PARKINSON, O DESCONTROLE MOTOR

PARKINSON, O DESCONTROLE MOTOR

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

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A síndrome de Parkinson é provocada por um conjunto de doenças que poderão ser ou não neurodegenerativas, sendo a doença de Parkinson a forma mais comum desta síndrome. Algumas das outras formas de parkinsonismo podem ser consequência de outras doenças, os denominados parkinsonismos secundários, que podem ser causados por encefalites, pela doença de Wilson e pelo uso prolongado de alguns fármacos antipsicóticos.

Existem casos de parkinsonismo genético, que podem ser do tipo autossómico dominante (se a lesão tiver ocorrido no gene alfa-sinucleina) ou autossómico recessivo (se a lesão tiver ocorrido no gene parkina).

É comum confundir-se a doença de Parkinson com a doença de Alzheimer, tratando-se, no entanto, de patologias completamente distintas. Enquanto que a doença de Alzheimer é uma patologia degenerativa do cérebro, caracterizada pela perda das faculdades cognitivas superiores, a doença de Parkinson é uma perturbação progressiva a nível do sistema nervoso central que afecta o movimento, o controlo muscular e o equilíbrio.

As causas da doença são ainda desconhecidas, mas os actuais estudos centram-se na genética, nas toxinas ambientais e endógenas e ainda nas infecções virais.

Apesar de terem sido encontradas evidências da doença de Parkinson em 5000 a.C, foi em 1817 que o Dr. James Parkinson a identificou, descrevendo os seus sintomas.

O Dr. James Parkinson foi o pioneiro, trilhando o caminho para o diagnóstico e tratamento desta doença, geralmente associada à idade e, por isso, cada vez mais presente no mundo desenvolvido, devido ao aumento da esperança média de vida.

A partir desta data, a "paralisia dos tremores" foi denominada de doença de Parkinson.

Na segunda metade do século XX, a contribuição do investigador austríaco, o Dr. Oleg Hornykiewicz foi fundamental para a compreensão desta doença. O Dr. Hornykiewicz descobriu que os pacientes com doença de Parkinson tinham uma deficiência dopaminérgica, originando uma despigmentação na substância nigra.

A dopamina é um neurotransmissor produzido pelos neurónios da substância nigra. Esta é fundamental para o ser humano, uma vez que é responsável pelo controlo dos movimentos, pois medeia a comunicação entre a substância nigra e o estriado (receptores dos gânglios da base).

A perda dessas células produtoras de dopamina afecta o controlo motor extrapiramidal, uma vez que estas células "modificam os comandos conscientes básicos vindos dos neurónios corticais motores, de maneira a executar os movimentos de forma suave e sem perder o equilíbrio", controlam os movimentos inconscientes como os dos músculos da face e impedem a "contracção e relaxamento contínuo e alternado dos músculos agonistas e antagonistas aquando dos movimentos de precisão", como por exemplo no acto de segurar um objecto.

Esta deficiência dopaminérgica vai dar origem aos problemas motores, de equilíbrio, discursivos e mentais – que podem, posteriormente, levar à demência –, entre eles, tremores, bradicinesia, rigidez, problemas em manter o equilíbrio, hipomimia, disartria, ansiedade e depressão.

Calcula-se que no cérebro destes doentes, cerca de 80% das células produtoras de dopamina estão danificadas, degeneraram ou morreram.

A doença manisfesta-se predominantemente a partir dos 60 anos, mas 10% dos doentes têm menos de 40. O sexo masculino é o mais afectado. Normalmente, os sintomas começam a manifestar-se nos membros superiores e costumam ser unilaterais "devido à assimetria da degeneração inicial do cérebro".

Apesar da espantosa evolução científica nesta área, os fármacos disponíveis – da classe dos dopaminomiméticos e dos anticolinérgicos – não actuam ao nível de substituição das células nervosas nem impedem a progressão da doença. O objectivo primordial das actuais terapias é restabelecer os níveis de dopamina no cérebro, processo que é iniciado assim que o paciente refira que a sua qualidade de vida está a diminuir.

Actualmente, a levodopa, um dopaminomimético, é considerada um dos mais importantes fármacos para tratar a doença de Parkinson. Aprovada em 1970, esta substância ajuda a recuperar o controlo muscular quando é convertida em dopamina no cérebro.

