SARAMPO - O regresso!

SARAMPO - O regresso!

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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Tudo começa com febre, conjuntivite, nariz a pingar e tosse. A seguir, chegam uns pequenos pontos brancos na boca, e uns dias depois, para piorar a situação, o corpo enche-se de borbulhas – primeiro no rosto, depois no tronco e, por último, nas pernas. Por esta altura já descobriu o que se passa: Sarampo!

Uma afeção clássica da infância, o sarampo é das infeções virais mais contagiosas e, embora de evolução benigna, não deve ser considerada banal pois, por vezes, provoca complicações que podem originar graves sequelas (lesões cerebrais, cegueira ou perda de audição), e até levar à morte.

O vírus do sarampo é um vírus RNA de cadeia simples do género Morbillivirus, da família Paramyxoviridae, e o Homem é o seu único hospedeiro.

O contágio processa-se essencialmente através de gotas de saliva que os doentes expelem ao espirrar, tossir ou simplesmente ao falar, as quais são inaladas ou alcançam as conjuntivas dos olhos das pessoas que os rodeiam. Embora, na maioria dos casos, a transmissão aconteça quando se permanece próximo de uma pessoa infetada, também se pode produzir a uma certa distância, na medida em que as pequenas gotas de saliva contaminadas podem ser arrastadas através das correntes de ar.

A transmissão por via indireta (objetos tocados pelas pessoas infetadas) é rara, devido à fraca sobrevivência do vírus fora do hospedeiro.

 O período de incubação da doença é de 8 a 13 dias, sendo assim possível ser-se portador do vírus sem saber. O sarampo tem, na maioria dos casos, uma evolução muito característica que compreende três fases.

A primeira fase, que antecede a erupção e dura cerca de três a quatro dias, manifesta-se através da irritação das conjuntivas dos olhos e por uma inflamação generalizada das mucosas nasal, faríngea, laríngea e brônquica.

Os olhos ficam inchados, vermelhos e doridos e o doente evidencia um intenso lacrimejar e bastante intolerância à luz. A inflamação das mucosas respiratórias manifesta-se através de secreções nasais abundantes, espirros, rouquidão e afonia, dificuldade em engolir e tosse seca, sem expetoração, que provoca dores ao nível do tórax. Para além disso, dois ou três dias após o início da manifestação dos sintomas, verifica-se um aumento moderado da temperatura do corpo, acompanhado por debilidade muscular, dor de cabeça, mal-estar geral e perda de apetite.

A segunda fase, que apenas costuma durar um ou dois dias, caracteriza-se pelo aparecimento de uma erupção muito típica que reveste o céu da boca e a face interna das bochechas. São lesões muito pequenas e esbranquiçadas, com aspeto de grãos de areia, denominadas manchas de Koplick. Embora ao longo desta fase as outras manifestações persistam durante algum tempo, a febre costuma descer temporariamente.

A terceira fase dura cerca de cinco a sete dias e manifesta-se através do aparecimento de uma erupção cutânea muito típica, um exantema que se evidencia por manchas vermelhas de 2 a 3 mm de diâmetro que embora originem ardor, não são dolorosas. O mais característico desta erupção é o facto de ter um padrão descendente, ou seja, iniciar-se na face e por trás das orelhas e alastrar-se rapidamente ao tronco e aos membros superiores e inferiores, incluindo as palmas das mãos e as plantas dos pés.

Normalmente, este processo leva cerca de dois a três dias, ao longo dos quais a febre aumenta. Todavia, após a erupção alastrar a todo o corpo, começa a desaparecer na mesma ordem em que apareceu, sem deixar marcas ou cicatrizes. Os restantes sinais e sintomas também desaparecem.

É importante referir que os adultos têm, normalmente, doença mais grave do que as crianças e os doentes imunocomprometidos podem não apresentar manchas na pele.

A vacina é a principal medida de prevenção contra a doença, faz parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV), e é gratuita. Graças ao excelente Plano de Vacinação implementado no país, muitas doenças graves têm sido erradicadas.

Em Portugal, o sarampo foi declarado como eliminado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2016, mas o país ficou em risco devido à existência de surtos em alguns países europeus com comunidades não vacinadas, e ao aumento de circulação de pessoas.

Em 2018, 93 por cento das situações detetadas foram associadas a casos importados de outros países. Um elevado número de profissionais de saúde contraíram a infeção apesar de vacinados, o que se ficou a dever ao facto de estarem em contacto com doentes com sarampo durante longos períodos de tempo. O problema é que o número de casos continua a aumentar.

Estaremos perante o regresso do sarampo? Em Portugal poderá ocorrer uma epidemia?

O número de casos de sarampo reportados até abril aumentou de 28124 casos em 2018, para 112163 casos nos primeiros meses deste ano. A OMS alerta para que os dados ainda são preliminares, mas revelam um claro crescimento em 2019 – uma tendência que se tem mantido nos últimos dois anos.

