INFÂNCIA: DENTIÇÃO
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Tupam Editores
O assunto "dentes" é um dos mais mencionados nas consultas de rotina de Pediatria, ou não fosse o aparecimento do primeiro dente um marco importante que todos os pais aguardam ansiosamente.
A mudança de um sorriso desdentado para uma boca cheia de dentinhos é um rito de passagem que pode estender-se pelos três primeiros anos da vida do bebé. Mas desengane-se se pensa que sabe tudo sobre o nascimento dos dentinhos "de leite", também chamados dentes temporários ou, no termo técnico, dentes decíduos.
A história começa dentro do útero. Durante a gravidez, o bebé adquire os chamados botões dentários – as fundações dos dentes de leite. Estes começam a formar-se na terceira semana de vida intrauterina, de maneira que quando a criança nasce possui no interior dos ossos maxilares as mandíbulas dos 20 dentes que compõem a sua forma dentária temporária e as células diferenciadas que dão origem aos 32 dentes definitivos.
Isto torna mais fácil compreender por que um em cada 2000 bebés já nasce com um dente, ou até dois! Estes denominam-se dentes natais. Também pode acontecer que um dente nasça até ao primeiro mês de vida da criança. Neste caso, é chamado de dente neonatal. Estes dentes normalmente caem por si, no entanto, dado o risco de aspiração, são habitualmente extraídos precocemente.
O nascimento dos dentes do bebé é, amiúde, motivo de preocupação para os pais, que acorrem com muitas dúvidas e poucas certezas ao consultório médico. Até porque, no que diz respeito à dentição infantil, existem poucas regras rígidas… mas, felizmente, quase tudo se resolve com bom senso.
No que toca ao desenvolvimento humano tudo tem uma ordem – até os dentes!
A dentição é o processo através do qual os primeiros dentes temporários (de leite) do bebé irrompem da gengiva. Normalmente, ocorre aproximadamente entre os 6 meses e os 2 anos e meio. Depois de aparecer o primeiro dente, um novo surgirá mais ou menos a cada mês.
A primeira dentição é constituída por vinte dentes, cujo rompimento ocorre de forma progressiva, com uma sequência cronológica bastante definida. Todavia, a idade em que os primeiros dentes se evidenciam varia bastante, pois embora alguns bebés já nasçam com algum dente visível, outros ainda estão desdentados quando cumprem 1 ano.
É normalmente por volta do meio ano, entre os 5 e os 7 meses, que costumam surgir os primeiros dentes, na maioria dos casos os incisivos centrais inferiores. Ao fim de pouco tempo, entre os 6 e os 8 meses, evidenciam-se os incisivos centrais superiores.
Em seguida, aparecem os incisivos laterais, primeiro os inferiores, entre os 7 e os 10 meses, e depois os superiores, entre os 8 e os 11 meses. Seguindo a mesma ordem, no primeiro semestre do segundo ano, surgem os primeiros molares superiores, seguidos pouco depois pelos caninos inferiores, os caninos superiores e, por volta dos 2 anos de idade, os primeiros molares inferiores.
Os últimos dentes de leite a nascer, até aos 2 anos e meio, são os segundos molares inferiores e superiores, que completam a dentição temporária. Referira-se que as idades mencionadas são meramente indicativas, e o facto de os dentes do bebé nascerem relativamente cedo ou um pouco mais tarde não significa que esteja mais avançado ou atrasado.
É do conhecimento geral que o leite materno é não só o alimento mais completo e digestivo para crianças de até um ano de idade, como também possui ação imunizante, protegendo-as de diversas doenças. O que pouca gente sabe é que a amamentação tem reflexos futuros na fala, respiração e até na dentição.
Quando a criança é amamentada, está não só a ser alimentada, como a fazer um exercício físico importante para desenvolver a ossatura e musculatura bucal.
Ao nascer o bebé apresenta o maxilar inferior muito pequeno, sendo o seu crescimento estimulado pela sucção do peito da mãe, até que atinja o equilíbrio na dimensão com o maxilar superior. Toda a musculatura bucal é desenvolvida, músculos externos e internos que, solicitados, desenvolvem os ossos.
