COELHOS, DOMÉSTICOS E CUNICULTURA

COELHOS, DOMÉSTICOS E CUNICULTURA

Outras espécies

  Tupam Editores

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Estima-se que exista pelo menos um animal de estimação em dois de cada três lares portugueses, com predominância para os cães, gatos, canários e outras aves trepadoras. No entanto, os lagomorfos de companhia têm vindo a contribuir crescentemente para aqueles números.

Se o nome pode não dizer nada à grande maioria das pessoas, o animal é-lhes todavia bem familiar. Os lagomorfos (latim científico Lagomorpha) constituem uma ordem de pequenos mamíferos herbívoros, que inclui os ocotonídeos, as lebres, e os tão famosos coelhos, que desde sempre designámos por roedores, mas que há anos foram excluídos dessa ordem não devendo por isso confundir-se.

A criação de coelhos é uma atividade multissecular. Apesar de a sua origem ser muito discutida, a maioria dos autores acredita que o coelho doméstico descenda do coelho selvagem europeu (Lepus cuniculus). A procedência geográfica também não está bem definida, mas a Península Ibérica – mais precisamente Espanha – é considerada por alguns como o lugar de origem do coelho, que terá sido introduzido nos restantes países posteriormente.

Entretanto, há quem afirme que o coelho é proveniente da Ásia, onde apareceram os primeiros vestígios da espécie, havendo também quem refira que é originário do sul da Europa, tendo-se disseminado a partir daí para outros países. Há ainda os que acreditam que tenha vindo do sul de África, de onde passou para a Europa, tendo-se espalhado com rapidez a todo o continente.

Quanto à domesticação, diz-nos a história terem sido os romanos os primeiros a criá-los, em liberdade, em grandes parques. Já na Idade Média, as primeiras tentativas da domesticação do coelho tiveram início nos conventos, tendo sido os monges os pioneiros na propagação da cunicultura em alojamentos e gaiolas, por toda a Europa.

Segundo documentos datados dos séculos XVIII e XIX, os egípcios, gregos e chineses também criavam coelhos. Na China, simbolizando a fecundidade em cerca de 1600 templos, eram sacrificados mais de 30 mil coelhos na primavera, para pedir aos deuses que a terra fosse fecunda como esses animais, e no outono, em agradecimento pelo que a terra havia produzido.

Da espécie Oryctolagus cuniculus – conhecido popularmente como coelho comum, coelho doméstico ou coelho europeu – tiveram origem muitas das raças de coelhos que existem no mundo com uma grande diversidade de cores e estatura, sofrendo profundas modificações na pelagem, na coloração dos olhos, no comprimento da pelagem e no peso.

De acordo com a American Rabbit Breeders Association (Associação Americana de Criação de Coelhos) existem atualmente 47 raças conhecidas de coelho doméstico em todo o mundo.

As mais populares como animais de companhia são o Nova Zelândia, Califórnia, Chinchila, Azul de Viena, Borboleta, Prateado Champanhe, Rex e o Angorá, de todos o mais exótico. Há ainda o coelho anão, ou mini, e o de orelhas caídas, normalmente encontrados como mutações do Nova Zelândia e Califórnia, porém existente também nas demais raças.

O coelho como animal de companhia

O coelho está presente em todos os sonhos e recordações de infância perdurando uma imagem meiga, fofa e encantadora. Tão forte é esta imagem que este animal se tornou num animal de estimação muito querido, que é preciso conhecer melhor para bem cuidar.

Os coelhos comuns possuem corpo arredondado, cabeça e olhos grandes com amplo campo de visão, orelhas longas e largas, e audição e olfato bem desenvolvidos. Os dentes têm crescimento contínuo. O crescimento do incisivo é particularmente rápido (aproximadamente 0,5 cm por ano), motivo pelo qual os animais devem ter contacto com materiais que possam roer.

As patas posteriores são mais compridas que as anteriores, a cauda é curta, semelhante a um "pompom" e apresentam, em media, três quilogramas de massa, e cinquenta centímetros de comprimento.

