As viagens internacionais aumentaram surpreendentemente nos últimos anos.
Segundo as estatísticas disponíveis mais recentes (2006) do World Tourism Organization, o número de viagens internacionais de turistas registado excedeu os 840 milhões.
Apesar de para a maioria das pessoas viajar ser sinónimo de prazer, as viagens internacionais podem transformar-se num pesadelo, se não forem tomadas precauções para acautelar riscos de saúde potenciados pelo eventual desiquilíbrio fisiológico que estas provocam.
No país de destino, os viajantes podem ficar expostos a inesperadas e significativas mudanças de altitude, humidade, temperatura e organismos bacterianos, que podem resultar em problemas graves de saúde.
O bem-estar do viajante e o consequente risco de doença dependem sobretudo do objectivo da viagem, itinerário, qualidade da acomodação, condições sanitárias e de higiene, bem como do seu comportamento, antes, durante e após a viagem. O stress originado pelo cansaço nas viagens de longo curso, a idade e o estado de saúde desempenham também um papel primordial.
É igualmente importante, senão vital, que o viajante tenha conhecimento das doenças infecciosas que assolam o seus país de destino para que a prevenção, incluindo a imunização, seja eficaz.
É essencial a ida a uma Consulta de Medicina do Viajante quando se viaja para destinos pouco conhecidos. Estas consultas são orientadas para a prevenção das doenças e riscos relacionados com as viagens.
Se o viajante fizer parte de um grupo de risco, como o dos doentes cardíacos, diabéticos, grávidas, imunodeprimidos e portadores de uma doença infecciosa, é necessário que receba um aconselhamento particular.
Fazer as malas
Para onde quer que vá, deverá transportar consigo um estojo com alguns produtos/medicamentos básicos: solução desinfectante, repelente com DEET ou repelente 3535, medicação para as picadas de insectos, descongestionante nasal, sais de re-hidratação oral, analgésicos simples, como o paracetamol, um termómetro clínico, pensos rápidos, fita adesiva, ligaduras, compressas esterilizadas, medicação para alguma doença pré-existente, antiácidos e antidiarreicos.
Adicionalmente, consoante o destino, é igualmente importante juntar à bagagem, um protector solar e óculos de sol, preservativos, seringas e agulhas esterilizadas e descartáveis, antimaláricos, entre outros.
Riscos associados aos meios de transporte
O avião é o meio de transporte mais utilizado para viajar. Voar, porém, não é uma acção isenta de riscos. Os efeitos fisiológicos adversos de voar passam pela hipóxia, hiperventilação, expansão de gases, desidratação, enjoos, problemas nos ouvidos e nos seios perinasais, entre outros.
Durante a viagem há uma pressurização do ar e, consequentemente, uma pequena diminuição do seu volume. É aconselhável que todos os passageiros, nomeadamente os que sofrem de doenças crónicas, engulam/mastiguem aquando da aterragem ou, se a dor persistir, realizar a manobra de Valsalva.
Devido à diminuição da humidade, aconselha-se o passageiro a ingerir muitos líquidos, antes e durante o voo, a aplicar um creme hidrante e a usar óculos em vez de lentes de contacto.
Em voos de longo curso é aconselhado o aumento do consumo de líquidos e da ingestão de fruta, movimentar os músculos, mesmo sentado no lugar, e descansar antes da partida e durante a viagem para evitar o efeito de Jet Lag.
Riscos associados ao ambiente
A mudança abrupta das condições ambientais é um dos grandes inimigos da saúde do recém-chegado. Factores como a altitude, o calor e a humidade, a radiação ultravioleta, as contaminações da água, da comida e do solo podem influenciar a sua saúde.
Para prevenir as doenças associadas aos factores ambientais, as autoridades responsáveis aconselham evitar viajar directamente para altitudes muito elevadas – prevenir a doença da altitude. Os indivíduos com doenças pré-existentes, como as doenças cardíacas, pulmonares e anemias, devem aconselhar-se com o seu médico antes de viajarem.
