ORTOREXIA, A DOENÇA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

ORTOREXIA, A DOENÇA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

DOENÇAS E TRATAMENTOS

  Tupam Editores

0

Alimentar-se bem é um hábito que nunca foi tão valorizado quanto hoje. Comer muito verde, evitar produtos industrializados e alimentos ricos em gorduras e açúcares faz, de facto, bem à saúde, no entanto, os comportamentos extremos podem transformar um objetivo positivo numa obsessão. É o caso da ortorexia, um distúrbio alimentar menos conhecido do que a anorexia ou a bulimia, mas igualmente perturbador.

Introduzido por Steven Bratman, em 1997, o termo deriva do grego orthos (correto) e orexis (apetite), e refere-se a uma obsessão patológica por uma alimentação saudável, que se torna o foco da vida do indivíduo. Quem sofre de ortorexia preocupa-se de tal modo com a alimentação que as outras dimensões da sua vida ficam em segundo plano.

Ao contrário de perturbações como a anorexia, em que o foco está na quantidade de alimentos ingeridos ou no peso corporal, os doentes com ortorexia preocupam-se com a qualidade percecionada dos alimentos.

As características principais incluem uma preocupação excessiva em comer alimentos “puros”, naturais ou orgânicos; exclusão rígida de alimentos considerados pouco saudáveis, como os alimentos ultraprocessados; sentimento de superioridade moral ou de culpa extrema em relação às escolhas alimentares.

A ortorexia ainda não foi reconhecida como perturbação alimentar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM-5) ou na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), no entanto, estima-se que o problema afete entre 1% e 7% da população em geral, sendo mais comum em mulheres.

Os principais sintomas de que uma pessoa apresenta ortorexia incluem uma preocupação excessiva com a qualidade, origem e modo de preparação dos alimentos que serão consumidos; obsessão pela leitura dos ingredientes nos rótulos dos alimentos; restrições alimentares que aumentam ao longo do tempo; consumo apenas de produtos orgânicos e exclusão absoluta de alimentos considerados impuros, como os que contêm corantes, conservantes, gorduras trans, açúcar e sal; retirada de vários grupos de alimentos da dieta, principalmente carnes, leite e derivados, gorduras e hidratos de carbono; planeamento exagerado das refeições, com dias e até semanas de antecedência; sentimento de culpa e ansiedade quando se come algo que é considerado pouco saudável.

Normalmente, os doentes com a perturbação não costumam comer fora de casa e rejeitam fazer refeições com amigos e familiares. Quando aceitam convites para sair, levam a própria comida.

Embora possa começar como uma tentativa de melhorar a saúde, as suas consequências podem piorá-la. Além de uma perda excessiva de peso, a ortorexia pode dar origem a desnutrição, excesso ou deficiência de vitaminas, anemia, enfraquecimento do sistema imunológico, queda de cabelo, pressão baixa, alterações da frequência cardíaca, problemas cardiovasculares, osteoporose, problemas da tiroide, alterações hormonais, interrupção da menstruação, infertilidade, depressão e ansiedade, perturbações obsessivas, isolamento social, redução da capacidade de concentração, prejuízo na carreira devido à maior dedicação de tempo à alimentação.

Em casos graves de desnutrição podem ocorrer danos cerebrais, danos ósseos, insuficiência de órgãos, risco de paragem cardiorrespiratória e morte.

O diagnóstico do distúrbio é um desafio, uma vez que não existem critérios formalizados nos principais manuais de diagnóstico, no entanto, entre os critérios-chave para o identificar inclui-se a preocupação excessiva com a qualidade da alimentação, o que afeta a vida quotidiana; a restrição alimentar severa, que tem impacto na saúde física e mental; e a existência de sentimentos de ansiedade, culpa ou fracasso por não cumprir as normas dietéticas.

Admitir que existe um problema é o que leva o indivíduo a procurar ajuda. Cada caso de ortorexia é único, e o tratamento deverá ser adaptado às necessidades individuais. A intervenção deve ser realizada por uma equipa multidisciplinar que envolva um nutricionista, um psicólogo e um médico para atuar nas diferentes vertentes da doença.

O acompanhamento nutricional ajudará a introduzir gradualmente os alimentos excluídos e demonstrará a importância da flexibilidade e da variedade numa dieta saudável.

Na psicoterapia, a Terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem como objetivo ajudar a pessoa a identificar e a modificar os padrões de pensamento obsessivo sobre a alimentação. Já a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ensina os doentes a aceitarem as suas emoções sem recorrerem a comportamentos extremos.

À intervenção médica cabe a monitorização de deficiências nutricionais e complicações físicas e a gestão das comorbilidades, como a ansiedade ou a depressão, com apoio psiquiátrico quando necessário.


Para que a ortorexia seja superada, além do acompanhamento médico, também é essencial o apoio da família. A participação ativa da família e dos amigos ajuda a pessoa a enfrentar os desafios da alimentação e fornece um ambiente de apoio e compreensão durante o tratamento do distúrbio.

Ter uma alimentação cuidada e saudável é, sem dúvida, um dos pilares para ter saúde e bem-estar, contudo, não deve permitir que esse objetivo domine o seu dia a dia nem se transforme numa obsessão. O equilíbrio é sempre o melhor caminho, mesmo na alimentação saudável há espaço para tudo e não é por essa razão, isoladamente, que se vai contrair doenças.

Autor:
Tupam Editores

Data Publicação:
28 de novembro de 2025