São animais caracteristicamente noturnos, apesar de grande parte das pessoas não o saber, no entanto, habituam-se facilmente à rotina diária do dono, alterando os seus períodos de sono, estando sempre prontos para a exploração da casa.

Sociáveis, dóceis, curiosos e calmos, apegam-se muito aos donos respondendo pelo nome e criando uma relação de extremo carinho, dando muito afeto. Mas também podem retribuir com uma dentada ou arranhadela, devido a contenção incorreta.

São mais independentes que os cães, não são barulhentos, e não precisam de muita manutenção nem espaço. São os companheiros perfeitos para quem gosta de animais e vive em apartamento.

Ainda assim estes animais representam um compromisso a longo prazo pois a expetativa de vida de um coelho anão é de 12 a 15 anos, e dos coelhos maiores é de 9 a 12 anos. Apesar de as rações serem baratas e da manutenção ser relativamente simples, todos os animais de estimação requerem cuidados, atenção e carinho, por mais simples que sejam.

No que respeita ao alojamento, a gaiola deve ter uma dimensão mínima suficiente que permita ao coelho esticar-se a todo o comprimento e sentar-se nas patas de trás, mas no entanto, este tamanho apenas deve ser utilizado para coelhos que façam exercício diário fora da gaiola.

Os coelhos necessitam de esticar as patas e as saídas regulares da gaiola são obrigatórias se quisermos manter um animal saudável. Estes devem poder passear livremente pelo menos duas vezes por dia durante um período mínimo de 30 minutos. Mas não em lugares frios ou onde o piso seja escorregadio.

O local onde a gaiola ficar instalada deve ser seco e longe de correntes de ar, e deve conter um ninho ou lura para que o animal se possa esconder. Os comedouros e bebedouros devem estar sempre limpos, e é aconselhável a existência de uma pedra de cálcio e madeira para roedores.

Além da ração adequada para coelhos de estimação – que deve constituir apenas 10 por cento da alimentação total –, o feno deve estar sempre à disposição por ser o alimento base do coelho, e os vegetais frescos devem constituir cerca de 20 por cento do total de alimentos consumidos.

Podem comer inúmeros vegetais frescos, como a cenoura, os brócolos, a couve (em pequena quantidade), o nabo, o rabanete, a salsa, entre outros. Deve evitar-se a batata, as leguminosas secas como o feijão e grão e a alface (essencialmente devido à falta de nutrientes e capacidade diurética).

Existe sempre a tentação de tratar estes animais como se fossem cães, mesmo tratando-se de espécies completamente diferentes. Um coelho não pode ser agarrado da mesma forma que se agarra um gato ou um cão. Para começar, não se deve segurar o coelho pelas orelhas, mas pelo dorso ou barriga, apoiando as patas na mão, para que este não se sinta desequilibrado e comece a "espernear".

Até porque, nem sempre um coelhinho é aquela bolinha de pelo fofinha e meiga. Nunca deve ser permitido que o animal mordisque as mãos do dono, o morda ou ameace, batendo com as patas de trás sempre que alguém invada o seu território. Os coelhos são animais bastante territoriais, logo esse tipo de comportamento não deve ser potenciado. Deve, antes, ser imediatamente punido sempre que assuma qualquer uma dessas atitudes.

Tal como os gatos, os coelhos também podem ser ensinados, e habituam-se facilmente, a fazer as necessidades num local específico. Apesar de gostarem de passar tempo na "caixa de areia" os coelhos podem necessitar de mais do que uma, caso lhes seja dada a oportunidade de andar por várias divisões. O truque é colocar feno na caixa de areia, tornando-a mais atrativa aos seus olhos.

Ainda relativamente à higiene, para manter o coelho limpo é importante levá-lo a aceitar, desde cedo, a escovagem, o corte das unhas e o barulho do secador, para o caso de ser necessário dar-lhe banho. De referir que o coelho é um animal muito asseado cuidando de forma eficaz da sua própria higiene.