Maxilares mais bem desenvolvidos dão origem a um melhor alinhamento da dentição, diminuindo a necessidade futura do uso de aparelhos ortodonticos, e uns músculos firmes ajudarão na fala. Durante a amamentação, aprende-se a respirar corretamente pelo nariz, evitando amigdalites, pneumonias, entre outras doenças. Quando a criança respira pela boca, os dentes ressecados ficam mais expostos à cárie e as gengivas ficam inflamadas, os maxilares tendem a sofrer deformações e os dentes a ficar "encavalitados" (apinhamento dentário), aumentando também o processo de cárie.
Apesar de ser tudo muito simples e natural, para a maior parte dos bebés (e seus pais) a chegada do primeiro dentinho não é lá muito divertida, e pode até ser um processo longo e exaustivo. Os primeiros sintomas – entre eles muita baba e uma boa dose de dor – começam um mês ou dois antes do grande evento, o que pode representar noites e noites em claro a consolar a criança.
Para além do aumento de salivação e da dor, a erupção dos dentes vem muitas vezes aliada a outros sinais/sintomas desagradáveis como, por exemplo, inflamação das bochechas, inchaço e sensibilidade na gengiva, aumento da secreção nasal, congestão, infeções auditivas, diarreia leve, febre, sono agitado, maior irritabilidade, falta de apetite, e tentativa de morder tudo o que aparece pela frente. Em geral os sintomas são temporários, e passam ao fim de poucas semanas.
Para minimizar o desconforto do bebé, os pais podem utilizar alguns métodos simples como, por exemplo, massajar suavemente as suas gengivas com uma dedeira. Além de ser tranquilizante, ajuda a aliviar a dor.
Dar ao bebé um anel de dentição/mordedor ou uma roca especial para chuchar e mastigar. Estes objetos devem ser escolhidos com cuidado, preferindo os de plástico mole, para não ferir as gengivas. Uma fralda de pano comum com a ponta embebida em água bem fria também será uma boa solução momentânea.
Massajar as gengivas doridas com um gel anestesiante específico à base de plantas, também ajudará o bebé a acalmar. Este gel também se pode colocar no anel de dentição, podendo fazê-lo diversas vezes ao dia. Alguns destes tipos de geles contêm uma pequena quantidade de açúcar, por isso é essencial limpar as gengivas do bebé.
Manter o bebé distraído e entretido com algo, ajudá-lo-á a tirar as dores da ideia. Uma aula de música, um brinquedo novo, um livro de sons, ou mesmo um passeio no jardim também poderão ajudar. A terapia do mimo e dos abraços também funciona. Abraços e beijinhos extra podem fazer muita diferença!
Quando nenhuma outra opção restar e o desespero (de ambos) for muito, também se pode optar pelo paracetamol para bebé a fim de aliviar as dores. Deve, contudo, evitar-se ao máximo que o bebé ingira qualquer tipo de medicamento, até porque a erupção dos dentes de leite não é uma doença. Ainda assim, não deixa de ser conveniente consultar um odontopediatra.
Não só a higiene oral é um dos temas abordados nas consultas de saúde infantil logo nos primeiros meses de vida do bebé, como os problemas dentários podem surgir bem cedo.
Assim, recomenda-se uma primeira consulta ao dentista a partir do momento em que nasçam os primeiros dentes, no decurso do primeiro ano de vida. Nesta primeira consulta os pais recebem aconselhamento sobre a saúde oral do seu filho e é também uma boa oportunidade para a criança conhecer o dentista e para se familiarizar com os aparelhos e o ambiente de um consultório, sobretudo porque terá de lá voltar com alguma regularidade.
A dentição pode apresentar variações de tamanho, forma, estrutura, número, cor e formação das estruturas dentárias. Assim, o dentista vai verificar se tudo está a crescer e a desenvolver-se da forma correta. Vai examinar os dentes, se já existirem, as gengivas e os maxilares da criança para comprovar a eventual existência de indícios de algum problema e para ensinar-lhe a maneira correta de limpar e cuidar dos dentinhos do seu filho.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das alterações de desenvolvimento que se vão instalando são essenciais para que se consiga uma harmonia da oclusão, da funcionalidade (mastigação e fala) e também da estética.
