VACINAÇÃO ANIMAL

VACINAÇÃO ANIMAL

DOENÇAS

  Tupam Editores

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São muitos os donos de animais e produtores, entre outras pessoas, que se perguntam o porquê de vacinar os animais – uma prática que nem é assim tão recente. Há indícios de que a primeira "variolação" intencional de um vírus, como medicina preventiva, foi a da varíola pelos chineses em 590 a.C., durante a dinastia Sung.

O termo vacina deriva do latim vaccinae, vacca e a sua difusão ficou a dever-se à primeira vacina contra a varíola desenvolvida com sucesso pelo médico escocês Edward Jenner em 1798, evento que se tornou marco do início da imunização na história.

O médico constatou que pessoas que ordenhavam vacas e se infetavam com a varíola bovina, desenvolviam apenas uma pequena lesão nas mãos, ficando a partir daí protegidos contra a varíola humana – uma doença infeciosa grave com uma taxa de mortalidade de até 20 por cento.

A varíola foi, aliás, a primeira enfermidade infeciosa oficialmente erradicada na década de 1970, graças à descoberta desta vacina. Porém, na época, nem o próprio Edward Jenner se apercebeu da importância e abrangência da sua descoberta que só foi aplicada, a outro organismo, por Louis Pasteur em 1879.

Tudo aconteceu quando o seu assistente acidentalmente esqueceu culturas de Pasteurella multocida (agente causador da cólera aviária) numa incubadora e foi de férias. Quando voltou, alguns dias depois, verificou que a morfologia das colónias se havia alterado, e resolveu infetar galinhas com elas, mas as aves não adoeceram. Foi então que Pasteur percebeu que havia acontecido algo semelhante ao que Jenner havia descoberto, pois a P. multocida havia perdido a virulência.

Com base nessa descoberta, Pasteur desenvolveu a primeira vacina para uso na produção animal contra o Bacillus anthracis, preparação que foi desenvolvida mediante múltiplas passagens in vitro, produzindo, com a bactéria atenuada, a cepa Sterne, a que foi atribuído o nome de vacina, em homenagem aos trabalhos do médico. Desde então, várias doenças infeciosas animais foram erradicadas com sucesso graças ao uso das vacinas.

As vacinas consistem em suspensões de microrganismos ou frações destes em um diluente que, quando administradas a um indivíduo ou animal, induzem uma resposta imunológica que o capacita para futuramente responder a desafios de campo, sendo este método considerado o mais eficiente para o controle de várias enfermidades.

A vacinação é amplamente difundida, tanto nos seres humanos como nos animais, sendo objetivo da prática a prevenção ou atenuação da doença clínica ou dos seus efeitos. E se no início houve críticas e não aceitação do método, a erradicação e o controle de inúmeras doenças importantes na área humana e veterinária são prova viva dos seus benefícios.

À vacinação dos animais deve ser dada igual importância quanto à dos humanos, até porque uma pode influenciar a outra. Nas últimas décadas verificou-se que a maioria dos agentes patogénicos humanos (61 por cento) – responsáveis por cerca de 1.461 doenças humanas –, das doenças infeciosas emergentes (75 por cento) e dos agentes com potencial uso em bioterrorismo (80 por cento), são zoonóticos.

A vacinação em animais de companhia – cães e gatos

Todos os animais domésticos, normalmente os canídeos e felinos, necessitam de uma proteção extra no que diz respeito à sua saúde… e à saúde dos seus donos. Um cão ou gato não vacinados correm não só risco mais elevado de contraírem doenças graves e altamente contagiosas, como também de virem a ser acometidos por zoonoses, ou seja, doenças transmissíveis ao ser humano (como é o caso da raiva).

As vacinas contêm uma pequena porção de organismos mortos ou vivos, que uma vez inoculados no organismo desencadeiam uma resposta por parte do sistema imunitário de modo a proteger o animal contra infeções subsequentes, através de um processo designado por imunização. Na aquisição da imunidade, o animal produz anticorpos para neutralizar ou destruir os agentes infeciosos ou as toxinas.

No entanto, este pode não ganhar imunidade contra o que foi vacinado, se não reunir uma série de requisitos – daí a importância de fazer um check-up antes da administração de uma vacina! Além disso, a vacinação só deve ser realizada em animais saudáveis.

Em Portugal, a legislação obriga a que seja um médico veterinário a administrar as vacinas em animais. Só estes especialistas têm a formação adequada para avaliar cada espécie, perceber se está fisicamente apto a ser vacinado, selecionar as vacinas adequadas a cada caso e a melhor altura para a sua administração.

