FIBROMIALGIA

FIBROMIALGIA

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Andam de médico em médico sem qualquer resultado: ao cardiologista pelas palpitações; ao neurologista devido às "dores raras"; ao reumatologista para tentar fugir daquelas dores nas articulações e ao gastrenterologista à procura de um diagnóstico de úlcera, causa das frequentes diarreias. Por último, tenta-se o psicólogo para resolver aquela sensação de pânico e angústia. Mas os vários exames revelam que, aparentemente, está tudo bem. Tudo, menos o paciente...

Comemorou-se a 12 de Maio o dia internacional da fibromialgia (FM), um problema que afecta cerca de 5 por cento da população adulta. Sendo mais preponderante nas mulheres, sobretudo entre os 20 e 50 anos, há relatos de crianças com 2 anos que também são atingidas pela doença.

Trata-se de uma síndrome musculoesquelética que provoca dor generalizada intensa nos tecidos moles (músculos, ligamentos ou tendões), mas não afecta as articulações e ossos como ocorre na artrite reumatóide. Sintomas depressivos, assim como fadiga extrema, estão também associados à doença, o que pode comprometer as tarefas da vida diária, tanto a nível profissional como no âmbito familiar.

A fibromialgia não é uma doença recente, embora os estudos sobre a patologia só tenham começado nas últimas duas décadas. A associação de pontos dolorosos com o reumatismo foi relatada já em 1824 por Balfour, em Inglaterra, que observou doentes com pontos musculares sensíveis à palpação e passíveis de desencadear dor irradiada. Desde então, a doença tem sido apresentada sob vários nomes – Fibrosite, Miofibrosite ou Síndrome Fibrocística – tendo-se adoptado o nome actual de Fibromialgia em 1981, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença reumática, dez anos mais tarde.

O facto de a fibromialgia ser de difícil identificação contribui para subestimar a sua frequência, havendo mesmo médicos que levantam dúvidas sobre a sua existência real, pois não há exames laboratoriais, radiológicos ou outros que confirmem ou excluam a presença da doença. É por isso que, durante muito tempo, a FM foi considerada de carácter psicológico ou psicossomático, embora estudos utilizando ressonância magnética comprovem que as dores são reais e se manifestam nos lóbulos frontais do cérebro.

Actualmente, o debate decorre em considerar a FM como uma patologia em si mesma ou um conjunto de sintomas (síndrome) relacionados com doenças neuro-reumatológicas, neurológicas e imunológicas de difícil diagnóstico, que engloba uma série de manifestações clínicas como a dor, fadiga e distúrbios de sono.

Quem é o culpado?

Uma das razões de se afirmar que a FM não tem cura e que também justifica terem decorrido tantos anos sem ser reconhecida como um problema de saúde, prende-se com o desconhecimento, por parte da ciência e da medicina, das suas causas e do que fazer para as resolver. É que as causas são múltiplas e não aparecem nos mais modernos meios de diagnóstico.

Contudo, os especialistas acreditam que a doença pode ser causada ou agravada pelo stress físico ou mental, um traumatismo emocional ou físico, exposição excessiva à humidade ou ao frio ou, ainda, resultado de uma doença infecciosa ou viral. Há casos em que a doença surgiu após o aparecimento de outras que debilitam o organismo, como a artrite reumatóide ou o lúpus eritematoso. A ansiedade e depressão causadas por alterações emocionais, como a morte de um familiar, divórcio ou fracasso profissional, podem também desencadear a doença. Por outro lado, os sintomas de fibromialgia são susceptíveis de provocar alterações de humor ou diminuição da actividade física, o que acentua ainda mais as manifestações de dor.

Muitos especialistas apontam factores genéticos na origem da FM e destacam os estudos realizados sobre o gene COMT, assim como os genes relacionados com a serotonina e a substância P. Pensa-se que muitos doentes apresentam baixos níveis de serotonina e triptófano e, por outro lado, têm níveis elevados da substância P no líquido cefalorraquideano. Há também casos em que os especialistas encontraram um deficiente fluxo sanguíneo na região do tálamo e anomalias na função das citocinas.

