TERAPIA HORMONAL DE SUBSTITUIÇÃO: OPTAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO

TERAPIA HORMONAL DE SUBSTITUIÇÃO: OPTAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Actualmente existem em todo o mundo cerca de vinte milhões de mulheres a efectuar Terapia Hormonal de Substituição, vulgo THS, incluindo-se neste número, cento e vinte mil portuguesas.

A THS é prescrita para tratar os sintomas habitualmente associados à menopausa, tais como os afrontamentos, suores nocturnos, sonolência, secura vaginal e a osteoporose, entre outros, de modo a suprir o défice hormonal sofrido pelas mulheres durante a menopausa.

Geralmente, a partir dos 35 anos, a mulher inicia um processo biológico em que os ovários começam a produzir níveis gradualmente mais baixos de estrogénio – hormona responsável pelo aparecimento dos sinais sexuais secundários, pelo controlo do ciclo da ovulação, afectando muitos aspectos da saúde física e emocional – e de progesterona – hormona responsável pelo controlo da menstruação e pela preparação e manutenção da gravidez, que conduz à menopausa.

Até 2002, data da publicação dos primeiros resultados de estudos em grande escala que sugeriam uma ligação entre estas terapias e um aumento do risco do cancro da mama, as THS eram prescritas como tratamento padrão, uma vez que se acreditava que aliviavam os sintomas da menopausa, ao mesmo tempo que protegiam a mulher contra doenças cardíacas e a osteoporose, entre outras.

Desde então, as THS tornaram-se um assunto polémico, pois os estudos desenvolvidos posteriormente nunca conseguiram obter uma opinião consensual entre a comunidade científica.

O último estudo, agora publicado pela conceituada revista científica The Lancet, não foi excepção, e veio inflamar ainda mais os ânimos, uma vez que apresenta novos dados que associam as THS a um risco aumentado, em cerca de 20%, de ocorrência de cancro do ovário e quando se cruzam os dados, com o risco de ocorrência de cancro do útero e da mama, o risco aumenta para 63%.

Esta nova investigação corresponde a uma actualização do Million Women Study (MWS), um estudo cujo mote foi responder a uma pergunta que há muito preocupa os médicos: Uma vez que 70% dos cancros da mama estão associados a questões hormonais, um tratamento com essa base pode, realmente, acelerar a multiplicação de células cancerígenas?

O MWS analisou e comparou a reacção de 948.576 mulheres, recrutadas entre 1996 e 2001, submetidas a THS, de entre as quais 30% efectuavam THS, 20% tinham-na adoptado no passado e 50% nunca a tinham adoptado.

Durante este período de tempo foram diagnosticados 2.273 cancros e destes, 1.591 foram mortais.

Os primeiros resultados do MWS foram divulgados em 2003 e sugeriam que poderia haver um risco aumentado de cancro da mama nas pessoas que tomavam THS.

Os novos resultados dizem respeito, principalmente, ao cancro do ovário. Segundo os estudos, a taxa de incidência de cancro do ovário passou de 2,2 por mil mulheres que nunca tinham recorrido à THS para 2,6 por mil mulheres a seguir a THS há cinco anos. A taxa de mortalidade passou de 1,3 por mil mulheres que não faziam THS, para 1,6 por mil que a faziam há cinco anos.

Com base nestes resultados, os investigadores sugerem que a opção de fazer THS pode representar um aumento do risco relativo em 20% de desenvolvimento e de morte por cancro do ovário, comparativamente a mulheres que nunca recorreram a este tratamento. Estes factos representam um caso extra de cancro do ovário por cada 2500 mulheres a seguir as THS e uma morte adicional por cada 3300.

Porém, decorridos alguns anos após a interrupção de tratamento, o nível de risco voltava ao normal.

A coordenadora desta investigação e directora da unidade epidemiológica do Cancer Research UK da Universidade de Oxford, a Dra. Valerie Beral, disse que estes resultados eram preocupantes, pois o estudo veio demonstrar, mais uma vez, os riscos que envolvem as Terapias Hormonais de Substituição.

Apesar dos resultados alarmantes do estudo, os médicos portugueses consideram as THS um meio válido para tratar os sintomas da menopausa, levantando "sérias dúvidas" ao estudo.

Uma das razões apontadas por muitos médicos é que não há forma de assegurar a existência de uma relação causa-efeito entre as THS e o risco de desenvolvimento de cancro da mama.