Em conjunto com o proprietário, o veterinário vai elaborar um plano vacinal personalizado, tendo em consideração a idade, o estado de saúde e o estilo de vida de cada animal, e a partir daí calendarizar a administração das vacinas ao longo do ano.

A vacinação regular dos animais é um cuidado básico de saúde fundamental; sem vacinas o cachorro ou gatinho podem adoecer gravemente comprometendo, em muitos casos, a sua sobrevivência.

No que diz respeito aos cães, enquanto latentes, estão imunes aos principais vírus e não necessitam de vacinas. Esta imunidade é fornecida pelo leite materno e cessa quando o cachorro deixa de mamar. Por isso, a partir das 6 ou 12 semanas, conforme os casos, é da responsabilidade do dono assegurar a proteção do animal contra os principais vírus que atacam os canídeos.

Existem várias doenças que podem ser fatais para os cães, mas felizmente conseguem-se prevenir algumas delas com vacinas efetivas. Para a vacinação ser eficaz deve respeitar-se o esquema de injeções.

O esquema de vacinação de rotina protege os cachorros de sete doenças: esgana, parvovirose, leptospirose, hepatite infeciosa, parainfluenza, coronavirose e raiva. As primeiras seis estão incluídas numa única vacina, que é administrada às 6-8, 12 e 16 semanas de idade. A vacina da raiva – obrigatória por lei – é administrada entre os 3 e os 6 meses de idade. Os reforços das vacinas são feitos uma vez por ano, podendo a da raiva ser administrada ao mesmo tempo, ou incluída na mesma vacina. Para além destas, os cães podem ainda ser vacinados contra a Piroplasmose, a Doença de Lyme e a Giardíase.

Ao contrário do que acontece com os cães, os gatos são muitas vezes vistos como animais que não necessitam de vacinas por permanecerem quase sempre em casa. O problema é que os vírus não estão só na rua e podem ser trazidos para dentro de casa pelo dono ou outros animais.

Por lei, em Portugal não existem vacinas obrigatórias para os gatos mas existem doenças que os gatos podem contrair sem sair de casa. Os próprios donos podem ser os propagadores de vírus, simplesmente ao andar na rua e terem contacto com outros gatos. Os vírus mais resistentes podem prender-se às roupas e aí permanecerem durante meses.

Quando o dono entra em casa e afaga o gato, pode estar a transmitir-lhe vírus vindos do exterior. A forma mais frequente e fácil de transmissão é através do contacto entre gatos e, peritos em fuga como são, nunca se sabe se algum dia não vão escapar para a rua e regressar com uma doença.

Nos gatinhos, a primeira vacina deverá ser efetuada por volta dos 2 meses de idade. Esta vacina permite que desenvolvam as suas próprias defesas contra as principais doenças que normalmente os afetam (rinotrequeíte, calicivirose e panleucopenia). Aos 3 meses de idade, deve ser feito um reforço desta vacina. Em gatinhos com acesso ao exterior ou com possível contacto com outros gatos (com plano vacinal desconhecido) deve ser feita também a vacina contra a leucemia felina (FeLV), que necessita, igualmente, de um reforço com 1 mês de intervalo.

Para além destas, se pretender viajar para o estrangeiro com o seu gato é obrigatória a vacinação antirrábica a partir dos três meses de idade, com revacinação anual, assim como a identificação eletrónica e respetivo passaporte.

A vacinação dos animais deve ser reforçada todos os anos, pois são vários os estudos que apontam para a duração da imunidade até um ano. No entanto, deve ser o médico veterinário que cuida dos animais a decidir a altura certa para a revacinação.

Esta decisão será tomada em função do estilo de vida do animal: se é mais caseiro, se é animal de exposição e concursos, se é animal de caça, entre outros aspetos. Não é este o caso da vacinação entre os animais de produção.

A vacinação em animais de produção – aves, suínos e bovinos

Cada vez mais, os consumidores informados exigem produtos com qualidade e segurança, na cadeia alimentar. Existe uma grande desconfiança por parte dos consumidores relativamente aos produtos que consomem; o afastamento entre produtores e consumidores é visível e há uma grande mediatização sempre que se abordam questões alimentares, principalmente desde 1996, quando surgiu a BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina), vulgarmente conhecida como doença das vacas loucas.

As principais ferramentas utilizadas para prevenir enfermidades infeciosas na produção animal são as medidas de biossegurança e as vacinas. A vacinação é fundamental para evitar que as populações animais contraiam doenças que reduzem a sua produtividade e que, por vezes, impedem o acesso aos mercados de animais vivos e de produtos de origem animal. Por isso, é usada intensamente em todos os sistemas de produção animal. Vacinar representa menos de 5 por cento do investimento total que um criador tem de fazer para prevenir a ocorrência de doenças.