A exposição a temperaturas e humidade elevadas resulta na perda de água – pode causar desidratação – e de electrólitos que podem levar a uma exaustão pelo calor ou mesmo a uma trombose pelo calor.
O viajante cujo país de destino tenha este padrão climático deve beber muitos líquidos e adicionar um pouco mais de sal na alimentação – excepto se contra-indicado. Estas medidas podem ajudar a prevenir as doenças supra mencionadas, nomeadamente durante o período de adaptação.
Como as infecções fúngicas, tais como o pé de atleta, podem agravar-se em climas húmidos, é recomendável que durante a sua estadia o viajante use roupa folgada de algodão, aplique pó de talco nas áreas sensíveis às infecções e tome um duche diário.
A radiação ultravioleta, que penetra a água até mais de um metro de profundidade, é particularmente nociva para os olhos e para a pele. Quanto mais perto do equador, maiores são as probabilidades de ocorrência de lesões.
Evitar a exposição solar a meio do dia, aplicar protecção solar, evitar qualquer exposição no caso de já se terem verificado reacções alérgicas, proteger a cabeça, os olhos, os braços e a pernas e verificar se a medicação que está a tomar não irá afectar a sensibilidade aos raios UV são algumas das medidas que poderão ajudar a manter o bem-estar do viajante.
Riscos associados a acidentes e violência
Os viajantes têm mais probabilidades de morrer, sofrer lesões através de violência ou acidentes intencionais do que sucumbir a uma doença infecciosa exótica, particularmente nos países mais carenciados.
Como medida de segurança, o viajante deverá levar consigo os contactos da sua embaixada/consulado no país de destino, estar atento à possibilidade de assalto, ocultar os objectos valiosos, evitar transportar consigo grandes quantias de dinheiro, evitar andar em locais desertos e utilizar apenas táxis autorizados. Se quiser visitar uma área remota deverá usar os serviços de um guia/intérprete local ou de um condutor. Quando viajar de carro deve manter as portas do carro trancadas e as janelas fechadas. Se for envolvido num assalto à mão armada, não resista.
As autoridades responsáveis aconselham a realização de um seguro de saúde/viagem que cubra o repatriamento. Para viagens na UE, Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, o viajante poderá pedir gratuitamente na Segurança Social o Cartão Europeu de Saúde, que lhe irá facilitar a vida dentro do Serviço Nacional de Saúde do país de destino – tem acesso a cuidados médicos nas mesmas condições que os residentes do país.
Riscos associados a doenças infecciosas
Dependendo do local para onde se dirige, o viajante pode estar exposto a um número indeterminado de doenças infecciosas. As precauções básicas podem ajudar a reduzir o risco de exposição e deverão ser sempre respeitdas, independentemente da toma de vacinas ou de medicação.
Muitas doenças infecciosas, como a brucelose, cólera, giárdia, hepatite A e E, legionella, leptospirose, febre tifóide, entre outras, são transmitidas através da água e de comida contaminada. O grande problema de saúde associado a este tipo de contaminação é a denominada diarreia do viajante. Este problema afecta cerca de 80 por cento dos viajantes para os destinos de risco elevado. A melhor forma de prevenção é assegurar a salubridade da água ingerida, não ingerir alimentos crus, mal cozinhados ou com gelo, ingerindo sempre alimentos bem cozinhados e, de preferência, ainda quentes.
As infecções transmitidas através da picada de mosquitos infectados são uma enorme ameaça para a saúde do viajante.
Doenças como a febre amarela, a dengue, a chikungunya e a encefalite japonesa são transmitidas por este meio. Uma das mais frequentes e de elevado risco é a malária, sobretudo em muitas regiões tropicais e subtropicais.
A escolha de antimaláricos compete ao médico, baseado no destino e na história patológica do viajante. Apesar desta medida profiláctica, que deverá continuar uma a quatro semanas após o regresso, o viajante deverá estar informado de que esta pode ressurgir.
