Desde sempre os animais tiveram uma enorme importância para o homem. A sua presença foi fundamental para situar o homem e as suas aspirações em quase todas as culturas, em diferentes épocas e continentes. Pudemos ao longo dos anos render-nos ao fascínio pelos animais, por meio do intelecto e pelo sentimento de conforto que eles geram na maioria dos seres humanos.
Na cultura ocidental, desde o século XVII que são conhecidos relatos sobre a influência dos animais na socialização e nas alterações comportamentais do homem. Estudos recentes têm vindo a demonstrar existir vários benefícios no contacto com animais de companhia para o desenvolvimento psicológico, social e qualidade de vida das pessoas.
Os animais de estimação marcam hoje presença importante no seio familiar. Eles são companheiros de brincadeira e aprendizagem, terapeutas, ajudam a combater o stress e o isolamento, funcionando como suporte emocional, e facilitam a integração de crianças, idosos e pessoas portadoras de deficiência.
Estes são apenas alguns dos resultados encontrados nas centenas de estudos desenvolvidos por psicólogos, psiquiatras e médicos. No entanto, apesar de todos os benefícios que a relação com um animal de estimação proporciona, o contacto entre o homem e o animal doméstico comporta riscos, já que são uma porta aberta a infecções de etiologia diversa. Desde o pêlo do cão e saliva do gato, fontes de alergia, às pulgas, carraças e parasitas intestinais são muitos os riscos que é necessário prevenir.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), um terço da mortalidade humana em todo o mundo é devida a doenças do foro infeccioso e parasitário, muita delas provocadas por zoonoses.
Principais zoonoses transmitidas ao homem
De origem grega, zoo (animal) e nosos (doença), zoonose significa doença animal. Os principais responsáveis pela transmissão ao homem são os cães, gatos, morcegos, ratos, aves e insectos. O processo pode ocorrer por contacto, directo ou indirecto, com os resíduos do animal (urina e fezes), saliva, pele ou revestimento externo (pêlos e penas), através de arranhão, mordedura ou picada de pulgas e/ou carraças.
As crianças, idosos, grávidas e pessoas imunodeprimidas são as mais vulneráveis ao contágio, devendo por isso ter particular cuidado no contacto com os animais e ambientes potencialmente contaminados (como a relva, a terra dos canteiros ou a areia da praia).
– Provavelmente a doença mais conhecida e temida é a raiva. Provocada por um vírus da família rhabdoviridae, ataca o cérebro e o sistema nervoso, gerando distúrbios de comportamento, causando grande dificuldade em respirar e deglutir, mesmo os líquidos.
Este vírus pode ser transmitido pelo cão, gato, rato, bovinos, equinos, suínos, macaco, morcego e animais selvagens, através de mordedura ou saliva, quando em contacto com as mucosas ou lesão na pele.
O período de incubação no humano vai de de 10 a 40 dias até sete anos e as manifestações iniciais são inespecíficas destacando-se, no entanto, alteração de sensibilidade da pele e insónia.
O animal com raiva perde o apetite, baba excessivamente, anda sem rumo e tem crises de fúria durante as quais ataca pessoas e animais.
É uma das doenças conhecidas mais graves com uma taxa de mortalidade a rondar 100 por cento. Apesar da existência de vacina, ainda vitima anualmente cerca de 70 mil pessoas em todo mundo.
– Revelada em 1889 por Henri Parinaud, a Doença da Arranhadura do Gato é uma infecção que se desenvolve no sítio do ferimento provocado pelo animal, causada pela bactéria bartonella henselae. Normalmente o gato não revela sinais de doença, mas na pessoa infectada pela bartonella henselae as bactérias tendem a infectar as paredes dos vasos sanguíneos. Três a dez dias após a arranhadura, forma-se no local uma bolha vermelha com crosta que pode atingir 6,5 cm de diâmetro.
A pessoa perde o apetite e desenvolve febre e dores de cabeça. Cerca de 10 por cento dos infectados apresentam ainda outros sintomas, como alterações na visão ou tumefacção cerebral, que provocam dor de cabeça e estupor. No prazo de dois a cinco meses a tumefacção dos gânglios linfáticos desaparece e a recuperação da pele é completa.
