EUGENIA ANIMAL

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O termo, criado em 1883 por Sir Francis Galton (1822-1911), significa "bem-nascido". Das diversas e importantes contribuições que Galton nos legou, em diferentes áreas, a eugenia constitui-se como a maior preocupação da sua vida e carreira académica.

Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou intelectualmente.

O termo é bastante controverso, particularmente após o surgimento da eugenia nazista, que se tornou no elemento fundamental da ideologia de pureza racial, que viria a culminar no Holocausto. Mesmo com a cada vez maior utilização de técnicas de melhoramento genético usadas atualmente em plantas e animais, ainda existe receio quanto ao seu uso entre os seres humanos, chegando ao ponto de alguns cientistas afirmarem que, de facto, é impossível mudar a natureza humana.

Até meados do século XIX, os vários cruzamentos realizados e observados pelos seres humanos em animais, ao longo da história, permitiam formar a perceção de que as crias reproduziam as características dos seus progenitores, o que também se aplicava aos seres humanos.

A existência de características individualizantes era geralmente explicada pela mistura de elementos, forças vitais ou espirituais, que ambos os pais forneciam aos filhos, e essa mistura podia ser forte ou fraca ou ainda pender para um dos lados; podiam ainda ser consequência de treino, educação ou de experiências que os indivíduos adquiriam durante a sua trajetória de vida.

Há centenas de milhares de anos não existiam animais vertebrados na terra. Os peixes eram os únicos vertebrados existentes no mundo. A competição por alimentos era intensa. Alguns peixes que viviam junto da costa desenvolveram nessa altura uma estranha mutação: a possibilidade de se arremessarem na lama e areia da costa por meio das suas barbatanas, o que lhes dava acesso a fontes de alimentos inacessíveis a qualquer outro peixe.

Esta vantagem conferiu-lhes ainda maior sucesso reprodutivo, de tal forma que a mutação foi transmitida. É a esse sucesso que se dá o nome de seleção natural que, por sua vez se tornou o propulsor da evolução.

A palavra evoluir deriva do latim evolutione, que significa desenvolvimento progressivo, seja de uma ideia, de um acontecimento, de uma ação, etc. Em biologia, evolução diz respeito a uma teoria que admite a transformação progressiva das espécies.

Primo de Charles Darwin, Galton esteve entre os primeiros a compreender as implicações da teoria evolucionista do cientista para a humanidade, a forma como invalidava muita da teologia contemporânea e como abria possibilidades para a manipulação científica da própria espécie humana.

Darwin e a seleção natural

O princípio da evolução postula que as espécies que habitam o nosso planeta não foram criadas independentemente, mas descendem umas das outras, ou seja, estão ligadas por laços evolutivos.

A base da evolução biológica é a existência da variedade, ou seja, as diferenças individuais entre os organismos de uma mesma espécie. No entanto, as populações de espécies num ecossistema em equilíbrio não crescem indiscriminadamente; os indivíduos são selecionados na natureza de acordo com as suas características.

Aqueles que apresentarem características vantajosas para a sua sobrevivência, como por exemplo uma maior capacidade para conseguir alimento, maior eficácia reprodutiva, maior agilidade de fuga dos predadores, têm mais hipóteses de sobreviver até à idade reprodutiva, altura em que irão passar estas características individuais vantajosas à sua descendência. Isto porque todas estas características estão impressas nos genes do indivíduo. Este é o princípio da seleção natural de Darwin.

Darwin mostrou que a seleção natural tende a modificar as características dos indivíduos ao longo das gerações, podendo gerar o aparecimento de novas espécies.

Nas palavras do próprio cientista, na sua obra histórica "A Origem das Espécies" "a seleção natural age exclusivamente pela preservação e pelo acúmulo de variações que são benéficas sob as condições às quais cada criatura é exposta. O resultado final é que cada criatura tende a tornar-se mais e mais melhorada em relação às suas condições".

Um bom exemplo de seleção natural foi o que ocorreu com as mariposas portadoras de pigmentos enegrecidos a partir da segunda metade do século XIX. Com a intensificação do crescimento das indústrias deu-se um aumento do envio de substâncias poluentes para a atmosfera, com o consequente depósito de fuligem nas plantas. Como resultado dessa ocorrência, os insetos desta espécie, que antes predominavam na cor branca acinzentada foram, gradualmente, substituídos pelos de coloração mais escura, pois assim eram confundidos com o caule dos arbustos, de cor idêntica.

Desta forma as mariposas eram vistas mais raramente pelas aves, suas adversárias naturais, e passaram a transcender as mais claras, sobrevivendo e transmitindo este atributo aos seus descendentes.

O processo de seleção natural é adotado pelos cientistas como a teoria mais viável na justificação da capacidade que determinados seres vivos possuem de sobreviverem ao longo do tempo, em detrimento de outros, e da sua aptidão para se converterem em múltiplas variedades de espécies.

A eugenia é a filha dileta de Darwin. Para o cientista se as espécies se transformam por "seleção natural", então, existem raças inferiores e raças superiores.