No que respeita à saúde, tal como qualquer ser vivo, por vezes os coelhos também adoecem. Algumas das doenças mais comuns em coelhos são a coriza, a coccidiose, a conjuntivite, a sarna e a diarreia. Perante qualquer alteração na saúde ou sintomas estranhos a solução é uma visita ao veterinário. Até porque convém que o animal seja vacinado anualmente contra outras doenças como a mixomatose e a doença hemorrágica viral, ou contra a pasteurelose.

Embora não se fale frequentemente da esterilização de coelhos no nosso país, há que referir que esta se encontra generalizada no resto da Europa, para evitar problemas de saúde, comportamentais e combater o problema do excesso de população que leva ao abandono e aos maus-tratos dos animais. Mas se em casa o excesso de população não é desejável, quando se fala de cunicultura o caso muda inteiramente de figura.

Cunicultura: a criação de coelhos

"Procriar como coelhos" é uma expressão corrente que resume a rentabilidade de uma criação de coelhos.

Devido ao seu rápido crescimento, precocidade reprodutiva, prolificidade, pequeno período de gestação e à pouca necessidade de espaço físico, a cunicultura é uma atividade prática e simples no manejo e nas instalações.

De facto, estes animais têm ninhadas numerosas (uma coelha poderá produzir cerca de 50 filhotes por ano), atingem rapidamente a maturidade sexual (nas fêmeas ocorre a partir dos 4 meses de idade e nos machos aos cinco meses), ocupam pouco espaço físico, alimentam-se de leguminosas ou gramíneas e a sua criação pode resultar em diversos propósitos:

– para obtenção da sua carne, de altíssima qualidade nutricional (a carne do coelho apresenta cerca de 21 por cento de proteína, 8 por cento de gorduras e apenas 50mg/100g de colesterol), o que a destaca como um excelente alimento;

– para extração da pele – que pode ser usada para a costura na criação de roupas, podendo ainda resultar em uma lã com consistência bem macia e confortável para usos variados no vestuário; ou, simplesmente, como animal de estimação.

Os custos da criação de coelhos até são bastante reduzidos quando comparados ao eventual lucro da atividade, o que os torna animais facilmente comercializáveis no mercado.

A criação de coelhos em cativeiro é um processo que permite criar os animais num ambiente controlado, sem predadores naturais, com fronteiras delimitadas e com condições idênticas às existentes na natureza. As vantagens são várias: quer para efeitos da conservação e sustentabilidade da espécie criada, quer para efeitos de repovoamento de áreas carenciadas, para a caça e também enquanto alimento de outras espécies ameaçadas na Península Ibérica (como é o caso do lince).

De modo a evitar a extinção ou a exploração indevida das espécies, existem em Portugal quotas de criação de animais. O repovoamento e a renovação animal é uma inquietação que tem trazido preocupações de ordem ecológica para todos os sectores da pecuária, incluindo a criação de coelhos.

A caça tem um papel muito importante na economia nacional, não só em Portugal Continental, mas também nas regiões autónomas, com grande tradição venatória, movimentando milhões de euros em torno da mesma, pelo que, qualquer problema que afete os efetivos do coelho bravo, desde a caça excessiva a outros problemas, como o vírus hemorrágico, podem ter grandes repercussões na vida de uma substancial percentagem de famílias portuguesas.

Nesse sentido, e para colmatar qualquer potencial carência de coelhos em determinada zona do país, a sua criação em cativeiro tem funcionado como a solução mais sustentável para repovoar estas áreas sempre que houver necessidade de o fazer, garantindo à partida a sustentabilidade da caça e que, acima de tudo, as espécies criadas em cativeiro possam continuar a proliferar, para que, quer a nossa geração, quer as vindouras, possam continuar a usufruir delas.

A ajudar, Portugal oferece condições excecionais para a produção de coelho, pelo seu clima temperado, pela qualidade química da água que é a ideal, o que leva a que os resultados técnicos (produtivos), apresentados pelos produtores, se situem acima dos padrões normalmente descritos para o setor.

Nos últimos anos o interesse pela criação de coelhos tem crescido bastante. A seleção dos animais é de extrema importância, mas um bom manejo é a chave para o sucesso de uma criação de coelhos.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
03 de Maio de 2024

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