O VETERINÁRIO

O VETERINÁRIO

OUTROS TEMAS

  Tupam Editores

1

A medicina veterinária está entre as mais antigas profissões da história da humanidade, havendo registos de médicos responsáveis pelos cuidados animais milhares de anos a.C.

Foi no Império Bizantino que viveu o "Pai da Medicina Veterinária", Apsirtos, autor da maior parte dos artigos do primeiro tratado sobre medicina veterinária e que tratava da criação dos animais e de suas doenças, conhecido na época como Hipiátrica (Hippiatrika).

Mas a Medicina Veterinária moderna, organizada a partir de critérios científicos, só começou a desenvolver-se com o aparecimento da primeira escola de Medicina Veterinária do mundo, em Lyon, França, criada pelo hipologista e advogado francês Claude Bougerlat em 4 de agosto de 1761. A partir desta foram sendo criadas outras escolas por toda a Europa, difundindo o estudo sistemático da medicina veterinária.

Desde a criação das primeiras, naturalmente que se observaram importantes avanços neste ramo do saber. Hoje a tecnologia de ponta é utilizada na investigação e trabalho quotidiano do médico veterinário, que, além de ser altamente requisitado em função do grande número e apreço que atualmente é dispensado aos animais domésticos, é um profissional fundamental para o grande desafio da contemporaneidade que é a produção de alimentos para a numerosa população do planeta.

A Formação e a profissão de Veterinário

Os planos curriculares dos cursos de Medicina Veterinária são, nos primeiros anos, compostos por disciplinas científicas consideradas nucleares e que explicam a estrutura e o funcionamento normal dos animais – anatomia, histologia, bioquímica, biofísica, etc. Os anos seguintes são compostos por matérias relacionadas com problemas de saúde animal, tais como patologia, cirurgia, parasitologia, semiologia, farmacologia ou microbiologia. Os últimos anos incluem, ainda, matérias relacionadas com as diferentes áreas de trabalho como, por exemplo, clínica, inspeção sanitária, saúde pública, tecnologia de produtos animais ou zootecnia.

Em Portugal a formação em medicina veterinária tem vindo a sofrer alterações relevantes. Por um lado, o grande boom da oferta de formação inicial, que já levanta preocupações quanto à capacidade de integração dos licenciados no mercado de trabalho. Por outro, a crescente preponderância da área clínica no plano dos cursos.

A área clínica, ligada às diversas espécies, tem vindo a ganhar peso crescente no plano de estudos, indiciando a transição de um curso com reduzida componente clínica, para um curso que se tem tornado predominantemente clínico.

A profissão de médico veterinário é o sonho de muitas pessoas, mas no entanto alguns requisitos são necessários para o conseguir concretizar. Gostar de animais é a condição mais importante, mas desengane-se quem pensar que apenas o amor pelos animais é suficiente para seguir aquele percurso. Como em qualquer outra área, além da afeição, é preciso ter vocação, dedicação e trabalhar muito.

Devido à grande diversidade das atividades desempenhadas por estes profissionais, não é possível destacar as características pessoais mais úteis aos "médicos dos animais", existindo contudo competências que se destacam pelas vantagens que podem trazer ao cabal desempenho da função.

Assim, para além do gosto em lidar com animais, o médico veterinário deve estar preparado para atuar nos ambientes mais diversos, sobretudo se trabalhar no meio rural. Deve ter boa capacidade de observação, destreza manual, habilidade para lidar fisicamente com os animais, facilidade em tomar decisões, capacidade de sistematizar conhecimentos teóricos com os adquiridos pela prática e facilidade de adaptação às novas tecnologias.

A capacidade para trabalhar em equipa e manter-se atualizado nas técnicas e áreas que envolvem a atividade é também muito útil.

Os médicos veterinários desenvolvem um vasto leque de atividades. As áreas de atuação são a Clínica de pequenos e grandes animais onde o trabalho desenvolvido consiste no diagnóstico – através de radiografias, análises, ecografias, etc. – e tratamento de doenças de animais de companhia (cães, gatos, pássaros, coelhos, ratos, tartarugas e, por vezes, animais exóticos como aranhas, cobras e/ou outros répteis) e de animais de grande porte (bovinos, ovinos, suínos e equídeos).