Uma vez que a dopamina não pode ser administrada directamente, pois não passa a barreira sanguínea do cérebro, que faz uma triagem de substâncias, é administrada aos pacientes a levodopa, que consegue passar essa barreira e converter-se, posteriormente, em dopamina. Porém, esta conversão é muito célere, o que faz com que chegue ao cérebro apenas uma pequena quantidade de dopamina.

Deste modo, a levodopa é prescrita em concomitância com carbidopa, uma substância que atrasa a conversão da levodopa em dopamina até esta atingir o cérebro e, consequentemente, reduz ou elimina os efeitos secundários da levodopa.

Porém, apesar de esta ser uma terapia de primeira linha, existem alguns inconvenientes. Os tratamentos têm de ser individualizados, pois as respostas variam de indivíduo para indivíduo. Assim, ambos, médico e paciente, têm de encontrar uma dosagem tolerável pelo organismo. Com o decorrer dos anos, a sua eficácia pode declinar e os efeitos adversos podem aumentar.

As outras susbtâncias disponíveis no mercado são a bromocriptina e a pergolida que também simulam o papel da dopamina no cérebro e que podem, igualmente, ser tomadas em concomitância com a levodopa para aumentar a capacidade de resposta. Já o cloridrato de selegilina aumenta e prolonga o efeito benéfico da levodopa, permitindo a sua acumulação nas células nervosas.

Alguns membros da comunidade científica estão confiantes no sucesso de três novos fármacos que foram aprovados em 1997: o Mirapex (dihidrocloridrato de pramipexol), o Requip (cloridrato de ropinirol) – ambos dopaminomiméticos, que ao serem usados em concomitância com a levodopa conseguiram reduzir até 25% e 30%, respectivamente, a sua dosagem – e o Tasmar (tolcapone) - pertencente a uma nova classe terapêutica, os inibidores COMT (catechol O-methyltransferase), mas cujos efeitos adversos podem ser fatais.

Um novo dispositivo médico, aprovado pela FDA em 1997 – o Activa Tremor Control Therapy - que ajuda a controlar os tremores e está disponível em Portugal desde 2002, veio dar uma nova esperança aos doentes em estado mais avançado da doença.

Esta nova técnica consiste no implante de um eléctrodo no cérebro, ligado a um neuroestimulador, semelhante a um pacemaker, que por sua vez é colocado junto da clavícula. Os benefícios são fantásticos, uma vez que os pacientes recuperam o controlo dos seus movimentos.

A nível cirúrgico, os médicos podem aconselhar uma palidoctomia - excisão do globus pallidus - para as fases mais avançadas da doença. Contudo, como dessa intervenção podem advir complicações, os médicos aconselham, agora, a estimular externamente esses núcleos com eléctrodos.

Porém, os investigadores não cruzam os braços. Há especialistas dedicados ao estudo das proteínas neurotróficas - que aparentemente protegem as células nervosas da morte prematura que despoleta a doença de Parkinson.

Outros investigam os agentes neuroprotectores, as enzimas que parecem desactivar os radicais livres, ligados às lesões das células nervosas. Outras equipas estudam formas de implantar substância nigra de fetos de porcos no cérebro humano. Outras ainda têm como objectivo modificar o código genético das células de modo a criar células produtoras de dopamina a partir de outras células, como as da pele.

Os cientistas afirmam que alguns destes tratamentos ainda estão longe do sucesso, mas outros poderão estar disponíveis no mercado num futuro próximo.

De acordo com alguns especialistas na área, existe um "défice de informação sobre a doença", uma vez que o "tremor não significa necessariamente Parkinson. A maior parte das pessoas que tem tremor não tem Parkinson. É preciso que os doentes sejam diagnosticados e encaminhados pelos médicos de família para as consultas e para isso têm de saber onde é que existem".

Em Portugal, onde a doença atinge cerca de 20.000 pessoas, existe uma associação sem fins lucrativos, a APDPk (Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson), que presta apoio e disponibiliza informação para ajuda aos seus associados.

Numa sociedade cada vez mais envelhecida, o diagnóstico precoce é cada vez mais importante e a necessidade de novos fármacos cada vez maior. A procura de uma cura é o "leitmotiv" dos investigadores que, diariamente, correm contra o tempo para minorar os efeitos dos sintomas de Parkinson, permitindo aos doentes apoderarem-se do controlo das suas vidas e elevando a sua qualidade de vida.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

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