Outros estudos indicam elevados níveis de anticorpos anti-polímeros, o que poderia estar associado a uma doença auto-imune. O papel de certas hormonas ou a presença de determinados produtos químicos orgânicos foram factores não ignorados nas várias pesquisas que tentam explicar a doença e que procuram realizar um diagnóstico mais eficaz.

Apesar de tantas incertezas sobre a origem da doença, apenas se pode chegar a uma conclusão: os pacientes com FM percepcionam a dor de forma diferente da maior parte da população e fazem-no na ausência de qualquer tipo de patologia. Assim, as futuras terapias, para serem eficientes, devem saber responder aos mecanismos de dor envolvidos na doença e nas patologias associadas.

Diagnóstico é sobretudo clínico

A FM é muito difícil de ser identificada, por não existirem exames de laboratório ou radiológicos que detectem a doença, embora estes sejam importantes para despistagem de outras patologias como a artrite, a osteoporose, reumatismo ou anormalidades na tiróide que, apesar dos sintomas semelhantes, exigem outro tipo de tratamento.

O diagnóstico tem como ponto de partida a descrição, por parte do doente, de todo o seu processo doloroso crónico. Um exame físico realizado pelo médico, que abranja a localização de pontos mais dolorosos quando pressionados, pode confirmar o diagnóstico que deve contar também com a história clínica do doente.

O Colégio Americano de Reumatologia definiu vários critérios para realizar um diagnóstico correcto. A dor musculoesquelética generalizada deve ser superior a três meses, abrangendo o lado esquerdo e direito do corpo, a região acima ou abaixo da cintura, para além de dor também no esqueleto axial. Por outro lado, a dor à palpação digital deve manifestar-se, pelo menos, em 11 dos 18 pontos sensíveis que se encontram distribuídos ao longo do corpo, sobretudo, na área do pescoço, joelhos, pélvis e cotovelo. Pelo menos dois dos quatro sintomas seguintes devem estar presentes: fadiga, alterações de sono, perturbações emocionais e dores de cabeça. Quando a fadiga é persistente torna-se mais problemática do que a dor e pode estar associada a um outro distúrbio conhecido por síndrome de fadiga crónica (SFC). Muitas pessoas manifestam ainda problemas urinários, digestivos e abdominais, ao que se pode associar a síndrome de cólon irritável. A FM pode ainda apresentar-se sob a forma de um movimento involuntário das pernas durante o sono, que se denomina síndrome das pernas inquietas.

Os sintomas e a sua intensidade variam de pessoa para pessoa o que dificulta o tratamento, pois este deve ser o mais abrangente e multidisciplinar possível, avaliando, periodicamente, a evolução do doente.

Doença sem tratamento curativo

Não há actualmente nenhum fármaco autorizado para tratar a FM, nem "comprimidos milagrosos" ou "receitas inovadoras". Sendo uma síndrome multissintomática, a opção mais conveniente, sobretudo nos casos mais graves, é um programa completo de cuidados que envolva medicamentos, exercício físico e técnicas de relaxamento para combater a dor, a tensão muscular e a ansiedade. Mas se a terapêutica da FM deve ser multifacetada, envolvendo vários profissionais médicos como o psicólogo ou o reumatologista, no que se refere ao doente, deve existir uma abordagem individualizada, porque nem todos se encontram na mesma fase evolutiva, apresentam a mesma complexidade ou têm reacções semelhantes face à terapia utilizada.

O conhecimento que o doente vai adquirindo sobre a sua doença, o tratamento farmacológico, a realização diária de exercício moderado e a terapia psicológica são, assim, os pilares básicos nos quais deve assentar um eficaz tratamento da fibromialgia.

Os fármacos utilizados devem incidir, em particular, no combate à dor e na melhoria do sono. Nunca prevêem a cura e, em muitos casos, até podem apresentar efeitos colaterais que acentuam a doença, razão pela qual os especialistas aconselham moderação no seu uso.

Os medicamentos anti-inflamatórios esteróides, utilizados para tratar muitas doenças reumáticas, não são úteis em pacientes com fibromialgia, mas alguns anti-inflamatórios não esteróides (AINE), como a aspirina ou o ibuprofeno, podem apresentar resultados positivos e aliviar parcialmente a dor. Os inibidores da Cox-2 também proporcionam algum alívio, provocando menos efeitos secundários no estômago e tracto gastrointestinal.

