Etimologicamente, o substantivo oneomania deriva do grego (one + mania), que significa “mania das compras” sendo considerada uma patologia do foro psicológico que se carateriza pelo desejo anormal, compulsivo, intenso e permanente de fazer compras, ainda que sem a mínima necessidade dos objetos que adquire. A doença é também designada por transtorno obsessivo compulsivo por compras, atinge ambos os géneros e embora tenha tratamento, os portadores carecem da ajuda dos serviços de saúde especializados.
Sendo por vezes difícil de identificar, é frequentemente confundida com “excesso de consumismo”, equivalendo-se nesse particular aos sintomas do tabagismo, vício do jogo ou do alcoolismo.
Estima-se que este transtorno atinja entre 2% a 8% das pessoas em todo o mundo, quer estas tenham ou não grande poder de compra para as fazer.
A tendência para o consumismo excessivo pode transformar-se em vício, deixando assim de ser uma escolha individual, particularmente entre as mulheres, pois segundo as estatísticas são as principais vítimas do transtorno, numa proporção de quatro para cada homem. Como resultado, a compulsão patológica para as compras, tal como outros vícios já identificados, leva frequentemente ao sobre-endividamento com consequências na maioria das vezes nefastas para o relacionamento familiar e social.
Não obstante, a situação não resulta de falta de planeamento financeiro adequado ou de falta de informação sobre o tema, hoje amplamente difundida. É antes uma doença complexa que pode atingir todas as classes sociais e géneros, sendo passível de tratamento nas unidades de saúde especializadas de psiquiatria do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou em outras instituições de saúde privada existentes no País.
Consumista versus comprador compulsivo
Muitas vezes a maior dificuldade é distinguir um consumista do comprador compulsivo e ter a capacidade para avaliar o sofrimento psicológico que a própria compra lhe causa. Na realidade, o comprador compulsivo sente enorme euforia no ato da compra, mas essa alegria desvanece-se por completo quando chega o momento de abrir as embalagens na chegada a casa, entrando em ressaca.
A diferença entre ambos, consumista e comprador compulsivo, é que enquanto o primeiro gosta de exibir as compras que fez, o segundo, pelo contrário, tende a esconder as compras feitas e sente vergonha por tê-las feito, o que o leva a profunda depressão e completo desinteresse pelos objetos que adquiriu. O comprador compulsivo faz compras com frequência, não pergunta os preços e por vezes adquire todas as formas e cores possíveis do mesmo objeto, pelo que, por exemplo, um cartão de crédito nas suas mãos pode tornar-se numa “arma autodestrutiva” se encontrar pela frente vendedores pouco escrupulosos ou menos atentos.
O comprador compulsivo precisa de ajuda psicológica especializada e adequado tratamento, que pode passar pela combinação de psicoterapia com fármacos antidepressivos e ansiolíticos, podendo em paralelo recorrer a grupos de apoio como por exemplo a WeCareOn SOS, ou a instituições como a Ordem dos Psicólogos através das quais poderá obter ajuda ou encaminhamento para as instituições mais vocacionadas para tratamento de casos específicos.
A oneomania enquadra-se no mesmo grupo dos transtornos do vício em jogos e, como explica a psicanálise, resulta de uma “dependência para quem teve dificuldades em desenvolver autonomia emocional na transição da infância para a vida adulta”, sendo por isso a conjunção de uma estrutura emocional ainda frágil, caraterística da infância, com um crescente apelo consumista da sociedade, o que se torna um problema sério quando sofre de abstinência e não tem onde comprar.
Se excluirmos as pessoas avarentas, caraterizadas pelo excessivo apego ao dinheiro e que detestam gastá-lo, uma grande parte das pessoas tem tendência para a oneomania, particularmente devido à enorme pressão mediática dos meios audiovisuais presente no nosso dia-a-dia.
Na realidade, a pessoa avarenta exibe um tipo de personalidade comportamental completamente oposta ao comprador compulsivo, o que leva a que ambos os extremos causem problemas na economia: um porque compra tudo o que vê e não consegue pagar, gerando graves problemas para a sociedade, a começar pelos credores; outro porque a sua avareza trava a circulação de moeda, na perspetiva de que irá precisar do dinheiro que acumula para usar num futuro remoto que pode nunca chegar, impedindo o crescimento económico.