O criador e o apuramento de raças

Raça é um conceito que obedece a diversos parâmetros para classificar diferentes populações de uma mesma espécie biológica de acordo com as suas características genéticas ou fenotípicas. É comum falar-se de raças e criadores de cães, ou de outros animais. Criador é aquele que faz criação. Criação é o ato de criar, contudo, nem todos os que criam são criadores!

Fazer criação é uma tarefa complexa à qual se associam os problemas de cada raça animal. Quando se manipula uma população, é importante perceber como é que os genes responsáveis pelas características mais importantes se comportam dentro da população ao longo das várias gerações.

Algumas características podem estar "escondidas" numa geração e serem evidenciadas noutras gerações, assim como outras se mantêm ao longo das várias gerações.

No mundo canino cria-se para se obterem resultados uniformes, ou seja, quando alguém compra um cão de determinada raça espera que o animal venha a ter um determinado comportamento e morfologia – assumindo-se, como é evidente, uma certa variância já que, tal como as pessoas, cada animal é um exemplar único.

Os criadores utilizam vários métodos de apuramento da raça: o inbreeding (linhas de sangue muito fechadas), o line breeding (linhas de sangue fechadas) e o outcrossing (mistura de linhas de sangue).

À descrição pormenorizada das características morfológicas e comportamentais de uma raça dá-se o nome de estalão dessa mesma raça e serve essencialmente para identificar o tipo de animal ideal aquando da seleção de exemplares para reprodução, exposição ou companhia.

É importante frisar que não existe o cão perfeito. Cada espécie vai evoluindo de acordo com as necessidades do homem e o que era aceitável há cem anos atrás, hoje em dia pode até estar fora do estalão atual.

Saber exatamente o número de raças caninas existentes não é tarefa fácil. A Federação Internacional de Cinologia (responsável pelo seu registo) reconhece cerca de 350 em todo o mundo. No entanto, sempre podem surgir novas, que só serão oficializadas se seguirem regras, como possuir características – tamanho, pelagem, comportamento, entre outras – muito diferentes das raças que já existem.

Os cães surgiram em resultado da domesticação dos lobos (canis lupus) há milhares de anos. Os mais dóceis eram selecionados pelo homem para a reprodução. Assim, com o passar do tempo, os filhotes nasciam cada vez mais mansos, facilitando a convivência com os humanos. Dessa forma, o animal poderia servir para proteger as pessoas, caçar e cuidar dos rebanhos.

Acredita-se que as primeiras raças tenham surgido há mais de 300 anos. Não se sabe ao certo como muitas foram criadas, mas todas surgiram porque o homem separou animais com determinadas características e os fez reproduzir. A partir daí os filhotes passaram a herdar os mesmos traços e comportamento.

A ideia moderna de "raça" diz respeito a um conjunto de cães (canis lupus familiaris) com características físicas e mesmo comportamentais semelhantes, partilhando uma herança genética comum, determinada sobretudo por uma seleção artificial promovida de forma mais ou menos ativa, e intencional, pelo homem.

No fundo, os criadores de cães estabelecem verdadeiras "ilhas artificiais" limitando o pool genético de determinadas populações de animais de maneira a garantir a desejada uniformidade.

As associações de criadores iniciaram no século XIX o registo dos cães existentes, estabelecendo árvores genealógicas e definindo padrões fixos que começaram a servir de guia aquando da seleção artificial.

Assim, entre os criadores de cães ligados a essas associações – a mais antiga é o Kennel Club Britânico, fundado em 4 de abril de 1873 – o critério fundamental na escolha dos indivíduos a reproduzir e os cruzamentos a permitir passou a ser a conformidade ao estalão definido para determinada raça.

Um cão de raça pura é aquele que descende de gerações onde não houve cruzamentos com indivíduos de outras raças e que, quando cruzado com um indivíduo da sua raça, dá origem a indivíduos exclusivamente da sua linhagem. Quando se fala de uma raça pura é habitual a menção à genealogia do animal, ou pedigree, que comprova a pureza da estirpe.

Em 1911 foi criada a Federação Cinológica Internacional (FCI), entidade que engloba a maior parte das associações nacionais dos países onde existe uma presença significativa de cães de raça.

Muitas vezes a pureza da raça é confirmada pelo facto dos seus antecessores se encontrarem registados como cães de raça. Por essa razão, os registos são conservados de forma extremamente rigorosa e rígida pelas várias associações cinófilas.

Contudo, o isolamento genético que deu origem às raças puras, tão desejadas pelo homem, trouxe algumas patologias específicas a cada uma dessas raças puras. A seleção feita pelo homem pode também tornar os animais menos resistentes, como é o caso do buldogue, que respira com dificuldade por causa do focinho curto, e que perdeu a capacidade de se reproduzir naturalmente, fazendo-o apenas por meio de inseminação artificial.

Por estas, e outras razões, é muito importante que o criador conheça profundamente a raça com a qual lida e que pretende apurar.

Um criador dedicado sabe que não existe o cão perfeito e deve estar consciente não só das qualidades, como dos defeitos dos seus cães. O principal motivo para um criador ter cães deve ser a paixão que nutre pela raça e a criação deve ser o seu contributo para garantir a qualidade, divulgação e melhoria contínua da espécie que é objeto da sua preferência.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
17 de Novembro de 2023

Referências Externas:

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