardnerella vaginalis; e a candidíase, originada pelo fungo Candida albicans.

A agressividade destes agentes destrói os seus “vizinhos” originando queixas das pacientes, sendo a mais frequente o aumento da quantidade de secreções e a alteração das suas características.

O corrimento pode ter um odor mais desagradável, ser mais intenso, de cor amarelada ou esverdeada, provocar prurido, ou mesmo inflamação da vulva. O simples ato de urinar provoca um ardor intenso. E as queixas podem, ou não, ser transmitidas ao parceiro e tornar-se incomodativas durante as relações sexuais, ou mesmo inibidoras, pois para além do ato sexual as agravar pode ainda potenciar desvios da flora vaginal.

A candidíase é uma infeção vaginal benigna e incomodativa, que tanto pode ser causada por falta como por excesso de higiene. Adquire-se ainda pelo abuso de antibióticos ou roupas muito justas, que impedem a zona genital de arejar. A obesidade, imunossupressão e a diabetes são causas predisponentes.
O tratamento, com administração oral ou vaginal de derivados imidazois, é, em geral, muito eficaz, desde que a mulher respeite a prescrição. A infeção não oferece qualquer risco de desenvolver outras lesões, além da recorrência, uma complicação que, a verificar-se, obriga a tratamentos preventivos.

Consulta ginecologia

A vaginose bacteriana é a causa mais comum do corrimento genital e a segunda causa da candidíase. A infeção desencadeia um desequilíbrio da flora vaginal fazendo com que seja incrementada a concentração de bactérias. O tratamento indicado tem por base os antibióticos, podendo ser administrado por via oral ou uso tópico com creme vaginal ou óvulos.

A tricomoníase é uma infeção genital causada por um parasita que só infeta o ser humano, e cuja transmissão ocorre através de relações sexuais ou contacto íntimo com secreções da pessoa contaminada.

No tratamento, a primeira medida é a abstinência sexual, pois é necessário um reequilíbrio do organismo de forma a evitar o aumento, o desconforto e o surgimento de novas doenças. Também é indicado o uso de antibióticos e quimioterápicos, sendo obrigatório o tratamento, em simultâneo, do parceiro sexual, a fim de evitar uma reinfeção.

Para evitar a consulta a um especialista, e na tentativa de resolver o problema, a automedicação é o erro mais comum, e sempre com o mesmo medicamento, que normalmente não é o indicado para combater o microrganismo específico (as bactérias requerem antibióticos, e os fungos antifúngicos).

Aliás, a administração de um antibiótico durante uma infeção por fungos pode agravar a infeção, imediata ou posteriormente,  e aumentar ou tornar as queixas mais difíceis de solucionar.

O trato genital feminino, todavia, possui vários mecanismos de defesa contra agentes infecciosos que atuam de forma sinergética e complementar, como por exemplo a barreira epitelial, síntese de muco protetor, pH vulvar e vaginal e componentes inespecíficos inerentes à imunidade inata (células fagocitárias e reação inflamatória), para além da integridade da mucosa.

Mas, acima de tudo, é a manutenção da função de barreira da vulva, através de cuidados de higiene e hábitos adequados, que previne potenciais infeções de todo o trato genital.

Produtos e técnicas de higienização íntima

O banho ou a higienização anogenital feminina permite a remoção de resíduos e secreções acumuladas nessa região que, em condições normais, não seriam removidos exclusivamente através do uso de água.

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Um bom produto para a higiene íntima da mulher é aquele que protege o meio vaginal, tendo em conta as suas características; não esquecendo que os tecidos que envolvem o aparelho genital têm um pH diferente do resto da pele, que é neutro.

O produto ideal para o efeito não deve ter odor – pois o cheiro está associado a substâncias desodorizantes que podem provocar reações alérgicas e desconforto –, não deve irritar nem secar, e não pode suscitar alterações da função barreira. Deve antes manter o pH ácido, ter uma ação refrescante e desodorizante, viscosidade adequada e detergência suave.

Os produtos disponíveis no mercado agrupam-se segundo a sua função, em agentes de limpeza, hidratação, proteção e facilitação das relações sexuais.
Os sabões são já descritos desde a antiguidade. Na época dos faraós era usado um produto – o natron – uma mistura de argila, cinzas e bicarbonato de sódio que era esfregado no corpo.