Paralelamente, o veterinário deve ainda aconselhar acerca da alimentação dos animais e promover ações de controlo e erradicação de doenças. Estas tarefas são também realizadas na Produção Animal, uma área na qual o profissional dá aconselhamento aos produtores de animais (gado suíno, bovino, aves de aviário, peixes...) ou de produtos de origem animal (ovos, leite...).

Mas, neste campo, o veterinário deve também prestar aconselhamento em outras matérias como: alimentação, nutrição, reprodução, melhoramento genético das espécies, instalações de alojamento, controlo da qualidade dos produtos, etc.

A Saúde Pública é outra área onde o veterinário tem um papel muito importante. Ao serviço do Estado, o veterinário faz exames aos animais (e produtos deles derivados) destinados ao consumo público e realiza inspeções sanitárias em locais de alojamento, abate, preparação, transformação, armazenamento e venda, com vista a avaliar as suas condições de higiene. Estas têm como objetivo averiguar a qualidade e salubridade dos produtos animais que consumimos, de modo a salvaguardar a saúde humana.

Na Indústria, as funções do veterinário estão geralmente relacionadas com o desenvolvimento, teste, fabrico e transformação de produtos destinados a animais ou que utilizam elementos de origem animal (como alimentos, aditivos, rações, medicamentos ou cosméticos).

O mercado de trabalho e as saídas profissionais

Normalmente, os veterinários iniciam as suas carreiras como trabalhadores por conta de outrem e, após alguns anos de experiência, estabelecem-se autonomamente. À medida que evoluem na carreira, alguns especializam-se ainda em determinado tipo de doenças ou animais.

Devido às diferentes áreas de atuação o mercado de trabalho destes profissionais de saúde animal é muito alargado. No âmbito da administração pública podem trabalhar a nível local e regional ou central.

A nível local e regional podem exercer funções como veterinários municipais ou técnicos superiores nos departamentos de polícia sanitária; a nível central exercem funções como técnicos superiores, inspetores ou investigadores nos organismos ligados ao Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP), tais como a Direção-Geral de Veterinária, matadouros públicos e o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, entre outros; podem igualmente exercer atividade como técnicos superiores de saúde nos serviços e estabelecimentos dependentes do Ministério da Saúde (hospitais, por exemplo) ou, ainda, tornar-se docentes ou investigadores nos estabelecimentos de ensino de Ciências Veterinárias.

No sector privado podem desempenhar funções em empresas industriais (agropecuária, farmacêuticas, transformação de produtos de origem animal, alimentos para animais, etc.), em matadouros, laboratórios de análises, empresas de consultadoria para criadores/produtores, e em clínicas privadas de grandes e pequenos animais que garantem o atendimento clínico e cirúrgico.

Até agora, o mercado tem conseguido absorver a maioria dos que terminam os seus estudos, mas já se questiona até quando poderá manter-se a situação. As condições oferecidas aos candidatos ao mercado de trabalho são discutíveis devido às baixas remunerações (com valores a rondar 750 a 1000 euros mensais) e aos horários imprevisíveis.

As perspetivas não são animadoras. Um mercado de trabalho cada vez mais concorrencial parece constituir a principal tendência que afetará os médicos veterinários a médio e longo prazo. Um dos fatores que mais contribui para esta situação é o facto de terem recentemente surgido mais licenciaturas em Medicina Veterinária, prevendo-se um aumento significativo do número de profissionais.

Além disso, deve continuar a aumentar o número de clínicas de pequenos animais e respetiva concorrência, bem como o baixo nível de admissões destes profissionais na maioria dos serviços da administração pública e em certos sectores industriais que tradicionalmente os empregavam (por exemplo, a indústria farmacêutica).

Não se pode ignorar a redução da necessidade de médicos veterinários na área dos animais de produção, em consequência da redução do nível de atividade.