Ao gastar todos os seus recursos financeiros e frequentemente o de terceiros, a pessoa oneomaníaca vai criar problemas à sua volta o que leva as pessoas a afastarem-se dela cada vez mais, muitas vezes com receio de se tornarem as próximas vítimas como credores, o que também pode suceder no outro extremo com os avarentos, embora por razões opostas.
O efeito do ato da compra é semelhante ao de toma de uma droga. Tal como um alcoólatra necessita de álcool para aliviar a sua dependência, o comprador compulsivo precisa de consumir para aliviar os sintomas depressivos e tal como acontece com todas as dependências os dependentes compulsivos levam tempo a assumir que têm um problema.
A investigação diz-nos que a patologia da compra compulsiva tem geralmente início na faixa etária dos 18 anos, mas o comportamento só é percebido como problemático aproximadamente 10 anos mais tarde, quando o vício já causou danos excessivos ao próprio e a terceiros.
Tratamento
Além do sofrimento causado pelo comportamento crónico e repetitivo devido aos gastos excessivos descontrolados e ao endividamento habitualmente associado, o oneomaníaco desenvolve elevados índices de doenças derivadas, como ansiedade e transtornos de humor frequentes, levando à necessidade de intervenção médico-psiquiátrica para um correto diagnóstico de avaliação e eventual tratamento fármaco-terapêutico, a par de tratamentos psicoterápicos preferencialmente realizados em grupo a fim de aumentar a sua eficácia.
Tal como para o alcoolismo e outras dependências, durante todo o ciclo de tratamentos, o paciente é acompanhado por psicólogos experientes que irão procurar ajudá-lo a entender as razões do seu comportamento e o levaram a esse descontrole, bem como o porquê do vício instalado, ajudando-o, quando se mostre necessário, a encontrar soluções para regularização de dívidas adquiridas, como forma de aliviar os níveis de ansiedade, dado que não é da competência do psicólogo o aconselhamento financeiro, mas antes ajudar a resolver problemas emocionais provocados pela situação financeira.
Porém, em casos da maior dificuldade, é recomendável a inclusão de um gestor financeiro no grupo de ajuda, que irá auxiliar o paciente no planeamento e gestão do orçamento doméstico bem como ajudá-lo a encontrar forma de regularizar eventuais dívidas acumuladas, eliminando por essa via os problemas emocionais correlacionados.
A compra compulsiva só muito recentemente, nos anos oitenta, foi considerada doença, sendo muito comum encontrar pessoas com problemas relacionados com o controle dos impulsos, como jogo, bebida e sexo entre os grupos dos oneomaníacos. Devido à recente introdução no catálogo de doenças, ainda não existem estudos que comprovem as suas causas, mas existem algumas pistas, sendo uma delas o histórico comportamental dos ascendentes familiares.
Segundo especialistas comportamentais a doença não tem cura, mas é possível ser controlada em ambulatório e clínicas especializadas, através das quais, com a cooperação, empenho e dedicação das famílias, se podem alterar os comportamentos nocivos que conduzem à doença e ensinando-as a distinguir uma compra compulsiva de uma compra normal.
O início dos tratamentos passa por um processo de avaliação dos sintomas da patologia e uma vez confirmado o diagnóstico, procede-se a avaliação médica, que poderá levar algum tempo para perceber e reconhecer se a pessoa incorpora ou não o distúrbio, processo que é realizado através de medicamentos estabilizadores do humor, ansiolíticos e antidepressivos.
Os grupos de apoio, como os Devedores Anónimos, são também uma boa opção para aumentar a eficácia do tratamento, que normalmente se inicia com uma transformação comportamental, através da qual se deve aprender a conviver com uma reduzida quantidade de dinheiro.
A compulsão pelas compras desnecessárias, traz infelicidade. Pense duas vezes antes de comprar objetos de que não precisa!
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