De uma maneira geral, a visão é o sentido mais valorizado pelo Homem. Numa sociedade repleta de apelos visuais, em que o contacto com o mundo se faz inicialmente por meio dos olhos seja presencialmente ou alcançando distâncias enormes, que nos chegam por meio da internet é fácil entender a razão.
Ficar cego é apontado como um dos maiores medos do ser humano. Se outrora a cegueira era uma fatalidade, hoje, na maioria dos casos, pode ser evitada graças aos avanços científicos e tecnológicos da oftalmologia.
Uma das principais causas de cegueira evitáveis no mundo continua a ser a catarata. Considerada uma questão de saúde pública, a catarata atinge cerca de metade (46,2 por cento) da população mundial com mais de 65 anos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que no mundo 160 milhões de pessoas tenham a doença.
Em Portugal o número de casos de cataratas tem vindo a aumentar e, de acordo com dados da Direção Geral de Saúde (DGS), crê-se que existam cerca de 170 mil diagnósticos positivos, sendo que 6 em cada 10 portugueses acima dos 60 anos apresentam sinais da doença, realizando-se, por ano, mais de 80 mil cirurgias para o seu tratamento.
A baixa acuidade visual tem, frequentemente, um impacto negativo sobre a qualidade de vida do doente, originando problemas psicológicos, sociais e económicos, pois implica uma perda importante de autoestima, e de status, além de restrições ocupacionais.
O olho humano é semelhante a uma sofisticadíssima máquina fotográfica. No segmento anterior, internamente, possui uma lente denominada cristalino localizada atrás da íris, o cristalino mede cerca de 4 mm de espessura e 9 mm de diâmetro com capacidade de focagem e, na parte posterior, uma película nervosa sensível, a retina, que funciona na captação de imagens, tal como uma máquina fotográfica.
A retina transmite ao cérebro a imagem que, através do cristalino, é focada pelo olho.
Para uma visão adequada é preciso que o cristalino seja completamente transparente, de forma a que os raios de luz possam atravessá-lo e serem captados pela retina.
O vocábulo catarata deriva do grego "katarraktes", que significa corrida para baixo ou queda-d'água. Originalmente, pensava-se que o fluido cristalizado do cérebro escorria para a frente do cristalino, obstruindo a visão clara. Portanto, a palavra em si contribui para o equívoco contínuo sobre o que realmente é a catarata.
Contrariamente à crença popular generalizada, a catarata não é uma "película" sobre o olho, mas a opacificação do cristalino, que impede, total ou parcialmente, os raios de luz de chegarem à retina, prejudicando a visão.
O impacto da catarata na qualidade de vida deve ser fundamentalmente avaliado através da dificuldade de visão e da diminuição da capacidade funcional referidas pelo doente. É importante compreender que alguns doentes, melhor do que outros, podem adaptar-se às deficiências visuais e não notar o declínio funcional um facto que terá de ser ponderado na decisão terapêutica.
Causas e tipos
Qualquer alteração na disposição dos elementos que constituem o cristalino pode provocar a formação de uma zona opaca, mais ou menos extensa, independentemente de se situar na parte central (catarata nuclear) ou na zona periférica (catarata cortical), com as consequentes repercussões sobre a visão.
O tipo mais comum de catarata é a nuclear por ser aquela que se desenvolve como uma função natural do envelhecimento. Quando o olho desenvolve este tipo de catarata, o núcleo do centro do cristalino está a tornar-se, ou já se tornou, opaco.
A catarata cortical ocorre quando a transparência do córtex, ou camada ao redor do núcleo é comprometida. Embora não seja tão comum quanto a anterior, este tipo de catarata ainda é razoavelmente normal e é também causada pelo processo de envelhecimento natural. Aproximadamente aos 60 anos, 16 por cento do cristalino é córtex. A produção cortical torna o cristalino mais compacto e duro, ou esclerático.
Uma catarata é considerada de tipo avançado quando o núcleo e o córtex se tornaram totalmente opacos e o cristalino só consegue transmitir pouquíssima ou nenhuma luz. Neste estado a sintomatologia é mais grave, pois a visão está extremamente comprometida.