Enquanto há duas décadas o tratamento dos grandes animais ainda era a atividade que ocupava a maior parte dos profissionais, sobretudo nas numerosas pequenas explorações agropecuárias espalhadas pelo país, a sua progressiva substituição por grandes explorações restringiu a necessidade de médicos veterinários. Em termos de grandes animais apenas o sector equino, ligado à atividade desportiva, registou um relativo crescimento, mas ainda assim sem grande expressividade.

A compensar os aspetos negativos só as potencialidades de trabalho que o sector de produção alimentar apresenta: nas empresas deste sector, tem sido cada vez mais evidente a inovação tecnológica aliada à aposta no controlo de qualidade da fabricação de produtos de origem animal. Provavelmente os veterinários serão mais procurados por estas empresas para desempenharem funções na área do controle de qualidade e higiene.

Não se podem esquecer igualmente as novas saídas profissionais, se assim podem ser designadas, referentes às espécies exóticas e animais de cativeiro, a biodiversidade, aquacultura, equipamentos lúdicos, educativos e culturais, experimentação e investigação ou em medicina de conservação.

São novas portas que se abrem na profissão e que serão certamente preenchidas por alguns dos profissionais já no mercado de trabalho, mas também por aqueles que agora enveredam por esse caminho, através da especialização.

O futuro passa pelas especializações

Um aspeto positivo do elevado número de profissionais na área veterinária é a tendência crescente para o fenómeno de procurar alternativas.

Uns por vocação natural, outros por necessidade, acabam por escolher e explorar áreas alternativas à clínica, desempenhando-as com elevado valor acrescentado, dado que o seu conhecimento de base lhes permite abordagens consolidadas em conhecimento técnico, que lhe servirá de diferenciação positiva em relação a outras classes profissionais.

Perante uma profissão que exige constante atualização, o futuro passa pelo investimento na especialização. E, após uma fase inicial de especialização genérica, seguir-se-ão fases mais específicas das quais poderá depender o sucesso na atividade.

As áreas de estudo são as mais variadas e atendem aos mais diversos interesses profissionais e académicos: Anestesiologia, Bem-estar e comportamento animal, Biopatologia veterinária, Farmacologia e terapêutica médico-veterinária, Fisiologia e endocrinologia, Hematologia, Imunologia, Medicina e produção de animais aquáticos, de laboratórios e silvestres, Medicina veterinária intensiva, Medicina veterinária legal, Microbiologia médico-veterinária – virologia, bacteriologia e micoologia, Oftalmologia, Oncologia, Parasitologia, Patologia veterinária, Toxicologia médico-veterinária, Urologia e nefrologia felina, entre muitos outros.

As portas para o futuro estão abertas e o caminho está delineado, sendo fundamental que todos os médicos veterinários dêem o seu contributo ativo na construção do futuro da profissão.

O crescente número de licenciados em Medicina Veterinária é um problema complexo que deve merecer análise e intervenção urgente. É necessário o envolvimento de todos os responsáveis, nomeadamente do Governo, do ensino, da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) e das associações sectoriais da profissão para encontrar saídas.

Os profissionais, médicos veterinários, são formados para dar aos animais o melhor que a moderna medicina veterinária disponibiliza para a profilaxia e tratamento das diferentes patologias que possam acometê-los. É disso que os clientes, proprietários dos animais, essencialmente esperam.

Foi o idealismo que mobilizou homens e mulheres a seguirem esta bela profissão da qual os animais tanto necessitam, pois são dependentes da vontade de seus donos e da dedicação e competência dos médicos veterinários para continuarem a viver com a saúde e bem-estar preservados.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
09 de Abril de 2024

Referências Externas:

Portugal vai ter um registo oncológico animal

OUTROS TEMAS

Portugal vai ter um registo oncológico animal

O ICBAS e o ISPUP preparam-se para lançar a plataforma Vet-OncoNet, um website que pretende reunir informação sobre neoplasias presentes em animais de companhia e criar um registo oncológico animal.
CEGONHA PRETA - Tímida e de futuro incerto

AVES

CEGONHA PRETA - Tímida e de futuro incerto

De nome científico Ciconia nigra, a cegonha-preta é uma ave distinta, de médio a grande porte que apresenta plumagem negra na cabeça, pescoço, dorso e asas, possuindo um brilho metálico verde-dourado,...
0 Comentários