FILHO, OS PAIS VÃO SEPARAR-SE!

FILHO, OS PAIS VÃO SEPARAR-SE!

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  Tupam Editores

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De repente tudo muda! As rotinas diárias passam a ser feitas a dois (em vez da equipa de três inicial) e os tempos livres organizados num calendário, repartido entre o pai e a mãe.

A separação (ou divórcio) dos pais é, talvez, um dos mais difíceis momentos na vida de uma criança, pelo que minimizar a dor e as marcas que esta mudança lhe possa deixar deve ser fundamental.

As dores de um filho são sempre difíceis de suportar para um pai, mas sentir que sofre por causa dos seus problemas torna tudo muito pior. Reconhecer que o seu sofrimento e tristeza surge na sequência da vontade de pôr fim à infelicidade do casal – que pretende seguir com a sua vida, e voltar a ser feliz –, é quase insuportável.

A juntar a sentimentos de fracasso e angústia intensa, os pais experimentam um misto de culpa, vergonha e remorso que faz com que “tremam” só de pensar no momento em que vão ter de lhe comunicar a decisão que tomaram.

As crianças, porém, nunca andam distraídas. E por mais que os pais não discutam à sua frente, tentem ter uma relação funcional, e façam um esforço enorme para lhes darem a entender que são uma “família feliz”, elas pressentem a separação dos pais muito antes dela lhes ser comunicada.

A maior parte das vezes, quando os pais falam da sua separação com uma criança, já ela a intuiu há muito. Vão até dando “sinais” sobre a compreensão que fazem daquilo que a família está a passar. Ora tecem comentários (desagradáveis) sobre as duas casas de um amigo, ou sobre a separação dos pais de um colega, e alguns chegam a interpelar, diretamente, os pais com um “vocês vão-se separar?”, em jeito de intimidação.

Mas também há crianças que se fingem distraídas perante os pais e reagem falando da família e fazendo imensos projetos, como se os pais tivessem uma relação perfeita e os planos familiares não parassem de se multiplicar.

Entre irmãos, quando são mais crescidos, é habitual conversarem e interpretarem os sinais dos pais, definindo estratégias para alimentar a ilusão de família.

Enquanto isso os pais estão cada vez mais martirizados só de imaginar a conversa inadiável que se aproxima, vivendo-a como se ela viesse a ser um choque inesperado, um traumatismo, e uma fratura inconsolidável na vida dos seus filhos.

Contudo, por mais que custe, mal se sintam inequivocamente esclarecidos da decisão que tomaram é urgente que os pais conversem com o filho e lhe expliquem o que se está a passar.

Carta

Algumas crianças, perante o desconhecimento, imaginam que são elas a razão das mudanças na sua família e sentem-se magoadas por os pais não “lhes dizerem a verdade”. Uma carta escrita por uma menina (Leticia) aos seus pais, presente na obra What to tell the kids about your divorce, de Darlene Weyburne, expressa bem a necessidade de se conversar com as crianças sobre a separação o mais breve possível.

Mas como dizer a um filho que a mãe e o pai vão separar-se? E como enfrentar a sua carinha triste e a lágrima a escorrer pelo rosto?

Como anunciar o divórcio aos filhos

Este é, sem dúvida, um passo difícil, tanto para os pais como para as crianças, e não há forma de o tornar indolor, mas há atitudes que podem minimizar o sofrimento.

Os pais devem, antes de mais, promover uma postura da verdade. Depois de tomada a decisão de se separarem, não vale a pena deixar arrastar a conversa obrigatória. O pior é deixar as crianças perceberem que algo se passa sem se prontificarem desde logo para falar, esclarecer e dissipar dúvidas. A dúvida só potencia sentimentos de insegurança e medo nos filhos, que não compreendem o que está a acontecer.

A criança deve ficar a par da nova situação o mais cedo possível e sempre em conversa conjunta, com o pai e a mãe, e nunca por intermédio de terceiros. Quanto mais novas as crianças, maior a necessidade de sentirem a segurança das decisões dos pais. Daí a importância de lhes falarem sobre as mudanças que irão ocorrer.

Esta conversa (ou conversas) devem servir também para lhes dizer que não têm culpa nenhuma do que está a acontecer, e garantir que os dois vão continuar a acompanhá-las.

Mais do que nunca é importante assegurar-lhes que ambos vão marcar presença nas suas rotinas e nas diferentes atividades que compõem as suas vidas, como a escola, atividades de tempos livres, idas ao médico, mas também nas refeições, e no tempo em frente à televisão.

Convém explicar-lhes claramente que o divórcio é definitivo, e que não existe possibilidade de voltar atrás, para que não criem falsas esperanças sobre uma reconciliação.

Os pais devem fazer uma separação entre a conjugalidade e a parentalidade, devendo assim deixar as crianças fora dos problemas conjugais e tentar manter uma relação cordial e amiga. Questões que possam envolver discussão devem ser tidas em privado, sempre longe dos filhos.