– Mais perigosa é a ancilostomíase. É causada por um verme intestinal (ancylostoma duodenale ou necator americanus) que se liga ao hospedeiro através de ganchos bucais.
As pessoas são infectadas por ancilostomídeos através de contacto com fezes animais. No ciclo de vida do verme os ovos são eliminados pelas fezes, amadurecem no solo depois de terem incubado durante um a dois dias e ali se desenvolvem.
Atravessa a pele, podendo aí formar erupção cutânea lisa e ligeiramente saliente, causando comichão, e através da corrente sanguínea e vasos linfáticos atinge os pulmões. Uma vez na corrente sanguínea, chega ao intestino delgado superior, aderindo ao seu revestimento mucoso de onde aspiram o sangue.
A migração das larvas através dos pulmões provoca, em certos casos, febre, tosse e respiração ofegante. Quando adultos, os vermes causam dor na parte superior do abdómen. Provocam hemorragia intestinal conduzindo a anemia por deficiência de ferro e baixos valores de proteínas no sangue. Nas crianças, a perda considerável de sangue de forma crónica pode provocar atraso de crescimento, insuficiência cardíaca e tumefacção generalizada dos tecidos.
O tratamento prioritário consiste em corrigir a anemia com suplementos de ferro orais ou sob forma injectável. Nos casos mais graves, poderá ser necessário recorrer a transfusão.
– A Leptospirose é a doença causada por bactérias em forma de espiral denominadas leptospiras. É transmitida através da urina, água e alimentos contaminados pelo microorganismo, penetração da pele lesada e ingestão. O cão e outros animais como o rato, bovinos e animais selvagens podem também ser portadores da doença.
O período de incubação é de 5 a 18 dias e os sintomas mais frequentes são semelhantes aos da gripe, provocando febre, dores de cabeça e corpo e por vezes icterícia. A vacinação animal contra a doença é possível mas, dada a variedade de espécies de leptospiras conhecidas, não é totalmente eficaz.
– As aves são também fonte de contágio. A Psitacose (febre do papagaio) é uma pneumonia rara causada pela chlamydia psittaci, uma bactéria que se aloja principalmente nos papagaios, periquitos e rolas, mas que também se pode encontrar noutras aves como pombos, galinhas e pavões.
Geralmente o contágio ocorre através da aspiração do pó das penas ou fezes de aves infectadas, mas o microorganismo também se pode transmitir por meio de picadas de aves e, em casos excepcionais, pessoa-a-pessoa, através das pequenas gotículas expelidas ao tossir.
Em uma a três semanas a pessoa apresenta sintomas de febre, arrepios, cansaço e perda de apetite. Tem acessos de tosse seca no início e mais tarde produz excreção esverdeada. A febre persiste por cerca de três semanas, desaparecendo lentamente. Dependendo da idade e extensão do tecido pulmonar afectado, a recuperação é lenta e o índice de mortalidade pode atingir 30 por cento nos casos graves não tratados.
– Também causada pela bactéria borrelia burgdorferi, a Doença de Lyme é transmitida através da carraça.
O primeiro sinal desta doença é em geral uma erupção rubra e indolor, em forma de círculo, que se desenvolve no local da picada ao fim de poucas semanas, sendo os sintomas semelhantes aos da gripe. Sem tratamento podem ocorrer complicações nas articulações, cardíacas e/ou neurológicas, semanas ou até mesmo meses após a picada.
Apesar de a doença de Lyme, em todas as suas fases, responder sempre aos antibióticos, o tratamento precoce ajuda a evitar complicações.
– A Salmonelose, provocada pela bactéria salmonella, pode ser transmitida ao homem por uma grande variedade de animais. É normalmente adquirida pela ingestão de alimentos contaminados tais como frangos e ovos, mas os cães, gatos, aves, cavalos e outros animais de quinta também a podem transmitir, através das fezes.
As infecções provocadas por salmonella provocam diarreia, febre e cólica abdominal entre 12 e 72 horas após o contacto. A doença persiste por 4 a 7 dias e a maioria das pessoas recupera sem necessidade de tratamento, a menos que o doente fique seriamente desidratado ou a infecção se dissemine, sendo por vezes necessária reidratação intravenosa.
