BEXIGA HIPERATIVA, SINTOMAS E TRATAMENTO
DOENÇAS E TRATAMENTOS
Tupam Editores
Quando um esforço extra ou uma gargalhada fazem perder o controlo da bexiga é porque algo não está bem. Provavelmente está-se perante a síndrome da bexiga hiperativa, conjunto de sintomas que têm origem numa perturbação do armazenamento de urina na bexiga e que afeta 17% da população europeia com mais de 40 anos.
Embora não existam dados concretos, em Portugal o número de pessoas afetadas por esta síndrome ronda o milhão e setecentas mil pessoas. O problema não escolhe sexo nem idades, contudo, é mais comum em mulheres a partir dos 60 anos, mas a sua prevalência aumenta com a idade (20% aos 70 anos e 30% aos 75 anos).
Do ponto de vista clínico, a bexiga hiperativa não é considerada uma doença. Num sistema urinário saudável, os rins produzem urina, drenando-a para a bexiga. Quando a bexiga está cheia, são enviados sinais nervosos para o cérebro, indicando vontade de urinar. Os músculos da bexiga contraem-se, empurrando a urina para fora. A urina passa assim pela bexiga através de uma abertura na parte inferior, chegando ao exterior através de um canal, a uretra.
Mas quando se está perante um caso de bexiga hiperativa, os músculos deste órgão enviam mensagens erradas ao cérebro, levando a que a bexiga se contraia mais do que deveria, mesmo quando a quantidade de urina é reduzida.
O resultado é uma vontade urgente de urinar – o doente que sofre com o problema necessita urinar geralmente mais de oito vezes no período de 24 horas.

O quadro atinge de modo significativo a qualidade de vida dos afetados, aumenta o risco de depressão e reduz a qualidade do sono. São frequentes os efeitos psicológicos, com sentimentos de medo, vergonha e culpa. A preocupação em relação ao odor, a sensação de sujidade, a incontinência durante a atividade sexual podem comprometer a vida afetiva destas pessoas e a frequência urinária e a necessidade de interromper tarefas interferem com a capacidade de trabalho e de viajar.
As causas do problema são multifatoriais. Entre os fatores conhecidos destacam-se alterações neurológicas, condições que afetam os músculos ou nervos da bexiga e doenças metabólicas como a diabetes. O envelhecimento também é um fator de risco, pois pode contribuir para a perda de elasticidade dos tecidos e para a diminuição do controlo muscular.
Quanto aos sintomas, os mais comuns incluem uma necessidade frequente de urinar durante o dia, assim como um aumento significativo da quantidade de vezes que se acorda para esvaziar a bexiga (nictúria). Nos casos mais graves é possível ocorrer concomitantemente incontinência urinária.

Importa referir que os sintomas da bexiga hiperativa podem resultar de uma infeção urinária, lesões de nervos ou serem um efeito secundário de alguns medicamentos, pelo que é essencial recorrer sempre ao médico quando se manifestam, para um diagnóstico correto.
O diagnóstico passa pela história clínica do doente, pelo exame médico e por alguns exames complementares, como análises à urina e urocultura para descartar uma infeção urinária, além da avaliação do resíduo pós-miccional. O exame neurológico é importante em alguns casos. Noutros casos poderá ser útil uma ecografia da bexiga.
Diagnosticado o problema, o tratamento vai depender da gravidade dos sintomas e da sua interferência no estilo de vida do doente, e pode ser comportamental, farmacológico ou cirúrgico.
O primeiro passo é promover uma mudança comportamental, principalmente no que diz respeito à dieta. Assim, sugere-se a ingestão de, no máximo 1,5 litros de água por dia, além de evitar bebidas alcoólicas, cafeína, pimenta e condimentos em excesso, sumos de frutas ácidas e nicotina.
O especialista deve ter conhecimento de todos os medicamentos que o doente esteja a tomar, pois alguns deles podem ter como efeito colateral o aumento da diurese. Além disso, regularizar o hábito intestinal tem impacto na melhora dos sintomas urinários.
A mudança comportamental em conjunto com o tratamento farmacológico é eficaz na maioria dos doentes.
Geralmente são utilizados medicamentos anticolinérgicos, que atuam na redução das contrações do músculo detrusor e, consequentemente, diminuem o desejo de urinar com urgência.
Caso o doente não responda de maneira satisfatória, o médico urologista pode orientar a aplicação de toxina botulínica tipo A diretamente no músculo detrusor. A substância é capaz de aumentar os intervalos de esvaziamento da bexiga, diminuindo a necessidade de urinar com frequência. A vantagem desta opção é a eficácia elevada (superior a 90%) e a duração – uma sessão única tem efeito por 9 a 12 meses.
A fisioterapia pélvica com eletroestimulação também costuma ser indicada, mas o inconveniente é o facto de os sintomas tenderem a retornar com a suspensão das sessões que devem ser realizadas duas vezes por semana.
A cirurgia está indicada nos casos em que as outras modalidades não são eficazes.
Se os sintomas mencionados fazem parte do seu dia a dia, não adie uma ida ao médico. Estará a dar o primeiro passo para uma vida mais confortável e livre de constrangimentos.