Não devem dizer mal um do outro aos filhos, usá-los como espiões para saber da vida do outro, ou como moeda de troca, nem desautorizar o ex-marido ou a ex-mulher nalguma decisão que tenha sido tomada, pois as crianças precisam de coesão entre ambos os progenitores para aprenderem a ter limites.

O facto de já não conseguirem viver juntos não deve implicar que os filhos percam o contacto regular com qualquer um deles – não existe “ex-pai” nem “ex-mãe”. O pai e a mãe fazem parte do património da criança. O elemento que ficar com a guarda da criança não a deve impedir de ver o outro. Quando um dos progenitores dificulta ou impede o contacto com o outro está a prejudicar seriamente a criança e o seu bem-estar futuro. Esta tem, igualmente, direito à sua família alargada (avós, tios, primos) maternos e paternos, pelo que tudo deve ser feito para que estes laços não se estilhacem com a mudança.

É importante que as crianças entendam que só porque o casamento dos seus pais não correu bem, isto não significa que todos os casamentos fracassem. É uma fase difícil mas, tal como os pais, as crianças também vão sobreviver ao divórcio e a todas as mudanças que este implica. Pode haver alguns percalços pelo caminho... mas, no fim, tudo vai ficar bem.

O que muda na vida das crianças?

O divórcio é uma situação imprevista para todas as crianças, que vai mudar completamente a sua vida. Questões de ordem financeira, o temperamento e a idade da criança, problemas psicopatológicos dos pais, nomeadamente depressão, coparentalidade conflituosa e a intensidade e frequência do conflito interparental antes e após a separação são dimensões muito associadas ao melhor ou pior ajustamento da criança numa situação de divórcio ou separação dos pais.

O mundo das crianças é, naturalmente, presidido pelos pais. E, quando acontece a separação do casal, podem experimentar sentimentos para os quais não estão emocionalmente preparadas.

A curto ou mesmo a longo prazo, podem passar por distúrbios do sono, maior irritabilidade e agressividade, crises nervosas e choros frequentes, problemas escolares, e expressar baixa autoestima, sentimentos de culpa, dificuldade para sociabilizar, medo do futuro, depressão e doenças psicossomáticas – estas resultado do alto nível de stress experimentado durante o processo de divórcio e da ansiedade gerada pelo novo modo de vida, afinal, a “nossa casa” passou a ser “a casa da mãe” e “a casa do pai”.

No início tudo é confuso, novo e angustiante. Um fim de semana de 15 em 15 dias, uma noite a meio da semana, uma semana na mãe, outra semana no pai, férias de verão com um, férias da Páscoa com outro – as fórmulas são muitas e nenhuma delas universal. Mas será que ser filho de pais separados é andar de mochila às costas? Não será muita instabilidade para uma criança?

Na realidade o que se torna desestabilizador para uma criança nada tem a ver com a imagem que os adultos criam de andar de mochila para trás e para a frente. O que é verdadeiramente desestabilizador para uma criança é o imprevisto, a incerteza e a falta de previsibilidade e rotinas. Por isso, é essencial após o divórcio manter hábitos e rotinas familiares de forma a poder continuar a usufruir de todas as atividades (ginástica, música, agrupamento de escuteiros, etc.) e interações que já faziam parte da sua vida.

Para diminuir as dificuldades seria aconselhável manter a criança na mesma escola e os pais residirem na mesma área, para ambos lhe poderem aceder com frequência de forma a acompanhar o seu desenvolvimento académico e os apoiar.

Os professores são parceiros na educação das crianças. É conveniente pô-los a par da nova situação familiar para que se mantenham atentos ao seu comportamento e possam reportar reações incomuns, ajudando na adaptação.

É importante que os pais não esqueçam a palavra “não”. Muitos pais tentam “minimizar” o sofrimento causado pelo divórcio, eliminando regras, aceitando todas as exigências da criança e mostrando clara dificuldade em dizer “não”. A solução até pode resultar a curto prazo, mas terá consequências extremamente negativas, como as dificuldades escolares ou problemas comportamentais.

Quando pensamos no ajustamento ao divórcio, o temperamento e a idade da criança são fatores importantes. Crianças com temperamento fácil, boas capacidades cognitivas e autoestima positiva, autónomas e responsáveis, adaptam-se mais facilmente às mudanças que a separação impõe.

Ter duas casas pode parecer confuso, tanto ao nível logístico como ao nível emocional, mas casa é onde está o nosso coração, é onde nos sentimos amados, queridos e desejados, é o nosso porto seguro, o nosso abrigo. Se os pais conseguirem garantir que a criança se sente amada e protegida onde quer que esteja e com quem esteja, ela irá sentir-se sempre em “em casa”.

Se as crianças conseguirem compreender que a separação ocorreu somente entre o casal e que continuarão a ter o pai e a mãe, será mais fácil lidar com os rearranjos da nova realidade.

Lembre-se que o pai e a mãe serão sempre referência para os filhos. Se estes administrarem bem a separação e enfrentarem com realidade os novos desafios, estão a oferecer aos filhos a sensação de que a vida continua e que vale a pena ser vivida… apesar de ter fases menos boas.

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