Por outro lado, fármacos que induzam o sono profundo e relaxem os músculos podem ser benéficos para ajudar as pessoas com fibromialgia a terem uma boa noite de descanso. Os antidepressivos podem também ter efeito semelhante, em virtude de provocarem o aumento dos níveis de serotonina no cérebro. Relaxantes musculares como a ciclobenzaprina, em doses baixas, mostraram alguma eficácia na melhoria da dor e do sono, mas o seu efeito é temporário.

Medicamentos tópicos, como os corticosteróides ou o bloqueio de raízes nervosas, ainda não obtiveram o consenso de todos os especialistas em fibromialgia, na medida em que a sua utilização contínua pode agravar os sintomas da dor, a longo prazo. Contudo, nas crises agudas de dor, acompanhadas de espasmos musculares ou de formigueiros, pode ser adequado o uso de anticonvulsivantes em doses moderadas e durante curtos períodos. Antiarrítmicos, utilizados no controlo da dor neuropática, também podem ser administrados com sucesso na FM.

Outros fármacos, como a hormona de crescimento, a melatonina ou a gabapentina, não demonstraram, até ao momento, qualquer utilidade no tratamento da doença.

A terapia farmacológica só se mostra eficaz se for acompanhada de um programa eficaz de realização diária de exercício físico moderado, assim como de técnicas de relaxamento no sentido de prevenir os espasmos musculares.

A prática regular de exercício pode melhorar o tónus muscular, a sensação de dor, os distúrbios de sono e a saúde mental em geral, promovendo uma melhor qualidade de vida. Mais especificamente, estes exercícios actuam sobre o sistema músculoesquelético, favorecendo o alongamento dos tendões, sobretudo nas áreas habitualmente mais afectadas pela dor. O aparelho cardiovascular, a coordenação motora, assim como a auto-estima da pessoa, também são beneficiados com um bom programa de exercícios aeróbicos, que pode incluir a natação, marcha ou ciclismo em terreno plano.

O paciente deve conhecer a doença e a melhor forma de conviver com ela. A patologia, apesar de muito dolorosa, é relativamente benigna e não produz incapacidade ou invalidez, nem deixa qualquer deformação ou sequela graves. Contudo, caracteriza-se por recidivas intermitentes de períodos de fadiga e de dor. O paciente deve combater os sintomas logo que se manifestem com recurso a medidas medicamentosas ou não. As remissões são raras, embora existam ligeiras melhoras no que se refere à dor e à fadiga.

Algumas pessoas apresentam sintomas tão graves que são incapazes de desenvolver uma actividade laboral normal, afectando também as relações sociais e de família. Para piorar o cenário, amigos e familiares, bem como alguns médicos, podem duvidar da veracidade das queixas da pessoa que sofre de fibromialgia, o que pode potenciar sentimentos de isolamento, culpa e raiva.

Prognóstico da doença

As mais recentes investigações, com recurso a técnicas avançadas de imagem e neurocirurgia, sugerem que os fibromiálgicos sofrem de uma alteração dos mecanismos de processamento da dor, sendo provável que por detrás possa estar um desequilíbrio no sistema nervoso central. As futuras terapias devem incidir nesses mecanismos da dor, assim como no sistema endócrino, responsável pela resposta ao stress, uma condição favorável à manisfestação da doença. Os estudos desenvolvidos até agora visam entender melhor a doença e as suas causas por forma a proporcionarem um tratamento mais efectivo e até a sua prevenção.

Por enquanto soluções definitivas para a FM não foram encontradas, apesar da informação acumulada sobre a doença nas últimas duas décadas. As medidas que se aconselham são paliativas e orientadas no sentido de melhorar a qualidade de vida, enfrentar a doença e recuperar a auto-confiança do doente. Este deve aprender a conviver com uma doença em que a dor pode permanecer para sempre.

Contudo, os fibromiálgicos já levantam a sua voz – por vezes em protestos silenciosos – dando o seu testemunho para esbater preconceitos e mitos sobre a doença, tornando-a mais visível e alertando os que iniciam a sua permanente peregrinação para médicos e especialistas a fim de tentarem descobrir o "mal raro" de que sofrem!

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