ABELHAS, MUITO MAIS QUE MEL

ABELHAS, MUITO MAIS QUE MEL

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  Tupam Editores

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Se para uns as abelhas são sinónimo de dolorosas ferroadas, para outros sugerem de imediato a lembrança do delicioso mel que produzem. Porém o mundo das abelhas é bem mais complexo do que isto!

As abelhas, italianas ou africanas, (Apis mellifera) constituem apenas raças de uma única espécie de abelha amarela entre as mais de 20 mil espécies conhecidas. Na verdade, acredita-se que o número de espécies existentes seja bem maior, já que todos os anos novas espécies são descobertas nas Américas Central e do Sul, África, Ásia e Austrália.

Como surgiram

As primeiras abelhas surgiram a partir das vespas, insetos ainda hoje confundidos com elas, mas que apresentam algumas características bem distintas, a começar pelo hábito alimentar.

O processo evolutivo que deu origem à abelha iniciou-se no Cretáceo (146 a 76 milhões de anos atrás) com o surgimento das primeiras plantas que produziam flores. As vespas da época passaram, então, a ter uma nova fonte de alimento para as suas crias.

De início, provavelmente apenas usariam o pólen ou o néctar como complemento à dieta de insetos que forneciam às suas larvas. Porém, as espécies de vespas que conseguiam recolher néctar ou pólen com mais eficiência, podem ter evoluído gradualmente para uma dieta exclusivamente vegetal, mais fácil de recolher das plantas do que caçar outros insetos.

A partir do momento em que deixaram de caçar e se tornaram totalmente dependentes das plantas, surgiram as abelhas. Embora a data precisa de eclosão das primeiras abelhas não seja conhecida, sabe-se que ocorreu naquele período, pois não existiam flores antes.

Por outro lado, o fóssil de abelha mais antigo que se conhece possui pelo menos 74 milhões de anos, e trata-se de uma abelha operária da espécie denominada Trigona prisca, hoje extinta. Considerando que as primeiras abelhas devem ter sido solitárias, como as vespas que lhes deram origem, e que a evolução para a vida em sociedade levaria milhões de anos, crê-se que as primeiras abelhas tenham surgido há cerca de 130 a 120 milhões de anos.

Na altura os atuais continentes tinham apenas iniciado a separação, tornando-se assim possível que as abelhas primitivas de então se espalhassem por todos eles, razão porque hoje se encontram espécies de abelhas nativas em toda a superfície terrestre onde existam flores.

A vida em locais tão diversos em clima, vegetação, luminosidade, temperatura, pluviosidade, predadores, opções para nidificação, entre outros aspetos, propiciou o surgimento da diversidade de espécies de abelhas que hoje habitam o nosso planeta. Curiosamente, somente 2 por cento dessas espécies são sociais e produzem mel. Entre estas, as do género Apis são as mais conhecidas e difundidas.

Tipos de abelhas e organização social da colmeia

As abelhas são insetos pertencentes à classe Insecta, ordem Hymenoptera, e família Apoidea. Das cerca de 20 mil espécies conhecidas, cada uma possui características próprias, como o formato do corpo, das asas, ou mesmo o tamanho da língua.

O corpo da abelha divide-se em cabeça, tórax e abdómen. Na cabeça, ao contrário da maioria dos animais, que possuem dois olhos, as abelhas possuem cinco. Desses cinco olhos, dois (estruturas denominadas omatídeos) são capazes de ver a luz polarizada, que o olho humano não consegue detetar.

A boca é formada por duas mandíbulas, uma língua, e um lábio representado por um labro e duas maxilas.

O seu cérebro é muito desenvolvido, possuindo cerca de 950 mil neurónios. O controle do corpo tem origem no sistema nervoso, o que lhes permite apreender as suas funções no interior da colmeia e desenvolver atividades com grande facilidade e destreza. As sensações do ambiente são captadas através das suas antenas sensoriais, tendo estas grande importância para o desenvolvimento do grupo.

No seu corpo podem observar-se dois pares de asas, e no abdómen o ferrão que, além de um fantástico depositador de ovos, serve para injetar veneno em vítimas que ameacem a segurança da colmeia.