– A brucella, causadora da Brucelose (febre ondulante, de Malta, mediterrânica ou de Gibraltar) é outra das bactérias transmissíveis ao homem. A doença pode ser contraída por contacto directo com as secreções e excreções de animais infectados, através do leite não pasteurizado ou pela ingestão de produtos derivados lácteos contendo microrganismos vivos do género brucella.
Os sintomas começam geralmente duas semanas após a infecção e incluem arrepios, febre, fortes dores de cabeça, dor generalizada, sensação de mal-estar e, por vezes, diarreia. São raras as complicações e a recuperação dá-se habitualmente em duas a três semanas.
– A Toxocaríase (larva migrans visceral) é uma infecção provocada pelas larvas de certos vermes, como toxocara canis e toxocara cati, que invadem os órgãos humanos.
Os ovos do parasita desenvolvem-se no solo contaminado pelas fezes de gatos e cães infectados. Os recintos povoados por animais não são por isso adequados para as crianças brincarem, por haver risco de transferência directa para a boca. Ingeridos, os ovos instalam-se e amadurecem no intestino até que as larvas atravessem a parede intestinal, disseminando-se depois pelo sangue.
Os sintomas manifestam-se várias semanas após a infecção ou retardar vários meses. Incluem febre, tosse e respiração sibilante (silvos) e aumento de volume do fígado. Em alguns pacientes pode revelar-se erupção cutânea, tumefacção do baço e pneumonias de repetição. A infecção em humanos desaparece habitualmente sem tratamento, num período de 6 a 18 meses.
– A Toxoplasmose, talvez a doença transmitida pelos animais mais conhecida do homem, é originada pelo parasita toxoplasma gondii.
O gato é o hospedeiro definitivo deste parasita, sendo o homem e outros animais hospedeiros intermediários. Os alimentos vegetais contaminados com oocistos e os de origem animal, principalmente derivados de suínos e ovinos, são os responsáveis pela infecção humana e canina.
Os sinais clínicos da toxoplasmose são muitas vezes inespecíficos. Os mais frequentes estão associados ao sistema respiratório e digestivo, sendo acompanhados de febre, anorexia, prostração e secreção ocular bilateral.
– Também os pequenos animais como hamsters, ratos e outros roedores selvagens infectados com o Vírus Coriomeningite Linfocítica (LCMV) – normalmente nas lojas de animais –, são responsáveis pela transmissão de doenças.
O LCMV é transmissível através de saliva, urina e fezes excretadas pelos roedores infectados. A infecção dá-se através do contacto com as secreções ou por inalação de partículas secas em suspensão, ou material de nidificação.
Os riscos de contrair LCM a partir de um hamster ou outro roedor são baixos. Manter a higiene adequada na gaiola e no manuseamento do animal são regras simples, que podem proteger toda a família.
Manter o animal saudável para proteger a família
Estima-se em 1,9 milhões a população de cães em Portugal e 1,5 milhões de gatos, distribuídos por cerca de 3 milhões de lares. Para muitas pessoas constituem um prolongamento da família e, como qualquer dos seus membros, devem ser protegidos e mantidos saudáveis.
Desparasitar os animais é o primeiro passo para os proteger e, com eles, toda a família. Há no entanto outros cuidados a ter para prevenir uma infestação em casa ou uma zoonose. Um deles é levar o animal ao veterinário com regularidade, cumprindo os esquemas de desparasitação e vacinação oficiais; alimentar o animal apenas com produtos cozinhados ou alimentação específica – nunca lhes dar carne crua; limpar frequentemente o seu espaço e, no caso dos gatos, mudar diariamente os recipientes de areia; minimizar a exposição de crianças, grávidas, idosos e imunodeprimidos a ambientes potencialmente contaminados por fezes dos animais; lavar sempre as mãos após contacto com o animal; usar luvas na limpeza do habitat e manter uma boa higiene pessoal, do animal e da casa.
O cumprimento destas regras simples vai proporcionar a protecção da família e permitir retribuir, sem riscos, o amor, companheirismo e lealdade que eles nos dedicam sem reservas!
A vacinação continua a ser o melhor meio de proteção contra o vírus, com uma proteção mais eficaz contra doenças mais graves, embora o seu efeito protetor diminua com o passar do tempo.
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