Os dentes de leite, apesar de temporários, são tão importantes quanto os definitivos. Para além da sua função na alimentação, são importantes na fala, na manutenção do espaço e alinhamento dos dentes definitivos.
As crianças podem ser, desde muito cedo, afetadas por lesões de cáries, razão porque se deve adotar a atitude mais correta para o impedir. Pode começar por escovar os dentes do bebé mal eles irrompam.
Em idades dos 0 aos 3 anos, os dentinhos devem ser escovados de manhã e à noite, sendo esta última a mais importante. Deve escolher-se uma escova de dentes adequada ao tamanho da boca da criança, sem pasta ou com reuzida quantidade (do tamanho da unha do dedo mindinho da criança), devendo a boca ser bem enxaguada no final.
Os suplementos de flúor só estão recomendados em casos muitos específicos e por isso devem apenas ser prescritos pelo odontopediatra da criança. Deve evitar-se dar doces, guloseimas e refrigerantes ou sumos com açúcar à criança, assim como molhar a chucha no mel, adicionar açúcar ao biberão da noite ou juntar concentrados doces à água.
Aos 3 ou 4 anos de idade, com a dentição já completa, a criança deverá ser capaz de lavar os dentes por si mesma, embora com uma pequena ajuda. Deve-se utilizar uma escova pequena (1,5 cm), idealmente de nylon, para que possa chegar a todas as partes do dente. Para que seja mais fácil, convém ensinar uma técnica simples às crianças. Por exemplo, um movimento circular da escova.
Embora varie de uma criança para outra, as crianças com menos de 8 anos podem necessitar de ajuda para lavar os dentes. Devem ser ensinadas a lavar os dentes pelo menos duas vezes ao dia, pela manhã e antes de irem para a cama, dedicando dois minutos a cada lavagem.
Entre os cinco e os sete anos de idade ocorre outra fase que envolve alguma ansiedade por parte dos pais e das próprias crianças – o início da troca dentária.
As crianças desta idade já não querem ser pequenas. Querem mudar, crescer, transformar-se em meninos e meninas crescidos… e a queda dos dentes é uma parte importante dessa transformação a todos os níveis.
Quando o primeiro dente começa a abanar, a criança sente que, pouco a pouco, vai deixando para trás as coisas de bebé para se aproximar das dos miúdos crescidos (com os quais já partilha alguns interesses). E quando o dente cai, mostra com todo o orgulho do mundo o "buraquinho" que demonstra o quão grande já é.
A Fada dos Dentes vem aqui assumir um papel importante: a magia e a emoção de espreitar debaixo da almofada pela manhã e descobrir a surpresa.
A Fada dos Dentes é uma personagem da mitologia popular de muitos países (sobretudo de língua inglesa). Trata-se de um ser mágico que recolhe os dentes que as crianças deixam debaixo das almofadas e substitui-os por um presente, geralmente dinheiro.
Celebrar a Fada dos Dentes é, para muitas famílias, a maneira de expressar a alegria que todos sentem quando uma criança vai ficando "crescida". Para a criança, a troca do dente por um presente transforma-se num ritual de transição: uma forma de dar importância a um facto que marcará um antes e um depois na sua vida.
A magia é um elemento importante na vida da criança. Expetativa, curiosidade, surpresa, ilusão… todas são emoções que deveriam fazer parte da vida da criança. Para algumas, a ideia de perder um dente pode ser angustiante (para os adultos é), e a chegada da Fada dos Dentes transforma esses medos em ilusão.
É geralmente a partir dos 6 anos de idade que os dentes de leite começam a cair de forma espontânea, sendo substituídos pelos dentes definitivos. Tal como para o nascimento, a queda, variável consoante os casos, segue igualmente uma ordem cronológica bastante definida: em primeiro lugar, entre os 6 e os 7 anos, caem os incisivos centrais inferiores, no ano seguinte caem os incisivos centrais superiores e os incisivos laterais inferiores e, entre os 8 e os 9 anos de idade, caem os incisivos laterais superiores.