Quando uma abelha (operária) se sente ameaçada, utiliza o ferrão em quem estiver próximo. Após a ferroada tenta escapar mas, devido às farpas, a parte posterior do abdómen, onde se localiza o ferrão, fica presa na vítima. Em alguns casos, a abelha perde uma parte do intestino e morre logo em seguida, mas ao picar insetos consegue, muitas vezes, retirar as farpas da vítima e sobreviver.

Na colmeia vive uma sociedade de abelhas divididas em castas, com funções bem definidas, e executadas tendo sempre em vista a sobrevivência e a manutenção do enxame, que pode instalar-se no interior oco de árvores, pendurado em galhos, em buracos no solo ou pedreiras, em telhados de residências ou apiários artificiais.

Em condições normais, na colónia existe uma rainha, entre 5 mil a 100 mil operárias e 0 a 400 zangões. Aqui dominam as espécies do sexo feminino. A vida de toda a colmeia depende da abelha rainha e das abelhas operárias. Já os zangões, que são os machos, possuem uma única função, a de reproduzir.

A rainha identifica-se pelo seu maior porte e por possuir um abdómen alongado. Encontra-se com maior frequência nos favos centrais, onde ficam as posturas mais recentes. Está sempre acompanhada de um grupo de operárias, que se alimentam de geleia real, chamadas de acompanhantes.

Para dominar o espaço a rainha exala uma substância denominada feromona, que mantém a humidade da colmeia. Faz o vôo de núpcias apenas uma vez na vida, por volta dos nove dias de idade, e nesse vôo copula com 10 a 20 zangões. Cinco ou seis dias depois começa a postura que se acelera até aos 18 meses de idade. Em climas temperados, a rainha apresenta geralmente alta fecundidade até ao terceiro ano de vida.

As operárias são menores que as rainhas, com patas mais curtas e abdómen arredondado e nascem em alvéolos, a partir dos ovos fecundados das posturas da rainha. Esses ovos eclodem em larvas que se alimentam apenas de geleia real nos três primeiros dias de vida. Posteriormente, a alimentação é constituída de mel e pólen até a larva se transformar em pupa, um estágio intermediário que termina no nascimento de nova operária.

Estas estão encarregadas de todo o tipo de atividades, seguindo sempre uma ordem de desenvolvimento das tarefas: procuram alimento e água, recolhem pólen, néctar e resinas, segregam e moldam cera na construção dos favos, produzem mel e alimentam a rainha e os zangões.

A última divisão das colmeias são precisamente os zangões, cuja função única é a fecundação das rainhas virgens. O zangão é o único macho da colmeia, não possui ferrão e nasce dos ovos fecundados depositados pela rainha num alvéolo maior que os das abelhas operárias. A única atividade do zangão é voar à procura de uma rainha virgem para fecundar e geralmente, poucos são mantidos na colmeia, sendo que nas épocas de escassez de alimento são mesmo expulsos dela.

Entre as abelhas, a comunicação pode ser feita por meio de sons, substâncias químicas, tato, danças ou estímulos eletromagnéticos. A dança é um importante meio de comunicação. Por meio dela, as operárias podem informar sobre a distância e a localização exata de uma fonte de alimento, um novo local para instalação do enxame, entre outros.

Algumas destas, e outras tarefas das abelhas, estão facilitadas na Apicultura, a ciência, ou arte, da criação de abelhas com ferrão.

A Apicultura

A criação racional de abelhas é uma atividade lucrativa que pode ser praticada pelo pequeno produtor rural ou agricultor familiar, com bons resultados. De entre as vantagens destaca-se o facto de não exigir uma grande propriedade para a exploração; não poluir nem destruir o meio ambiente; e de as abelhas oferecerem vários produtos que podem ser consumidos ou comercializados.

O objetivo principal da criação de abelhas é, aliás, a produção, para fins comerciais, de produtos como o mel, a geleia real, o própolis, o pólen e a cera. Mas para que esse fim seja alcançado há que dar prioridade a alguns aspetos, tão importantes que podem determinar a sobrevivência e o sucesso, ou a morte e o fracasso da criação.

A sobrevivência das abelhas, e da colmeia, depende de fatores importantes como o apiário, ou seja, o local onde serão instaladas as colmeias. Estas devem ser instaladas em locais onde haja plantas que produzam flores apreciadas pelas abelhas como fonte de alimento (néctar e pólen). É importante que a flora apícola seja formada por plantas de várias espécies e que floresçam em diferentes épocas do ano. Não sendo o caso, o apiário pode optar por fazer uma apicultura migratória.