Mão - sabonete

Os sabões íntimos têm como substância ativa principal uma base tensoativa de natureza aniónica e anfótera. Podem incorporar ácido láctico, pela ação hidratante e regulador de pH; os anti-irritantes: alfabisabolol, extrato de maçã e aveia; alantoína, pantenol; regeneradores e protetores da zona vulvar; o antipruriginoso polidocanol e o antissético piroctonolamina.

Os Syndets, também chamados detergentes sintéticos, dermatológicos ou “sabões sem sabão”, foram desenvolvidos com o objetivo de não ressecar a pele. Possuem pH neutro ou ligeiramente ácido, efeito detergente, fazem espuma e o seu uso é agradável. Podem apresentar-se na forma sólida (barra) ou líquida, embora predominem na forma líquida.

O Gel é constituído por uma fase aquosa (95 por cento de água ou álcool), com pouca ou nenhuma quantidade de lípidos. Aos agentes tensoativos suaves associam-se agentes gelificantes hidrofílicos, que produzem espuma com a massagem e conferem poder adstringente, tornando o uso muito agradável e proporcionando uma sensação de frescura.

Os Toalhetes humedecidos possuem uma base celulósica embebida em detergentes suaves e com adição de produtos amaciadores, fragrâncias e outros constituintes. Têm pH na faixa de 5 a 6, sendo úteis em algumas situações, como a higiene fora de casa, sanitários de uso público, etc.

Os Sabonetes líquidos íntimos são produtos à base de ácido láctico – um componente natural da pele –, que diferem entre si pelos vários excipientes associados. De entre os compostos presentes nos sabonetes líquidos, os mais importantes são o ácido láctico, a glicerina e sais de ácidos gordos, que retiram a sujidade da pele, controlam o pH e EDTA.

Além dos produtos, também a técnica de higienização importa

A lavagem genital deverá preferencialmente ser efetuada com banhos de água corrente, para favorecer a remoção mecânica das secreções, e com produtos de higiene, fazendo movimentos que evitem arrastar o conteúdo perianal para a região vulvar. Não convém utilizar sprays, perfumes, talcos, ou lenços humedecidos, e as áreas lavadas devem ser cuidadosamente secas com toalhas limpas, que não agridam o epitélio da região.

A frequência da higienização é de uma a três vezes por dia, dependendo do clima, biótipo, atividade física da mulher e doenças associadas, e a duração não deve ser superior a dois a três minutos, de modo a evitar a secagem excessiva da área.

A última etapa da higiene – e geralmente a mais negligenciada – é a hidratação. Tal como nas demais zonas do corpo, as peles secas deverão ser hidratadas. Os hidratantes deverão ser gel ou cremes vaginais de base aquosa com pH ácido e compatíveis com a mucosa vaginal.

O uso sistemático do penso higiénico diário não é recomendado. Nas mulheres com excesso de transpiração ou incontinência urinária, é importante manter o ambiente genital seco recorrendo ao uso de pensos higiénicos respiráveis (sem película plástica) ou outro vestuário absorvente adequado.

Além destes, existem outros cuidados que podem contribuir para que a mulher se sinta bem e esteja, ao mesmo tempo, protegida contra microrganismos estranhos ao meio vaginal. O vestuário é um fator importante, por isso, para além de trocar a roupa íntima diariamente, é recomendável o uso de peças que favoreçam a ventilação local.

Não devem ser usadas roupas demasiado justas ou apertadas e os fatos de banho molhados e o vestuário após atividades desportivas devem ser trocados o mais precocemente possível, de modo a evitar que o suor e outras secreções irritem a pele da vulva.

As peculiaridades do universo feminino são inúmeras. Ao longo do tempo a vida da mulher passa por transformações, as necessidades mudam, mas os desafios são sempre mais exigentes. Por vezes é difícil conciliar todas as responsabilidades sem esquecer de cuidar de si mesma.

Mulher duche

Acima de tudo a mulher de hoje quer estar bem, sentir-se confortável e confiante em todas as situações que se lhe deparem e em todas as fases – da juventude à maturidade. E a saúde e o bem-estar começa no corpo, todos os dias.

O estabelecimento de rotinas de higiene diária é crucial para estar sempre cuidada… e sempre no seu melhor!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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