O viajante pode minimizar o risco de infecção se levar repelentes para insectos, spray inseticida, roupa um pouco mais grossa e impregnada com repelente, utilizar sempre as redes mostiqueiro, e transportá-las consigo, caso não exista na região de destino.
Para evitar zoonoses – a raiva, febres hemorrágicas virais, brucelose, entre outras –, transmitidas através do contacto directo com animais ou da ingestão de comida de origem animal, o viajante deve evitar o contacto directo com animais.
As doenças sexualmente transmissíveis, um dos maiores flagelos do nosso século, são uma realidade em todo o mundo. As mais frequentes são a sida, a hepatite B, a sífilis, gonorreia, herpes genital, infecções por clamídia, tricomoníase, cancro mole e condiloma genital. A única que pode ser prevenida através de imunização é a hepatite B. As restante doenças só podem ser evitadas através da prevenção. Assim, o viajante deve evitar sexo casual e desprotegido e utilizar sempre preservativos.
É ainda importante mencionar as doenças transmitidas através do ar, como a pneumonia, a meningite, o sarampo, a varicela, a Síndrome Respiratória Aguda; do sangue, como a hepatite B, sida e a malária; e do solo, como a anthrax e o tétano.
Vacinas
Muitos países têm legislação que obriga a toma de determinadas vacinas. A vacina da febre amarela – administrada até dez dias antes –, por exemplo, é obrigatória em muitos países da África Ocidental, Central e Oriental, na América Central e do Sul. Já a vacina da meningite meningocócica é obrigatória para entrar em Meca e em alguns países africanos, com surtos epidémicos sazonais.
A recomendação de determinada vacina está, muitas vezes, dependente dos surtos epidemiológicos que ocorrem no país de destino. De uma maneira geral, é recomendada a imunização contra a febre amarela, hepatite A, cólera e febre tifóide para os viajantes que se desloquem a África. Quem se deslocar à América do Norte, ao Médio Oriente e Norte de África deverá levar as vacinas da hepatite A e da febre tifóide. Já para quem se deslocar para a América Latina é aconselhável levar as vacinas da hepatite A, febre tifóide e cólera. Na Ásia as vacinas essenciais são as da hepatite A, febre tifóide e cólera.
Home, sweat home
De regresso a casa, o viajante é envolvido num turbilhão de sentimentos, que podem ir desde o alívio à nostalgia. Depois das malas arrumadas e das fotografias passadas para o computador, o viajante deverá ir a uma Consulta de Medicina do Viajante (pós-viagem), nomeadamente se tiver regressado de uma região de elevado risco – como as endémicas de malária – e lá tiver permanecido mais de 30 dias.
Em 2006, a malária matou dez vez mais do que todas as outras doenças "importadas" em conjunto. Apesar das estatísticas, os especialistas na área estão optimistas, pois acreditam que com a prevenção adequada, iniciada antes da viagem, é possível eliminar-se o risco quase na totalidade.
Todos os viajantes que tenham tido problemas de saúde durante a viagem devem igualmente dirigir-se a uma Consulta de Medicina do Viajante.
As Consultas de Medicina do Viajante são cada vez mais uma realidade em Portugal – em vários hospitais em Lisboa, Almada, Setúbal, no Porto e na Ilha Terceira – e uma arma para prevenir determinadas patologias, permitindo que o viajante possa desfrutar da sua viagem e da sua estadia nas melhores condições de saúde possíveis. Boa Viagem!
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
O Ácido úrico é um produto residual produzido pelo organismo humano, como resultado do metabolismo das purinas, um tipo de proteínas que podem ser encontradas em diversos alimentos que habitualmente i...
Etimologicamente, a palavra iatrogenia deriva do grego e refere-se a qualquer alteração patológica provocada no doente por ação dos profissionais de saúde.
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