A apicultura migratória baseia-se na mudança do apiário de uma região para outra acompanhando a floração, com o objetivo de aumentar a produção de mel, ajudando ao mesmo tempo os agricultores através da polinização. Este tipo de apicultura pode prestar serviços de polinização a pomares e outras culturas, que dependem da presença das abelhas para a sua frutificação e a qualidade de produção. A instalação de colmeias em zonas de cultivos de melão, por exemplo, pode aumentar a colheita em cerca de 50 por cento.

Aspetos como a proximidade de fontes de contaminação (depósitos de lixo, aterros sanitários, matadouros, fábricas) a existência de água, o tipo de terreno, o sombreamento, e a proteção das abelhas contra ventos também não devem ser descurados.

No entanto, uma das maiores preocupações do apicultor é o facto de numerosas colónias de abelhas terem vindo a ser dizimadas em todo o mundo nos últimos 15 anos, sem que a causa deste desastre tenha sido estabelecida.

A epidemia, de amplitude e violência colossais, está a alastrar por todo o planeta, tendo já desaparecido, em algumas regiões, entre 50 a 90 por cento da população de abelhas.

Em todo o lado se repete o cenário de milhares de milhões de abelhas que deixam as suas colmeias para nunca mais voltar. Surpreendentemente nenhum cadáver de abelha é encontrado nos terrenos circundantes, nem são visíveis predadores.

Os cientistas denominaram o fenómeno que tanto os preocupa de "Desordem do Colapso das Colónias". E têm razão em estar preocupados pois 80 por cento das espécies vegetais precisam das abelhas para serem polinizadas. Sem elas, não há polinização, logo, não há frutos, nem vegetais já que três quartos das culturas que alimentam a humanidade dependem delas.

Devemos culpar os pesticidas e os medicamentos usados para combater os seus efeitos? Os parasitas como a varroa? Vírus novos? O stress das viagens? A multiplicação das ondas eletromagnéticas que perturbam as nanopartículas no abdómen das abelhas? As vespas asiáticas? Ao que parece, é a conjugação de todos estes agentes que está a destruir as defesas imunitárias das abelhas.

É importante percebermos que a extinção das abelhas significaria não apenas uma dieta incolor, sem cereais, frutas e arroz, bem como roupas sem algodão, mas também uma paisagem mais pobre, sem pomares, jardins e prados coloridos de flores silvestres – e o consequente colapso da cadeia alimentar que sustenta pássaros, animais selvagens e outros insetos, em muitos casos provocando a extinção de outras espécies de animais, gerando uma reação em cadeia que em última análise poderia atingir os seres humanos.

Pode gostar-se ou não delas, achá-las bonitas ou ter medo de levar uma ferroada, mas uma coisa é certa: as abelhas são mais importantes para o meio ambiente e para o homem do que alguma vez se imaginou.

Os produtos das abelhas

A Apicultura é uma das mais nobres e antigas atividades do mundo, através da qual a natureza tem vindo a oferecer-nos produtos de altíssima qualidade nutricional e grande potencial terapêutico. A procura por produtos naturais com o objetivo de manter a saúde e qualidade de vida, cresce cada vez mais entre a população mundial, com destaque para os produzidos pelas abelhas.

Conhecido desde a antiguidade, o mel foi, durante muito tempo, o único produto doce usado pelo homem na sua alimentação. Na verdade, é o único produto doce que contém proteínas e diversos sais minerais e vitaminas essenciais à saúde.

É ainda um alimento de alto potencial energético e com propriedades medicinais. Além disso, é dos poucos alimentos com reconhecida ação antibacteriana, que contém em proporções equilibradas vitaminas, fermento, minerais, ácidos e aminoácidos.

Produto processado a partir do néctar das flores, o mel tem a sua cor e sabor diretamente relacionados com a predominância da floração. Relativamente à coloração, há, basicamente, o mel claro e o mel escuro.

Contrariamente ao senso comum, a maioria do mel puro, genuíno, acaba por cristalizar com o tempo, não perdendo contudo as suas propriedades nutricionais. Esta cristalização é um processo natural do mel e depende principalmente da sua origem floral, da concentração de glicose, do teor de humidade, da temperatura ambiente e da presença de partículas, como grãos de pólen.