No caso dos ruminantes, suínos e aves, a vacinação está diretamente relacionada com a necessidade de assegurar a sua produtividade, reduzindo os impactos económicos decorrentes de doenças.

A saúde dos suínos é um fator-chave na criação. Um rebanho saudável permite que o suinocultor forneça produtos em conformidade com as exigências do mercado nacional e internacional, sendo, desta forma, um importante diferencial para o sucesso do negócio. Saber identificar, prevenir e tratar as principais enfermidades que acometem os suínos torna-se essencial, em termos de competitividade, neste exigente segmento.

A vacinação dos animais, principalmente dos leitões e das porcas prenhes, é uma importante rotina da quinta. No caso das fêmeas, a vacinação auxilia na produção de anticorpos no colostro, fazendo com que os leitões sejam imunizados logo ao mamar.

Praticamente todas as vacinas requerem uma segunda dose, 21 a 28 dias após a primeira, conhecida também por reforço ou booster e, após isso, é necessário proceder às imunizações periódicas – quando se utilizem vacinas inativadas.

No caso de vacinas vivas como a da PSC (Peste Suína Clássica), uma imunização pode proteger o animal para toda a vida contra a doença clínica.

No que diz respeito às aves, no programa de vacinação deve levar-se em consideração as doenças existentes na região onde se vai criar. O médico veterinário é o profissional indicado para dar assistência e montar um programa de vacinação específico para cada propriedade.

Normalmente, as aves são vacinadas, por via subcutânea, contra a Doença de Marek com 1 dia; entre os 7 e os 10 dias de idade as crias são vacinadas contra a Doença de Newcastle e contra a bronquite, por via ocular/nasal. Aos 20 dias são vacinados na membrana da asa (punção) contra a Bouba – vacinação que deve ser feita duas vezes ao ano; aos 35 dias repete-se a vacinação contra a Doença de Newcastle e a bronquite, por via ocular/nasal/água. Mais tarde, entre os 70-80 dias é a vez da vacina, intramuscular, contra a coriza; aos 90-100 dias contra a encefalomielite, através da água; e entre os 110-140 dias de vida nova vacinação contra a Doença de Newcastle, Bronquite, Coriza e contra a Pasteurelose, por via intramuscular/água.

A prevenção é a arma principal contra os problemas infeciosos que se registam atualmente, sendo a vacinação estritamente necessária para garantir a saúde das aves.

Na criação de bovinos de corte existem vacinas para uso rotineiro e vacinas utilizadas em condições específicas. Ambos os tipos têm dose e vias de aplicação próprias e tempo de duração da imunidade diferenciados. É este tempo de imunidade que define o período para revacinação.

As vacinas de uso rotineiro são contra a Clostridiose (12 meses de imunidade); contra a Febre Aftosa (6 meses de imunidade); e contra a Brucelose, cuja imunidade é de 72 meses. Em condições específicas os animais são ainda vacinados contra doenças como o Botulismo, a Raiva, a Gangrena gasosa, o Carbúnculo hemático, e a Leptospirose, todas elas com 12 meses de imunidade; a Queratoconjuntivite (9 meses de imunidade); e a Pasteurelose, cuja duração de imunidade é de apenas 6 meses.

De referir ainda a existência de vacinas que são aplicadas em todo o rebanho, e outras aplicadas somente em certas categorias de animais, selecionando a idade e até o sexo, como é o caso das vacinações contra o carbúnculo e a brucelose.

Na perspetiva europeia, a administração regular de vacinas aos animais de produção mascara a inexistência dos standards de biossegurança pretendidos. A partir do momento em que se administra uma vacina numa exploração, o produtor tende a assumir que os seus animais não vão contrair essa doença, e relaxa na aplicação das outras medidas de biossegurança, ou seja, do ponto de vista psicológico, a vacinação pode ter um efeito perverso.

Ao contrário, se for encorajada a melhoria contínua da aplicação das medidas de profilaxia sanitária, o produtor evolui, a exploração funciona melhor e está mais protegida contra a entrada de todos os agentes patogénicos, e não apenas aqueles contra os quais se aplicou uma vacina.

Ainda assim, poucas ações são mais eficazes na prevenção de doenças infeciosas do que a vacinação. As outras medidas acabam por ser uma mais valia na manutenção da saúde, tanto de animais como de humanos.

Autor:
Tupam Editores

Última revisão:
28 de Novembro de 2024

Referências Externas:

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