Os caninos inferiores caem entre os 9 e os 11 anos, enquanto que os caninos superiores caem entre os 11 e os 12 anos. Os primeiros molares caem entre os 10 e os 12 anos, em primeiro lugar os inferiores e, depois, os superiores. Os segundos molares inferiores também caem entre os 10 e os 12 anos, enquanto que os segundos molares inferiores caem entre os 11 e os 13 anos.
Por vezes os dentes não caem na ordem certa ou decorrem mais de três meses entre a queda do dente decíduo e a erupção do permanente, o que sugere a existência de algum problema. Nestes casos torna-se importante fazer uma avaliação ortodôntica da criança. O médico poderá avaliar se está tudo normal, ou se deve permitir procedimentos de intercetação do problema, ou seja, o dentista ajuda a mover as coisas através da remoção de alguns dentes decíduos.
Deve ser ressaltada ainda a importância da boa higiene mesmo nos dentes que estão com muita mobilidade e prestes a cair. Isto é significativo para que a criança não fique incomodada devido a uma possível inflamação acompanhada de sangramento gengival no local e para proteção dos dentes permanentes contra cáries. Os dentes permanentes também devem receber cuidados especiais, porque são dentes que ficarão para a vida toda.
Geralmente, o nascimento dos dentes definitivos não causa grandes queixas. Tendencialmente, nas crianças em que os dentes de leite começaram a nascer mais tarde, também a segunda dentição começa a nascer mais tarde, verificando-se o oposto quando a primeira dentição é precoce.
A segunda dentição é constituída por 32 dentes. A eclosão dos dentes definitivos começa com os primeiros molares inferiores e superiores definitivos, que se situam ao lado dos segundos molares temporários. Pouco depois, à medida que os dentes de leite vão caindo, os orifícios consequentes vão sendo ocupados pelos correspondentes dentes definitivos, primeiro os incisivos centrais e, depois, os incisivos laterais e os caninos.
Os primeiros e segundos pré-molares surgem entre os 10 e os 13 anos e, ao contrário dos restantes dentes, costumam aparecer em primeiro lugar os superiores e, depois, os inferiores. Os segundos molares inferiores e superiores caem entre os 12 e os 13 anos, enquanto que os terceiros molares, os "dentes do siso", levam mais algum tempo, nunca aparecendo antes dos 15 anos, podendo até levar mais 10 anos ou nem chegarem a aparecer.
Se os dentes de leite estavam muito cariados, sem restauração, ou se haviam sido extraídos sem colocação de pequeno aparelho assegurador do espaço, os dentes permanentes ao irromperem não vão encontrar o seu lugar certo na arcada, adquirindo uma posição defeituosa. Pequenas correções, recuperação de espaço perdido, correção de um ou dois dentes com articulação cruzada, etc., quando realizadas cedo, evitam a generalização do mal.
Não se deve deixar para depois uma visita ao odontopediatra. Este profissional está capacitado para prevenir ou interceptar maloclusões, encaminhando a criança ao ortodontista, quando achar oportuno.
Nesta fase é muito importante cuidar dos dentes pois já não nascerão outros. A limpeza deve ser uma prioridade. Dentes permanentes precisam de limpeza e fita dentária ou escovilhão regularmente e os dentistas recomendam essa rotina após cada refeição.
Devem usar-se produtos de cuidados bucais de qualidade para manter os dentes permanentes saudáveis e fortes, e consultar um odontopediatra com alguma regularidade para acompanhar o desenvolvimento da dentição e atuar precocemente quando se registar alguma cárie.
A boa saúde dentária também passa pela alimentação, devendo por isso evitar-se doces e refrigerantes, pois estão repletos de açúcar.
Ainda que a prevalência da cárie dentária seja bastante elevada em Portugal, graças aos programas de prevenção para a saúde oral e à maior preocupação dos pais no que respeita à promoção da higiene oral e aos cuidados alimentares dos seus filhos, tem vindo a diminuir.
Considerada uma parte integrante da saúde geral, a saúde oral está ao alcance de cada um, basta querer!
ARTIGO
Autor:
Tupam Editores
Última revisão:
24 de Setembro de 2024
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