A Dra. Deolinda Pereira, médica do Instituto Português de Oncologia do Porto, afirma receber no seu local de trabalho "mulheres com cancro da mama e que estiveram em THS, mas há casos em que não fizeram este tratamento. E, mesmo que o tenham feito, não há como garantir uma relação de causa-efeito, nem que não teriam desenvolvido a doença, caso não tivessem sido submetidas ao tratamento.

Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Menopausa, Dr. Mário Sousa, estes últimos resultados não produzem "evidência médica, afirmando que entre a comunidade científica ele é contestado, "nomeadamente pela metodologia que utilizou". Segundo o médico, a investigação "não tem significado para nós, a não ser pelo número de mulheres envolvidas, até porque, em alguns casos, houve mesmo "erros de prescrição".

Ambos os profissionais falam de dois outros estudos, "cientificamente válidos", desenvolvidos pela Women’s Health Initiative (WHI) – o Estrogen-plus-Progestin study (para mulheres com útero - 1) e o Estrogen-Alone study (para mulheres sem útero- 2) – cujos primeiros resultados foram conhecidos em 2002.

Apesar de o estudo 1 ter terminado em 2002 – os investigadores reportaram que os riscos do uso de estrogénio+progesterona eram superiores aos benefícios –, e do estudo 2 ter terminado em 2004 – os investigadores sugeriam que a toma de estrogénio elevava o risco de apoplexias e de coágulos –, segundo os médicos, numa reavaliação recente os investigadores verificaram que nas mulheres a fazer THS, entre os 50 e os 59, existe uma redução de todas as causas de morte, inclusivamente, de cancro.

Os resultados dos estudos da WHI foram o primeiro sinal de alerta para o perigo das THS. Desde então, muitas mulheres desistiram voluntariamente deste tipo de tratamento e os médicos passaram a prescrevê-lo com mais cautela.

Também este mês, o New England Journal of Medicine publicou um estudo, no qual se sugere que a diminuição da incidência de cancro da mama nos Estados Unidos se deve à diminuição do número de mulheres a fazerem THS. O estudo, baseado na análise dos dados provenientes do programa de vigilância epidemiológica (SEER) do Instituto Nacional Americano do Cancro, demonstra que as taxas de cancro da mama diminuíram 6,7% em 2003, comparativamente a 2002, tendo estabilizado nos anos seguintes. Ocorreu, igualmente, uma diminuição na área da prescrição das THS, tendo passado de 61 milhões em 2003 para 21 milhões em 2004.

Por sua vez, um relatório da Sociedade Canadiana do Cancro, veio demontrar que desde 1986 a taxa de mortalidade diminuiu 25%, devido à melhoria da qualidade das mamografias, a um aumento da participação das mulheres nos programas de despistagem e ao aparecimento de tratamentos mais eficazes.

A taxa de sobrevivência de 5 anos já atingiu os 86%, uma vez que se recorre, cada vez mais, à associação da quimioterapia e do tamoxifeno.

Está, por outro lado, provado que uma das melhores formas de lidar com os sintomas da menopausa é fazer opções de vida saudáveis e uma vez que já se demonstrou que as THS não promovem, a longo prazo, a saúde das mulheres na pós-menospausa, estas podem tentar proteger-se de uma forma natural: não fumar, fazer exercício físico, comer muitas frutas e vegetais, controlar a diabetes e os níveis de colesterol, não beber em excesso, comer alimentos ricos em cálcio e vitamina D.

Alguns medicamentos tomados regularmente, como os da classe dos bifosfonatos, protegem, igualmente, os ossos.

Em muitos casos, os médicos, recomendam, antes de a paciente iniciar a medicação, mudanças nos hábitos alimentares e nos exercícios. Se os sintomas prevalecerem, existem outros fármacos disponíveis para além das THS.

Apesar de toda a polémica, as THS reúnem o consenso da comunidade científica no que diz respeito à necessidade de individualização dos tratamentos. Neste tipo de terapias não há "tamanhos únicos", uma vez que cada mulher vive a menopausa de forma diferente.

Um porta-voz da Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency afirmou que os dados recentes publicados no The Lancet estavam a ser estudados por um grupo de especialistas, mas que provavelmente as recomendações sobre as THS não iriam mudar: As THS ainda continuam a ser a melhor opção para aliviar, a curto prazo, os sintomas da menopausa para a maioria das mulheres, sendo que, em alguns casos, poderá ser mais sensato considerar outras opções.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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