Existem várias causas para a opacificação do cristalino. Podem produzir-se cataratas congénitas, presentes desde o nascimento, devido a alterações genéticas que determinam um desenvolvimento defeituoso do cristalino ou uma alteração da sua formação, em consequência de uma doença infecciosa sofrida pela mãe ao longo dos primeiros meses de gravidez (como a rubéola ou a toxoplasmose), ou até através da utilização de determinados medicamentos ou de alguma desnutrição grave durante esse período.
Mas ao longo da vida existem outros fatores que podem originar a formação das chamadas cataratas adquiridas. Estas podem desenvolver-se devido a complicações de algumas doenças gerais como a diabetes, a gota, ou o hipotiroidismo, mas também podem ser provocadas por traumatismo ocular, exposição a raios X, infravermelhos ou raios gama, intoxicação com várias substâncias ou um tratamento prolongado com corticoides. De referir ainda que a utilização prolongada de anti-inflamatórios potentes em determinadas doses, provoca, como efeito secundário, o desenvolvimento da própria doença.
Contudo, a maioria das cataratas surge na velhice, produto das transformações sofridas pelo cristalino ao longo dos anos, principalmente devido a uma perda do seu conteúdo aquoso e à condensação das suas fibras, designando-se cataratas senis, e particularmente comuns a partir dos 60 anos. Considera-se mesmo que todos os que viverem muitos anos podem ser afetados pelo problema.
Para além dos fatores mencionados nas cataratas adquiridas, são também elementos de risco o tabagismo, o uso de óxido nítrico e o sexo do paciente.
Segundo dados demográficos, existe maior prevalência de cataratas no sexo feminino, não só porque o número de mulheres idosas é maior, e os fatores hormonais podem provocar uma possível síndrome do olho seco, mas também porque a mulher está habitualmente mais envolvida em atividades que exigem uma melhor coordenação visual e motora, como por exemplo a costura, entre outras artes manuais. Além disso, o caráter perfecionista, mais acentuado no género, pode contribuir para uma procura mais ativa de uma melhor qualidade visual.
A sintomatologia e o diagnóstico
Na maior parte das vezes o paciente nem se apercebe de que a visão se tem vindo a alterar, até ao dia em que vai ao oftalmologista pedir uma nova prescrição para óculos ou lentes de contacto.
Num estádio inicial a catarata causa apenas uma perda discreta da qualidade visual, alterando a visão das cores, que se apresentam mais desbotadas. Outro sintoma comum é a diminuição da acuidade visual noturna, por vezes com algum ofuscamento na presença de focos intensos de luz, como faróis de automóveis.
Contudo, à medida que a catarata avança, a visão vai ficando progressivamente mais turva, prejudicando as atividades mais comuns, como ler, ver televisão, ou passear. Nos casos extremos a queixa óbvia é a perda de visão útil. Não são raros os casos de doentes mais idosos que sofrem quedas e fraturas sérias devido à visão prejudicada.
O diagnóstico da doença é feito pelo oftalmologista através da realização de alguns testes como: avaliação do grau da acuidade visual, mensurada geralmente pela Tabela de Snellen; exame com lâmpada de fenda (biomicroscopia) que, com o auxílio de microscópio, permite observar detalhadamente a córnea, o cristalino, a íris e o espaço entre a íris e a córnea; exame da retina, em que o médico coloca um colírio no olho do paciente para dilatar a pupila, de modo a visualizar mais facilmente o saco conjuntival; exame da pressão ocular, utilizando o próprio equipamento da lâmpada de fenda.
Quando verificada a existência de catarata, normalmente são realizados outros exames complementares de diagnóstico como, por exemplo, Retinografia, OCT (Tomografia de Coerência Ótica), Ecografia (Ultrassonografia ocular), Biometria, Aberrometria ocular, etc.
Diagnosticada a doença, o médico oftalmologista deverá explicar as diferentes formas de tratamento ao doente e procurar a sua adesão à terapia que ache mais adequada.
Tratamento e Prevenção
O único tratamento possível consiste na cirurgia, já que apenas se consegue recuperar a visão através da remoção do cristalino opaco e da substituição do seu poder de refração mediante a colocação de uma lente intraocular, a utilização de lentes de contacto ou de óculos especiais.
Não existem colírios ou qualquer outro tratamento clínico para correção desta opacidade do cristalino.
A cirurgia da catarata é a mais realizada no mundo e a que tem maior taxa de sucesso (superior a 97 por cento) sendo, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, a cirurgia no corpo humano que maior grau de satisfação oferece aos pacientes.