Os dados finais de 2019 só serão conhecidos em julho de 2020. No entanto, a OMS alerta para o facto de todas as regiões no mundo poderem estar sujeitas a surtos da doença graças aos grupos de pessoas não vacinadas, como já aconteceu nos Estados Unidos, por exemplo. Quanto a 2017, os dados estimados indicam a morte de 110 mil pessoas.

A vacinação continua a ser a forma mais eficaz de prevenir esta doença altamente contagiosa. Para isso basta que as pessoas recebam as duas doses recomendadas da vacina.

Era objetivo da OMS que a primeira dose da vacina chegasse a, pelo menos, 95 por cento das pessoas para prevenir surtos da doença, mas a cobertura não tem ultrapassado os 85 por cento. Em relação à segunda dose, a percentagem é ainda menor: apenas 67 por cento. Esta baixa cobertura da segunda dose justifica-se, em parte, pelo facto de 25 países ainda não a terem incluído nos planos nacionais de vacinação.

Em Portugal, a vacina contra o sarampo aparece combinada com as vacinas contra a rubéola e contra a parotidite epidémica, conhecida popularmente por papeira, assume o nome VASPR e é dada em duas doses. Recomenda-se a toma da primeira dose aos 12 meses e da segunda aos cinco anos, mas, segundo a DGS, não existe limite de idade para iniciar, nem para completar o esquema vacinal da vacina.

Se não se lembra se teve sarampo, saiba que todas as pessoas nascidas antes de 1970 não precisam de ser vacinadas, exceto se houver exposição a casos de sarampo ou se viajarem para países onde existam. Nesse caso deve ser administrada uma dose da vacina VASPR.

Já os nascidos depois de 1970, ou com idade igual ou superior a 18 anos, sem história credível de sarampo, devem ter, pelo menos, uma dose da vacina (VAS/VASPR), administrada aos 12 meses ou depois. Os menores de 18 anos deverão ter as duas doses.

Quanto aos profissionais de saúde sem história credível da doença, terão de fazer doses de vacina contra o sarampo, independentemente do ano de nascimento.

Pelo exposto não há razão para se temer uma epidemia de sarampo em Portugal, pois a maior parte das pessoas está protegida – a maioria dos nascidos antes de 1970 estão protegidos por terem tido a doença, e os que nasceram posteriormente foram vacinados.

No entanto, durante um surto, algumas pessoas vacinadas poderão contrair a doença por diminuição da proteção dada pela vacina ao longo do tempo mas, a acontecer, será mais ligeira e a probabilidade de complicações clínicas muito menor.

Medidas de prevenção e tratamento da doença

A imunização para o sarampo é um excelente exemplo dos benefícios que a vacinação universal pode trazer para a saúde infantil, e não só. A incidência da doença diminuiu drasticamente, tendo-se chegado a admitir a sua erradicação nalguns países com elevada cobertura vacinal.

Apesar de a vacinação praticamente não originar efeitos adversos significativos, por vezes, desencadeia uma febre ligeira que persiste durante um ou dois dias. Para além disso, por ser elaborada à base de vírus vivos, embora atenuados, está contraindicada em grávidas, pessoas imunodeprimidas, bebés com menos de 1 ano de idade e pessoas alérgicas a determinadas substâncias.

Uma outra medida profiláctica importante e muito útil para proteger as pessoas não vacinadas ou imunodeprimidas, em caso de episódios epidémicos ou de proximidade com doentes com sarampo, consiste na imunização passiva através da administração de gamaglobulina humana específica.

O tratamento do sarampo tem como objetivo proporcionar conforto e alívio aos doentes até os sintomas desaparecerem, o que pode demorar cerca de 2 a 3 semanas. Este baseia-se nos sinais e sintomas e consiste essencialmente no repouso absoluto, dieta de alimentos ligeiros e abundante ingestão de líquidos, enquanto persistirem as manifestações.

Caso seja necessário, ao mesmo tempo, poderão ser administrados medicamentos antipiréticos, colírios para diminuir a intensidade dos problemas oculares e xaropes para atenuar a tosse. Se o ardor na pele for muito intenso, recomenda-se a aplicação de loção de calamina para o reduzir.

Os antibióticos não são eficazes contra o vírus do sarampo, mas poderão ser prescritos pelo médico para tratar as complicações, como pneumonia e otite, se ocorrerem.

Para prevenir o conselho é “Vacinar”. Verifique o Boletim de Vacinas e, se necessário, vacine-se e vacine os seus.

A DGS tem disponível a linha SNS 24 (808 24 24 24) e recomenda que se ligue para o número caso tenha dúvidas, se esteve em contacto com um caso suspeito de sarampo ou se tem sintomas sugestivos da doença. Não deixe de o fazer!

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Mais Sobre:
SARAMPO VACINA EPIDEMIA

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