O pólen, também conhecido como pão de abelhas, é um produto riquíssimo em proteínas, vitaminas e hormona de crescimento, encerrando todos os elementos indispensáveis à vida dos organismos vivos. A sua importância é tal que, na falta de pólen, as abelhas não sobrevivem. É um produto tão perfeito que, até hoje, o homem não conseguiu elaborar um substituto que pudesse ser fornecido às abelhas. Apesar de riquíssimo em vitaminas (principalmente A e P), proteínas e hormonas, o pólen ainda não é muito usado como produto medicinal.

Constituída por resinas vegetais que as abelhas recolhem de determinadas árvores, cera, pólen, ácidos e gorduras, a própolis é uma substância que as abelhas processam para calafetar frestas da colmeia, soldar peças e componentes móveis da sua morada e para diminuir a entrada do alvado nas épocas frias.

Para o homem, o maior interesse é a sua ação antibiótica e antissética, mas apresenta igualmente ação imunológica, anestésica, cicatrizante e anti-inflamatória.

A geleia real é um produto natural excretado pelas abelhas jovens e contém notáveis quantidades de proteínas, lípidos, hidratos de carbono, vitaminas, hormonas, enzimas, substâncias minerais, fatores vitais específicos, substâncias biocatalisadoras nos processos de regeneração das células, que desenvolvem uma importante ação fisiológica.

Para o homem, a geleia real tem ação vitalizadora e estimulante do organismo, aumenta o apetite e tem comprovado efeito antigripal. Não se conhece, na biologia e medicina, outra substância com semelhante efeito sobre o crescimento, longevidade e reprodução das espécies.

A cera de abelha é a substância que forma a estrutura de um favo de mel. Tal como o mel que armazena, a cera tem propriedades terapêuticas de grande interesse para o homem, sendo particularmente eficaz na cura de nódoas negras, inflamações e queimaduras.

É também utilizada como ingrediente na indústria de fármacos e cosméticos, na fabricação de velas, pomada para calçado, para dar brilho a pisos, móveis, couros e lentes telescópicas, no fabrico de unguentos, na composição de fitas adesivas, pastilhas, tintas e materiais para impermeabilização.

Apesar de ser um produto letal para o homem, quando aplicado em grandes quantidades, a Apitoxina (veneno das abelhas) é, paradoxalmente, um consagrado medicamento contra diversos distúrbios e afeções.

O tratamento contra o reumatismo à base de veneno de abelha é sobejamente conhecido, mas a Apitoxina também é utilizada com sucesso contra nevrites e nevralgias, afeções cutâneas, doenças oftálmicas, na redução da taxa de colesterol do sangue, e contra a hipertensão arterial.

Não restam dúvidas de que a importância das abelhas não se resume à produção de mel, o que, pelas suas riquíssimas propriedades, já seria bom.

A importância das abelhas para além do mel

"Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana." disse Albert Einstein, numa previsão catastrófica, na primeira metade do século XX.

A verdade é que a maioria das pessoas desconhece que as abelhas cumprem um papel infinitamente mais relevante do que apenas a produção de mel: são os melhores e mais eficientes agentes polinizadores da natureza, responsáveis pela reprodução e perpetuação de milhares de espécies vegetais, produzindo alimentos, conservando o meio ambiente e mantendo o equilíbrio dos ecossistemas.

A polinização das abelhas é fundamental para garantir a alta produtividade e a qualidade dos frutos em diversas culturas agrícolas do planeta. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 85 por cento das plantas com flores das matas e florestas, e 70 por cento das culturas agrícolas, dependem dos polinizadores.

Em suma, pode concluir-se que as abelhas assumem uma elevada importância na vida de todos os seres vivos do planeta, relativamente ao seu alimento. A sua extinção iria trazer consequências trágicas, não só para a Humanidade, mas para toda a população do Ecossistema Terra, como bem é documentado no excelente "Vanishing of the bees" de 2009 e no mais recente "More than Honey" de 2013.

Assim, sem dramatizar, devemos pensar duas vezes antes de matarmos uma abelha, pois podemos estar a contribuir para o início do fim da Humanidade!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

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