O aumento da esperança de vida na sociedade moderna e as solicitações várias para a visão (televisão, cinema, computador, condução, etc.) leva a uma necessidade, cada vez mais precoce, deste tipo de cirurgia.
Realizada sob anestesia tópica, consiste unicamente na aplicação de colírios anestésicos no olho o que é uma vantagem enorme para os doentes idosos, muitos deles portadores de patologias que contraindicam a utilização de anestesia geral. Além disso, não há necessidade de recorrer ao internamento, e o doente tem alta no próprio dia da cirurgia.
Simples e segura, a cirurgia de catarata resume-se à remoção do cristalino por microfragmentação e aspiração do núcleo, num processo denominado Facoemulsificação.
A técnica consiste na utilização de uma agulha através de um pequena incisão, no interior da catarata. A agulha está ligada a um aparelho de ultrassons que ajuda a dissolver o cristalino. Os fragmentos resultantes são aspirados pela mesma agulha, deixando o saco do cristalino completamente limpo e transparente. Em seguida é introduzida (injetada) no saco do cristalino agora transparente, através da mesma incisão, uma lente intraocular artificial (LIO), dispositivo inventado há mais de 54 anos. Esta lente beneficiou de grandes inovações e constitui talvez o maior avanço à disposição do oftalmologista cirurgião.
O procedimento é rápido, indolor, e com incisões minúsculas que dispensam pontos ou suturas, sendo usado apenas um protetor transparente. A melhoria da visão nota-se de imediato, nas horas seguintes à intervenção.
Atualmente, existe ainda a opção de corrigir erros refrativos como a miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia durante a cirurgia, ou seja, além de se remover a catarata existe uma variedade de lentes intraoculares que ajudam a corrigir este tipo de erros refrativos.
O surgimento da doença é, muitas vezes, inevitável e até hoje não se conhecem quaisquer medidas de prevenção eficazes. No entanto, alguns hábitos de vida podem abrandar o processo da sua formação.
É importante controlar o peso e fazer uma dieta equilibrada onde estejam incluídas frutas, vegetais, frutos secos e sementes. As vitaminas contidas nestes alimentos protegem o cristalino, havendo um risco menor de desenvolver cataratas.
Manter outras doenças sob controle, como, por exemplo, a diabetes. Os níveis elevados de açúcar irritam os tecidos oculares e danificam as proteínas do cristalino.
Ter atenção à medicação, pois certo tipo de medicamentos e colírios podem induzir o aparecimento de cataratas.
O tabagismo e a ingestão excessiva de álcool são hábitos a abandonar. Os estudos indicam que os fumadores sofrem prematuramente de cataratas, e que o álcool pode predispor para a doença. Além disso, ambos aceleram o processo de envelhecimento.
Proteger os olhos é a regra de ouro. O uso de óculos de sol não deve ser descurado. Os raios UV podem acelerar a lesão tecidular, pelo que deve existir proteção contra raios UVA e UVB.
Por fim, mas não menos importante, é não ignorar a sintomatologia e vigiar regularmente a vista através das consultas da especialidade. Um exame oftalmológico de rotina é a chave para a deteção precoce da doença. Pessoas com mais de 65 anos devem fazer exame ocular pelo menos uma vez por ano.
Nos últimos anos, com o aumento da qualidade da informação, dos avanços tecnológicos e da ciência médica em matéria de diagnóstico e tratamento, tornou-se possível prevenir e tratar doenças oftalmológicas anteriormente consideradas incuráveis.
A evolução na cirurgia da catarata, com resultados cada vez mais previsíveis e índices de complicações cada vez menores, não diminui a responsabilidade do cirurgião especializado na intervenção.
A implantação de LIOs, através de minúsculas incisões, representa um dos mais importantes avanços da medicina, por permitir tratar com grande eficiência a principal causa de cegueira, recuperando, de forma segura e rápida, o mais importante sentido do ser humano a visão.
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
A saúde hematológica é crucial para o bem-estar geral do organismo humano, pois o sangue é responsável pelo transporte de oxigénio e nutrientes para todas as células.
A fitoterapia parece ter acompanhado a evolução humana sendo, portanto, tão antiga quanto a história da humanidade. Esta prática milenar está em constante evolução, uma vez que assenta no conhecimento...
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